B:E o que é que você esta pensando fazer agora?
K:Queria denuncia ele para a policia, mas minha mãe não quer me deixar... ela quer resolver isso em “família”, mas eu já sei no que vai dar...
B:K:NADA... RSRSRS
B:Então?
K:Então eu vou pedir minha emancipação e vou me mudar para Poa (Porto Alegre), vou me mudar pra lá fazer faculdade e continuar minha vida lá.
B:E acha que a tia vai aceitar isso tudo numa boa...
K:Eu sei que não vai...mas ela não vai ter escolha ou ela faz o que eu quero ou eu denuncio ele pra policia e o resultado vai ser...
B:Pode para...
K:Que foi?
B:seu cérebro deve estar fritando agora...você nunca foi inteligente. kkkkk
K:Não é ave Maria, mas é cheio de graça né.
Bruno ainda continuou comigo ate o final da noite, ele sabia como me fazer rir sem precisar ser engraçado, eu ate pensei que ele iria tentar me tirar de ideia para eu não me mudar e ate vi uma certa tristeza em seu olhar quando falei, mas nem ele pode negar que é o melhor pra mim, eu decidi ir para Poa por que tenho um apê lá que faz parte da minha herança e no momento sei que estava perto de vencer o contrato com o inquilino.
Quando Bruno foi embora, minha mãe entrou no meu quarto eu estava deitado assistindo televisão deitado na cama e assim que ela fechou a porta eu com o controle na mão a desliguei, enfim havia chegado o momento de por as cartas na manga.
M:Eu vim conversar com você sobre o que aconteceu... eu já falei com o Rodrigo...
Eu preferi esperar ela falar tudo o que tinha para falar primeiro para só depois eu começar a falar, sempre foi assim em nossas conversas.
M:Ele esta tão arrependido... bastava olhar para ele e ver, claro que nada justifica o que ele fez, mas eu queria que você perdoasse ele e tentasse entender, ele sempre teve um gênio difícil e...Deus eu não sei o que dizer...
K:Mãe eu vou ser direto e claro... o que ele fez foi a gota d’água, eu não sinto raiva dele...sinto pena só isso...perdoar não sei se um dia eu vou perdoa, mas agora isso não é possível...a senhora não sabe o que dizer por que não há palavras nesse mundo que possa mudar o que aconteceu e jamais será o que foi antes, se bem que na verdade nunca fomos irmãos de verdade.
M:Não diz isso por favor...com a morte do seu pai o Rodrigo se sentiu responsável pela casa e por você então isso mexeu com ele de uma forma tão forte...
K:Mãe para... não adianta, nem a senhora mesma acredita nisso... desde criança ele fez da minha vida um inferno... e por causa disso eu tomei uma decisão ou melhor nos dois vamos decidir e é a senhora que vai decidir o que é melhor.
K:Eu quero que a senhora me emancipe para eu controlar a minha herança sem depender da boa vontade do Rodrigo, e depois disso eu quero me mudar para Poa, o contrato com o inquilino está pra vencer e eu vou morar no meu apê, ou então eu vou denunciar o Rodrigo e ele vai pagar pelo que fez...
M:Você tem noção do que esta me pedindo? Escolher entre a liberdade do meu filho ou ver você longe de mim...
Para uma mãe não é fácil fazer uma escolha assim, e eu sabia que estava magoando ela, minha mãe sempre quis a família unida e de qualquer forma que ela escolhesse nossa família estava se desmoronando e se distanciando, e ver seu filho na cadeia era algo que ela não podia suportar pois um primo dela a uns dez anos morreu na cadeia em uma rebelião, mesmo ele sendo um marginal foi um fim que não se deseje nem para oi seu maior inimigo, então vocês podem imaginar o medo que ela tinha de isso acontecer com o Digo.
Minha mãe chorava em silencio, e meu coração estava em pedaços vendo ela chorar, mas eu não tinha escolha precisava dar um rumo pra minha vida e eu tinha todo direito de tentar ser feliz.
K:A senhora sabe que do jeito que esta não pode ficar... basta ele tomar um porre pra fazer o que fez...eu preciso ser feliz mãe...eu tenho direito de correr atrás da minha felicidade e eu estando longe daqui eu terei paz e ele também.
Ela ainda permanecia em silencio acredito que pensando no que eu dizia ate que ela se levanta e vai em direção da porta.
M:Boa noite meu filho durma bem... e amanhã eu vou falar com o nosso advogado e vou pedir para providenciar tudo.
Ela disse isso de costas pra mim, mas eu sabia que ela chorava, e essa decisão foi responsável por eu ser o que sou hoje...mesmo sofrendo por fazer ela sofrer eu não podia voltar atrás.
