Rascunho

Um conto erótico de TêTê
Categoria: Homossexual
Contém 2351 palavras
Data: 25/12/2013 03:35:19

Estava precisando de dinheiro. Não tinha emprego, comida, moradia e nem um familiar presente em minha vida.

Havia me mudado para Salvador há 4 semanas com uma proposta de emprego enganosa. Chegando na capital da Bahia o coordenador do grupo que viajou recrutando o pessoal pelo Brasil inscritos para ocupar essas vagas , se mandou, deixando todos aqueles brasileiros ali sem saber pra onde irem, inclusive eu.

O carnaval tinha acabado recentemente por lá, restando apenas as festas de lava prato, tira teima, chamem do que quiser. Dormindo nas ultimas duas semanas em bancos na praça Castro Alves, notei que todas as noites religiosamente uma menina ia com seu namorado entre oito ou nove horas e ficavam namorando sentados no parapeito de frente pro mar.

Ele era um negro alto de musculatura bem definida, traços faciais marcantes como o seu olhar sereno e intenso, já ela era um menina com cabelos loiros quase acinzentados, olhos com a cor daquele mar, pele branca, de estatura baixa, provavelmente com um metro e meio.

Eu ficava os vendo e chegava a sentir dentro de mim o amor que eles sentiam um pelo outro. Ela procurava os braços dele ao mesmo tempo que repousava sua cabeça em seu peito, enquanto ele acariciava seus cabelos e fazia carinho em suas costas. A sensação era que bastava eles terem um ao outro para viver. Os beijos e olhares que avistava do banco pareciam como cenas de filme romântico sem ensaio, sem erros de gravação e com perfeita interpretação, a qual não tinha por saber que aquele amor era verdadeiro.

Mais algumas semanas se passaram e eu sobrevivia catando todo tipo de lixo na praça e levando em pontos de coleta, além de doar sangue em troca de algum dinheiro. Eu vivia com o mínimo do mínimo, suficiente pra comprar um prato feito de 3 reais por dia e pagar por um banho e lavar minha trouxinha de roupa a cada dois dias em uma pensão onde um senhora muito simpática abriu uma exceção para mim.

Em uma certa noite esperava como em todas as outras pelo casal apaixonado, mas somente a menina apareceu. Ela chegou e se sentou no parapeito como sempre fazia. Fiquei ali parada a olhando me questionando se o rapaz iria chegar em alguns instantes, mas reparei que ela pôs suas mãos cobrindo o rosto e começou a chorar repentinamente. Aquilo chamou minha atenção, a menina estava se desfazendo em lagrimas, algo não parecia certo. Aproveitei que naquela noite tinha tomado banho e me pré-dispus a oferecer alguma ajuda. Com os únicos trocados que tinha no bolso da calça comprei um algodão doce com o vendedor e fui me aproximando de onde a menina tanto chorava. Me sentei um pouco atrás dela e ouvia, ou melhor, sentia a dor daquele choro. Me aproximei um pouco mais, agachando ao seu lado, oferecendo o algodão doce, afim de começar um dialogo.

- Minha avó me dizia que não existe remédio melhor que um doce para um coração triste.

Ela me olhou com os olhos ainda avermelhados de tanto chorar e tornou baixar a cabeça segundo despois.

- Perfeito, não? Indaguei, na tentativa de obter uma conversa.

Ela enxugou mais um pouco as lagrimas e respondeu.

- O quê? Me retrucou em meio a choro e fungadas.

- Esse mar, o céu, a lua, as nuvens, você. Afirmei, me tocando segundos depois do que tinha falado por ultimo.

- Quê? Eu? Me perguntou, quase que como exclamando com a cara de surpresa ou susto.

- Não, não. Desculpa. - tentei desconversar -. É porque você estava chorando? Fiquei rezando pra ela esquecer o que eu tinha dito antes.

- Não é nada... Nada de importante... Nada que importou... Que raiva que eu sinto dele. Falou soluçando.

- É o seu namorado a causa desse choro, aquele rapaz que vinha todas as noites com você aqui? Disse tentando adivinhar o motivo daquilo tudo.

- Como você sabe? Como sabe de tudo isso? Ficou me olhando espantada por eu saber de tudo aquilo.

- Na verdade eu fiquei observando vocês todas as noites, nessas ultimas duas semanas dali, daquele banco ali perto da igrejinha. Observava vocês namorando. Vocês pareciam estar tão entregues que as vezes chegavam a ser uma pessoa só.

Notei que ela estava se segurando para não voltar a chorar com aquilo que tinha dito. Mas como não chorar com o meu bom senso do tamanho de um grão de areia. Em seguida pedi desculpas pelo que havia dito.

- Você divide comigo. Estendi o algodão doce numa nova tentativa de oferece-lo.

Ela o pegou e num instante pude sentir seus dedos encostarem em minha mão.

Continuamos por algum tempo a comer aquele doce em silencio e em silencio ela se levantou e saiu andando.

- Aonde você vai? Perguntei.

