Oi gente. O post de hoje eu dedico ao HPD, que está acompanhando o conto desde o começo e sempre deixa seu comentário registrado. Aos demais, um beijo enorme e boa leitura... Ah! O conto já se encaminha para o seu fim.
****************
O sol naquele sábado brilhava tão lindo. Os dois acordaram cedo, e nem perceberam que a Maria, zeladora da casa de praia, havia percebido que eles dormiram juntos. Ela disfarçou e seguiu para cozinha, onde preparava o café da manhã.
- Você parece um anjo dormindo. – Ricardo sorria, acariciando o rosto do amado, que ainda permanecia sobre os lençóis.
- Nossa, eu dormi feito uma pedra! – Daniel se espreguiçava.
- Eu vou dar uma passada no mercado e comprar algumas coisas. Quero ir logo pela manhã... Tá a fim de ir comigo?
- Você se importa de eu ficar? É que estou sentindo uma dor de cabeça.
- Claro que não meu amor! Deve ser o calor. Fica descansando.
Eles tomaram o café, e Ricardo seguiu para o mercado. Daniel se ofereceu a Maria, para ajudar em alguma coisa.
- Eu não me importo em pegar no pesado Maria; quero ser útil!
- Quer me ajudar no almoço? – ela propôs.
- Claro! Eu adoro cozinhar. Óbvio que não sei fazer tanta coisa como você, mais consigo fazer algo.
Os dois se reuniram na cozinha, e em diversos momentos, Daniel percebia que ela o olhava de forma estranha, como se quisesse dizer algo. Claro que ele não tomaria a iniciativa da fala, mais queria saber o que passava na cabeça dela.
- Engraçado... Eu conheço a maioria dos amigos do Ricardo, e não me lembro de você.
Ela finalmente quebrou o silêncio, mais ele esperava uma pergunta branda.
- Nos conhecemos há pouco tempo.
- Sei... – aquilo soou como um “mim engana que eu gosto”. – Porque vocês dois dormiram na mesma cama, se havia várias outras vazias?
Daniel acertou de cheio o seu dedo, com a faca amolada. A surpresa da pergunta dela o fez se engasgar com a própria saliva.
- Ai! Foi só um cortezinho. – ela se aproximou para ajudá-lo.
- Ainda não respondeu a minha pergunta.
- É... Bem, é...
- É o que eu estou pesando meu rapaz?
Aquele interrogatório estava deixando ele nauseado. Estava mais do que explicito a vontade daquela senhora em querer saber o que talvez ela já soubesse, e aguardava apenas uma confirmação. Nem foi preciso ele se dar o trabalho de responder, pois a Maria foi direto ao ponto.
- Vocês são namorados, não é?
- NÃO! Claro que não. – ele se exaltou.
- Não precisa esconder de mim. Eu já sabia do meu Ricardo. E a forma como ele te olha, conversa com você... Não quero que fique assustado. Eu sei que foi o próprio Ricardo quem pediu para não dizer nada.
- Eu não sei o que dizer... – ele estava atônito.
- Eu ajudei a criar o Ricardo. Tenho muito amor pelo meu menino. E eu percebia que ele escondia algo dentro de si. Uma vez, ele veio sozinho para cá, e eu senti que ele estava muito triste. Falava o tempo todo de um rapaz com o mesmo nome do seu.
- Isso faz muito tempo?
- Mais ou menos um ano e meio. Eu cheguei a ver a foto do tal garoto. Era um rapaz gordinho, mais bastante simpático. Eu acredito que ele deveria ser o grande amor que o Ricardo escondia dos pais.
- Essa foto ainda existe? – Daniel alimentou uma esperança dentro de si, com a hipótese de o Ricardo tê-lo amado desde o inicio e ele nunca percebera.
- Não precisa ficar com ciúmes. Acho que ele já o esqueceu, pois agora tem você. Mas de qualquer forma, eu vou pegar a foto para você.
