Chegamos à minha casa, não havia o que dizer. Aquela conversa não havia acabado, mas teoricamente parte das minhas questões estavam respondidas. Mas era importante pra mim estar junto dele. Aquela revelação, a dor estampada no seu rosto, imaginar que aquilo podia acontecer a qualquer um, essas reflexões me fizeram esquecer até mesmo meus problemas, no fundo eu queria ter a coragem do Caio. Sim, queria ter um terço da coragem daquele garoto ruivo e todo tímido que, apesar de ter apenas duas mãos, havia segurado o peso do mundo por tanto tempo.
Eu senti que aquele dia realmente marcou nossa amizade. Eu realmente pude admitir que talvez eu amasse o Caio, de verdade e que não era simplesmente carnal. Era transcendental, era lindo, mas era gay. Talvez eu passasse minha vida toda bancando o hétero pra pelo menos permanecer perto dele.
- Caio, dorme aqui hoje?
- Apesar de sermos vizinhos e a minha casa ser ao lado da sua, sim. Então vamo comigo buscar minhas coisas.
Descemos as escadas correndo como dois garotos bobos, cruzamos o espaço na cerca viva que dá nos fundos da casa do Caio.
- Oi Mãe, oi Pai.
- Oi meninos! -Disseram os dois juntos.
- Oi tio, oi Tia!
- O que vão fazer hoje? - Perguntou o pai do Caio.
- A gente vai assistir um filme na casa do Vini.
- Eu e sua mãe vamos sair daqui a pouco, chegaremos tarde, tudo bem?
- Ok, vou ficar na casa do Vinícius.
Subimos até o enorme sótão. Buscamos suas coisas. Enquanto descíamos pensava em como seria difícil dormir perto dele sem poder tocá-lo. Pra piorar minha casa estava vazia, como aquela seria minha última semana de férias decidi ficar em casa mesmo, descansando, pensando, mas na verdade me sentia mal, era como se tivesse que fingir ser algo que definitivamente não era. Aquela sensação de desapontamento me fazia querer ficar sozinho às vezes. Ou com o Caio, ele me fazia esquecer o que para os outros era moral ou ético, se é que moral e etica significa perseguir, humilhar ou discriminar alguém por ser diferente.
Cruzamos a cerca, e subimos em direção ao meu quarto.
- Caio, se quiser tomar banho vai lá.
Sim, pode parecer bobo, mas eu realmente adorava os pijamas do Caio. (Agregando valor à futilidade) Dormir parecia um evento pra ele. Tomava banho, fazia a barbixa ruivinha, secava o cabelo que àquela altura já chegava aos ombros, liso. Bochechas tão cheias de sardas que era possível contar uma por uma. Enquanto analisava cada detalhe de seu rosto aquele queixo largo e curvado, quase um Apolo, até mesmo um Zéfiro soprando sobre mim uma brisa ébria. E lá veio ele só de toalha seu peito nu à amostra e eu fascinado por aquele moço a minha frente fiquei babando contando cada gominho de sua barriga lisinha e alguns indícios de pelos em seu peito alvo como o leite com algumas sardas esparramadas que se concentravam nos ombros.
- Vini? Vini? Vinícius?
- Oi.
- Vc tá aí? Eu perguntei onde vc quer que eu durma.
- Na minha cama.
- Com você?
- Claro que não, eu vou inflar o colchão pra mim.
Caio corou seu rosto. Sim, e eu o meu. Ficamos naquele silêncio bobo.
- Vou buscar o colchão, pega aquelas mantas no guarda-roupa por favor, eu não alcanço. Apontei para a última prateleira.
- tá bom.
Enquanto ele se esticava, dado que meu armário é realmente alto, sua toalha caiu revelando a nudez de seu corpo adolescente.quase adulto. Decidi sair do quarto pra não constrange-lo ainda mais. Entretanto, por alguns segundos tive uma visão maravilhosa, eu realmente tive uma ereção. Aquele bumbum lisinho com poucos pelos que desciam pelas coxas grossas e se concentravam mais na panturrilha contraída enquanto seus braços se esticavam. Virei-me e saí com um sorriso de orelha à orelha. Num ímpeto afável ele virou seu rosto e ao confirmar minha presença ainda que em direção à porta, abaixou tão rapidamente que àquela altura alguém entrasse no quarto não perceberia que ele estava despido havia poucos instantes.
