(Peço desculpa por ter demorado mais do que eu prometi, mas um amigo veio a falecer (na verdade, eu considero assassinado, não acho que ser atropelado por um bêbado seja acidente, mas enfim) e tem sido difícil acordar rezando para que tenha sido um pesadelo e ter que se deparar com a realidade, então, é isso, peço perdão e espero que gostem!)
As batidas de início me irritaram, mas depois vi Lúcio preocupado e notei que, realmente, deveria ser algo sério, nos vestimos rapidamente e fui abrir a porta. Me deparei com algo que não esperava, não com Lúcio ali. Renan estava chorando e com uma marca vermelha no seu braço, um vermelho intenso, de algum machucado muito recente.
Pedi para ele esperar um pouco e falei com meu professor, para ele nos deixar à sós. "Entra, agora me diz tudo o que te aconteceu? Foi o idiota do Roger, não foi?", ao que meu amigo afirmou com a cabeça, sem falar nada. "Me conta o que ele fez, o que aquele covarde ainda teve coragem e fazer."
Renan começou a me falar tudo que ocorreu. Depois que eles voltaram do passeio cada dupla foi para seu quarto, o que significa que Renan e Roger foram para o mesmo quarto (como eu fui idiota ao ter permitido isso), chegando lá ele tentou manter distância do professor, o que o mesmo aparentou fazer, mas enquanto arrumava sua cama sentiu uma mão em seu ombro, Roger disse que precisavam conversar, que aquilo não podia continuar assim, estava arrependido e a viagem seria uma ótima forma de se redimir. Meu amigo, sem saber o que responder, apenas o ignorou e voltou a arrumar a cama, mas Roger não parou, virou meu amigo para si e o abraçou, "Renan, me desculpa, por favor, eu tenho medo do que eu te fiz, gosto muito de você", e começou a beijar o seu pescoço, descendo a mão para a sua bunda e apertando, "Deixa eu te recompensar, vou fazer direito agora, você não vai se arrepender", beijou sua boca. Renan o empurrou, mandando ele nunca mais o tocar, "Você é meu Renan, meu! Nunca mais faça isso, está me ouvindo?", o professor estava o abraçando com força por trás, forçando o corpo do meu amigo contra o seu, falava com raiva em seu ouvido. "Me solta Roger, não sou seu, nunca fui, me deixa em paz! Idiota!", aí veio o primeiro tapa, na sua barriga, fraco, mas Renan sabia muito bem o que isso queria dizer, uma ameça de algo para valer, de dor real.
Meu amigo pisou em seu pé com força, se libertando dos seus braços, "Você não devia ter feito isso, Renan, não devia!", Roger o segurava com força pelo braço, no local onde estava a marca, e o beijou. Mas com suavidade, como se ele quisesse mostrar que era diferente do que aparentava, fazendo ambos de deitarem na cama, ele por cima. Ainda apertando seu braço ele o beijava, meu amigo tentava se libertar, mas seu braço doía cada vez mais e ele estava confuso com a gentileza no beijo de Roger. O professor o soltou e começou a tirar a camisa, fazendo Renan lembrar daquele dia no colégio, o ódio de volta e a oportunidade de fuga, Renan o empurrou com força, fazendo Roger bater as costas na parede e correu para a porta, tropeçando na mala e perdendo velocidade. O professor segurou em seu braço novamente, com muito mais força, "Você realmente acha que consegue fugir de mim? Vai, pode ir, eu sei que você vai voltar, você é meu. Eu tenho o que você quer e você sabe disso, vou deixar passar dessa vez, mais tarde te dou o que você merece." ele o beijou com força e depois o jogou para fora do quarto, fechando a porta de uma forma tão forte que daria para ouvir por todos os vizinhos no andar.
Depois disso meu amigo veio correndo até mim, a única pessoa que ele confia para contar isso naquele momento. Ele estava se acalmando, chorava menos. Eu o abraçava e alisava sua cabeça, a única coisa que conseguia pensar em fazer. "Vem, dorme um pouco, deve ajudar.", eu disse, nos deitando na cama. Continuei o abraçando até que ele caiu no sono. Saí do quarto e lá estava Lúcio, "O que houve? Por que ele está assim?", disse que foi besteira, coisa de adolescente e pedi para que ele dormisse comigo, e Lúcio com Roger, não conseguia ver perigo nisso naquele momento.
Voltei para o quarto, observei Renan dormir, ele agora parecia tranquilo, então fui comprar alguns doces para ele, imaginei que ajudaria. No caminho encontro com Marcela, já havia esquecido dela com tudo o que aconteceu, mas ela decidiu me acompanhar, o que ajudou a diminuir a tensão. O sorriso dela me deixava tímido, tão bonito em um rosto que parecia queimar, com aqueles cabelos ruivos que chegavam a hipnotizar qualquer um. Eu tentava disfarçar, mas sabia que não conseguia, então acabei desistindo, prefiro me sentir a vontade ao seu lado, mesmo que isso implique em passar vergonha.
