O Breno conseguiu o emprego no hospital e brindamos. Ouvi a porta abrir e era a Juli.
– boa tarde.
– boa tarde minha Deusa.
– não sabia que seu irmão viria.
– nem eu, veio de surpresa. A senhorita não veio na sexta-feira porque?
– porque não pude e eu te avisei. Deixei recado na secretária eletrónica.
– rsrs, nunca ouço a secretária. Mas sente e almoce.
– obrigada, me sirva, sou mais velha.
– sim senhora. Quer que lhe dê na boquinha também?
– não exagera, sou velha, não inválida.
– tudo bem. Quer mais alguma coisa madame?
– não filho, obrigada.
Mais rabugenta impossível. Se a Juli fosse minha mãe de verdade, não nos dariamos tão bem. O Rico e o Breno eram paparicados pela Juli enquanto eu assistia tv.
– Juli, quero que faça gelatina. Mas daquela de duas camadas.
– faço sim Duzinho. O Ricardo adora essa gelatina.
– vai fazer por ele então?
– deixa de ser ciumento. Desde quando você tem ciúmes desse menino de ouro?
– ouviu amor? Menino de ouro hahah. – disse o Rico se jogando no sofá.
– to perdido com vocês, nem mando mais nessa casa.
– manda no meu coração. Manda no meu amor, no meu corpo. – disse o Rico no meu ouvido.
– lindo. Quer dormir um pouco? Vou fazer umas ligações e depois vamos pra sua casa. Prometi ao seu pai que levaria um Cabernet.
– por isso que ele te adora, você leva vinho pra ele hahah.
– não, ele gosta de mim porque faço o filho dele feliz. Me deixe trabalhar agora amor.
– tudo bem, mas não vou dormir. Vou ficar aqui contigo, nem me mexo.
– rsrs, tudo bem.
– tudo bem se eu ficar aqui, ou atrapalho? – disse o mano se deitando no outro sofá.
– pode ficar, só peço silêncio, vou ligar pra uns fornecedores.
A Juli ia passar o aspirador de pó na sala e desistiru quando me viu pegar o telefone. Ela foi limpar os quartos e o Rico se deitou nas minhas pernas.
Enquanto eu falava ao telefone, senti meu garoto suando, minha perna estava molhada e o Rico cochilava com meus dedos em seu cabelo.
– mano, liga o ar da sala e fecha a porta do corredor.
– não é melhor acordar ele e pedir pra ir dormir no quarto?
– não Breno, se ele for pra cama, ele perde o sono. Deixa ele aqui mesmo.
– ta, vou ligar. Vou dormir um pouco, aproveitar né, começo a trabalhar amanhã. Edu, é engraçado ver você assim.
– assim como?
– assim, gostando de verdade de alguém. Se o pai e a mãe entendesse você do jeito que eu entendo, eles sentiriam tanto orgulho do filho que têem. Eu sei que não foi fácil pra você se assumir.
– rsrs, sabe que hoje eu nem sofro tanto preconceito. Bom, deve ser o ambiebte de trabalho, quando não estou na boate, estou em casa, na academia ou levo o Rico no shopping. Antes eu circulava mais, de uns tempos pra cá to mais sossegado. Ah, pega um lenço pra mim.
– pra que?
– o Ricardo ta babando na minha perna rsrs.
– isso que é amor.
Limpei minha perna e uma meia hora depois a Juli veio saber se podia limpar a sala.
– ja limpei seu quarto. Leva o garoto pra lá Edu.
Me abaixei e beijei o Rico. Ele coçou o olho, me olhou e me chamou de Bob.
– amor, acorda e deita na cama.
– ta. O que foi?
– você me chamou de Bob.
– capaz?
– sim, tava sonhando com ele?
– hahah, pior que eu tava. Há dias que não brinco com ele.
– rsrs, vai dormir na cama. Vou sair um pouquinho e já volto.
– vai onde?