- Para casa, já esta ficando tarde.

- Espera, então. Deixa te acompanhar pra você não andar sozinha por ai.

- Não é preciso, eu posso ir sozinha.

- Eu faço questão.

Me levantei, passei a mão nos bolsos de trás da minha calça pra tentar tirar o pó de cimento e fui em direção a ela.

Sua expressão agora já não refletia tristeza, mas sim decepção, raiva, não poderia dizer ao certo o que ela estava sentindo.

Caminhamos por ruas constituídas por paralelepípedos, até que ela interrompe aquele silencio.

- Bem, é aqui que eu moro. Obrigada por me acompanhar até em casa.

Ela parou de costa para um casa de faixada simples, mas de bom gosto com dois pavimentos no interior do terreno . A casa tinha um muro baixo, mas as janela e portas tinham grades e era praticamente impossível de adentra-la.

- Bom deixo você em segurança, mas aproposito ainda não sei seu nome. O meu é Juno e o seuSofia. Obrigada pelo doce. Tchau,

Ela me deu aquele "Tchau" de costa para mim num tom tão árduo que eu me perguntei se tinha feito alguma coisa de errado, realmente, eu falo besteira, mas com ela eu estava de parabéns. De dez palavras que troquei com ela onze minha boca não filtrou o que minha mente matutava.

Fiz o caminho de volta pro banquinho perto da igrejinha onde dormia. O percurso inteiro não parava de pensar em Sofia, e me questionar porque não conseguia parar de pensar nela. Era tão complicado, que nem eu queria entender minha cabeça. Dormi literalmente que nem aquela musica de Bruno e Marrone, " Dormi na praça pensando nela". Acordei, com o sol batendo no meu rosto. Andei até a pensão de Dona Lucia que já a declarava como minha Santa Protetora, onde no banheiro dos funcionários lavei meu rosto, escovei meus dentes e voltei para as ruas catar tudo o que encontrava pela frente, pra no final do dia ter pelo menos alguns trocados a dar pra Dona Lucia em troca da sua bondade.

Próximo das cinco da tarde um senhor que aparentava já ter quase cinquenta anos, mas com a pele muito manchada e desgastada pelo sol, veio em minha direção. O senhor começou a me perguntar porque todo dia eu catava lixo naquela praça e também percebeu que eu morava praticamente lá. Comecei a explicar à ele o que se passou comigo, o senhor educadamente se apresentou com o nome de Ribamar e me ofereceu a oportunidade de vender agua de coco no shopping em dois dias na semana. Ele me explicou que por questões de saúde já não conseguia mais vender todos os dias e que empurrar e montar a barraca dava muito trabalho, além das dores de coluna que lhe causava. Eu aceitei, porque pior do que já estava não podia ficar quando se tratava de mim. Acertamos que iria trabalhar nas terças e sábados o qual era o dia de maior movimento. Os dias se passaram e o sábado havia chegado. O "Riba" apelido de Ribamar, ele tinha me emprestado algumas roupas em estado melhor do que as que eu possuía.

Trabalhei muito no sábado, vendi muitos copos de agua de coco, quando deu dez horas da noite, e o shopping começava a fechar, desmontei a barraca e fui empurrando o carrinho até o deposito externo do shopping.

Andei inúmeras quadras do Shopping Salvador até a Castro Alves. Era quase meia noite quando me sentava exausta naquele banco de madeira duro e me peguei pensando em Sofia, se ela iria aparecer ou já tinha aparecido por lá naquela noite, até que adormeci sentada. Poucos minutos depois sinto cutucadas em meu ombro, mas pareciam pertencer ao sonho que estava tendo, então sinto um tapa mais forte em minha face.

- Ai, Cacete! Abri os olhos de uma vez, com expressão de susto e dor. Quando me dei conta era a Sofia.

- O que você faz dormindo aqui. Questionou-me.

- Eu acabei caindo no sono, foi isso. Afirmei, olhando pra aqueles olhos que me fuzilavam por algum motivo.

- Mentira! Eu vi você saindo do shopping e te segui, tinha quase certeza que você viria pra cá, mas nunca imaginei que não tivesse onde dormir.

Meu Deus! Aquela menina de besta não tinha nada. Não sabia como reverter ou arrumar alguma desculpa pra aquela situação, só me restou admitir.

- Não vou mentir. É verdade sim não tenho onde morar, por isso durmo e vivo nas ruas. Tomo banho e faço minha higiene na pensão da Dona Lucia e cato todos os tipos de lixo para conseguir alguns trocados. A barraca de agua de coco que você viu é de um Senhor que pediu minha ajuda para vender por ele. Acho que é isso que tenho pra dizer a você.

Ela me observava com uma cara de admirada, mas sem aquela expressão séria de antes.

- Desculpe, por fazer você gastar dinheiro comigo, Juno.

- Não foi problema nenhum, apenas tentei ajudar... "Coisa que não deu muito certo", disse em sussurros, abaixando minha cabeça.

- Juno, você dorme aqui a quanto tempo?