Pelo menos ela ria das minhas trapalhadas, de quando eu gaguejava, me sentia confortável. Compramos bolos, daqueles no estilo cupcake, e vários tipos de bala que nunca tínhamos visto, ao voltar para o hotel ela perguntou onde estavam Renan e a outra menina, disse que Renan estava no meu quarto, dormindo e a menina eu não fazia ideia, devia estar no quarto dela. Senti que Marcela ia me perguntar o motivo do meu amigo se encontrar no meu quarto e iria querer se juntar, então dei uma desculpa para subir ao quarto e evitar que ela fosse junto. No corredor vi Roger saindo do meu quarto e ele sorria, fui tomado por pânico, medo do que ele poderia ter feito com meu amigo, e ódio. A proximidade dele era horrível, ameaçadora, depois do que ele havia feito com Renan no outro quarto, do que ele disse, eu podia esperar qualquer coisa.
Comecei a correr até ele, me preparando para brigar, para derrubá-lo, quando me deparei com Lúcio saindo também. Isso me deixou perturbado, o que ele fazia com Roger no local onde Renan estava? Eu não sabia mais se conhecia meu professor como achava, comecei a desconfiar do que ele realmente era, se ele não era mais um como Roger. O sorriso de Roger logo sumiu quando ele me viu, como se ele indicasse que sabia que Renan estava lá por minha causa, não fiz a mínima questão de sorrir para ele também, o deixei passar o ignorando. Até que vi Lúcio passando por mim com a mala, minha cabeça estava tão confusa que me dei conta que eu pedi para que ele fosse dormir com Roger, então ele só estava pegando as suas coisas. Mas ainda continuava com raiva por Roger ter entrado no quarto e visto meu amigo, por me olhar daquela forma. Lúcio tentou me abraçar e falar comigo, mas eu apenas o afastei e disse tchau, entrando rapidamente no quarto.
Renan estava bem, ainda dormindo, nem deve ter acordado quando os dois apareceram por lá, o acordei para comer os doces e notei que ele estava fez e surpreso, por ver a quantidade de comida que eu trouxe, ele não parava de comer e dizer que nunca tinha visto aquela bala, ou que não imaginava que o outro sabor existia, por fim a gente acabou se divertindo com as jelly beans de sabores estranhos. Era ótimo vê-lo rir, depois de tudo que ele passou, mesmo sem saber que sua ameaça constante esteve tão perto.
Só voltei à realidade quando chegou uma mensagem no meu celular, era Lúcio, "Houve algo? Por que você ficou tão estranho depois que Renan apareceu? Esqueci de te devolver o cartão de acesso ao quarto, mais tarde a gente pode se encontrar?". Como eu pude esquecer do cartão? Agora Roger teria livre acesso ao quarto e eu não podia ir correndo para Lúcio sem ninguém notar nada, ainda mais agora que meu tutor estava desconfiado. Resolvi esperar até o jantar, até lá ficaria no quarto o tempo todo, junto com Renan. Liguei o computador e encontrei meu irmão online, comecei a conversar com ele por vídeo, contando sobre como começou minha estadia nos Estados Unidos e incluí Renan na conversa, a gente apresentou as balas estranhas ao meu irmão e fiz questão de fazer meu amigo comer algumas, para Rafa ver as caretas que ele fazia.
Chegada a hora do jantar mandei uma mensagem para Lúcio, tentando me certificar de que ele e seu novo companheiro de quarto já estavam esperando na portaria, mas Lúcio não respondia e Renan reclamava que estava com fome. Me vi sem saída e saímos do quarto, por sorte encontrei com os dos professores no elevador, nesse momento eu realmente fiz questão de abrir um sorriso enorme de satisfação para Roger, mesmo sabendo que isso era desafiá-lo.
"Lucas, você tem que me desculpar, esqueci o cartão no quarto."
Meu sorriso se fechou e eu não pude evitar de me mostrar preocupado ao ver o sorriso no rosto de Roger, nesse momento Renan também notou o que estava acontecendo e apertou meu braço. Lúcio olhava para nós sem saber o que acontecia. "Pode deixar Lúcio, eu pego para você", dizia Roger, tentando segurar seu rosto satisfeito, o brilho no olhar. "É, pode deixar, eu vou com ele também, eu não estou com tanta fome, você vai levando Renan e depois a gente se encontra. Vai até ser bom porque eu espero por Marcela, não a vi muito desde que chegamos aqui.". Com esse argumento completo não teria como Roger evitar minha companhia, paramos o elevador e pegamos outro, nenhuma palavra dita.
Chegando no quarto eu entrei e peguei o cartão e notei o olhar de ódio de Roger sobre mim, "Você não vai ter o que você quer, Roger, eu não vou deixar.", "Não por hoje, melhor você parar de se achar tão esperto, geralmente as pessoas assim são as que acabam da pior forma possível", "Eu sei, você vai ser a prova disso.".
Depois dessa ameaça senti a consequência dela, de forma rápida fechei meus olhos num instinto de proteção, medo, ou mistura dos dois, a única certeza que eu tive foi que essa não foi a escolha mais inteligente que eu fiz.