Os líderes presentes na reunião se alvoroçaram. Um deles disse:
- Como você tem coragem de aparecer aqui, seu afeminado?
Abel se irritou e atirou-se em cima do homem:
- O que disse? Deixa eu te mostrar o afeminado!
Os presentes separaram a briga. O pastor perguntou:
- O que faz aqui, Abel? Já não teve o bastante? Quer nos enganar outra vez?
- Querido pastor, não sou eu quem engana vocês. Vim desmascarar o verdadeiro culpado desses roubos.
- E quem seria, Abel? - perguntou Cauê.
- Você, Cauêzito.
Cauê riu:
- Você não tem mais nada pra fazer? Eu jamais roubaria. Isso é insano.
- Não tem como fugir, Cauê. Tenho aqui em minhas mãos a prova. O extrato dos últimos meses da sua conta com gordos depósitos ao longo dos meses e que começam coincidentemente, eu acredito, no dia após o primeiro roubo e terminam com um deposito de quinhentos reais feito esta manhã.
- Você está blefando. Me dá esse papel aqui!
- Não. Esse é para o pastor que com certeza vai fazer uma busca na sua casa.
- Não podem invadir a minha casa. Não existe nada lá.
- Então não há o que temer. - disse Abel.
- Desculpe, Cauê, mas teremos que vasculhar a sua casa. - disse o pastor.
- Tudo bem, então. Não existe nada lá. Não sei por que se deu ao trabalho de fazer todo esse teatro ridículo, Abel. Jamais roubaria a igreja.
- Tomara que eu esteja errado, Cauê. - ironizou Abel.
***
Os policiais fizeram a busca na casa de Cauê. Olharam tudo e nada foi encontrado.
- Bom, Cauê. Parece que fomos enganados mais uma vez pelo Abel. Me desculpe. - disse o pastor.
- Sem problemas, pastor.
- Mas é estranho você não saber desses depósitos na sua conta...
- Eu, sinceramente, não faço ideia de onde veio esse dinheiro, isto é, se esse extrato for mesmo verdadeiro.
Nesse momento um policial entrou:
- Pastor, encontramos algo. - disse mostrando o cálice enrolado num pano. - Estava numa das vigas do telhado lá fora.
- Espera, o que é isso? - perguntou Cauê.
- Isso, Cauê, é o cálice que sumiu de lá da tesouraria da igreja. Ouro puro. Começo a acreditar que, pela primeira vez, Abel disse a verdade. - encarou-o seco o pastor.
- Não. Claro que não. Isso foi plantado aqui em casa.
- Não vou prestar queixa por respeito à sua mãe. Mas está destituído do cargo de lider e tem até esta noite pra me devolver todo o dinheiro, ou, caso contrário, vou tomar medidas drásticas.
O pastor e os policiais saíram deixando Cauê indignado:
- Abel... Você me paga!
***
Já estava quase na hora de fechar quando Cauê chegou no depósito:
- Felipe, você não vai acreditar no que o Abel me fez. Aquele desgraçado... Felipe! Ué, não veio trabalhar?
Cauê virou-se e deu de cara com Joaquim.
- Oi. - Joaquim disse.
- Faz o quê aqui? - Cauê respondeu.
- Vim me despedir. Oficialmente.
- Ok. Tchau. Boa viajem, tudo de bom.
- Cauê, apesar de tudo o que aconteceu entre nós, eu não posso negar que você foi alguém especial. O que eu sentia por você era algo perigoso, mas bom. Parecia errado, mas quanto mais eu te conhecia, mais eu te queria.
- Uau! Sentia... Parecia... Conhecia, queria... Palavras lindas, mas estão no passado. Nós nem tivemos nada, mas dói saber que nunca poderá acontecer. Porque já é passado, pelo menos pra você.
- Sim, é passado. Você tem o Felipe, ele parece ser um cara legal.
- Sim, ele é.
- Bom, então me dê o meu abraço. - Joaquim abriu os braços.
Cauê relutou por um segundo, mas o abraçou. Joaquim o fechou em seus braços com certa força, queria aproveitar cada segundo daquela sensação. Cauê recostou sua cabeça no peito de Joaquim e fechou os olhos enquanto aspirava seu perfume. Estavam ali os dois idiotas que insistiam em negar o que sentiam um pelo outro.
Depois de quase um minuto com os corpos colados despertaram do transe romântico.
- Bom, então tchau. - sussurrou Joaquim.
- Tchau. - respondeu Cauê sem olhá-lo nos olhos.
Joaquim foi caminhando em direção à saída quando Cauê novamente o chamou. E, antes que se virasse por completo, os lábios de Cauê já estavam colados nos seus.