– você confia em mim?
– confio sim.
– então dorme, quando eu chegar te falo. É rapidinho, não demoro.
– tudo bem. Te amo.
– também meu anjo.
Ah, o Bob é o cachorro do Rico, na verdade, era. Ele morreu em abril desse ano. O Bob era um poodle de 17 anos e já estava bem acabadinho – e sem nenhum dente na boca. Nessa época ele ainda brincava, depois foi ficando debilitado e não aguentou. O Ricardo chorou dois dias, o Miguel chorava pelo simples fato de ver o irmão chorando, nem era tanto pelo Bob. Já eu chorei porque fiquei na bronha os dois dias que o Ricardo chorou.
Voltemos...
Fui ao centro e passei numa loja de artigos esportivos. Comprei dois skates e acessórios de segurança.
– são pra você e seu filho? – disse a vendedora me olhando de uma forma sedutora. Como se eu gostasse né?
– não tenho filhos.
– quantos anos você tem?
– 33. Mas são pra mim e pro meu namorado.
Ela me olhou com cara de assombração, paguei e fui pro Ap. Deixei tudo na sala e a Juli disse que tinha feito a gelatina.
– vê se não coloca o dedo Edu, você não mora mais sozinho.
– hahah, ta bom, e se você já terminou, pode ir.
– sim, mas quero meu dinheiro.
– ah é, ta aqui, e não gaste com besteiras.
– rsrs, até parece. Olha, ta tudo do jeito que você gosta. Venho amanhã pra passar a roupa.
– tudo bem, se cuida mãezona.
– você também filho. E não coloque o dedo gelatina.
Deixei os skates na sala e fui pro quarto. No começo quando o Ricardo ia em casa eu achava estranho, ele sempre ficava pelado, ou sô de boxer. Mesmo eu sendo sozinho, ficava no mínimo de short. Hoje eu já nem ligo mais. Mas já disse pra ele procurar um Psicólogo pra tratar dessa mania de sempre ficar semi-nu ou nu em casa.
Eu entrei e como de costume, meu leke safado estava nu, coberto apenas pelo lençou. Tirei minha roupa e me deitei ao seu lado. Comecei a beijar seu pescoço e ele foi acordando.
– acorda pelado.
– rsrs, pare amor. Eu gosto de ficar pelado poxa. Lá em casa não da por causa do Miguel.
– to brincando amor. Levanta, se arruma. Eu vou acordar o mano também. Tem um presente pra ti lá na sala.
– pra mim? O que eu fiz de tão bom pra merecer um presente?
– rsrs, você existe. Mas venha.
Levei ele pra sala e quando ele viu os skates ficou me olhando abismado.
– suponho que tenha comprado dois por querer aprender a andar, estou certo?
– sim senhor.
– hahahah, eu adorei amor, sério mesmo. Poxa, faz um tempão que eu não ando. Brigado Edu. Mas acho que não é boa ideia você andar não.
– eita, porque não?
– tua idade já é avançada né kkkkkk.
– corre Ricardo.
– puta merda.
E ele correu. Corri atrás dele pelo Ap todo. Leke abusado, me chamando de velho. Ele corria e dava risada feito criança. Entramos no escritório e ele se jogou no sofá. Caí por cima ele.
– não me morde Edu rsrs.
– quem é Edu?
– meu namorado.
– como ele é?
– lindo e bravo.
– hahaha, não sou bravo.
– não mesmo. Teu pau ta duro.
– rsrs. Olha o jeito que você me deixa. Me da um beijo e vamos. Amanhã vamos na Half Pine pra praticar nos skates, nem que caia e me arrebente todo.
– então sai de cima de mim, senão vou querer transar de novo.
– deus que me livre, sossega garoto.
– kkkkkk, então sai.
Chamei o mano, nos trocamos. Peguei o vinho e passamos no mercado antes. O Rico comprou umas guloseimas pro irmão.
