Fiquei surpreso, mas no fundo eu sentia que havia algo estranho naquela atitude dele de desviar do caminho do motel. Ele tinha razão, eu o desafiara, apostara alto pensando que ele não seria capaz de uma atitude drástica. Ele estava ali retomando o controle da situação, em outras palavras, mostrando quem é que manda.
- Porque está fazendo isso Sam? - Indaguei encarando-o.
- Você sabe porque, porra. Anda, sai do cacete desse carro.
- Sam, pensa bem no que você quer fazer. - Mantive meu olhar encarando-o.
- Para de olhar para mim, para de olhar para mim.
- Não Sam, quero que você me olhe bem nos olhos e diga porque vai fazer isso comigo.
Ele me puxou pela gola da camisa, naquele seu familiar gesto de colocar o cano da arma no meu queixo.
- Te encaro porra. - Falou ele me fitando diretamente. - Acha que eu tenho medo da porra dos teus olhos. Só porque são iguais aos olhos dele? - Gritou.
- Ele quem, Sam? Ele quem?
- O Kauê, você tem os mesmos olhos dele. - Falou ele engolindo em seco e percebi que seus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Você amava o Kauê?
- Não. - Falou ele e me largou olhando para a frente e segurando a arma junto ao volante. - Quer dizer, acho que amava sim, mas nunca admiti isso. Eu tive um caso com ele, ele queria expôr para todo mundo e eu... eu matei ele cara. Eu tive que matar ele. E quando eu olho para você, só lembro disso, como gostava de ficar com o moleque. Não queria ter feito aquilo, ele me obrigou.
- Sam, então você não gosta de mim cara, eu sou apenas parecido com o cara que você matou e gostava. Você não quer cometer o mesmo erro de antes quer? Vai matar outra pessoa por causa desse sentimento que você não quis admitir?
- Não estou te matando por negar sentimento. Eu reconheci a porra do meu erro, quis assumir o sentimento contigo. Mas você é um filho da puta, não é como o Kauê, que me amava. Você é um puto escroto, que quer me ver num caixão que eu sei.
- Não Sam. Eu só quero viver um amor e você quer tirar a minha vida e impedir isso. Quer que eu tenha o mesmo destino do Kauê.
- Não fala no nome dele. Ele era um menino direito. Você é um puto. Um puto desgraçado. Ele transava comigo por amor. Você só me dá por causa de grana.
- Sam, eu..
- Sai da porra do meu carro agora.
- Hã?
- Sai dessa porra e sai correndo, é a última chance que te dou. Nunca mais olha na minha cara e você vai viver esse caralho de amor que tanto fala.
Mal acreditei na minha sorte. Peguei meu caderno e pulei do carro. Sai correndo pelas mangueiras no escuro e não vi sinal de movimento no carro dele. Seguei pelas partes mais escuras possível com medo dele estar blefando e atirar em mim, mas ao que parece ele não tomou qualquer tipo de atitude.
Andei dois quarteirões e cheguei a uma avenida, na qual ficava a entrada principal do campus. Peguei o primeiro ônibus que apareceu e desci em um terminal. De lá, chamei um mototáxi e fui para casa. Cheguei tão cansado e suado em casa que parecia ter voltado de uma batalha, a Nic estava trabalhando e o Lipe estava na cozinha fazendo comida.
- Aê, Dee. Quer panqueca?
- Quero sim. - Falei entrando na cozinha.
- Puta que pariu, o que houve com você? - Exclamou ele ao ver meu estado.
Contei tudo que houve com o Sam.
- Meu Deus, amigo. Você nasceu de novo. Será que ele vai te deixar em paz? Acho melhor a gente se mudar.
- Também acho. Vamos se mudar sim.
- Toma, come. - Ele colocou um prato de panquecas na minha frente e comecei a comer com ávidez. Estava com muita fome. Ele então contou que tinha sido tudo tranquilo com o Fábio. Mas não tinha sentido muito feeling entre os dois, apesar de terem ido para o motel e passado a tarde transando.
Fomos dormir mais uma vez na mesma cama. Meu coração ainda tremia.
- Lipe, nunca te perguntei isso. Mas o que você curte mesmo na cama? - Falei para puxar assunto.
- Hein?
- O que tu curte curte cara. Dar, comer?
- Dee, não tô captando o sentido disso.
- Não tem sentido nenhum, só quero saber.
- Eu sou versátil mesmo, curto dar e comer de boa. Mas comer é mais minha praia, porque dando canso logo, mas comendo passo um tempão. E tu?
- Eu curto comer e chupar rola. Dar é mais pra agradar mesmo.
- Chupar todo mundo curte ué.
- Mas comigo é diferente, eu realmente curto muito, saca? Tipo, quando eu tô nervoso, ansioso, dá logo uma vontade de mamar numa piroca para eu me acalmar, saca? É um troço muito relaxante.
- Saquei. Eu não sou dessa forma não. Curto, mas não é algo que me faz resolver os problemas. O que me faz esquecer tudo é...
- É a droga né?
- É sim. Mas tipo, bom pra você que chupar rola te relaxa tanto. Por isso você não fuma, não bebe, não cheira pó.
- Pois é.
Ficamos em silêncio por vários minutos.
- Lipe? Tá acordado?
- Tô cara.
- Deixa eu chupar teu pau?
Continua....
P.S: Logo tem mais um.