DUAS CARAS
Capítulo 22
O Gabriel me encarava, parecia não conseguir me falar nada. Eu o pressionava mais ainda até falar.
- Eu gosto de você Bruno, esse temperamento que você tem, eu também tenho, te acho parecido comigo, quando eu tinha sua idade.
- Caralho, você só sabe falar isso. – Falei irritado. – Eu não sou um ladrão, um corrupto como você. – Eu cuspia as palavras. – Eu tenho dignidade, e não tenho vergonha de falar que sou bissexual, de que sou homossexual, não saio xingando viado nenhum por aí. Eu só me decepcionei com você Gabriel.
Era estranha aquela discussão, dentro daquele carro que por sorte tinha os seus vidros escuro o suficiente para que do lado de fora não pudesse notar o que acontecia dentro dele.
- Essas acusações em cima de mim não são verdades. – Ele me encarou.
- Então estão apenas difamando? – Falei com ar de deboche.
- Estão. Eles querem me derrubar.
- Eles quem? – Perguntei e o Gabriel nada disse. – Fala, quem está querendo te derrubar?
- Garoto eu não devo satisfação da minha vida política a você.
- Não queira que eu acredite em você, ou pior, que eu confie em você.
Ele me olhou serenamente, e voltou a guiar o carro, para onde eu não sei, perguntei várias vezes para onde ele estava ainda, mas se manteve mudo a todo instante. Quando me deparei estávamos a margem do Lago Paranoá, uma área um pouco mais isolada de Brasília, ou sol era forte e o Gabriel estacionou seu carro em baixo de uma sombra refrescante de uma árvore.
- Por que me trouxe aqui? – Perguntei.
- Nos precisamos conversar. – Ele olhou para mim. – Preciso que confie em mim.
- Por que devo confiar em você. Se cada vez mais me decepciono com você. Eu não te entendo Gabriel, as vezes tenho a impressão que você tem duas caras, e que sabe muito bem disfarçar uma da outra.
- Você desperta meu lado bom Bruno.
- Hahaha. Conta outra.
- Estou falando sério caralho. – Ele se irritou. – Quando eu olho pra você, eu não sei o que eu sinto, é estranho pra mim.
- Se você não sabe, eu que sei?
- Tá bom. É difícil conversar com você. – Suspirou. – Mas eu vou te contar umas coisas, ao contrário de você, eu confio muito em você a ponto de contar uma coisa que ninguém sabe.
Eu fiquei calado, deixei ele prosseguir com o que contava. As palavras deslizavam por sua boca, suavemente, seu olhar ora brilhava por lembranças boas, ora por lembranças ruins.
- Meu pai sempre me forçou fazer as coisas do jeito dele. Eu não queria ser político, eu não queria me envolver nisso. Mas por causa do inferno que é aquelas empresas dele, eu fui forçado. Acha que eu fiquei com algum centavo desse dinheiro que sumiu da Câmara? Acha que eu queria isso?
- Olha Gabriel. Me desculpa falar isso, mas acho que você já esta bem grandinho pra fazer tudo que seu pai manda.
- Você não entende. – Me encarou. – Eu não tinha outra escolha. Ele sabe de coisas que poderiam sujar a minha imagem mais ainda. Ele sabe de coisas que poderiam me colocar fácil atrás das grades, mas coisas que eu não cometi. – De seus olhos já escorriam algumas lágrimas.
- E a acusação de você ter sido o autor da morte de um ex-deputado?
- Deputado Gilmar. A pessoa mais honesta que já conheci, esse fazia política por amor ao país, e pelo povo. Mas ele descobriu meus esquemas de desvio da Câmara, ele que passou a investigar tudo.
- Então é verdade? – Falei não acreditando naquilo.
- Sim, mas não fui eu que matei o deputado. Foi meu pai, ele foi o mandante do crime.
- Seu pai que deveria estar atrás das grades Gabriel.
- Eu sei. Mas eu não presto também Bruno, não podia ter deixado as coisas chegarem a esse ponto. A Adriana a todos esses anos foi muito fiel a mim, e eu a trato com desdém.
- Você deve ser muito bom de cama pra Adriana não ter te dado um pé na bunda já. – Falei tentando descontrair um pouco, e ele riu.
- Eu fiquei com tanta raiva quando você me chamou de viado.
- Por quê? – Perguntei.
- Já me relacionei sim com outros homens. Isso foi na minha adolescência. Tinha até um pouco menos que sua idade. Meu pai descobriu, me bateu como nunca na vida. Que não admitia um filho gay, me tirou todo o dinheiro, me tirou da Escola particular que eu estudava e me colocou pra estudar em Escola pública, longe pra caramba de casa. Tinha que atravessar Belo Horizonte pra voltar pra casa, isso quando não tinha que fazer isso a pé, pois nem dinheiro para a condução ele me dava.
- Nossa. Por isso virou garoto de programa?
- Sim. Pra pelo menos ter dinheiro pra ir e voltar da escola sem precisar andar 2 horas.
- E sua mãe?
- Aquela é uma coitada. – Seu olhar era triste. – Como apanhou do meu pai nessa vida. Eu cresci traumatizado, desde pequeno via minha mãe apanhar e não podia fazer nada. Eu ouvia os gritos dela, e meu pai me trancava em meu quarto. Se ela me defende-se eu e ela apanhávamos.
- Seu pai é um monstro. – Eu estava com muita raiva.
- Eu sei. Mas fazer o que, ele é meu pai.
- E o que pretende fazer Gabriel? Eles estão te investigando por causa desses desvios, eles afirmam que você é o mandante do assassinato. Vai deixar que toda essa bomba estoure em você?
- Calma Bruninho. – Falou me encarando. – Estou muito próximo de conseguir colocar meu plano em ação.
Continua...