Mas naquele momento, ao cruzar a porta me veio uma crise de consciência, apesar de eu permanecer de pau duro, o que foi difícil de esconder por muito tempo sob calça do pijama, me sentia estranho. Como alguém poderia me fazer sentir assim? Aquele desejo, aquela vontade que não cessava, aquele.. cheiro. Era como se uma névoa encobrisse o Caio, sentei-me na escada ainda pensando nele tão próximo de mim, mas tão longe do meu coração.
Eu não queria parecer um viadinho bobo, porém aquele era meu primeiro amor. E finalmente eu assumia pra mim mesmo que o amava. Aquilo sim era um grande passo. Mas então, lembrei-me do Marcelo, seu melhor amigo, estaria eu me aproveitando da sua fraqueza? Enquanto ele precisava de um amigo eu fantasiava com seu corpo. Sentia-me realmente culpado naquele momento.
Enquanto inflava o colchão pensava em nada, e ele veio por trás de mim e perguntou se eu precisava de ajuda. Eu disse que não afinal já estava acabando. Enquanto eu guardava a bomba de ar que utilizara, Caio sentou-se ainda sem camisa no colchão de casal que eu havia enchido. Seus pés por alguns centímetros não ficaram para fora. Abriu seus braços e pernas e fechou seus olhos ali mesmo na sala de estar, eu levaria depois o colchão para o meu quarto. Aquela expressão serena se apossou de sua face. Deitei-me ao seu lado apoiando um dos cotovelos fixados na camada espessa de espuma, e deitado de lado encarava seu rosto nunca esperando que seus olhos se abrissem.
- Vini? -Disse Caio abrindo seus olhos e agora com um olhar mais sério indagava minha expressão que naquele momento deveria estar vermelha já que senti um calor no meu rosto.
- Oi.
- Nada não. - Após me encarar por alguns segundos fechou os olhos novamente.
Meus olhos agora pesavam, pensamentos passavam desconexos pela minha mente, estava naquele estado de sono acordado quando senti o colchão se mexer. Eu que agora estava de lado acabei esticando meu braço e por fim, apoiei-o sobre o peito do Caio que então aproximou-se de mim deitando sua cabeça sobre meu ombro. Sentia seus cabelos sobre meus ombros e sua respiração sobre meu peito, profunda e ritmada. O calor da sua pele, me arrepiei. Era como se meu vibrasse e meu penis reagisse àquele estímulo, rente à minha barriga e já que eu estava sem cueca sob o calção de futebol que usava era impossível disfarçar. Aquela excitação foi tão intensa que doíam as contrações do meu pau. Era completamente insano. Decidi que respiraria fundo e talvez aquela ereção passaria, mas pelo contrário: só fiquei mais nervoso, meu corpo podia o Caio, o que podia eu fazer. Meu nariz tocou seu cabelos avermelhados e ele mantinha um braço sobre mim, pus minha mão sobre a dele e explorei sua pele macia sentindo as veias saltadas de seu antebraço. Seus pêlos se arrepiaram enquanto ele se ajeitava junto de mim. A minha frequência cardíaca estava altíssima. Meu corpo reagindo ao seu toque. Seus cabelos, seu cheiro suas mãos sobre meu abdome nu. Ele então passou sua perna sobre a minha e eu senti sua ereção rígida. Pela primeira vez eu imaginei que meu sentimento por ele talvez fosse recíproco. Talvez ele se sentisse como eu me sentia. Eu não pude resistir e toquei um de seus mamilos, como num susto ele vibrou e mateve-se inerte como se ainda dormindo.
De repente percebi a situação na qual nos encontrávamos, e num ímpeto absoluto me ergui, deixando sua cabeça que encontrava-se sobre meu peito cair bruscamente sobre a superfície macia do colchão. Levantei-me como se fugisse dele, mas na verdade fugia de mim mesmo.
Eu era evasivo, quando algo me incomodava eu simplesmente saía de perto. Não que isso soe como covarde, mas cada um tem uma forma de se comportar perante situações adversas e eu sempre fugia.
Deixei-o deitado. Fui cozinhar, uma das poucas atividades que me ajudavam a distrair. Já nem sabia mais se ele estava mesmo dormindo ou se aquilo tudo aconteceu de propósito. Não seria eu quem voltaria a falar sobre aquilo. Minha cabeça dava voltas e voltas enquanto eu, imóvel, me encontrava na frente da geladeira na expectativa de comer algo decente. Eu me afogaria numa panela de brigadeiro pra esquecer das minhas mágoas.