Joaquim pegou em sua cintura com ambas as mãos e o pressionou contra o próprio corpo. Cauê mantinha as mãos firmes em seu rosto com medo de que fugisse.
- Por que você faz isso comigo? - Joaquim estava sem ar.
- Você me roubou dois beijos, lembra? Queria uma revanche. Quim, não me deixa... Eu sei que você não quer isso.
- Não...
- Olha pra mim...
- Não! - Joaquim se debatia tentando fugir de Cauê.
- Me escuta...
- Não, me deixa.
- Diz que não sente nada, diz que não me quer... Anda!
- Me deixa em paz!
- Confessa, Joaquim! Confesse que me ama!
- Chega, eu tenho que ir agora. Acho que não foi uma boa ideia ter vindo.
Joaquim deu as costas e caminhou até a saída. Percebeu a porta trancada:
- Por que você trancou a gente aqui?
- Do que você está falando?
- A porta está trancada, me passa a chave.
- Eu não tenho a chave. Nem vim trabalhar hoje. Acho que trancaram a gente aqui.
- Não, não pode ser. Viajo amanhã cedo. Por favor, Cauê, para de brincadeira!
- Pára você! Eu não tenho nada a ver com isso.
- Ei! Alguém! Esqueceram a gente aqui! Abram! - Joaquim batia na porta, mas ninguém respondia.
Do outro lado Felipe brincava com um molho de chaves enquanto sorria triste:
- É a sua chance, Cauê, não desperdiçe. - pensou.
Pegou suas coisas e quando já estava na rua:
- Oi, Felipe. - Abel apareceu.
- Oi, Abel. - Felipe respondeu com um sorriso sarcástico.
A rua estava deserta.
- Isso tudo é alegria em me ver? - questionou Abel.
- Sim, é alegria. Pensei que nunca mais fosse sair de casa depois de tudo o que aconteceu.
- Adimito que sua ideia foi genial. E eu pensei que conseguiria te enganar. Tinha boa-noite-cinderela no seu copo, sabia? - revelou Abel.
- Eu sabia que você tentaria me enrolar... Só esperava que fosse mais esperto. Esse golpe do boa-noite-cinderela já está gasto. Tão gasto que até eu usei ele também. Não apenas no copo mas em toda a garrafa.
- Inteligente. - elogiou Abel.
- O que faz aqui? Veio me bater?
- Não, mudei minha forma de agir. Você me tirou algo e eu o quero de volta. - Abel tapou o nariz e a boca de Felipe com um pano umidecido em clorofórmio.
Felipe desmaiou.
Abel pegou o corpo, colocou no carro e saiu sem que ninguém o visse.
***
- Ei! Abre aqui! Droga! - Joaquim estava nervoso.
- Relexa, você está no depósito de um supermercado... De fome você não morre. - Cauê estava deitado no chão.
- Você deve estar gostando, não é?
- Você fala como se eu tivesse planejado isso...
- Se a gente gritar, talvez alguém na rua escute.
- A essa hora está tudo fechado, o jeito é relaxar.
Joaquim sentou em algumas caixas.
Ficaram por um longo tempo sem fazer nada olhando para os lados.
- Não é engraçado estarmos aqui juntos? Foi onde nos reencontramos. Lembra? - Cauê puxou conversa.
- Lembro. Parece que faz tanto tempo... Tanta coisa aconteceu.
- Sim, coisas boas... Ruins!
- Preciso fazer algo. - Joaquim foi até Cauê. - Pedir perdão.
- Por quê?
- Por tudo de mal que eu te fiz. Lembro que você disse que não tinha me perdoado ainda. E agora?
- É claro que perdoo. Passei muito tempo remoendo essa mágoa que agora já nem faz mais sentido. E quero que me perdoe também. Por ter sido tão vingativo e rancoroso. Apesar de tudo você é um cara incrível, Joaquim. Bonito, inteligente, fofo, amoroso, gostoso...
Joaquim riu:
- Você não tem que se desculpar. Tinha todo o direito de me odiar. Mas, eu te perdoo também. Um abraço?
- Mais um?
Os dois se abraçaram mais uma vez. Esse abraço foi rápido pois os rostos foram se atraindo até que se encontraram num segundo beijo, só que mútuo.
Os dois estavam no chão. Joaquim, que estava por cima, havia arrancado a camisa e já tirava a de Cauê enquanto beijava seu pescoço e pressionava seu pau contra o dele dentro da calça.
Cauê gemia enquanto suava:
- Aaaah! Aaaaah!