- O quê? Mãe da Júlia? Ela é órfã.
- Sim, sou mãe dela. É uma longa história. E você, o quê é de minha filha?
- Futura namorada. Por enquanto uma amiga "colorida", rsrs.
- O quê?????!!!!
- Qual o espanto?
- Você não vai ficar com a minha filha, saí daqui.
- Fernanda, baixe o tom de voz, você está em um hospital. Você chegou hoje na vida da Júlia, não tem direito algum sobre ela. Se quiser conversar mais, podemos conversar com toda certeza, para esclarecer certoa fatos, mas não será aqui em frente à Júlia. Ela pode ouvir tudo que falamos e eu não quero que ela se sinta mal em nos ver brigando. Você pode por favor sair, para que eu fale um pouco com Júlia?
- Sim. Te espero naquele bar ali do outro lado da rua, ok?!
- Certo, já vou.
Fernanda saiu. Bianca sentou ao lado de Júlia na cama, lhe deu um selinho demorado, segurando sua mão.
- Oi, meu amor. Desculpa, vou pegar leve, afinal nós duas não somos um casal. O que se depender de sua mãe também não vai acontecer. Parece coisa do destino para perturbar nossa mente né coração? Meu pai também resolveu aparecer hoje. Cheguei no meu serviço e ele estava lá me esperando, com todo amor e carinho. Blásh, para mim ele só quer meu dinheiro. Coitado, não vai chegar nem perto! Estudei e trabalhei muito para conquistar tudo que tenho. Vamos esquecer ele e sua mãe, certo? Vamos falar da gente... Eu estou com saudades, muitas, acorde logo.
- Mas... O quê é isso? Solte já a paciente e se afaste. Te avisei sobre o risco de contaminação, os pontos nos ferimentos ficam muito expostos. Será que eu vou ter que proibir visitas para essa paciente para poder preservar a saúde da mesma?
- Calma, doutor. É saudade demais, compreenda.
- Compreenda você, infecção hospitalar está matand muitos pacientes.
- Ok, me desculpe.
- Como Júlia está?
- Vamos conversar lá fora. - Sairam do quarto. - Os ferimentos vão cicatrizar normalmente, quanto ao coma não sei.
- Não é desmerecendo seu trabalho,mas sim as condições... Quando posso transferir Júlia para um hospital particular?
- Em 24 horas se tudo ocorrer bem.
- Obrigada.
Bianca foi para o bar encontrar Fernanda. Pediu uma dose de conhaque e outra de menta. Bebericou um pouco, antes de,iniciar a conversa:
- Então, por quê abandonou Júlia?
- Como é seu nome mesmo, menina?
- Bianca, e eu sou adulta, não menina, entendeu?!
- Desculpa. Bianca, não abandonei minha filha. Quê tipo mulher você acha que sou?
- Isso não sei dizer, mas o que parece é que ela foi sim abandonada por alguém e agora que está criada parece super conveniente você vir e dizer "oi filha eu sou sua mamãe".
- Não é nada disso, moça. Meu finado pai tirou minha filha de mim, assim que ela nasceu. Ela não se chamava Júlia e muito menos era daqui dessa cidade, isso dificultou e muito o processo de busca para encontrá-la.
- Isso tá parecendo novela.
- Novelas são baseadas em histórias reais. Continuando, meu pai me fez acreditar que minha filha tinha morrido, inclusive trocou meu bebê de berço na maternidade, colocou Débora no berço de Júlia e Júlia no berço de minha filha Débora. A neném que morreu foi foi a verdadeira Júlia e não minha Débora, que hoje é a Júlia naquela cama. Deu pra entender?
- Um pouco.
- Por quê essa cara de espanto?
- Experiências ruins com o nome Débora. Continue. Como soube que sua filha não era a falecida?