Quando chegamos a churrasqueira estava acesa, eu dei graças a Deus. Gente rica tem dinheiro mas vive passando fome, eu não entendo isso. O Ricardo vive dizendo que eu como um boi por mês, não duvido. Em casa não ficamos sem carne, eu pelo menos, o Rico não come muita carne vermelha, mas compensa nas massas, mas pra mim tem que ter todos os dias.
A mãe do Rico como sempre muito educada. O Miguel já foi arrastando o mano e eu pra jogarmos. O caçula havia ligado o video game na área externa da cama, onde iriamos jantar. Garoto esperto.
O Fernando veio nos cumprinentar e entreguei a ele o vinho.
– não mentiu quando disse que era uma ótima safra. – ele disse e fomos pra edícula.
– na minha opinião, a uva Cabernet, é a melhor. Mas me diga uma coisa, qual o cardápio?
– uma boa picanha. Não se preocupe, dessa vez não vai embora com fome haha.
– não acredito que o Ricardo comentou.
– sim, depois que você saiu. Ele disse, " pai, quer matar o Edu de fome? Ele é acostumado a comer um boi, aposto que vai chegar no Ap e jantar". Mas como eu podia saber?
– hahah, e jantei mesmo.
– hoje não vai precisar jantar de novo. Me ajude a colocar a carne no fogo.
– sim senhor.
Enquanto colocavamos a carne assar o Breno e o Rico jogavam com o Miguel. A dona Marlene veio conversar comigo sobre a Pós Graduação do Rico.Assunro que eu estava evitando. Com a Pós, a gente ia se ver pouco. Pelo menos não seria em outra cidade.
Durante a nossa conversa o Rico chegou e se sentou no chão entre minhas pernas. O garoto sempre me colocava na maior saia justa. Eu nunca tive vergonha por ser Homossexual, a questão era que eu me sentia constrangido em demonstrar carinho para/com o Ricardo na frente de seus pais. Mas o Rico agia com tanta naturalidade que me desarmava. Eu segurava uma taça de vinho e durante a conversa com mãe dele me peguei acariciando seus cabelos, foi bem automático. Com o tempo eu fui me acostumando e as vezes quando estavamos todos conversando, ele chegava e me beijava, sempre selinhos. Embora eu ficasse meio sem graça na hora, ele sempre me passava confiança.
O jantar ficou pronto. A carne estava espetacular. O Fernando não parava de me servir, certamente não queria que eu passasse fome como da outra vez hahah.
O Ricardo subiu pra arrumar uma mala, mas quando ele desceu, quase eu cuspi todo o vinho.
– pra onde você vai amor?
– como pra onde Edu? Pra dua casa né?
– rsrs, vai levar tudo isso?
– sim, qual o problema?
– hahah, amor de Deus, você vai pro centro e não pra outro país.
Ele desceu com quatro malas e todas grandes, quando eu olhei pra aquilo comecei a rir, até ele ne olhar com os olhos mais piedosos da face da terra. Aquele olhar de por favor, deixa eu levar tudo. Não aguentei e me esqueci por segundos de todos que estavam ali, puxei ele pra mim e o beijei.
– leve todas.
– rsrs, tem espaço lá?
– se não tiver, a gente dá um j eito, e tem outro quarto sem ser o do Breno. A gente coloca suas coisas lá.
– ah, não vou mais levar tudo isso não.
– rsrs, vai sim.
O Miguel começou a chorar achando que o irmão ia embora de casa, todo mundo dava risada. Por fim, não sei como, mas coloquei as malas do Rico dentro do carro, o mano dividiu espaço com uma das malas. Nos despedimos e fomos pra casaContinuaMuito obrigado pelos comentários e por lerem. Beijão a todos..
Ps: preguiça é sacanagem né Looooh? Hahaha, mas te entendo cara. Não sei porque, mas sempre tive uma paixão pelo Alex hahah. Saudade daquele cara.
Abraços a todos.