Capítulo Trinta e Dois
NA CASA DE ADAM
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Decidi ir ao trabalho de taxi. Ao chegar dei de cara com Kenn na entrada. Que chegou ao mesmo tempo que eu.
- bom dia – falou ele.
- bom dia – falei.
- está melhor?
- bem melhor.
- que bom que voltou, senti sua falta.
- também. É chato ficar em casa.
Nós entramos no elevador.
- com foi ontem? tranquilo? – perguntei;
- foi sim. Eu já estou pegando o jeito do trabalho. Poxa posso te falar uma coisa?
- pode – falei.
- não sei como você consegue se concentrar, cara tem muito homem bonito nessa empesa.
- eu me esforço – falei.
- você nunca pegou ninguém aqui? – perguntou ele.
- não – respondi.
Nós saímos do elevador e logo eu troquei minha roupa e subimos para o 20º andar, mas entre o 16º e o 17º o elevador parou de uma vez.
- que droga – falei.
- o que aconteceu? – perguntou Kenn assustado.
- não se preocupa, isso acontece de vez em quando é só esperar a manutenção aparecer, via levar alguns minutos.
- tudo bem – falou ele – pois é como eu ia te dizendo, os caras aqui são muito gatos. Eu te contei aquele dia né? Que fui à casa do Fritz?
- contou
- pois é... se eu tivesse a chance com algum desses homens. Ontem eu fiquei no seu lugar, no 20º andar.
- foi?
- foi sim, o Adam é muito gente boa. Você tem sorte de trabalhar com ele. Você tem o Adam e eu tenho o Steve que é meio chatinho às vezes.
- meio? Totalmente – falei sentindo o elevador voltar a funcionar.
Logo a porta se abriu. Eu comecei minha rotina e continuei conversando com Kenn.
- você na á festa do Adam amanhã?
- vou sim e você?
- com certeza, não perco isso por nada. imagina? Quando os homens estão bêbados é mais fácil de convencê-los a algo, ou pelo menos tirar uma casquinha.
- pois é. – falei.
Logo Kenn foi embora e Adam chegou em seguida.
- bom dia flor do dia – falou ele vindo até mim.
- bom dia – respondi.
- está se sentindo melhor?
- estou sim – falei.
- que bom, porque quero você na festa amanhã.
- fica tranquilo, tanto eu e meu pai vamos.
- ótimo – falou ele olhando meus dedos e minha mão com um corte. Ele pegou minhas mãos e viu mais de perto. – todo dia você chega com um machucado novo.
- eu ando meio desastrado.
- pelo menos não foi à mão esquerda – falou ele rindo.
- engraçadinho.
Logo ele foi para a sala dele rindo.
O dia foi longo e cansativo e eu não tinha visto Fritz. Ele não tinha nem me ligado no dia anterior e nem no dia e como eu estava preocupado com meu pai resolvi não ligar, afinal ele provavelmente estaria ocupado com algum paciente.
Eu peguei um taxi de volta e quando ele parou na porta da minha casa eu tive uma surpresa o carro do Fritz estava estacionado. Eu paguei o taxista e quando entrei não vi ninguém na sala.
- oi de casa – falei indo até a cozinha. Então ouvi meu pai e ele conversando na área.
- boa noite – falei.
- boa noite – falou meu pai e Fritz.
- eu vim ver como você está? – falou ele pegando minha mão e quando viu meus dedos com curativos ele me deu uma olhada e voltou a olhar para o machucado.
- eu sinto muito – falou meu pai – eu prometo que não vai mais acontecer.
- não tem problema – falou Fritz – eu não vou contar nada para ninguém – falou Fritz referindo-se aos meus machucados que meu pai tinha provocado. – mas eu recomendo a visita a um terapeuta ou psicólogo.
- eu já recomendei – falei para Fritz – semana que vem vou procurar um bom.
Depois de fazer todos os curativos no meu corpo ele disse que iria embora.
- obrigado – falou meu pai apertando a mão de Fritz.
- não tem de que. – falou Fritz.
Ele foi em direção à porta.
- eu vou te levar até a porta.
Eu o acompanhei e fui com ele até lá fora.
- achei que tinha me esquecido – falei. – você não me ligou ontem e nem hoje.
- pensei o mesmo – falou Fritz – eu já te disse que é para me chamar imediatamente quando coisas assim acontecerem.
