Capitulo 02 - v.2.0

Um conto erótico de OPrincipeEEu
Categoria: Homossexual
Contém 1747 palavras
Data: 14/10/2013 14:57:48

Dois

Orgulho e Preconceito

Para muitos ter um príncipe como colega de quarto seria uma razão para ficar extasiado. Para mim aquilo significava um punhado de atenção que eu não queria. O holofote sempre me deixara desconfortável.

Mesmo dormindo Thomas continuava lindo. Seu corpo atlético já era bem desenvolvido mesmo para sua pouca idade, com os músculos levemente saltados de todo os esportes que ele praticava. Os dentes eram de um branco quase sobrenatural e quando me aproximei para vê-lo melhor percebi que ele quase não tinha pelos corporais. Desviei o olhar, tirando àquelas imagens da minha cabeça. Vesti um uniforme novo e que não estava amarrotado e sai porta a fora, em busca da cafeteria. Dei-me conta que eu não fazia ideia de onde era e fui até um aluno que passava e ele, apesar da evidente surpresa de ser abordado por um novato, me indicou a direção até o lugar.

A cafeteria, como tudo em Griffin, era ridiculamente glamorosa. Lustres gigantes de cristal decoravam o teto triangular do local, enchendo-o com uma luz branca. As lareiras acesas proviam um calor agradável à ambiente. Mesas redondas, como as quais eu havia estado na cerimônia estavam organizadas por toda a extensão do lugar, circulando a mesa do buffet arrumada bem ao centro.

Ainda era cedo e não muitas pessoas haviam descido para tomar seu café, o que significava um salão vazio apesar dos obrigatórios grupinhos sentados juntos, conversando e comendo. Dirigi-me ao buffet é escolhi um prato do fundo da pilha e decidi por um café-da-manhã comum. Entreguei meu cartão alimentício, cortesia do governo britânico como parte da bolsa. A atendente digitou alguma coisa no painel e passou meu cartão na máquina que respondeu com um sonoro bip ao preço absurdo que eu estava pagando por aquele café-da-manhã que normalmente custaria tão pouco.

Sondei o salão e meu decidi por uma mesa mais afastada, onde eu poderia me sentar sozinho. Arrumei o prato organizadamente sobre um pano com a monograma da escola e coloquei os talheres de prata ao lado, faca na direita e garfo à esquerda, pensei. Satisfeito com a organização, comecei a comer.

Enquanto eu quebrava meu desjejum mais alunos começaram a chegar à cafeteria, pouco a pouco enchendo as mesas com animada conversação e comida. Nenhum fez menção de sentar-se comigo e eu particularmente não me importei. Parecia que ia ser uma manhã comum até que ele chegou. Thomas entrou no salão trazendo o típico silêncio de êxtase que parecia segui-lo para onde quer que ele fosse. Era de se esperar que a nobreza estivesse acostumada com um príncipe entre eles. Mas a verdade era que como Thomas ficara afastado por tantos anos estudando na França que ele se tornara quase uma celebridade. As pessoas, nobres e plebeias, seguiam seu twitter, blog e site, ansiosas por qualquer notícia que surgisse sobre ele. E eu não era exceção, mesmo que meu interesse fosse mínimo quando comparado ao de outras pessoas.

O jovem príncipe sorriu para todos e para ninguém em especial e seguiu até o buffet, servindo-se de uma grande quantidade de comida. Assim que pagou ele olhou pelo salão, como se procurasse alguém. Imagine a minha surpresa quando os olhos dele se encontraram com os meus e Thomas esboçou aquele sorriso imaculadamente branco.

O príncipe caminhou até a minha mesa, seguido por diversos olhares confusos. Eu podia ler em suas expressões as perguntas “Que é esse?”, “Por que o príncipe está indo se sentar com ele?”. E podia dizer que naquele momento eu me perguntava a mesma coisa.

“Bom dia”, ele falou, puxando a cadeira e se sentando bem a minha frente.

