Eu não conseguia acreditar. Meu Deus, eu acordei naquele dia todo esperançoso se arrumar uma forma de ganhar a vida. E estava anoitecendo com o corpo amarrado a uma cadeira estranha daquelas, para um completo desconhecido fazer o que quisesse com o meu corpo. Eu pensei que minhas lágrimas haviam acabado, mas elas continuavam correndo pelo meu rosto.
- Está com medo? - Me perguntou o homem grisalho.
Não respondi, apenas chorava.
- Talvez as coisas melhorem se eu me apresentar. Eu me chamo Arthur, é um prazer te conhecer Diego.
Continuei chorando.
- Poxa, não vai me responder? Vamos melhorar isso então. - Falando isso, ele me surpreendeu ao segurar a presilha que prendia uma das minhas mãos. - Posso abrir isso se você quiser, é só falar comigo.
Me controlei para tentar respondê-lo, senti ali uma chance.
- Eu falo. Me solta, por favor.
- Antes de tudo quero dizer que estou armado, então não tente me atacar. Quero ter uma conversa, digamos, mas civilizada com você, pode ser?
Confirmei com a cabeça.
- Ótimo. Me diga uma coisa, você chegou mesmo aqui hoje ou foi um truque desse viado velho para arrancar dinheiro meu?
- É verdade, cheguei hoje de manhã. - Respondi.
- Interessante até demais. Nesse caso, você é um garoto de muita sorte. Porque eu vim até aqui cuidar de você.
- Cuidar de mim?
- Sim, eu sou médico, quando ele me falou como você estava eu quis cuidar de você. Pedi para te prenderem apenas para não correr risco de você tomar nenhuma atitude violenta. Posso te soltar?
- Pode.
- Primeiro vou te dar um calmante, pode ser?
Sem esperar a resposta senti algo ser injetado na veia do meu braço direito, ele era tão habilidoso que só senti quando a agulha estava entrando. Tão logo deu a injeção, ele soltou meus braços e pernas. Tentei levantar mais não consegue. Senti a visão turva. Lembro dele me apoiar pelo ombro para me levar até a cama. E então apaguei.
Acordei sendo sacudido violentamente. Quando tentei abrir os olhos, verifiquei que dia já havia raiado.
- Dee, acorda cara. O que diabos você fez com ele? - Era o Thor.
- Calma, João Estressadinho. - Ouvi a voz do Bill. - Parece que você está gostando dele mesmo, hein?
- Gostando nada Bill. O cara é menor de idade ainda, entende de porra nenhuma e caiu aqui de para quedas.
Finalmente abri os olhos e verifiquei que estava no mesmo quarto de antes. Não havia sinal algum do homem grisalho. Bill, Thor e Rafa estavam ao redor da cama. Eu estava ainda completamente nu. Tentei me sentar e achei surpreendente não sentir tanta dor.
- Esta melhor, Dee? - Perguntou Bill animado.
- Estou. - Respondi, no primeiro dia aprendi a terrível lição de sempre responder o que ele perguntava. Ignorar as perguntar dele era uma das coisas que faziam ser humor altamente flutuante se alterar.
- Te dei um susto não foi? Aquele cliente é um médico, o fetiche dele é cuidar de garotos machucados. Normalmente ele finge que um de vocês está machucado, e ficou tão excitado quando soube que você estava machucado de verdade, que me pagou o triplo para ser o seu primeiro. Não se preocupe, ele não te comeu enquanto você dormia. Ele deve ter te medicado todo e gozado te olhando dormindo de longe. Nosso senhor tem cada inquilino não é?
Não respondi nada, o Thor pareceu respirar aliviado. Ele devia conhecer aquele cliente estranho.
- Posso ir pro meu quarto? - Perguntei.
Ele confirmou e sai coberto só pela toalha com o Thor. Sentia meu corpo muito melhor, não sei o que o médico tinha feito, mas ele era bom mesmo em cuidar das pessoas. Quando entramos em nosso quarto percebi várias roupas novas jogadas na cama.
- O que é isso? - Perguntei.
- Tuas roupas novas. Tem que trabalhar arrumado. Te anima não que ele vai descontar tudo do teu dinheiro.
- Meu Deus. Isso deve ser caro.
- É assim que ele escraviza a gente.
- Thor, vamos fugir? - Propus.
- Só se a gente matasse ele antes. Você tem coragem?
Minha resposta foi uma enorme cara de surpresa.
- Já vi que não tem, então vamos escapar por aqui mesmo.
Perguntei as horas ao Thor e eram quase 10h00min da manhã. Ele deitou para tirar um cochilo antes de dormir e eu deitei ao seu lado.
- Thor?
- Diz.
- Eu passei no vestibular.
Ele sentou-se na cama surpreso.
- Sério?
- Sério, passei pra letras, na federal.
- Caraca, mano. O Bill tem que te deixar fazer o curso.
- Eu nem vou falar, eu quase morro no primeiro dia.
- Dá próxima vez me dá as chicotadas. Ele odeia ser desobedecido.
- Deixa de ser sangue de barata Thor. - Reclamei.
- Não existe valente diante de arma não, Dee.
- Eu sei, eu apanhei quieto para não levar um tiro também, mas você ás vezes se recusa até a pensar algo contra ele.
- Não fala isso, que eu arrisquei minha pele para te ajudar sem nem te conhecer.
- Desculpa. - Reconheci. - Mas esquece o vestibular, nem fala para ninguém
- Claro que não vou esquec...
- Pode esquecer Thor. - Falou Lipe abrindo a porta. - Esquece pra valer que eu vou falar agora mesmo pro Bill que tem prostituto querendo ser sabido demais por aqui.
Continua...
P.S: este é um conto que fala de garotos de programa. Pessoas que lidam com as facetas mais sombrias da sexualidade humana. Ela é baseada em inúmeros relatos que já li, de sofrimentos, perseguições e bizarrices vistas por esse tipo de profissional. Aliado à escravidão humana para fins sexuais.
Por mais estranho que possa parecer, tudo que é relatado aqui, acontece de forma bem pior na vida real. A história do Diego me surgiu antes ainda que a do Caio, mas como ela é muito forte, resolvi escreve ro Caio primeiro. Eu pensei em três romances gays, um o personagem era Caio, no Outro Diego e no outro Caleb.
Quando terminar a do Diego, vou escrever a do Caleb, que tem é totalmente diferente das outras duas. Mas esta história é realmente bem triste e talvez eu devesse ter deixado para escrever ela por último, resolvi deixar o Caleb por último por ser a história mais romântica das três, mas como se diz aqui, “eu sou cearense e desisto é porra”. Então vou até o fim na história. Agradeço muito os comentários, aqui e por e-mails, preciso realmente de incentivo para continuar, porque esta história me emociona muito, por que conheci pessoas que passaram por coisa semelhantes às que relato. A realidade é mais cruel. Dedico essa história a todos os Diegos e Thors que estão por aí neste exato momento.
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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
http://romancesecontosgays.blogspot.com.br/a-historia-de-caio-leitura-on-line-e.html
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