- me desculpa.
- tudo bem – falou ele chateado abrindo a porta do carro e entrando. – te vejo na festa amanha? – perguntou ele.
- sim – falei.
Dei a volta no carro e fui para dar um beijo nele, mas ele virou o rosto e dei apenas um beijo no rosto dele.
Sem dizer nada ele acelerou e foi embora.
No dia seguinte eu e meu pai nos arrumamos e saímos de casa para ir á festa ás 19h00min. Meu pai foi dirigindo e depois de seguir minhas instruções chegamos á casa de Adam. Ele estacionou o carro e nós dois descemos. A música tocava e a festa era na beira da piscina. Todos estavam com roupas de casa. Adam nos recebeu de camiseta azul claro, de bermuda e de chinelo nos pés, era a primeira vez que o via com uma roupa que não era o terno.
- olá – falei apertando a mão dele.
A esposa de Adam veio até nós.
- boa noite Mike – falou ele me abraçando e me dando um beijo no rosto. – que bom que você veio.
- é claro que não ia perder a festa do ano.
Os dois filhos dele vieram correndo e me abraçaram.
- olá pestinhas – falei alisando a cabeça dos dois.
Fui até Gray e cumprimentei-o e a namorada, dei um abraço e beijo em Vanessa e apertei a mão de Steve.
- fala Mike – falou Xavier se levantando e me recebendo.
- tudo bem Xavier?
A esposa de Xavier veio e me deu um aperto de mão.
Disse olá para quatro pessoas que estavam na piscina tomando banho e fui até a cozinha e cumprimentei dois casais que estavam lá.
Voltei para fora e encontrei Adam.
- Fritz não chegou? – perguntei.
- ainda não.
- e o Kenn?
- também não.
Antes que eu terminasse de falar eu vi Kenn e Fritz chegando.
- boa noite – falou ele. De longe eu vi ele cumprimentar todos.
- chegou Fritz e seu garoto! – gritou Steve.
Todos riram.
- o que? – perguntei pra mim mesmo.
Adam me entregou um copo com bebida.
- Esses dois juntos são uma piada – falou Adam, essa semana que você não foi trabalhar ele ficou me ajudando e Fritz ficava ligando sem parar pedindo documentos, e nós brincamos com ele que ele era o Garoto do Fritz, porque ele dava prioridade para tudo o que ele pedia.
Ele entregou um copo para meu pai e de longe eu vi e fui andando rápido até ele.
- tem certeza? – perguntei para meu pai.
- é só uma bebida tropical – falou meu pai.
- tudo bem – falei – pode beber, mas não bebe nada puro.
- ok – falou ele.
Fritz cumprimentava todos e Kenn vinha ao lado dele. Ele estava com uma bermuda branca que ia até o joelho e uma camisa regata listrada de alaranjado e castanho em sua mão tinha as chaves do carro.
- Mike! – gritou Kenn vindo até mim e me dando um abraço – que bom que veio.
- claro que eu vim. – falei. – e você? Demorou a chegar!
- eu vim de carona com Fritz – falou ele – se ofereceu para me pegar lá em casa, eu estou te falando que ele está dando mole pra mim – falou Kenn rindo.
- pois é. Eu também acho – falei rindo.
Fingi que nem vi Fritz, não por ele ter dado carona para Kenn, mas porque no dia anterior ele tinha sido sem educação comigo e nem quis se despedir. Eu não tinha culpa. Eu gosto muito do Fritz, mas não podia ter chamado ele por causa do meu machucado, afinal eu tinha sido estuprado ele é meu namorado, estamos juntos a mais de dois meses e eu tenho vergonha de que ele descubra que eu tenha sofrido isso.
A música estava alta e eu me sentei em uma mesa junto com meu pai.
- pode ir se divertir com seus amigos.
- não tem problema, parece que agora eles tem outro amigo e nem se lembram de mim.
Falei mostrando para meu pai todos os sete sentados em uma mesa conversando e rindo do outro lado de onde estávamos.
- está com ciúmes?
- não… é que… sei lá, isso me dá a impressão de que eles me substituíram. Então eu não era exatamente “amigo” deles era só o gay disponível, agora que eles encontraram um gay mais animado do que eu...
- deixa de bobeira, você é animado.
