Rafa- Se superou. As vezes você me assusta Erick. Adivinha o que estou pensando.
Erick- Está pensando no que pensar.
Rafa- Filho da égua!! Bem isso! Começo a desconfiar que realmente seja um semi. Tu lê mentes?
Erick- Não, é que você olhou pa cima e meio que mordeu os lábios, geralmente as pessoas fazem isso pra se lembrar de algo ou pensar.
Eu- Tem que me ensinar a fazer essas coisas.
Erick- Só prestar atenção nos detalhes. Seu problema foi ter ficado nervoso, estava tão preocupado em se dar mau que nem prestou atenção no erros deles.
Eu- Você é incrível, muito esperto, está sempre atento, o Rafa mesmo sendo esse cabeça-oca, ele se vira melhor do que eu, todos vocês, eu sempre estou a baixo de vocês, o mais fraco do grupo.
Erick- Não fale isso, você é a coisa mais importante.
Rafa- Ele tem razão, você é o que nos matem unidos, é como nossa consciência, o Erick pode ser inteligente, mas você sempre sabe a coisa certa a se fazer.
Eu- Sério? Sem zoar?
Rafa- Nunca falei tão sério na minha vida.
Não é que ele realmente conseguiu me fazer soltar aquele sorriso de orelha a orelha. Quando chegamos na estradinha de chão já víamos pinhão nas árvores, aproveitamos tentar derrubar algumas pinhas e colher o pinhão, conseguimos meio saco, tinha muito pinhão. Mais para frente quando acabaram os pinheiros já encontramos a primeira porteira.
Eu- Quem vai abrir?
Rafa- Eu abro, se tiver outra abre algum de vocês.
Rafa desceu do carro, passamos, esperei ele e fomos mais pra frente, eu tive que dirigir devagar, a estrada estava esburacada. Cerca de 10 minutos depois encontramos mais uma porteira.
Rafa- Outra?
Eu- É o que parece?
Rafa- Erick sua vez.
O Erick desceu, abriu, eu passei e esperei ele, começamos a descer o morro, mais 10 minutos de curva e um pouco de reta tinha mais uma porteira.
Rafa- Tem certeza que está indo pelo caminho certo?
Eu- Não sei, o Edy disse que era por aqui, só seguir a estrada, ele disse que teria uma ou outra porteira e que era pra passar só naquelas que tivesse um " x " cortado na madeira.
Erick- Agora é você Rafa.
Eu- Desce lá pra ver se tem.
O Rafa desceu, deu uma olhada e achou o " x ", abriu a porteira, passei com o carro, esperei ele, entrou no carro e 7 minutos depois mais uma porteira.
Rafa- Tá de brincadeira!!
Eu- O que deu no tio pra colocar tanta porteira?
Erick- Deve ser para garantir que ninguém vá roubar os bois.
Rafa- Agora é você Erick, vê se acha o " x " na trava.
O Erick desceu, procurou, achou, abriu a porteira, passei, esperei ele, entrou no carro e depois de mais uns 7 minutos encontramos mais uma porteira.
Eu- Outra? Pera aí que dessa vez eu vou abrir, quero ver se tem mesmo um " x " ou se vocês só estão fingindo que acharam.
Saí do carro, realmente tinha um " x " na trava da porteira, abrir ela, voltei para o carro, passamos, desci e fechei ela, mais alguns metros a frente encontramos mais uma.
Eu- Rafa.
Rafa- Erick.
Erick- Erick nada, é tua vez.
Rafa- Não, eu abri a última.
Eu- Mentira quem abriu a última fui eu, é sua vez, vai lá.
Já sabem, saiu do carro, procurou o " x ", abriu a porteira, passamos, ele fechou e entrou no carro, mais 7 minutos mais uma porteira.
Rata- É pra ser pegadinha isso?
Eu- Rafa.
Rafa- Erick.
Erick- Will.
Eu- Rafa, vai lá.
Rafa- Erick migucho gatim, querido, te gosto muito.
Erick- Tá bom, eu abro.
Passamos por 17 porteiras, era um sobe, desce, vira curva que só e nada de chegar no sítio. Tinha muitas pedras no chão, pedras grandes, as vezes elas batiam no chão do carro, tive que parar algumas vezes pra ver se tinha estragado algo.
Eu- Tem mais uma lá na frente, dá pra ver daqui. É a vez de quem agora?
Rafa- Não sei, me perdi já.
Erick- Vamos escolher no pedra, papel e tesoura.
Lá fomos nós.
Todos- Pedra, papel ou tesoura.