Voltei à sala e ele estava do mesmo jeito como eu o deixei: imóvel, eu podia ouvir sua inspiração profunda e sua respiração ritmada. Naquele momento eu respirei aliviado.
- Ufa. - Exclamei. Mas foi um ufa ressentido, ainda que aliviado. Não era aliviado, era culpado. E tudo que eu queria naquele exato momento era deitar-me novamente ali.
Resolvi buscar o filme que assistiríamos. Fiz pipoca com bacon e queijinho, fiz brigadeiro obviamente enquanto Caio dormia.
Observei-o e não pude evitar: fiquei duro. Devia ser a idade, haha. Aquilo não me incomodou, não naquele momento, o misto de excitação e aventura, a minha respiração ofegante e penumbra na sala de estar, o Caio exalava masculinidade em sua ascensão. Deitado como um mármore cujos cabelos ruivos faziam-no mais exótico, único. Fui buscar uma camisa porque estava esfriando significativamente enquanto uma garoa fina teimava em gotejar lá fora. Trouxe junto um coberto com o qual cobri o Caio. Enquanto colocava a camisa regata e ficava preso, como sempre já que eu sempre enfiava a cabeça no lugar do braço, ouvi o Caio espreguiçar.
- Bom Dia ruivo!- Disse eu com um semblante sério.
- Poxa, dormi tanto que já é dia?
- Para de ser bobo! - Disse eu abrindo um sorriso tímido.
E mantinha meu olhar baixo enquanto fingia ler uma embalagem qualquer que estava em minhas mãos. Era minha consciência brigando com minha mente que ainda fantasiava com o corpo e o cheiro do ruivo.
Aquilo estava me enlouquecendo. Já não aguentava aquela aflição, agora pouco importava qualquer julgamento moral, eu queria mesmo era entrar sob aquele cobertor e só sair de lá saciado até a última gota daquela sede de amor e prazer que me faziam duro só de imaginar-me tocando seu corpo, beijando sua boca, a sua pele sob a mnha, nossos pênis se tocando por entre os lençóis e o som da sua respiração ofegante na minha nuca enquanto eu removia sua
Roupa em movimentos lentos, nossos lábios se encontrando com suaves fisgasdas ao som dos estouros leves que o som dos nossos beijos disparam.
- Vinicius? Vinícius?
- Oi. - exclamei enquanto meus devaneios se desfaziam como uma névoa se dissipa.
- Vc está excepcionalmente distraído hoje. Por que hein?
- Nada, ( por sua causa seu imbecil) pensei comigo.
- Nada Vini? Tem certeza?- indagou Caio enquanto.seus olhos azuis e enormes me faziam entrar em mais um estado de transe. Não seria má ideia naquelas circunstâncias. Enfim..
- Vamo assistir logo o filme antes que vc apague de novo.
E assim seguia a humanidade. Mais uma vez eu deixaria meus sentimentos em detrimento do meu orgulho bobo, ou não. Aquela noite ainda não havia acabado. Enquanto assistíamos Insidious, um filme de terror meio bobo comendo a pipoca doce que eu tinha feito (ja tínhamos detonado o queijinho da pipoca salgada) o Caio todo encolhido com o seu pijaminha haha, sem comentários... morrendo de medo. Um muleque daquele tamanho pasando apuros por um filme tão fraquinho, mas confesso que numa das cenas o susto foi inevitável, o Caio pulou do colchão e como estávamos perto eu fui a primeira coisa que ele agarrou, enterrou a cabeça no meu peito e enquanto eu ria ele perguntava se a cena já havia acabado.
- Caio, você é realmente frouxo!
- Eu sou frouxo? - Disse ele enquanto se preparava para...
- Me solta Caio!
- Não, até você dizer quem que é o frouxo aqui.
Seus joelhos tocavam minhas costelad enquanto ele se encontrava sentado sobre minha barriga e sobre meu peito segurando minhas mãos enquanto indagava rindo e sorrindo quem era o frouxo. Eu era.
- Não vai soltar?
- Não!
Me sacudia pra que ele me largasse mas ele era mais pesado que eu, mais forte que eu e estava sentado em cima de mim.
- Não vai soltar?
- Nãnãnão!
Inclinei-me e beijei sua boca sem nem ao menos pensar. Era o fim da nossa amizade?