Ele não levou dez minutos para sair do banho. Saiu com a água escorrendo pelo corpo e se enxugando, sem vergonha alguma de exibir sua nudez. Era realmente um homem bastante bonito. Um moreno charmoso daqueles de enloquecer a cabeça de qualquer um. Claro que eu não estava ali para ter minha cabeça enlouquecida por ele, sabia muito bem qual a minha função e ele próprio tratou de logo me lembrar.
- E então, conta ai tua parada. - Falou sentando-se completamente pelado na sua cama.
Me ajeitei na cadeira em que estava e encarando-o diretamente passei a contar toda a minha história. Achei melhor falar tudo logo, desde meu padrasto até ir parar na casa do Bill, passando pela Nicole. Faleit tudo que sabia da operação do Bill, inclusive de onde tinha vindo cada garroto, enfatizei que todos eram pessoas legais e vítimas do Bill, para que ele não tivesse a mesma ideia da Nicole de Salvar apenas a mim. Ele me ouviu com expressão séria, não dava para saber exatamente o que estava pensando daquilo tudo. Quando conclui, se pronunciou:
- Deixa eu ver. Cara, vou precisar falar com uma pessoa sobre isso?
- Que pessoa, a polícia? - Indaguei, recebendo em troca um olhar de quem está me achando um retardado.
- Polícia?! claro que não Leque. Tá maluco? É só uma pessoa que precisa saber dessas coisas.
- Seu chefe ou algo do tipo?
- Fica na tua, já tá sabendo demais. - Com estas palavras deles eu não mais me pronunciei.
Ele pegou sua cueca no chão e vestiu, também pegou a bermuda e colocou novamente. Então discou um número no celular e se afastou de mim para falar, provavelmente não queria que eu ouvisse, mas ouvi mesmo assim. Ele contou minha história resumida, dizendo apenas que localizou um local de escravidão sexual e queria carta branca para derrubar, falou do Bill me descreveu como o garoto que tinha ido até ele. De repente, ele se aproxima de mim e posso ouvi-lo com maior clareza: .
- Pronto? Confirmado? Certo. Está bem. Tranquilo. - Foram suas últimas palavras antes de encerrar a ligação.
- E então Sam? - Indaguei.
- E então eu vou derrubar esse tal Bill. Mas tenho umas condições pra dar.
- Pode falar.
- Você vai voltar lá e estudar os movimentos do cara e me dizer tudo que acontece lá dentro. Se você passar tudo, em três dias a gente quebra ele. Toda grana que tiver lá dentro fica com você e os garotos, armas e bagulho ficam comigo. Ninguém pode ficar na casa depois que o serviço tiver sido feito, a gente vai queimar tudo. Entendeu? Nunca mais é para voltarem lá entendeu?
- Mas como eu vou explicar isso pra eles?
- Tu confia em quantos?
- Em um, quer dizer, em dois. - Emendei lembrando do Lipe.
- Você não vai falar para ninguém até a hora que eu entrar lá. E se na hora eu ver que alguém vai piar depois, eu queimo lá mesmo. Sacou?
- Saquei. - Respondi engolindo em seco, sabendo que não teria como voltar atrás. Só restava torcer para tudo dar certo.
- Pega isso aqui. - Falou pegando um celular simples no criado mudo e jogando na minha mão.
- Para que? -Indaguei aparando o aparelho.
- Para a gente manter contato, esconde isso. O número dele tá escrito atrás. - Virei o celular e verifiquei que realmente havia um número escrito atrás em um pedaço de fita gomada.
- Entendi. Posso ir?
- Pode, mas tem só mais uma condição.
- Pode dizer.
Ele se aproximou de mim e pegou meu queixo. Levantou minha cabeça e me de um beijo super molhado, como se quisesse gravar o gosto da minha boca.
- Eu vou te enrabar sempre que eu quiser;. É a última condição. Aceita?
- Aceito. - Respondi me virando para ir embora. - Muito boa de cumprir essa última condição.
Sai pela imensa porta do seu quarto e desci as escadas. Ninguém me esperava lá embaixo. Ainda bem que eu lembrava a saída. Passei novamente pela sala com os caras armados, mas só haviam dois lá agora. Me encaminhei para a saída e quando cheguei próximo ao portão, acionaram o automático para que eu saísse sem mesmo olhar para ninguém. A Pajero do Rubens me esperava ainda em frente, me encaminhei até ela e entrei, encontrando uma Nicole morta de ansiosa e um Rubens extremamente entediado.
- E aí menina. Como foi? Conta tudo que to morta de ansiedade, filhinha. - Falou Nic me atropelando com as palavras.
- Tudo tranquilo. O “trafica” se amarrou nos meus lindos olhos azuis. - Falei, contando em seguida tudo que ocorreu.
Nem tinha percebido, mas a noite já estava mais clara, quando olhei no relógio, eram quase quatro da madrugada. O Rubens resolveu ir logo me deixar na casa do Bill. A Nicole chorou muito durante todo o caminho. Dei a ela o número do celular que o Samuel me deu mas pedi para ligar apenas em emergências, ia deixar sempre no silencioso. Ela me deu um longo abraço quando o Carro do Rubens parou em frente ao motel do Bill. Também chorei com um aperto no peito, mas sabia que tínhamos necessariamente que nos separar, dali alguns dias estaríamos rindo e comemorando a superação daquela situação toda, era o que eu esperava.
Quando caminhei para o portão, abriram também o portão grande automático, me fazendo lembrar da casa do Samuel. Ao entrar topei com o Tonho me encarando rabugento:
- Chefe quer te ver. - Falou.
- O Bill está acordado?
- Claro que está caralho, tu acha que ele ia falar com tu dormindo era? Deixa de ser mané, viadinho, to sem paciência que tive que ficar esperando tu até essa hora.
- Calma aí meu, tenho culpa disso não. - Falei me defendendo e o seguindo para dentro da casa grande.
Ele me levou até o quarto superior do Bill, quando entrei fiquei surpreso de ver ele sentado em uma cadeira, bem acordado e segurando o chicote.
- Muito bem, seu viado putinha, pode ir logo entregando o jogo. O que você está armando? Fala agora ou eu mato você de porrada.
P. S: obrigado a todos que me desejaram melhoras. Estou quase bom, tentando voltar ao ritmo aqui, que tô doido para esquentar as coisas nesse conto.