“Bom… dia”, eu respondi hesitantemente.

“Eu sou Thomas, não tive a chance de me apresentar propriamente na noite passada. O diretor me segurou até a noite ontem, sabe como é, me desfilando pela escola. Enfim, é um prazer”, estendeu a mão em minha direção com um sorriso dúbio em seu rosto.

Tive um pouco de medo, mas levantei a minha mão e apartei a dele. Thomas tinha um aperto forte, seguro, o tipo que se vê em seriados quando o pai da filha conhece o namorado dela e decide que o rapaz é direito baseado na pressão que a mão dele está exercendo. Se isso dissesse alguma coisa sobre mim era que eu não seria aprovado com meu aperto fraco e hesitante. Quando Thomas me soltou massageei minha mão por debaixo da mesa sem que ele percebesse.

“John Smith… John Smith, é como me chamo”, respondi finalmente. O clima no salão era palpável. Minhas orelhas queimavam e minhas costas formigavam com os olhares penetrantes que alguns alunos me lançavam.

Thomas sorriu e comeu alguns pedaços de ovo e salsicha quando alguém o chamou em outra mesa.

“Bom, eu preciso ir. Sabe como é a vida de príncipe. Até mais tarde… John Smith”. O jeito que ele disse meu nome me fez arrepiar e seu discurso antes de sair soou quase como se ele estivesse se desculpando por não ficar mais, o que era ridículo, ou pelo menos era o que eu pensava.

Levou um tempo até que minha cabeça parasse de rodar e meu estomago de dar voltas. Quando me acalmei, percebi que estava com mais fome, e me levantei, tentando não olhar em direção ao príncipe sentado, e me senti de mais uma porção de ovos. Enquanto eu voltava a minha mesa pude ouvir um garoto me chamar “Ei, você, novato”. Olhei em volta, vendo se ele falava com outra pessoa e depois apontei para mim mesmo, recebendo uma resposta positiva do menino. Andei até a mesa dele sem muita certeza.

“Senta”, o garoto falou. E eu o fiz.

“Quem é você?”, ele perguntou, sem cerimônias.

E assim morre as boas maneiras, pensei.

“Me chamo John Smith. E você?”

“John Smith? Mas que nomezinho mais sem graça hein. Você por acaso é algum parente distante de Adam Smith pelo menos?”

“Não que eu saiba…”, e olhei para os lados, desconcertado pela maneira que o garoto falava comigo.

“E de qual família você vem? Você deve ter algum tipo de conexão importante para conseguir estudar nessa escola.”

Aquele comentário me fez corar imediatamente, e me senti humilhado por aquelas palavras. Eu não era ninguém, e estava cansado de saber isso. Mas era outra história ter que admitir isso em frente à alguém.

“E-Eu… Eu não sou de nenhuma família importante. Eu não tenho conexões. Só tive sorte e passei em uma bolsa…”

“BOLSA?”, o menino gritou para todos na cafeteria ouvirem. Pude reparar nele finalmente. O dentes branquíssimos que combinavam com sua pele perolada. Seus cílios era tão longos que pareciam de mulher e ele movimentava as mãos de um jeito afetado e dramático, como se estivesse em uma performance. Mas o que mais me marcou foi o olhar de deboche que ele me dera assim que revelara que eu estava ali por generosidade do governo.

“Sim… por quê?”

“Por quê?”, e abafou um sorriso debochado. “Ora, se você não sabe, é exatamente esse o motivo.” E virou as costas para mim, voltando sua atenção para quem quer que estivesse sentado com ele na mesa.

Humilhado e desamparado olhei em volta, esperando que alguém aparecesse e dissesse que tudo aquilo não passava de uma brincadeira. Mas ninguém veio. Os alunos que observavam a cena agora voltaram sua atenção para sua comida ou amigos. E ali, em meu primeiro dia, eu já sentia o peso da nobreza em minha cabeça.

