Eu não podia acreditar... Eu tinha conseguido! Uma bolsa de estudos para uma faculdade! Haviam passado cinco semanas, mais ou menos, que eu tinha visto o meu nome na lista dos que passaram no exame admissional, mas mesmo assim, eu AINDA não podia acreditar.
Eu sempre fui muito inteligente, meio que compensando em cérebro o que me faltava em massa corporal. Eu era um moleque franzino, que com 17 anos ainda parecia ter 13. Pesando menos de 50kg, ao contrário do brutamontes do meu irmão, eu era baixinho, magrinho e muitos outros inhos. Tinha pele “café com leite” como minha mão não cansava de dizer. Meu cabelo é preto, mas há algum tempo, numa tentativa desesperada de mudar, eu o pintei de castanho. Olhos igualmente castanhos, um tom mais claro que o cabelo. Outra coisa que posso dizer sobre mim é que sou gay. E que, até eu conseguir a vaga (uma das poucas coisas boas que já me aconteceu) eu odiava a minha vida.
Os motivos são irrelevantes agora, mas é por isso que eu resolvi “mudar de vida” assim que terminei o ensino médio, me inscrevi em toda e qualquer prova admissional para faculdade, com apenas uma restrição: ela tinha que ser interna.
Eu não conseguiria mais morar sob o mesmo teto que meu pai ou meu irmão. Minha mãe, Isabela, era a única que me apoiava naquela casa, e, mesmo relutante, me ajudou com as inscrições.
Isabela: - Você não precisa realmente fazer isso, sabe. - disse ela, enquanto preenchia mais um formulário de inscrição no computador.
Eu: - Você escreveu nosso endereço errado.
Isabela: - Não desconversa. Você quer mesmo continuar com essa decisão?
Eu: - É a milésima vez que você me pergunta isso, Mãe. E sim. Quero e VOU continuar com isso.
Isabela: - Vai mesmo me abandonar tão cedo, filho?
Ótimo. Ela ia usar chantagem emocional. Desde que falei pra ela o meu plano de ir pra uma faculdade interna (essas que você dorme e come na faculdade, come se você morasse lá) Ela ficava tentando fazer eu ficar, que ia conversar com meu pai e meu irmão, e ela conversava mesmo, mais não adiantava. Meu pai continuava à não falar comigo, e meu irmão continuava à me provocar. Mas eu não ficar mais. Eu vou embora.
Eu: - Eu não vou te abandonar. Eu venho te ver nas férias. Além disso, existe uma coisa chamada Webcam, sabia? Você pode me ligar quando quiser. Agora, conserta o nome do nosso endereço. Ainda tá errado.
O mês seguinte foi corrido. Havia dias que eu fazia mais de uma prova no mesmo dia. Algumas eu tive que cancelar, porque coincidiam com o horário de outra prova. No total, eu fiz dezesseis provas. Como disse antes, eu era bem inteligente. Sem querer me gabar, mais eu ficaria muito decepcionado se não tivesse conseguido bolsa em pelo menos uma delas. É claro que eu não esperava passar para ir estudar nas faculdades dos Estados Unidos que minha mãe me inscreveu, mesmo eu dizendo que não passaria. Mas algumas semanas depois veio a grande surpresa:
Eu tinha passado. Não para uma faculdade, mais para todas elas. E uma delas... Era a Universidade no exterior. A que minha mãe tinha me inscrito só pra “me testar”, que nem ela, a Srta. Esperança achava que eu passaria. É claro que eu tinha estudado feito um desgraçado, mas nunca esperaria passar para lá! No começo eu achava que era um engano, uma mentira, não podia ser real, eu estava sob o efeito de drogas pesadas, ou um hacker tinha colocado meu nome lá de zuera, mas eu liguei para a central e.... Era verdade.
Eu teria um ótimo ensino superior, Eu teria um colega de quarto no Campus e Eu realmente iria morar há léguas de distância do meu pai e irmão.
Você deve estar realmente se perguntando o que eles fizeram para eu nutrir tanto raiva por eles, Né? Pois saibam que essa raiva é mútua.
As diferenças entre eu e meu irmão são notáveis. Principalmente porque ele não é só meu irmão, mas meu irmão GÊMEO. Nós nascemos iguaizinhos, cara de um focinho do outro. Mas aos 7 anos, eu já ia à biblioteca, e ele ia ás aulas de Judô.Aos 10 eu tinha livros como companhia, ele era super popular. Aos 12 eu estudava passava o dia inteiro lendo e estudando, e ele, fazendo academia, natação e três formas de combate mano-a-mano. Nunca nos demos muito bem, e o mesmo pode ser dito do meu pai. Afinal, Gustavo (meu irmão) era uma miniatura do meu pai, outro machista bombadão. E bota machista nisso. Eu nunca vi, mas tenho certeza que meu pai batia na minha mãe. Ele era caminhoneiro, e todos da família tinham plena ciência que, em suas viagens, ele pegava quantas putas pudesse. Até chamava meu irmão pra ir com ele nas férias. Eles eram violentos, machistas e homofóbicos. Nunca mantive um bom relacionamento com os dois, mas isso piorou muito quando...
Bem, quando descobrirão que eu sou gay e mataram meu namorado.
Por isso, eu tinha que ir embora daquela casa.