...
Acordei, ou melhor, fui acordado por Carlos que estava sentado na cama, ainda sem camisa e com o violão nas mãos.
- Quando a gente não sabe o que falar, a música define o que nós queremos passar - E começou a tocar e cantar.
"Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei em que hora dizer
Me dá um medo, que medo.
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto
E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto
Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto".
Quando ele acabou de cantar eu estava com sorriso bobo, era a primeira vez que alguém fazia algo tão bonito para mim, senti a emoção dele em estar cantando, e era sincero. O abracei e o beijei muito, com força, como se ele fosse fugir. Nos curtimos um pouco, só ficou nos beijos mesmo. Assim que saí do quarto para tomar banho, dou de cara com o meu pai me olhando com cara de "eu não sou besta" e continuou seu caminho fazendo sinal negativo com a cabeça e olhando para baixo. É claro, me tranco com um rapaz no quarto, dou alguns gemidos, e de manhã o mesmo canta "Preciso dizer que te amo". Imagina se ele não estava desconfiando de algo. Mas ainda não era a hora certa pra mim. Carlos saiu do quarto dizendo que iria para casa sem nem tomar café porque o irmão precisava falar com ele urgente. Eu fui deixar ele no carro e como não estava tão movimentado dei um selinho nele e ele foi. Voltei pra casa, comi, descansei, nada do meu pai querer saber da verdade por mim, e nada de notícias do Carlos. Estava pensando no Marcus, como ele estava mal, parecendo que tinha sofrido, e como o Carlos era fofo e estava tentando me fazer feliz. Ver o Marcus só me deixou mais confuso ainda, se tivesse que escolher, não saberia.
De noite eu ligava pro Carlos e ele não atendia, só poderia ter acontecido algo de muito grave mesmo. Até que recebo uma ligação o número não me era estranho, resolvi atender pensando ser o loiro.
- Alô?
- Oi, Patrick... - aquela voz, só podia ser perseguição.
- Marcus?
- Sim, sou eu, finalmente consegui teu número de volta.
- Hum...
- Olha, desculpa. Não era nem pra eu estar te ligando, eu sei. É que eu não segurei, eu preciso falar contigo, mesmo.
- Marcus, acho que o nosso assunto ta resolvido.
- Não, não ta resolvido. Eu errei em não ter ido atrás de ti no mesmo dia, eu sei, mas você não me deu nem uma chance direito, eu queria sim assumir nosso amor, mas não era a hora, não pra mim. Vamos conversar direito, por favor moço?
- ... Aff, tá pode ser, mas não hoje, pra mim só dá quarta.
- Tudo bem, na orla? Às 18h, como de costume?
- É... Tchau, abraço.
- Beijos, lindo!
"Beijos, lindo" só podia estar de brincadeira mesmo, por que ele fazia aquilo comigo. Me maltratou e agora tava me chamando de lindo... Como eu amava aquela praga, uma praga linda diga-se de passagem, NÃO, que pensamento horrível.
Fui dormir com aquilo na cabeça, no outro dia fui pra escola, já eram as provas finais e eu estava tranquilo, já que algumas tardes eu estudava e tinha me saído bem nas outras avaliações. Carlos não estudava na mesma escola que eu, só na de música que eram às terças. E segunda eu tinha treino de vôlei. Não tinha nenhuma notícias do loiro, seu celular passou o dia desligado, tava começando a ficar bem preocupado. Fui para o vôlei e voltei para casa... E nada! Aquele dia passou rápido, terça ele também não foi para a aula de música e eu estava um pouco atarefado por conta de uns trabalho, mas na quarta decidir ir cedo na casa dele, antes de ir para a orla.
Na quarta recebi uma mensagem do Marcus perguntando se ainda estava de pé, respondi apenas "Sim.". Saí da escola e fui direto pra o apê do Carlos, avisei para a minha mãe que iria dessa vez. Cheguei lá e o porteiro ligou para autorizar minha subida, tudo certo e eu subi. Quem m recebeu foi o César.
- Oi Patrick. O Carlos tá no quarto, vocês precisam dessa conversa... - disse César com uma cara de tristeza. Fui em direção ao quarto e bati, escutei um "pode entrar".
Ele estava com o rosto inchado e olhos muito vermelho. Logo corri em sua direção e o abracei forte, ele começou a chorar no meu ombro.
- Eu não quero, eu não quero. Me perdoa, eu não quero mas é preciso - falou ele desesperadamente.
- Ei! Ei meu loirinho, calma. Eu estou aqui. O que você não quer?
- Eu não quero ir, Patrick. Eu não quero.
- Ir pra onde? Como assim? Me explica.
- O César recebeu uma proposta de emprego em Lisboa, o melhor que ele pode fazer é ir, mas eu não posso voltar a morar com os meus pais, acho que eles nem aceitariam. Eu vou ter que ir com ele, Patri - falou chorando muito. Na hora fiquei sem chão, sem reação. Logo agora que eu estava me permitindo à alguém tão especial, que eu gostava e ele partiria.
- E isso é pra quando? E por quanto tempo? - perguntei tentando não gaguejar ou chorar.
- Ano que vem, início de fevereiro. Não sei, pode ser entre 2 a 4 anos.
- Eu... Eu vou dar uma volta, tá bom? Pensar, espairecer. De noite eu te ligo - disse dando-lhe um selinho e indo para o meu local favorito, a orla.
Quando cheguei lá deveriam ser umas 16h, tava bem calmo e eu estava sentado "naquele" banco, que era o meu favorito, o melhor banco da orla. Estava pensando como faria, o que faria, e quando faria. Não sabia se terminava nosso "relacionamento" para não me apegar mais, não sabia se ficava com ele até quando pudesse. Eram infinitos pensamentos.
Estava lá pensando e sinto de novo aquele calor nos meus ombros, e o seu cheiro, nem me atrevi a virar.
...
Mais uma parte, obrigado para os curiosos e Sherlock's que lêem e comentam, e aos que não comentam. Desculpem os erros. Vou ver se tem mais uma parte hoje.
Abraços!