“Você ainda está aqui? Vaza!”

Derrotado, desviei meu olhar dele, larguei minha bandeja de qualquer jeito e me dirigi a saída da cafeteria em passos rápidos.

O resto do dia se passou em um certo torpor. Eu não sofrera nenhuma outra humilhação, apesar dos óbvios olhares de desdém que eu recebia quando passava pelos corredores. Portanto, considerei aquilo uma vitória. Mantive-me calado e segui minha vida no colégio, tentando não chamar atenção até o final do dia e das aulas, quando eu poderia voltar para o meu quarto e fingir que nada daquilo tinha acontecido.

Ao chegar em meu dormitório encontrei Thomas deitado em sua cama lendo, para minha surpresa, minha edição de “Orgulho e Preconceito”.

“O que você está fazendo?”, gritei, puxando o livro das mãos dele sem medir a tamanha grosseria que estava cometendo. Esperei que Thomas ficasse bravo, mas ao invés disso ele começou a rir.

“Desculpe, é que a sua cara ficou tão engraçada”, aquele comentário me irritou. “Desculpe, olha, eu não queria ter mexido nas suas coisas, mas você deixou o livro em cima da sua cama e então pensei que você não se importaria se eu desse uma olhada.” Era verdade, eu havia deixado o livro sobre a cama depois do susto que eu tomara aquela manhã. Senti-me corar por um momento, pela maneira como havia agido.

“A não fique assim, está tudo bem.”, ele falou obviamente se referindo as minhas bochechas que entregavam a minha vergonha, o que não ajudou em nada a minha irritação.

“Não… está tudo bem. Aqui, peguei.”, entreguei o livro para ele. “Pode ler se quiser, é um livro muito bom.”

“Eu sei, eu o li há alguns anos atrás, não gostei muito. Você deve gostar o Mr. Darcy, mas eu o achei um verdadeiro cretino.”.

Eu devia ter feito uma cara brava novamente por que Thomas abafou uma risada. E como ele sabia que eu gostava do Mr. Darcy?

“Mas eu gostei do filme. A Keira Knightley é uma gata, não é?”

Fingi não escutar a pergunta, virando de costas para ele. Em parte porque esse tipo de pergunta me deixava desconfortável e em parte porque o jeito pretensioso dele me irritava.

“Me diga, Vossa Alteza, porque resolveu dormir nesse dormitório? Imagino que o diretor te daria a casa dele se você pedisse”, falei, acentuando com sarcasmo a palavra “vossa alteza”.

“Me chame de Thomas.”, ele fingiu não notar meu sarcasmo. “E eu resolvi ficar aqui por eu não te conheço e se você percebeu não tem muitas pessoas que eu não conheço por aqui. Seria legal mudar de ares um pouco.”, ele falou sem tirar os olhos do livro e senti uma pontada de desapontamento.

Resolvi ir tomar um banho. A água escaldante sobre meu corpo me acalmava. Quando sai enfim do chuveiro Thomas já estava dormindo e deixara meu livro sobre a minha cama. Coloquei-o de volta na escrivaninha, vesti meu pijama e me deitei, secretamente feliz do contato, mesmo que breve, que eu havia tipo com o príncipe.

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Comentários

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Só digo uma coisa. Ainda bem que tu voltou, eu confesso que estava com muitas saudades do teu conto. Devo confessar que, ao relê-lo agora, ou melhor, ler a versão 2.0 me deixa muito feliz, pois não sei, pode ser só uma impressão minha, mas o romance está mais seco. E abordando um pouco mais o deslocamento que o John sentia ao chegar ao Griff. E agora, veja você estou em um misto de sentimentos, ao passo que quero que você continue escrevendo de onde parou, da volta as aulas, agora quero também saber como irá se desenrolar a história deles neste rebot.

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Tao animada para voce voltar a escrever. Vejo que varias coisas mudaram, os amigos dele na otra versao agora o humiharam

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