Capitulo oito: O despertar de um novo sentimento.
— Oi — ele disse quando eu o encontrei na frente da minha casa.
Ele trajava agasalhos negros e estava parado em frente a minha casa apoiado em seu carro com as mãos escondidas em seus bolsos.
Ele tentou me beijar quando eu o alcancei mais eu desviei o rosto para a casa de Nathan que permanecia oculta em sua escuridão.
— Aqui não — disse.
Ele olhou sem jeito para a casa de Nathan e abriu a porta do carro para que eu entrasse sem nada dizer.
Joguei meus patins no banco de trás junto dos seus que estavam repousados ao lado de uma cesta de picnic.
— Nós vamos fazer um picnic? — perguntei achando estranho a hora que ele escolheu para isso.
— E patinar também — disse ao entrar no carro se inclinou para mim, mas ao ver minha expressão assustada ele mudou de ideia e não me beijou.
Ele dirigiu em silencio durante todo o trajeto. Foram cerca de trinta minutos percorrendo as ruas de Calgary até que saímos da cidade para entrar em uma estrada de terra coberta de gelo. Foram mais vinte minutos vendo fazendas de brancas e geladas até que elas nos abandonassem e só restasse arvores congeladas pelo frio intenso. Foram mais vinte minutos vendo só arvores até que chegamos a um enorme lago de gelo ladeado pela relva tingida de branco e cercada de árvores desfolhadas e com gotas de gelo ameaçando despencar de seus galhos.
— É lindo aqui — eu lhe disse.
Ele sorriu timidamente e soltou o cinto de segurança.
— Tem que ver na primavera quando o lago está descongelado e sua água é tão cristalina que dá pra ver os peixes a metros de distancia. Quando a grama está verde e as arvores cobertas de flores rosas.
Imaginei o cenário que ele descrevia sorrindo. Realmente parecia bem mais bonito que agora, mas memo assim aquele lugar tinha beleza mesmo no inverno.
— Você vem muito aqui? — perguntei.
— Meu irmão mais velho me trazia aqui no verão para pescarmos e depois que ele morreu ano passado tenho vindo sempre aqui. É meu lugar preferido no mundo. Nunca trouxe ninguém aqui.
— E por que me trouxe? — indagei me sentindo lisonjeado de ser o primeiro.
— Eu não sei. Só achei você ia gostar daqui — Ele disse olhando para a frente, mas sem ver o lago ou as árvores. Via algo lem disso. Via um mundo de dor e saudade que só ele era capaz de ver. Mas então ele olhou para mim e sorriu mostrando seus dentes brancos e perfeitos fazendo meu coração acelerar — Vamos patinar.
Calçamos nossos patins e nos dirigimos ao lago. Eu patinava com bastante habilidade, mas nem se comparava com a forma que eu patinava na infância. Matt por outros lado, definitivamente não nasceu para aquilo. Eu podia ver que ele estava se divertindo, mas enquanto eu girava e saltava, ele lutava para se equilibrar. Matt colocou em seu celular uma música que ele ouviu no meu no ano passado.
— A estrela que mais brilhar! — exclamei antes que a introdução da música acabasse e a Sandy começasse a cantar.
— Essa música faz eu me lembrar de você — disse timidamente — Ridículo eu sei.
— Não... É romântico — disse me aproximando dele e segurando sua mão direita enquanto passa vá a minha mão direita por cima de seu ombro — Vamos dançar — Ele segurou meu quadril com a mão esquerda e começamos a dançar lentamente.
Dançamos assim até o final da música e então começou a tocar Need you now. Nessa hora soltei sua mão e envolvi seu pescoço com as duas mãos e como ele era um palmo mais alto que eu, foi fácil apoiar minha cabeça em seu peito amaciador pelas espessas roupas, mas que eu sabia que era rígido como pedra.
Dançamos por vários minutos curtindo a companhia um do outro até que senti fome e sugeri que fôssemos comer algo. Fomos para o carro e devoramos os sanduíches de queijo e o bolo de chocolate que ele trouxe. Para beber ele trouxe uma garrafa térmica com chocolate quente e uma garrafa de vodca. Ele me serviu um pouco de chocolate com vodca em uma caneca de porcelana e eu bebi sentindo o liquido me aquecer por dentro. Ele também se serviu e bebeu um longo gole.
Ele segurou minha mão e sorriu. Colocou no chão a cesta que estava entre nós e se aproximou de mim me aquecendo em seus braços. Eu estava muito bem até perceber que eu estava gostando. Senti que está junto dele me preenchia de um calor confortador. Estar com ele me fazia completo da mesma forma que Nathan me fazia sentir. Senti que meu coração acelerar tanto que eu podia ouvir o seu pulsar.
— Eu não devia ter vindo com você — disse me afastando dele — Eu estou com o Nathan.