Olhei para ele com uma cara de cansado e tristeza.
- bom, com essa cara até eu vou me levantar da mesa e ir para outro lugar. – falou meu pai.
Eu fiquei sentado olhando eles de longe. Fritz não veio nem fingir que estava tudo bem, ele não tinha me cumprimentado e nem meu pai e lá estava ele sentado ao lado de Kenn.
Os minutos foram passando e apesar de não querer admitir estava sendo doloroso pensar que tinha sido trocado, especialmente por Fritz. Ver Fritz tão longe de mim e nem se importando comigo, logo agora que eu precisava de alguém perto de mim, depois de tudo o que passei... Eu pensei que ter Fritz ao meu lado, me apoiando incondicionalmente seria o que me faria esquecer o que passei na quarta-feira a noite, mas eu estava errado.
As músicas iam passando e eu tentava livrar minha mente daquilo. Meu pai tinha se levantado para pegar outra bebida e tinha acabado parado para conversar com outras pessoas e estava em outra mesa. Era até bom, pelo menos ele limpava a mente do que tinha acontecido naquela semana.
Então foi quando Adam pareceu estar procurando alguém e quando me viu ele se levantou da mesa e veio até mim.
- Mike, está fazendo o que aqui? Vem sentar-se com a gente.
- eu estou bem sentado aqui.
- que é isso, que cara é essa? – falou Adam se sentando á mesa comigo.
- não é nada – falei.
- isso é uma festa, você devia estar feliz.
- eu estou – falei fingindo um sorriso.
- não está chateado porque não te chamamos? Por favor, né? Você é de casa, pode chegar e sentar.
- não é isso. – falei.
- você não sabe mentir – falou Adam – vem comigo, você vai sentar bem do meu lado. Você sabe que ainda é meu amigo.
- tudo bem – falei me levantando e seguindo ele. Adam puxou uma cadeira e eu me sentei ao lado dele.
- porque não veio antes? – perguntou Steve.
- por nada – falei.
Todos voltaram a conversar. Fritz nem olhava na minha cara. Eu não sei o que eu tinha feito de tão sério para ele, mas ser ignorado estava me deixando cada vez mais triste e por mais que eu tentasse me animar eu não conseguia. Minha vontade era de me levantar e ir embora, só não fazia isso por causa dos outros que sempre foram bons amigos para mim.
Eu olhei para Fritz esperando que ele me olhasse de volta, ele olhou pra mim e logo desviou o olhar.
- vou dar uma volta – falou ele.
- porque você está fazendo isso comigo? – falei.
Todos na mesa pararam de conversar. Fritz não mais se levantou e me olhou com os olhos arregalados.
- me responde Fritz. O que eu te fiz para ficar me ignorando? Você quer terminar? É só falar não fica me ignorando ou me provocando.
Todos começaram a disfarçar e ficaram calados. Kenn ficou sem graça e nem se mexia.
- por favor – falou Fritz. – não vamos falar...
- vamos falar disso agora – falei interrompendo ele – eu não estou alterado, estou só perguntando, eu quero saber o porque? Eu gosto de você, nós estamos namorando? Ou terminamos? Eu não quero ficar sofrendo por algo que não vou ter.
- vamos conversar só nós dois – falou ele se levantando.
Me levantei e eu o segui para longe da piscina e fomos para perto do jardim. Fritz parou de andar.
- então... – falei – é só dizer, estamos juntos? Não temos mais nada? Porque de qualquer jeito agora todo mundo já sabe mesmo...
- estamos juntos ainda. – falou Fritz – me desculpa tão ter ido falar com você e seu pai, eu ainda estou chateado com você. Eu tenho a impressão de que você não confia em mim nem como namorado nem como médico.
- eu confio Fritz e é por isso mesmo que eu não te liguei, aconteceram algumas coisas comigo que eu tenho vergonha que meu namorado saiba, com que cara você quer que eu te ligue e simplesmente te conte?
- eu nunca pensei por esse lado.
- é por isso que não te ligo, eu tenho vergonha.
- desculpa – falou ele se aproximando e me dando um abraço.
- não te desculpo! você sabe que sou ciumento e você trás o Kenn sem me falar nada?
- ele não sabia aonde é a casa do Adam e não tinha carona...
- o problema não é ter trazido ele, mas foi não ter me contado. Imagina se eu pegasse carona com um homem...