Naquela noite só dormi graças aos remédios que tomava, caso contrario seria difícil dormir pensando no sofrimento de minha mãe, já de manhã a Luana chegou toda animada saltitante tentando melhorar o clima la em casa, eu já havia contado a ela a minha decisão e mesmo ela não gostando ela não teve como não achar que era melhor mesmo eu seguir com a minha vida, mas também prometi a ela que guardaria um quarto exclusivo pra ela quando for me visitar, contudo eu estava preocupado com a reação do Digo ao saber da minha decisão, mesmo sabendo que ele nada podia fazer para atrapalhar afinal era um direito meu, mesmo sabendo que ele sempre soube cuidar da nossa herança muito bem.
Quando era por volta de cinco da tarde o nosso advogado foi lá em casa junto com a minha mãe me explicar como seria os proclamas, iria demorar alguns dias o processo de emancipação e posse do que é meu, eu achei que demoraria mais, porém como o inventario já tinha sido feito a anos atrás e tudo que era meu já estava em meu nome, seria bem mais fácil.
Samuel me ligava varias vezes mandava mensagem e ate ia à minha casa tentar me ver, mas achei melhor por um ponto final em nossa historia, eu não gostava dele e não era certo usar ele para resolver meus problemas então eu como um covarde que sou falei com ele por telefone, não vou colocar a conversa aqui por que não importa, ele entendeu a minha situação ou pareceu entender e me desejou tudo de bom e juízo em minha vida e eu claro retribui os votos.
É como dizem não mandamos em nosso coração, seria tudo mais fácil se eu me interessasse pelo Sami, viveríamos felizes longe daqui, teríamos filhos (sempre quis ser pai) e seria o fim dos meus problemas, mas nem tudo sai como queremos.
Eu tinha combinado com a minha mãe de que quando o Digo quisesse ir lá em casa era para me avisar com antecedência para evitar problemas, de uma forma estranha ela aceitou prontamente, eu falo estranha por que esperava um sermão dela sobre valores fraternos como sempre fez. Nos dias que se passaram eu não vi o Digo, minha mãe disse que ao informar ele sobre a minha emancipação ele não disse nada e nem reclamou do meu desejo de cuidar do que é meu, inclusive pedi para minha mãe não contar a ele para onde eu iria morar era melhor evitar e o mesmo pedido feito a ela direcionei a Luana, Bruno, Pedro e a todos que sabiam da minha historia.
Após uma semana eu e minha mãe fomos a Poa organizar as coisas a principio eu ficaria na casa da minha madrinha ate deixar o apê pronto pois assim que o inquilino saiu constatamos que precisava de uma boa reforma, que poderia demorar alguns dias pois precisava de uma porrada de licenças, minha mãe conhecia uma arquiteta que fora sua amiga a algum tempo e as duas trataram os detalhes só falei como queria, estando tudo encaminhado retornamos e eu me ocupei com a minha mudança, transferência de banco documentos.
Sabem quando você esta prestes a dar um grande passo na sua vida e você fica com um certo friozinho na barriga e se perguntando se era isso mesmo que você devia fazer? Então era assim que me sentia, estava saindo de cena em meio a tantos acontecimentos, primeiro a minha mãe se juntando com o seu namorado, o filho do Digo prestes a nascer enfim minha vida estava mudando tão depressa que já estava me assustando, havia marcado a data da minha ída definitiva para um dia após uma reunião com a família da minha mãe com a família do meu padrasto, eu fui já querendo voltar, pois não queria ver o Digo, não sei o que poderia acontecer, mesmo tendo todos os motivos para odiar ele, eu ainda sentia algo por ele, e me conhecendo como me conheço poderia fraquejar ao ver ele, mas não foi o que aconteceu quando o vi entrar pela porta junto com a Daniela com uma barriga enorme e os dois sorridentes de mãos dadas, era como se um ódio tão forte fosse sumindo que lagrimas começaram a invadir meus olhos.
A Luana ao olhar em meus olhos veio em minha direção e pegou em minha mão me levando para outro cômodo da casa...
L: Vem amigo senta...Não fica assim ele não merece nenhuma lagrima sua.
K:Eu sei Lu, mas eu não consigo não ligar...ele lá feliz da vida como se nada estivesse acontecendo e....
L:Para para para, nem continua...agora não é hora de chorar...é hora de você mostrar que é superior a isso tudo...mostra pra ele o que ele perdeu...vamos voltar para a sala e agir como se nada estivesse acontecendo...e você não precisa ficar perto e nem conversar depois do que aconteceu e ninguém vai forçar nada viu, vem você precisa jogar uma água nesse rostinho lindo e encarar de frente.
Passei no banheiro e lavei o rosto enquanto a Luana brigava com alguém no telefone, nem prestei atenção na conversa dela, já tinha muita coisa com para me preocupar e quando terminei vi que ela só faltava cuspir fogo...
K:Que foi?