Ele me olhou com tristeza.
— Ele nem tem coragem de se assumir Lucas — Matt argumentou.
— Nem você. Está namorando com a Kimberly sabendo que o que você gosta é de homem.
— Gosto de mulheres também o que eu tenho com Kimberly é apenas diversão. Eu gosto de você Lucas.
— Você nunca demonstrou gostar de mim e agora está aqui tentando fazer com que eu me apaixone por você.
— Eu tinha medo do que eu sentia Lucas. Medo de ser diferente. Escondi o que eu senti por você durante anos, mas se você pensar bem eu sempre dei pistas de que gostava de você.
Tentei me lembrar de algo, mas não vinha nada a minha mente.
— Eu não posso Matt. Eu amo o Nathan e ele me ama — argumentei.
Ele segurou minha mão a acariciando gentilmente.
— Então diga que eu não mexo com você. Que não te deixo confuso.
Ele me deu um beijo e eu de inicio correspondia, mas depois o afastei de mim.
— Sim, você mexe comigo e sim, eu me sinto atraido por você. Mas eu não te amo Matt. Eu amo o Nathan. Sempre amei e sempre vou amar.
— Mas sabe que eu nunca vou desistir de você não é?
— E nem quero que desista — estranhei que aquelas palavras tivessem saido de minha boca depois de ter afirmado que sempre amaria Nathan — Só me de tempo.
— Assim você me confunde Lucas. Você me quer ou quer ele?
— Eu quero ele... Ou você... Ou os dois... Eu não sei — me inclinei e o beijei — Só me dê tempo para eu entender o que eu quero.
— Tudo bem então. Já são seis da manhã. Vou te levar para casa antes que seus pais acordem — disse pulando para o banco da frente.
O caminho de volta foi desconfortavelmente silencioso. Nenhum som saiu pela minha boca ou pela dele. Tudo o que se ouvia era o som dos pneus esmagando a neve, o motor do carro e nossas respirações.
Ele estacionou o carro em frente a minha casa e me deu um beijo de despedida. Esse durou mais do que os outros e eu fui o culpado. Deixei que meu corpo me dominasse e quando dei por mim estava sentado em seu colo segurando seu rosto com a palma de minhas mãos.
— Tchau — disse saindo de seu colo — Eu me diverti muito essa noite.
— Eu também. Espero poder sair com você de novo — ele propôs.
— Quem sabe na sexta feira. Podemos sair para assistir um filme e comer alguma coisa. Seilá Você quem sabe.
— Pensei que ter vindo comigo tivesse sido um erro — disse confuso.
— E foi — disse sinceramente. Dei um selinho nele — Mas um erro que estou afim de repetir.
Abri a porta para sair do carro quando ele disse:
— Eu te amo.
Não consegui responder. Apenas segui em direção a minha casa com os patins pendurados nos ombros. Queria ter lhe respondido algo, mas simplesmente não pude. Não podia dizer que lhe amava se eu não me sentisse a vontade para faze-lo. Mas ao mesmo tempo não podia dizer que não o amava, pois naquela noite algo mudou. Eu vi um Matt carinhoso e amável como eu nunca tinha visto. Um Matt que eu sabia que estava ali escondido o tempo todo só esperando por mim. Um Matt que eu tinha adorado conhecer e que sentia estar começando a me apaixonar.
Entrei em casa e fui direto para o meu quarto. Tranquei a porta e tirei toda a minha roupa ficando apenas de cueca. Me deitei na cama e fiquei pensando na noite que tive com ele. Uma noite que eu me lembraria para o resto da minha vida. Estava quase caindo no sono quando me lembrei da vez que Viajei para o Brasil depois de ter passado o verão com meu pai a três anos atrás. Matt e Nathan foram comigo e ficaram um mês. Essa noite não tinha sido a primeira vez que eu vi o Matt carinhoso. Tinha sido naquela viajem. Lembro dele querendo dormir comigo na minha cama e eu inocentemente deixando. Lembro de acordar pela manhã com os braços dele envolta do meu corpo. Lembro dele me abraçar sempre que acordava e de as vezes de dar um beijo de bom dia na bochecha e da vez que o beijo pegou no canto esquerdo da minha boca. Lembro que aquele foi o momento que eu soube o que eu realmente era.
Sonhei com Nathan. Ele chorava muito e eu sabia que a culpa era minha. Estávamos apenas nós dois na beira de um precipício. Ele me olhava com um olhar acusador cheio de ódio e tristeza. Tentei me aproximar dele e Nathan pulou do penhasco.
Acordei chorando horas depois de ter chegado em casa. Chorava, pois faria Nathan sofrer. Eu o estava traindo com Matt e sabia que causaria dor e sofrimento ao garoto que eu amava por conta de uma paixão.