O terror psicológico só estava começando...
- Pai! Manda eles me soltarem. O que está acontecendo aqui mãe? – ele ficou assustado e apavorado.
- É para o seu próprio bem meu filho. – disse a mãe dele.
- Nós vamos tirar este demônio do seu corpo, Davi. Ele está tentando te afastar do caminho de Deus e desvirtuar você. O inimigo age em silêncio, e muitas das vezes, quem não vigia, acaba caindo na armadilha dele. Mas hoje, nós vamos fazer uma sessão de libertação com você, para que Satanás seja repreendido por terra. – disse o pastor.
- Mas eu não tenho nada. Eu estou bem. - ele tentou se explicar, em meio aos pulsos apertados por uma corda que os dois irmãos da igreja usavam. – Vocês não podem fazer isso comigo. Mãe! Manda eles pararem. Me solta! – Davi começou a chorar.
- Eu te pedi tanto meu filho, para que você não chegasse perto daquele rapaz. Ele tem o espírito maligno e por culpa dele, você foi desvirtuado. Onde já se viu beijar na boca de outro homem! – o pai dele gritou.
- Do que está falando pai?
- Não se faça de bobo! Eu vi fotos daquela pouca vergonha. Daquela sujeira... Se eu não te libertar hoje, você vai queimar no fogo do inferno!
- Porque meu filho? Porque foi fazer aquilo? – a mãe dele chorava. Você sabe muito bem que Deus condena esse tipo de coisa.
- Mãe, me solta. Deixa eu conversar com vocês!
- Não dê ouvidos a ele. Isto é o demônio tentando fazer a cabeça de vocês. Seu filho está mesmo possuído. Mas nós vamos vencer esta batalha. Amarrem os pés dele. Precisamos deixá-lo em jejum por doze horas. A alma precisa está limpa e a cabeça pura, pra que tenhamos êxito na libertação. Nós vamos trazer o Davi de volta. Ele jamais cometerá este pecado, pois demônio nenhum chegará perto dele.
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- Betão, as luzes estão apagadas. Este horário devia ter alguém em casa. Alguma coisa está acontecendo. Eu sinto isso.
- Calma cara. A família deve está na igreja. – Betão tentou acalmá-lo.
- Claro que não! O culto começa às sete. Ainda são cinco e meia. O Davi não atende a uma ligação minha.
-Olha quem é vem ali. – Betão apontou para rua, aonde o Rafael vinha em direção a eles.
- Agora é a minha chance de quebrar a cara desse babaca.
- Ei! Você não vai fazer nada. Não vou deixar você brigar na rua.
- Por culpa dele. Desse desgraçado...
- Oi galera. Eu posso conversar com você? – ele se aproximou e encarou o Fábio.
- Mas tu quer apanhar mesmo né? Qual é a tua meu irmão. Não o vê que eu tomei pavor da tua cara? – ele encostou no Rafael, enfurecido.
- Não vale a pena Fábio. – Betão seguro ele.
- Eu só vim até aqui, pra dizer que você nunca vai ver o seu queridinho. Eu contei tudo para o pai do Davi,e se eu bem conheço ele... HAhahahaha... Seu namoradinho deve está bem longe.
- Seu filho da puta! – Fábio não pensou duas vezes e deu um soco tão forte no rosto do Rafael, que este se desequilibrou. Ele ia dar outro soco, mas o Betão o segurou.
- Me solta! Eu quero arrebentar a cara deste desgraçado.
- Bate! Pode bater quantas vezes você quiser. Eu já me vinguei. Vocês nunca vão ficar juntos. O Davi foi pra bem longe, e você nunca mais vai vê-lo. Idiota!
- E mato você. – ele conseguiu se soltar das garras do amigo, e desta vez não teve pena... Cobriu o Rafael de pancadas. Jogou ele no chão, e batia sem parar, tirando sangue do rosto dele. – Isso é pra você aprender que não se deve trair um amigo. – antes de sair dali, o Fábio deu um chute nas costas do Rafael, que ficou todo acabado no chão.
- Vamos Betão. Eu preciso achar o Davi.
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Já se passavam doze horas, e eles prenderam Davi num quarto meio sem luz, deixando ele totalmente sem comida. Aquilo para eles era uma forma de jejuar e purificar o corpo dos maus pensamentos. A religião muitas vezes, faz com que cometemos atrocidades e esquecemos a verdadeira palavra do Senhor. Muitos alienados acham que possuem o direito de julgar e resolver como bem quiserem seus crimes... Sim! Porque isto é um crime.