L:ODEIO HOMENS NÃO SEI PRA QUE PRESTA UMA RAÇA DESSA, É SÓ PARA DAR DESGOSTO...
K:Calma Luana alguém pode escuta.
L:QUE SE FODAM, NUNCA MAIS QUERO SABER DE HOMEM, É UM INFERNO...
K:Mas por que essa revolta toda?
L:Não quero falar disso agora...vem vamos que hoje eu to com uma vontade de bater em alguém...qualquer coisa desconto minha raiva no Rodrigo se te perturbar.
A Luana saiu me puxando com uma cara de dar medo em qualquer um e quando voltamos a sala já tinha bem mais gente do que antes, e logo vi o Rodrigo conversando com um tio nosso e a Daniela conversava com uma mulher que não conhecia e eu tentava me distrair enquanto podia e rezava para as horas passarem logo, teve um momento que a Luana foi conversar com um parente nosso e eu vi o Rodrigo vindo em minha direção e eu rapidamente tratei de ir na direção que o Pedro estava fingindo querer falar com ele e logo o Digo tomou outro rumo e desviou e foi assim durante todo o jantar, não vou colocar detalhes desse jantar por que não vem ao caso e depois de todas as formalidades eu já estava louco de vontade de ir embora e fui pedir ao Pedro para me lavar e ele a principio começou com aquela ladainha de estar cedo, mas quando eu voltei o meu olhar em direção do Digo ele entendeu o recado.
P:Ok só me espera um estante que eu vou lá no meu quarto pegar minha carteira.
Enquanto isso fui me despedir do pessoal e quando estava me despedindo do meu novo padrasto ele dizia lamentar por nos ver tão pouco eu eu só pedi que ele cuidasse bem da minha mãe e claro ele prometeu fazer dela a mulher mais feliz do mundo, e admito que ao ouvir isso fiquei com uma pontinha de inveja dele, queria tanto que o Digo dissesse aquilo pra mim.
Na minha mãe só dei um beijo nela e já passei para o próximo da fila que foi outra ladainha de parentes afastados que sempre que se reúnem ficam naquela falsidade de como você cresceu e esta bonito ai depois passam a especular sobre sua vida, isso me irrita muito bando de fofoqueiros.
Assim que terminei de despedir de todo mundo fui esperar o Pedro lá fora, e o pior é que eu não fui sozinho.
Eu estava próximo ao meio fio olhando para as estrelas e ouço passos em minha direção e quando olhei para trás me deparo com o Rodrigo em pé olhando pra mim, com um envelope nas mãos...
Quem sem dizer nada estendeu a mim e eu meio que estupefato do susto fiquei olhando para ele nos olhos e logo senti eles sendo emundados por lagrimas, porra não queria que ele me visse assim, mas eu não era o único ele também estava com os olhos vermelhos cheios de lagrimas e rapidamente peguei o envelope das suas mãos, que não era um envelope pequeno era daqueles grandes timbrado com o nome de um cartório que não lembro o nome.
D:São as escrituras dos seus imóveis e o extrato do bando com a senha, e com os rendimentos desde que assumi.
Eu permaneci mudo segurando o envelope e digamos que frustrado por algum motivo, na verdade eu ainda tinha um pontinha de esperança de agente se acertar, mas ele só queria me entregar aqueles documentos... mas porque não pedir a minha mãe para me entregar, assim um não precisava olhar na cara do outro.
D:Dentro esta tudo ai , só confere antes de viajar.
E dizendo isso virou de costas e seguiu para dentro e eu fiquei ali paralisado com a frieza dele...Mas o que eu esperava afinal de contas que ele caísse em meus braços?
Logo o Pedro apareceu sem dizer nada e entrou no carro e eu ainda demorei alguns instantes para minha mente voltar no lugar e entender que eu tinha que entrar dentro daquele carro...
Ai ai... Devia ter feito isso, mas não fiz...
Acabei agindo por impulso...
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Eu estava relendo alguns comentários dos episódios anteriores, fiquei feliz e surpreso por gostarem desse conto e pela indignação devido as atitudes do Rodrigo, bom só tenho a dizer que toda ação leva a uma reação, a vida é uma escola constante estamos sempre aprendendo, então essa fase foi todo um aprendizado que contribuiu para atitudes boas é ruins afinal somos seres humanos.
Em relação a questão se o conto é ou não real, acho irrelevante responder então deixo a cargo de cada responder a pergunta, se prestarem atenção nos detalhes saberão a resposta.
Por fim eu acredito que o maior problema da nossa sociedade é o preconceito, pior ainda é quando deixamos que o medo do que aqueles que estão em nossa volta vão pensar se fizermos algo que as convenções sociais não permitem, aquele que vê o problema de fora não sabe o que é ter que vivenciar aquela situação, enfim continuem acompanhando muitas surpresas estão por vir.