Chego em casa e vou direto pra meu quarto, tranco a porta, deito na cama e começo a chorar. Mas não era porque Camila tinha terminado comigo. E sim porque sei que o que ela falou era verdade.
Eu sinto atracão por outros homens, mas eu não queria sentir isso. Tento reprimir esse sentimentos dentro de mim o máximo que posso.
Hoje eu quis muito beijar o Diogo. Mesmo minha mente dizendo que era errado, meu corpo pedia por aquilo. Nunca tive nada com outro cara, mas sempre tive muita vontade. Mas pesando contra isso, o que aconteceria se meus pais descobrissem que tem um filho viado. Se me botassem pra fora de casa?
Eu não sei o que fazer! Devo agir do jeito que sou ou continuar do jeito que as pessoas querem que eu seja? Todos esses conflitos parecem que vão fazer minha cabeça explodir.
Fico me martirizando até que adormeço.
No dia seguinte, acordo com o celular tocando. Era Ian.
Eu - Alô.
Ian - Hey Dan, a Camila me falou o que houve. Ela tá preocupada com você. Eu estou preocupado com você. Como você estar?
Eu - Péssimo, confuso. Eu não sei o que esta acontecendo comigo Ian.
Ian - Fala comigo. Talvez possa te ajudar...
Eu - Você não pode. Nem eu sei qual é o problema.
Ian - Dan, você pode falar comigo sobre qualquer coisa. Você sabe disso. Eu vou até a sua casa conversar contigo.
Eu - Não! Eu vou até a sua casa. Não quero que meus pais escutem o que tenho a falar.
Ian - Você tá pronto pra falar sobre isso?
Eu - Eu posso confiar em você? Tudo o que te falar vai ficar só entre nós?
Ian - Claro que sim.
Eu - Então eu estou pronto. Daqui a pouco eu chego por aí.
Desligo o telefone.
Pode ser uma boa me abrir com Ian. Ele é assumido. Ja deve ter passado pelo que estou passando agora. Talvez ele possa me ajudar a entender isso.
Tomo banho e vou pra casa dele.
Quando chego, sou recebido com o forte abraço.
Ian - Hey cara, como você tá.
Eu - Me ajuda Ian, eu não sei mas o que fazer... (Digo com os olhos marejados)
Ian - Me conta o que tá rolando.
Eu - Eu acho... Eu acho que sou...
Ian - Gay?
Balanço a cabeça de forma afirmativa.
Ian - Você pode falar Dan, não é uma palavrão.
Eu enxugo meus olhos e falo:
Eu - Você já tentou não ser...
Ian - Gay? Muitas vezes, mas depois de um tempo, eu percebi que não funcionaria. E o que deveria ter feito, e o que espero que você faça, é lidar com seus problemas o mais rápido que você poder.
Eu - Como você lidou com suas... Coisas? O que você fez?
Ian - O que eu fiz? Eu me exclui. Quando eu percebi que era o cara que gostava de outros caras, eu evitava meus amigos, minha família. Eu me sentia tão desconfortável com quem eu era, que não me sentia confortável perto de outras pessoas.
Eu - Como você evitava sua família?
Ian - Eu não morava com meus pais. Eles moravam em outra cidade e eu morava com minha tia e meus primos.
Eu - Quem foi a primeira pessoa que soube que você é...
Ian - Gay?
Ele fala rindo.
Ian - Você realmente tem um problema com essa palavra não é? Bem, eu contei pro Biel e pra Liz na mesma hora.
Eu - E o que aconteceria se eles não levassem numa boa?
Ian - Então seria bem ruim... Pra eles. Por que eu não posso mudar quem eu sou.
Ele põe a mão sobre minha perna.
Ian - E então? O que você vai fazer?
Eu - Não sei, mas acho que não posso mais continuar aqui.
Ian - Por que? Eu disse alguma coisa errada?
Eu - Não. Quero dizer que não posso mais ficar aqui, na cidade...
Ele fica um tempo de caneca baixa, depois fala:
Ian - Quer saber? Talvez seja melhor assim! (Fala bravo)
Fiquei surpreso. Não esperava ouvir aquilo dele.
Eu - Você acha que eu devo ir embora?
Ian - Talvez.
Eu - Você percebe que se eu fizer isso, vou esta fugindo do meu problema. Que foi o oposto do que você disse pra eu fazer.
Ian - Eu sei... Não estou dizendo pra você ir e fingir que é hetero. Mas se quiser ir embora. Vá!
Eu - Quer saber? Não tenho mais certeza se quero falar sobre isso com você.
Ian - Deixa eu terminar de falar. Se seu desejo for ir embora, tudo bem. Mas se quiser você ficar, enfrentar tudo isso, pode contar comigo. Eu vou estar sempre com você. Eu já passei por isso. Posso te ajudar a lidar com isso da melhor maneira possível.
Ele vem e me abraça.
Ian - E aí? O que vai fazer?
Eu - Eu vou ficar.
Ian - Isso garoto! É assim que se fala.
Nos rimos.
Eu - Você falou serio quando disse que era melhor eu ir embora?
Ian - Claro que não! Nunca deixaria você ir. Só queria provocar alguma reação em você. E deu certo.
Eu - Deu sim...
Ficamos conversando mais um tempinho até que decido ir embora.
Eu - Ian, eu já vou...
Ian - Mas ainda tá cedo...
Eu - Sei, mas preciso passar na casa da Camila, tenho que me desculpar.
Ian - Quer que eu vá contigo.
Eu - Não. Isso é algo que preciso fazer sozinho. Mas muito obrigado por tudo. Você é um amigão de verdade.
Ian - Te falei, pode contar comigo...
Eu - Eu sei...
Ian - Você tem planos pra mais tarde? Podemos sair pra conversar mais...
Eu - Pode ser...
Ian - Beleza. Passo na tua casa as 7:00hs.
Eu - Ok. Até mais.
Me despeço e vou embora.
É hora de encarar a realidade. Eu sou gay! Faz parte de mim. Não posso mudar isso. Só tenho que aprender a lidar com a situação.
A reação dos meus pais é o que me assusta, não quero ser uma decepção pra eles. Mas eles vão ter que saber uma hora. Não quero eles fora da minha vida, mas não vou esconder que eu sou pra agrada-los.
Chego até a casa de Camila e fico parado em frente a porta.
Continua.