Eu e Erick escolhemos pedra e Rafa escolheu papel.
Erick- Perdeu, pedra fura papel.
Eu- É vai lá.
Rafa desceu, fez todo o ritual pra abrir a porteira, quando subiu ele disse que viu o sítio e que não tinha mais nem uma porteira.
Eu- Aquela foi que número.
Erick- A 18, minha idade.
Rafa- 18 porteiras? Vai pra puta que pariu!!
Dirigi por 10 minutos, foi 1 hora e meia de trajeto na estradinha de chão.
Eu- Quero ver depois pra subir tudo isso.
Silêncio total nocarro, só uma música sertaneja tocando, coloquei quando estávamos quase chegando.
Rafa- Ei!! Que história é essa? Papel embrulha pedra!!
Erick- Hahaha.
Eu- Nós sabemos, mas não iríamos descer nós dois do carro pra abri a porteira.
Rafa- Me enganram legal, tem volta isso, me aguardem.
Eu- Fica bravo não alemão, já chegamos.
Olhei no relógio era 17 e alguma coisa, o sol estava se pondo, lá ele dorme cedo por causa dos morros, o céu estava limpo, estava esfriando, assim que chegamos nós comprimentamos o tio e a tia, os primos e primas e tratamos logo de tomar um banho na água quentinha é claro. É engraçado o jeito do tio e dos primos, eles tem sotque meio que de caipira, falam TABAIA, FAMIA, PRIMU, NOIS, FIO, o tio então, ele fala meio devagar e baixinho, é bem engraçado. Tomamos o café bem quentinho, bolo, bolhachas, pão e rosquinhas da tia, estava muito bom, Erick ficou do lado do fogão a lenha, melhor que aquecedor é o fogão a lenha. Terminamos nosso café e fomos desfazer as malas.
Rafa- Viu minha primas Erick? Acha que eu iria resistir a aquilo quando criança?
Ercik- Eu acho que você é o pecado em pessoa.
Tirei as barracas e comecei a monta-las perto da casa da tia, ela saiu pra fora falando alto.
Tia- Fio do céu, tá fazendo o quê? Vem pra DRENTO, tem dois quartos aqui.
Rafa- Qua nada tia, deixa pro pessoal que vai vir, nós viemos mesmo é pra acampar.
Tia- Mas tem cobra, aranha, sapos, perecas e muitos bichos aí fora.
Rafa- Aranha é comigo mesmo tia, cobra já é com o Will.
Erick- E os sapos, rãs, pererecas?
Eu- Hahaha isso é com o Rafa também, eu não sou chegado em engolir sapos, talvez comerei rãs mas peperecas nunca mais.
Tio- Deixa os meninos, se sentirem muito frio eles entram.
Terminamos de montar as barracas, uma para o Rafa e outra grande pra mim e o Erick, claro que cabia o Rafa mas ele trouxe a dele, vai saber o que queria fazer sozinho na barraca dele. Foi rápido pra montar, quando terminamos de arrumar tudo fomos conversar com o tio e mais dois primos que estava assando carne, esse meus primos são gêmeos. Nosso dois primos Everton e Everson.
Erick- E agora? Quem é o Everton e o Everson?
Eu- O Everton é o que tem barba, pelo menos um pouco, o outro é o Everson.
Tio- Tava falando aqui com os meninos das coisas que vocês aprontavam, provocavam as vacas e corriam pra cachoeira.
Everton- Tava me lembrando agora de quando nois era criança tinha o tio Nerso um homem bem fortão que estuprava os homens que passavam na estradinha perto da escola, ele só perdoavas as criancinhas.
Rafa- Will!! Ei Will.
Rafa me chamando bem baixinho.
Eu- O que?
Rafa- Acho que aquele cachorro estava sorrindo, ele mostrou os dentes e ergueu os lábios.
Eu- Cala a boca, cachorro não ri, se ele mostra os dentes é porque ele estava bravo.
Rafa- Não, fica olhando pra ver, ele ri sim, não é de bravo.
Fiquei cuidando pra ver mas nada.
Everson- O Túio era um rapaz, tinha uns 20 anos na época quando chegou na cidade, disseram pra ele que o Nerson estrupava os home ali, mas ele queria levar o sobrinho pra escola só pra ver a menininhas, então...
O Povo lá tem a mania de contar histórias bem devagar, fazem bastante pausas, falam um pouco baixo pra todo mundo ouvir.