Em poucos minutos, ela surgiu com um envelope, sacando de dentro dele, a tal foto. Quando o Daniel a viu, quase caiu para trás. Era a foto dele, quando a tirou numa festa junina da faculdade. Então quer dizer que o Ricardo o amava, mesmo ele sendo quem era? Ele não sabia se sorria ou se chorava. Tendo aquela revelação para si, ele passava a olhar o seu amado de outro modo. Sempre o julgou, quando na verdade o próprio Ricardo tinha medo dos seus sentimentos.
- Aconteceu alguma coisa. – perguntou ela, percebendo a cara dele.
- Maria, este aqui na foto, sou eu!
- Sério? Mas você está tão diferente...
- É uma longa história...
Eles bateram altos papos, e o Daniel foi conhecendo um pouco mais do Ricardo e de sua família. A Maria revelara tudo e mais um pouco, e à medida que os fatos desenrolavam, Daniel observou o quanto foi difícil para o Ricardo expressar o que sentia. O seu pai é um homem muito duro e severo.
- O Sr. Corrêa jamais fez um carinho nos filhos. E o Ricardo sempre era o excluído. Enquanto o Felipe tinha tudo o que queria. Às vezes eu ficava com dó do meu menino. Apanhava tanto... Sem contar, os castigos que sofria.
- Você acha que se ele descobrir a orientação do Ricardo...
- Não quero nem pensar! Ele prefere ver o filho morto!
Daniel se assustou com a expressão dela, e achou melhor mudar o assunto. Eles terminaram o almoço e o Ricardo chegou com as mãos cheias de sacolas.
- Oi meu amor! Demorou hein? – ele fez uma cara de espanto para o Daniel, pois nunca imaginava que ele o chamaria de “meu amor” na frente da Maria.
- Relaxa, a Maria já sabe de nós dois. Aliás, ela sempre soube de você.
- Hã? É... É... – ele gaguejou.
- Vamos almoçar, e daí ela mesma te conta toda a história. – Daniel o puxou pelo braço, o tranqüilizando da situação.
Eles sentaram-se à mesa, e provaram de um delicioso rosbife com salada e arroz branco. Os assuntos iam se misturando um atrás do outro, e o Ricardo se sentiu tão aliviado por não ter sido condenado por ela. A Maria era a sua segunda mãe.
- Pode ficar tranqüilo que eu irei guardar segredo. – ela apertou as mãos dele.
- Eu te amo muito, sabia? – dizia o Ricardo, beijando a mão dela.
Ricardo aproveitou o resto do dia e sentou numa rede, com o Daniel. Eles trocaram carinhos e afagos, e o Dan, acabou dormindo no peito dele. O Ricardo alisava os seus cabelos fazendo-lhe cafuné, e ele também pegou no sono.
No dia seguinte, os dois foram à praia, e curtiram bastante, o sol. Brincaram na areia feito duas crianças. Aquele estava sendo um final de semana perfeito, uma pena estar acabando. Era hora de voltar, e com as malas prontas, ambos se despediam dos caseiros. A Maria chorava sem parar...
- Se cuida meu filho, e não demore a me visitar.
- Pode deixar meu anjo! Obrigado por tudo viu? Eu amo você. – o Ricardo lhe deu um beijo demorado, em seu rosto.
Eles seguiram estrada, rumo a São Paulo. Daniel estava tão cansado, que foi dormindo a maior parte do percurso.
- Falta pouco meu amor.
- Porque não me disse que me amava desde o inicio?
- Mas eu te falei que sempre te amei.
- Como conseguiu a foto?
- Que foto? – o Ricardo não se lembrava da foto.
- Uma foto minha, que por sinal, eu estava horrível! Você era apaixonado por mim, mesmo quando eu era feio.
- Você nunca foi feio, e eu sempre te achei uma delícia. – o Ricardo riu.
- Confessa que eu estou bem melhor agora...
- Agora você está um tesão. E eu já estou louco pra te amar.
- E você mocinho, controle esse teu fogo, porque o que eu mais quero agora é a minha cama.
Depois de mais duas horas, eles chegaram. O Ricardo deixou o seu amado em casa, e seguiu para a sua.