- Bem, amanhã vai completar um mês que durmo aqui. Não tenho dinheiro pra dormir em pousada ou motel quem dirá alugar cômodo.

Ela estava sentada ao meu lado, quando se levantou.

- Vem comigo e não me faça perguntas.

Concordei com a cabeça com um sinal de afirmação e a segui por ruelas que já não eram estranhas para mim. Algumas direitas e esquerdas depois percebi que estávamos fazendo o caminho da casa dela, mas não perguntei nada, já praticamente ela havia me mandado "calar a boca".

- Bem, eu vou entrar se quiser dormir tem um colchonete na casinha do quintal, acho que é mais confortável que aquele banco.

- Obrigada, eu aceito. Lhe disse em tom de agradecimento.

- Só tem um porém. No inicio do amanhecer Juno, tem que ir embora. Meus pais não podem te ver. Afirmou.

- Tudo bem, no primeiro raiar de sol eu saio em silencio. Obrigada mais uma vez.

Entrei na casa em direção aos fundos sorrateiramente enquanto Sofia abria o portão da cozinha para entrar discretamente. Encontrei o colchonete que a menina havia me falado, o puxei dei algumas batidas para tirar um pouco do pó e me deitei. Tinha até esquecido qual era a sensação do macio. Aquele colchonete parecia a mais confortável cama Queen Size do mundo. Não demorei muito a pegar no sono, quanto a Sofia, não sei.

Dormi o melhor dos sonos desde que cheguei naquele lugar, sono que foi suficiente para acordar com o dia amanhecendo e as nuvens se formando como ondas no céu claro. Me pus de pé, espreguicei meus braços, estralei os dedos e passei as mãos em meus cabelos curtos de cor castanha claro. Escovei meus dentes com um escova que havia no banheiro dos fundos, mesmo sem saber de quem era e há quanto tempo estava ali, mas precisava mesmo era de um banho, coisa que não podia fazer ali por causa do barulho, então resolvi ir embora logo antes que os pais da menina percebessem a minha presença.

No momento em que fui me aproximando do muro ouço uma espécie de murmuro, como alguém querendo minha atenção, fiquei pálida instantaneamente, mas logo que me virei vi Sofia segurando uma xicara de café com um pão em suas mãos. Dei meia volta em direção aquela menina de cabelos loiros vestida em uma camisola azul escuro que contrastava com sua pele clara e ao mesmo tempo combinava com seus olhos. Tomei a xicara de uma das suas mãos e da outro o pão que segurava.

- Obrigada, muita gentileza e preocupação de sua parte. Lhe disse em tom de agradecimento.

- Melhor não se preocupar com agradecimento e sim com meus pais. Seria melhor se comesse isso logo. Ordenou-me aparentemente.

Tomava aquele café, mas meus olhos encaravam os dela, secava sua boca. Quanto mais ela mostrava indiferença mais eu sentia um coisa por ela que não conseguia explica. O que era aquilo, o que era aquele sentimento que saia de mim como se fosse uma essência que eu exalava, me sentia com movimentos involuntários na maioria das vezes que ficava perto dela, um sorriso brotava em meu rosto independente se eu quisesse ou não. Não encontrava uma explicação clara para aqueles meus sintomas.

Terminei de comer e lhe entreguei a xicara, olhei mais uma vez em seus olhos.

- Obrigada. Falei.

Ela permaneceu calada, entendi o recado e andei mais uma vez em direção ao muro. Na metade do caminho entre ela e o muro me dei conta, ou melhor, encontrei o nome da enfermidade dos meus sintomas. Se chamava Sofia. Naquele exato momento, parei de caminhar e virei meu rosto para ela, depois o restante do meu corpo caminhei rapidamente em sua direção. Quanto estava face a face com Sofia puxei sua mão desocupada para mim, e com minha outra mão passei em volta da sua cintura e costa, olhei uma ultima vez em seus olhos e não lhe dei tempo para respirar. Pressionei meus lábios contra o dela, a mesma mão que a puxei a dela, agora estavam segurando sua cabeça pra que não fugisse do beijo. Por um momento existiu uma certa resistência, após alguns segundos senti seu corpo esmaecer contra o meu e aquele beijo, como nenhum outro, aqueceu meu coração, arrepiou meu corpo e atiçou meus sentimentos, como aquele primeiro beijo nela, nunca existiu igual.

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Comentários

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Gostei posta a continuação ....estou até ansiosa pra saber a reação da Sofia..... Feliz natal gata....

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PS: AOS LEITORES ESSE CONTO TEM CONTINUAÇÃO E O NOME ORIGINAL É OUTRO. POSTEI APENAS PARA RECEBER AS NOTAS E SE AGRADAM A VCS. POR FAVOR CONTINUEM ACESSANDO MEU PERFIL ATUAL E O ANTIGO CONHECIDO COMO " SUMMER ". LEIAM " SONHO DE VALSA " IGUALMENTE ESCRITO POR MIM. OBRIGADA PELO TEMPO DE VCS.

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