- A menina que morreu tinha uma doença rara, passada de geração na família, todos morriam até os 30 anos. Após o enterro eu quis saber os motivos da morte e fui falar com o médico que realizou o parto, ele me contou sobre a doença e insistiu para que eu fizesse os exames para ver o estado da doença em meu sangue. Nada foi encontrado, constataram a troca de bebês no dia do nascimento. Procurei pela mãe da menina morta, nunca a encontrei, mas ela me mandou um e-mail contando que um homem havia a procurado após o parto e disse que sua filha estava morta, mas ele pagaria uma excelente quantia pela troca de bebês. Ela aceitou, estava com muitas dívidas. Assim que saiu do hospital com minha filha, ela pegou o dinheiro, um capanga da fazenda pegou a criança e "deu um fim". Agora sei que ele a trouxe para um Orfanato aqui nessa cidade.
- Poxa! A senhora disse fazenda?
- Sim, meu pai era dono de uma fazenda imensa, onde cria gados para o comércio em nossos frigoríficos.
- Júlia ama a natureza, deve se lembrar de quando esteve na gestação.
- Sim.
- Garçom? Mais um litrão. - Fernanda bebia Brahma litrão *[Brahma paga a propaganda, kkk]*, Bianca a acompanhou. - Por quê seu pai odiava a Júlia?
- Débora!
- Ah não, Júlia é muito mais bonito. Diga.
Se serviram da bebida gelada pôsta à mesa.
- Minha filha era filha de um desafeto do meu pai. Concorrente em montaria de touros e cavalo. Meu pai começou pobre, ganhou um torneio de montaria em touros, com o valor do prêmio, uma caminhonete 4x4 ele comprou seu primeiro pedaço de terra e um cavalo. Ninguém dava nada por aquele cavalo, mas meu pai o colocou para correr. No início corridas clandestinas, mas quando viu que ele estava preparado, colocou ele para competir em um campeonato. Na final, seu rival machucou a pata do cavalo do meu pai, eles caíram, meu pai quebrou a perna e nunca mais pôde montar.
- E o cavalo?
- Quebrou o pescoço. A raiva nasceu naquele dia contra o homem que matou o melhor cavalo que meu já teve e o fez mancare usar uma bengala para andar até o fim de seus dias.
- Onde entra o pai da Júlia nessa história?
- Ele é filho desse homem que segundo ele "arruinou sua vida". Tirando o fato de meu pai ter ficado manco, com uma placa de ferro ligando os ossos da perna direita, a vida dele só melhorou após aquele acidente, pois ele conheceu minha mãe no hospital, ela foi sua enfermeira. Na hora de vender a carne do cavalo morto para fazer mortadela, ele descobriu o negócio em frigorífico onde ficou sócio de um rapaz. Hoje, a herança que ele me deixou e deixou para a Júlia soma Bilhões de Euros.
- Poxa!!! E a Júlia me pediu um emprego antes do atentado, porque não queria estar com desconhecidos dormindo em um barracão e vendendo doces no sinal.
- Agora ela tem à mim, sou mãe dela.
- Só o DNA vai dizer se você é ou não mãe da Júlia, mas por enquanto o exame não pode ser realizado.
- Esperarei.
- Me fala, como soube da Júlia?
- Antes de morrer meu pai ele me falou sobre o Orfanato, vim voando literalmente para cá, fui à instituição, mas era noite do dia 24/12 às 23:35 horas, Júlia fez 18 anos às 20:00, tinha saído. Foi difícil encontrá-la, sou técnica em informática e hacker, invadi alguns sistemas. Fiquei feliz quando cheguei funerárias e IML, o nome novo dela não costava. Também não estava presa, nem trabalhando com carteira assinada, só faltavam os hospitais. Depois de 27 hospitais, eis-me aqui.
- Persistente! Se você não quisesse me tirar a Júlia, até que podíamos ser amigas.
- Me conta... Como você conheceu minha filha?
- Foi no natal, ela tinha acabado de sair do Orfanato....
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A conversa e a bebida continuou no bar, enquanto no hospital, no quarto de Júlia, ela recebia uma visita inusitada.