Quando ele ia abrindo a porta, teve uma infeliz coincidência. A Denise surgiu do nada.
- O que faz aqui? – Ricardo fechou a cara para ela.
- Eu vim te pedir desculpas. Eu quero voltar com o nosso relacionamento meu amor.
- Não me chame de meu amor! Você não presta Denise! E mesmo que fosse a última mulher do mundo, eu jamais ficaria com você de novo.
- Você só está dizendo isso, porque está com raiva de mim. Eu sei que me ama.
- Você deve ter se drogado! Eu não te amo garota. E outra coisa, eu já tenho compromisso.
- Mentira! – ela gritou.
- Pode parando com o seu barraco. Eu acabei de chegar de viajem, e quero tomar um banho e relaxar... Não estou com cabeça para mulher maluca.
- É ele, não é? Eu não acredito que você vai me trocar por uma bicha!
- Lave esta boca para falar mal do Daniel. E quer saber? É ele sim. Eu o amo, e vamos ficar juntos!
- Ahh, é? Pois eu quero ver a cara do seu pai, quando eu disser que fui trocada por um homem.
O Ricardo segurou forte no braço dela e a desafiou.
- Se você sonhar em me prejudicar, ou até mesmo o Daniel... Eu acabo com a tua raça!
- Vai! Acaba então. Eu nunca pude imaginar que eu namoraria uma bicha. Olha pra você... É másculo, viril... Não tem o menor jeito pra ser gay! Você está confuso Ricardo. – ela gritou.
- Para! Chega de bancar a ridícula. Eu amo o Daniel e é com ele que eu vou ficar. Saia da porta de minha casa. SAI! – ele a empurrou, e ela não se deu por vencida.
- Seu pai vai saber a bichinha que tem dentro de casa. Eu vou acabar com o romancinho de vocês. Idiota! Idiota! – ela seguiu adiante, gritando aos quatro ventos.
Ele não esperava ter de chegar exausto de uma viagem longa, e ter de encontrá-la. Em nenhum momento o Ricardo se sentiu acuado perante as chantagens da Denise, muito pelo contrário, ele não deu brecha para que ela saísse vencida daquela discussão.
*************************
Daniel tomou um banho, e também estava cansado. Mesmo assim, teve total paciência para conversar com a Jéssica, os detalhes da viagem. Quando ia se preparando para dormir, o Kadu bateu na porta.
- Oi. É você. Eu já arrumei a sua cama. – Daniel não esperava que ele fosse dormir aquele horário. Era cedo ainda.
- Eu vim na verdade, conversar com você.
- Será que pode ser amanhã? Eu estou podre Kadu!
- Não, não dá. É importante. – ele o olhava sério.
- Ok! Senta aí. – Daniel se afastou da cama, dando espaço para ele.
- Dan... Você sabe que eu tive uma decepção amorosa em Vitória, não sabe? – ele afirmou com a cabeça. – O que a gente viveu por lá, foi muito mais do que eu pensava ser. Aos poucos eu fui percebendo, que o meu amor mesmo, é você Daniel!
O Outro não sabia o que dizer, pensar... Jamais imaginava ouvir aquela declaração. Para ele, o Kadu era apenas um amigo, mesmo ambos tendo um caso no passado.
- Kadu, eu... É que você sabe...
- Eu sei que ainda ama esse tal de Ricardo, mais eu posso te fazer esquecer-se dele. – naquele momento, o Kadu se aproximou, tentando encontrar a boca do Daniel.
- Cara, é que... – Daniel se afastou. Eu voltei para o Ricardo. Nós estamos namorando.
- O quê? Você não fez isso comigo?
- Eu ao o Ricardo, e resolvi dar uma chance para nosso amor.
- Nosso amor? Ele não ama você. Este cara só quer te comer! – ele se exaltou.
- Me respeite Kadu! Veja como você fala comigo. – Daniel gritou.
As atribulações só estavam começando... Os Daniel, junto ao Ricardo, terão de ser fortes, pois gigantes ondas virão para separá-los. Aquele era só o começo...
CONTINUA...