Davi estava parecendo um bicho, com pés e mãos amarrados e totalmente fraco. Suas lágrimas já não viam mais em seu rosto, apenas uma dor profunda, que ia além do seu coração.
- Pronto! Podemos começar. – disse o tal pastor.
- Tem certeza de que é preciso? – dona Carmem chorava.
- Carmem! Você não vê que não é o nosso filho? Davi jamais beijaria na boca de outro homem! E aquele marginal ainda me paga. Pode começar pastor.
Todos fecharam os olhos, e o pastor se aproxim
ou do Davi, colocando sua mão na cabeça dele. Na verdade, ele apertava a cabeça do Davi, que não tinha mais força, nem voz para gritar.
- Senhor meu Deus, ó Deus, liberte este jovem da força do mal. Expulsa este demônio que quer tirar o teu servo do caminho da luz. Eu ordeno que você saia! Saia! Saia! Em nome de Jesus. – ele gritava muito alto, e o pobre Davi se sentia a pior espécie de ser humano. Aquilo era realmente uma tortura...
- Para, por favor! Eu estou com sede. Eu quero água.
- Saia. Em nome de Jesus! Tu não tens poder sobre este corpo satanás! Volte para o inferno. Que você caía por terra, em nome de Jesus! Eu ordeno que você saia deste corpo.
A cena era tão chocante, que parecia filme de terror! Não suportando mais, o Davi desmaiou de fome. E todos acharam que havia conseguido expulsar o “tal” demônio.
Uma cena que ficaria marcada pra sempre na vida dele...
- Aleluia! Aleluia! – gritava o Sr. Gabriel. Meu filho será um bom pastor. Ele foi liberto.
- Me ajude a levá-lo pra o outro quarto. Precisamos dar alguma coisa pra ele comer. – dizia a mãe dele.
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- Como eu vou conseguir descobrir o paradeiro do Davi? Eu to desesperado Betão! – Fábio passava a mão pela cabeça angustiado. Ele temia o que o pai do Davi, poderia fazer com o filho.
- E se a gente for à igreja? Alguém deve saber de alguma coisa. - sugeriu o amigo.
- Bora! Sobe aí. – Fábio rasgou a moto na pista, rumo à igreja. Chegando lá, tinha poucas pessoas, mas dentre elas, alguém muito importante para ajudá-lo: a Rebeca. A tal garota que gostava do Davi.
- O que vocês desejam? – ela se aproximou deles.
- Oi. É... Nós...
- Nós estamos procurando pelo Davi. – Fábio foi direto.
- Ele não está aqui. Aconteceu alguma coisa?
- Bem, é... Na verdade, nós fomos a casa dele, mas não tinha ninguém por lá.
- Nós somos do mesmo colégio dele. Estudamos juntos. - Fábio mentiu.
Uma mulher se aproximou.
- Rebeca! O pastor ligou dizendo que está na casa dele, no interior de São Paulo. Hoje ele não vem pregar o culto.
- Ok, irmã Maria.
- Onde fica essa casa?- perguntou Betão.
- Pra quê vocês querem saber?
- É que eu queria falar com este pastor, pra ele ir fazer uma oração lá em minha casa. Algumas coisas estranhas andam acontecendo por lá, e foi o próprio Davi que me indicou ele.
- Ahhh... Realmente, o pastor Ricardo é um homem abençoado! Eu vou pegar pra você.
Já do lado de fora da igreja, Fábio ficou sem entender nada.
- Que papo é esse de pastor na tua casa?
- Você não se lembra que o Davi, naquele dia no bar, disse que este pastor, pregava algumas coisas na casa dele? E se ele estiver por lá?
- Boa Betão. Vamos pra São Paulo agora! Só vou abastecer no posto.
- Cara, você está de moto. Se o Davi estiver mesmo por lá e precisar de você, terá de resgatá-lo deste lugar. E moto só dá pra dois. Toma o endereço e vai. Busca teu amor, cara. Eu torço muito por vocês dois.
- Você é o meu irmão. – eles se abraçaram, e o Fábio partiu atrás do Davi.
CONTINUA...