Everson- Então ele foi assim mesmo, quando chegou na estradinha ele viu um homem parado mais pra frente, ficou com medo e disse pro sobrinho " Daqui você pode ir sozinho, eu vou ficar oiando", o piá foi, tio Nerso só perdoava criança, quando o piá tava passando tio Nerso paro ele e disse " Eii, pera aí um pouquinho. Quem é aquele lá?" o piá respondeu " Aquele lá é meu tio", " Diz pra ele que pode vir, o tio Nerson tá de férias", o piá gritou e fez sinal com a mão chamando o tio " Tio, pode vir, o tio Nerson tá de férias, vem!!", o Vilson foi todo faceiro, quando estava passando o homem disse pra ele "Opaa! Pera aí pera í!!" apontou pro relógio no braço e mostrou pro Vilson, " cabou minha férias" e foi o Vilson pro talo também.
Rafa- Hahaha!! Mas essa de acabou minha férias foi pra cabar mesmo.
Everton- Disseram que o Virson acabo gostando e batia cartão ponto na estradinha.
As conversas eram todas desse tipo, contando história de quando éramos crianças, até de lobisomens falamos, eles diziam que pra um lobisomem não te atacar, você tem que tirar a camisa, colocar ele do avesso e ficar parado que ele passa direto. Cheguei mais perto do Erick, percebi que ele estava usando só um casaco fino.
Eu- Não está com frio?
Erick- Um pouco.
Eu- Por que não coloca mais um casaco?
Erick- Eu não trouxe, pensei que não iria ficar frio aqui.
Eu- Aqui sempre fica frio de noite, estamos no mato, é assim.
Tirei minha jaqueta e dei pra ele.
Eu- Pegue.
Erick- Não, pode deixar, eu fico perto do fogo.
Eu- Pegue ou eu vou ficar bravo com você.
Erick- Will eu...
Eu- Não se preocupe, eu tenho mais uma na barraca, agora pegue.
Ele aceitou, não chegou a vestir, só se enrolou nela.
Fui até a barraca e peguei outra jaqueta.
O papo continuou, rimos um monte, comemos muito bem, depois da janta vi que o Erick foi sentar na beira do açude, tinha uma passarela de madeira, ele se sentou bem na ponta, ficava olhando para as estrelas, sentei ao lado dele.
Eu- Linadas não?
Erick- Muito. Não me lembro a última vez que vi o céu tão cheio de estrelas assim.
Eu- Por isso gosto do campo, aqui é tudo muito mais natural, na cidade não dá pra ver por causa das luzes.
Erick- Não costumo pensar nisso mas... O que vai ser de mim amanhã? Aonde eu vou estar? Como eu vou estar?
Eu- Provavelmente vai estar muito bem.
Erick- Bem sozinho.
Eu- Sozinho não, não vamos te deixar.
Erick- Vocês não, eu vou, quando eu for embora será só eu e mais ninguém.
Eu- Mas e a sua namorada?
Erick- Não sei se vamos no manter juntos ainda, ela anda muito estranha.
Eu- E seus tios.
Erick- Sou só a responsabilidade deles, não conversamos, somos apenas como conhecidos.
Eu- Deixa isso pra lá, vamos ver o que nos aguarda.
Erick- Vamos nos arriscar muito Will quando formos buscar o corpo do Douglas.
Eu- Eu sei, não quero força-los a isso, pelo contrário, quero que fiquem.
Erick- Estou com medo Will.
Eu- Seria um idiota se não estivesse.
Erick- Meu medo é de vocês, se algo acontecer a vocês... olha eu nem sei.
Eu- Vai dar tudo certo. Quando tudo acabar, vamos ficar longe disso, eles existem há muitos anos a até hoje ninguém ouviu falar neles, vamos manter assim.
Erick- E se eu for como o Douglas, se eu for um semi-demônio.
Eu- Demônio são maus, não tem sentimentos.
Erick- Eu sei, mas se esse for só meu lado humano? E se eu tende a ir pro lado do mau?
Eu- Isso não vai acontecer.
Erick- Como pode ter certeza? Como você disse, demônios são do mau, eles não tem sentimentos.
Eu- Porque somos o que escolhemos ser, Lucifer era um Anjo, agora é o Diabo, se um anjo pode ficar do mau, um demônio pode ficar do bem.
Erick- É que... as vezes eu sinto tanto ódio, eu sinto vontade de fazer o que não é certo, vontade de ver os outros sentirem dor, naquela noite no reciclado, eu confesso que gostei do que fiz na hora...
Erick começou a chorar, ele realmente estava com medo, apoie ele no meu ombro, disse que iria ficar tudo bem então eu termino por aqui e até depois, vou ir comer e dormir rsrsrs.....