- ok... já entendi – falou ele me interrompendo – e me desculpa por ter ido embora daquele jeito ontem.
- você realmente me chateou eu estava quase indo embora.
- as vezes eu sou muito babaca – falou ele – as vezes eu me pego agindo como um adolescente.
Nós nos olhamos e demos um selinho.
- você ainda é meu ratinho. – falou Fritz.
- E você meu gatão. – falei dando outro selinho.
Nós então fomos andando de volta para a mesa.
- eu estou morrendo de vergonha – falei para Fritz.
- não precisa – falou ele.
Nós então chegamos. Kenn estava sem graça quando chegamos.
- então quer dizer que o garoto do Fritz não é o Kenn e sim nosso amigo Mike? – falou Gray.
- chega pra cá – falou Adam – os deixem sentarem um do lado do outro.
- desculpa pela briga – falei.
- não tem problema – falou Vanessa. – porque vocês não nos contaram?
- porque o garoto aqui estava com vergonha e acha que é antiprofissional. – falou Fritz se sentando. Eu me sentei ao lado dele e fiquei olhando para Kenn.
- desculpa – falou Kenn movendo os lábios e rindo. Ele estava sem, graça pelas coisas que ele tinha dito sobre Fritz.
- sem problemas – falei bem baixo.
A festa continuou, mas dessa vez estava bem melhor já que eu estava sentado ao lado de Fritz. Eu merecia ser feliz por um tempo, sofri tanto nesses últimos dias, merecia pelo menos de um pouco de paz.
Kenn se sentou ao meu lado para que conversássemos melhor. Meu pai estava em outra mesa conversando com outros convidados.
- vocês estão juntos há quanto tempo? – perguntou Vanessa.
- a mais de dois meses – respondi.
- e vocês conseguiram esconder por todo esse tempo? – falou Gray.
- sim.
- eu já sabia – falou Xavier.
- como? – perguntei.
- certa vez eu estava indo embora e vi vocês dois conversando dentro de um carro.
- não disse? – falou Gray – é impossível esconder algo trabalhando naquela empresa, se você tiver um segredo pode saber que ele vai ser revelado para todos.
- vamos comigo lá na cozinha, vou pegar algo para beber - falou Fritz se levantando. Eu me levantei e nós fomos até a cozinha.
- vem comigo no banheiro.
Eu segui ele e assim que chegamos na sala nós subimos as escadas.
- você sabe aonde fica? – perguntei.
- não, mas é só procurar que vamos achar.
Nós fomos abrindo as portas e demos de cara com vários quartos até que finalmente eu encontrei o banheiro.
- é aqui – falei.
Ele veio e entrou no banheiro, eu fiquei de fora esperando ele usar o banheiro. Esperei alguns minutos e logo ele abriu a porta.
- vem aqui – falou ele me mandando entrar. – ele então eu entrei e ele fechou a porta do banheiro e se apoiou na pia e me puxou e demos um beijo.
- estava com saudades de mim era? – falou ele no meu ouvido.
- claro, eu estava era triste do outro lado da festa vendo você. Parecia até que Kenn era seu namorado e não eu – falei pegando o rosto dele em minhas mãos e beijando calorosamente.
- é? Estava lá de longe desejando seu homem?
- sim – respondi entre um beijo e outro.
Ele então tirou a camisa e me abraçou.
- o que você está fazendo?
- quero você aqui e agora – falou ele pressionando seu pau já duro em mim e lambendo meu rosto e voltando a me beijar. Ele passou a mão na minha perna por cima da minha calça.
Também queria muito, mas não podia, meu ânus ainda estava dolorido e eu não poderia contar nada pra ele.
- eu não sei se estou afim – falei.
Ele parou de me beijar na hora.
- como assim não está afim? Estamos nós dois aqui no banheiro com tesão e você vai me dizer que está afim?
- na verdade tem algo que eu queria te falar, eu estou com uma ferida... – falei.
- tudo bem – falou ele em interrompendo e pegando a camisa para vestir e Kenn abriu a porta na mesma hora.
- nossa, desculpa – falou Kenn.
- sem problemas – falei nervoso.
Queria tanto guardar segredo, mas essa é uma verdade sobre os segredos: eles acabam sendo revelados uma hora ou outra.
