E mais uma vez eu estava ali, chorando naquele banheiro sujo. O sino já havia tocado, mas eu não estava nem um pouco a fim de ir pra sala com os olhos inchados e vermelhos.
Ouço alguém bater na porta do reservado onde eu me encontrava.
_ Dinho, sou eu: Pedro. Abre a porta maninho!
Eu não podia me isolar, eu precisava de alguém, eu precisava dos meus amigos. Abro aquela porta e ele sorri pra mim. Eu conhecia aquele sorriso, ele dizia ‘vai ficar tudo bem’.
_ Você leva minha mochila pra casa?
_ Levo, mas como você vai embora? O portão já está trancado!
_ Eu pulo o muro. _ Digo isso indo lavar o meu rosto.
_ Desde quando você faz isso? Pera aí, desde quando você sabe pular muros? ¬_ Ele me pergunta espantado.
Eu simplesmente não conseguia pular muros quando eu era criança. Sempre ficava com medo de cair. Ele sabia disso e essa era a razão desse espantado.
_ Uns amigos me ensinaram!
_ Tá bom, então! Mas deixa eu te falar: o Henrique não é amigo do Ricardo ou do Binho. Ele chegou esse ano aqui e ele não conversa com ninguém.
_ Por que você está falando isso? Eu não estou interessado nele.
_ Mas eu vi do jeito que ele te olha e eu pensei que...
_ Conversamos mais tarde! _ Digo interrompendo-o.
Saio daquele banheiro e vou pros fundos do colégio onde não tinha perigo de eu ser visto cometendo uma inflação contra o regulamento da escola. Quando pulei para fora daquele lugar eu fiquei perdido. Eu não sabia para onde ir.
Decidi que queria tomar um milk-shake num lugar aonde eu sempre ia com Pedro e Vic.
_ Um shake de Morango, por favor? _ Depois de o meu shake ficar pronto eu sento num banco e olho para fachada da loja, e mais uma vez as lembranças vem dançando Macarena na minha cabeçaSegunda Feira, 15 de março de 2010.
Eu nunca tinha sido tão humilhado na minha vida. A foto que Ricardo tinha tirado estava nas mãos de todo o colégio. Todos estavam rindo de mim, era recreio e eu estava sozinho, pois segunda-feira os garotos do time de futebol iam para a sorveteria. Pedro era do time e Vic era namorada do Binho que também era do time.
Eu não sabia o que fazer, então sai correndo para o portão. Seu Tobias tenta me parar, porém sem sucesso. Precisava gritar com alguém e esse só podia ser o Ricardo como ele pode fazer isso comigo? E por quê? Eu nunca tinha feito nada pra ele. Minha vontade era sumir.
_ Por que fez isso seu idiota? _ Eu pergunto pulando em cima de Ricardo.
_ Ei para, para Dinho! _ Pedro e segura pelos braços, mas continuo tentando acertar Ricardo. _ O que aconteceu?
_ E aí Luluzinha, gostou dos panfletos que a gente fez? _ Binho pergunta rindo.
Eu me liberto de Pedro e vou pra cima de Binho, mas Vic entra na frente:
_ Dinho, eu não posso deixar você bater nele. Até porque quem iria apanhar é você. Me diga: que o tá acontecendo?
Eu fiquei furioso, ela estava defendendo ele?
_ Você tá defendendo ele? De que lado você está Victória?
Ela hesitou. E pra mim, anos de amizade se acabaram naqueles segundos que ela demorou em responder uma pergunta tão simples.
_ Eu não estou em nenhum lado. Eu quero entender o que aconteceu...
_ Você nunca vai entender sabe por quê? Por que namora com um moleque que só sabe me humilhar e você não faz nada. Só se preocupa consigo mesma.
Ela faz uma cara como quem acaba de receber um tiro.
_ Dinho não seja injusto...
_ Cala boca Pedro! Você também não se importa comigo! Você se quer saber da sua popularidade e pro seu timeco idiota. Quer saber de uma coisa: eu odeio todos vocês e nunca mais vou uma palavra que seja com vocês, seus dois falsos!
Eu grito com eles e saiu correndo sem esperar que mais alguém diga alguma coisaEu saio daquele banco antes que eu comece a chorar ali. Eu precisava chorar, gritar e quem sabe, sangrar. Eu iria para pracinha naquela hora não deveria haver ninguémEu fiquei chorando por meia hora. Quando finalmente acabei de soluçar e as lágrimas pararam de fluir eu resolvi ir para casa. Mas antes de chegar eu fui abordado por três garotos: Binho e outros dois que eu não sabia o nome.
_ E aí viadinho, o bebezinho tava cholando era? Que meiguinho. _ Binho começa a me ofender.
_ Binho, por favor, me deixa ir, você e o Ricardo já acabaram comigo. _ Eu imploro, torcendo para que eles me deixem passar.
_ Ainda não acabamos com você, eu vou ensinar a você virar homem.
Binho diz isso me socando o estomago. Fico com falta de ar e Caio ajoelhando no chão. Logo vem um murro e outro. Até que eu fico deitado no chão tentando proteger meu rosto e barriga. Eles começam a me chutar e o meu corpo inteiro dói. Até que, finalmente, eles param. Binho puxa meu cabelo e cospe no meu rosto.
_ Pronto! Agora sim a gente acabou você, seu viadinho de merdaNão dá! Tudo naquela cidade me faz ter lembranças, me faz sofrer. O único lugar onde poderia ficar abrigado e protegido seria a minha cama e meu protetor seria meu travesseiro.
Hoje eu tive sorte, meu pai não estava em casa e pude subir tranquilamente as escadas. Chegando, lá eu abri meu guarda roupa e achei minha camisa da oitava série, que era branco misturado com o vermelho do meu sangue!Quando eu finalmente consegui levantar do chão e consegui chegar em casa meu pai estava com os olhos vermelhos e um cinto na mão. Vocês já devem imaginar o aconteceu em seguida, não irei narrar aqui. Fui deixado no chão do meu quarto com o corpo e a alma sangrando. Quando minha mãe chegou do serviço e me encontrou naquela situação ela ficou desesperada. Deu-me um banho, me colocou uma roupa limpa e me colocou na cama. Ela ficou um pouco comigo e me perguntou se eu iria ficar e eu disse:
_ Claro, mamãe!
Ela me beijou a testa e me desejou boa noite. Mas essa não seria uma boa noite para nenhum de nós três, pois eu estava morto por dentro e queria está morto por fora. Então desci as escadas e peguei a faca mais afiada que havia na cozinha. Subi ao quarto e decidi que era a melhor, minha vida já não existia mais, não tinha amigos, não tinha nada.
E isso seria a única coisa que colocaria fim na minha dor.