De certa forma eu sempre soube que a vida é feita de escolhas, e temos que tentar ser felizes com elas. Naquele momento em meio à jornada, tal como Dante em sua Divina Comédia, eu estava perdido em uma selva escura, e nela errava por noites e noites. Aos 27 anos eu havia conquistado a maioria das coisas que qualquer cara poderia desejar para si próprio, mas a sensação de plenitude não era tão plena assim a ponto de me trazer paz interior. Ela, Elisa, ainda era o pensamento intrusivo favorito com o qual minha mente insistia em me cobrar pelo passado. Algumas pessoas cruzam nossas vidas e você nunca mais pensa nelas novamente. Outras, você se lembra e se pergunta: o que aconteceu com elas? Eu procurava me concentrar no fato de que é uma virtude saber encarar as consequências de nossas decisões. E eu encarei.
Ainda hoje, lembro de um lugar, um subúrbio como outros, uma cidade do interior como outras, e lá havia a garota loira de olhos azuis; seus dentes da frente se revelavam quando sorria deixando-a com cara de moleca, mesmo ela sendo pouco mais velha que eu. A casa dela tinha um cheiro de chocolate que dava para ser sentido desde a porta da frente, graças à sua mãe, dona de uma loja de doces artesanais, e que fazia aqueles chocolates caseiros que qualquer um que tenha tido infância se lembra. E para constar, não se comparavam em doçura com os beijos daquela menina. As vezes basta uma simples imagem, o trecho de uma música, qualquer cheiro ou sabor peculiar para que sejamos automaticamente lançados de encontro a memórias que antes pareciam tão distantes. A verdade é que mesmo depois de tanto tempo eu ainda me lembro. E foi uma época incrível.
Elisa para mim não foi apenas uma namorada do passado. Ela combinava comigo, fazia com que eu me determinasse a ser alguém melhor, e me entendia mesmo nas vezes em que eu revelava o pior de mim. Cada dia é mais raro se encontrar alguém assim, pena que descobri isso tarde demais. A idéia de que a vida poderia me dar mais do que aquela cidade oferecia conflitava com o que eu sentia por ela. Eu sabia que percorrendo caminhos incertos na juventude encontraria algumas pedras pelo caminho; e quando crescemos fica claro que pouca coisa na vida flui do jeito que planejamos. Talvez fosse tudo uma questão de ajuste: num mundo de insegurança onde todos desejam ter uma vida diferente, se perguntam até onde vai o seu potencial, e as vezes até querem ser outra pessoa, ela tinha a beleza verdadeira de quem conhecia a si mesma; e estava contente com aquilo que conhecia. Eu, não. E foi assim que a deixei. Como se ela pudesse me esperar enquanto eu tinha outras coisas para descobrir.
O tempo passou. Muito tempo. O suficiente para que cada tentativa de lembrar dos detalhes do rosto dela se tornasse um esforço mental torturante. Tentei impressionar várias pessoas sem importância e acabei separando quem mais importava: nós. Só me lembro dela chorando, com a mesma classe e discrição que tinha em todos os seus comportamentos. Expressava sua tristeza mais claramente do que mulheres que armam escândalos e se descabelam. Lembro-me de, recentemente, ler um estudo afirmando que homens rejeitam sexualmente a mulher que chora. Nesse caso, parceiro, a ciência está absolutamente errada. Elisa, naquele momento, fascinava por ser mulher na essência, vulnerável, desprotegida, pronta a ser socorrida – e se Deus quisesse, penetrada – pelo seu salvador.
O acaso resolveu cobrar a conta nesse fim de ano. Há algum tempo me tornei diplomata. Após alguns meses de preparação no Brasil fui nomeado para uma embaixada no exterior. No começo do ano seguinte eu estaria partindo, sem previsões de quando seria a próxima volta. Era como se houvesse chegado o momento em que meu mundo velho convergia com o novo, e só um podia restar; cabia a mim escolher qual. Resolvi então voltar à minha cidade para uma última visita.
Voltei à terra natal e achei tudo mudado. As pessoas pareciam haver mudado de nacionalidade e falavam de forma imcompreensível, o clima era diferente e até as ruas pareciam ter mudado de lugar. Depois de percorrer avenidas estranhas que se perdiam no horizonte consegui vê-la de longe, atrás do vidro que ornamentava a fachada da loja. Ela continuava loira, o mesmo sorriso de menina, os mesmos olhos azuis. Foi um dos momentos mais conflituosos pelo qual eu já passei. Como se a nostalgia aumentasse a percepção e eu atentasse para on mínimos detalhes. Eu a conhecia e sabia que a maior mudança nela havia sido por dentro, como se o sorriso agora tivesse mais ironia do que brilho; e se as cicatrizes internas a tivessem deixado mais dura, preparada, mas isso ela não fazia questão de mostrar, pelo menos por fora.
Reencontrei alguns amigos dos velhos tempos que pouco sabiam dela, por mais que eu insistisse em perguntar. O máximo que consegui naquele momento foram alguns ingressos para uma festa naquela noite em uma pequena casa de shows na cidade onde tocariam bandas cover do Metallica e Iron Maiden, as mesmas que eu passava tardes e madrugadas ouvindo com Elisa nos fins da década de 90, Fear of the Dark e Nothig Else Matters, enquanto jogávamos Resident Evil num velho Playstation 1 que até hoje, não sei ao certo por que, não fiz questão de jogar fora. Pelo menos por aquela noite a festa seria uma boa distração.
Dirigir um Audi TT em um sábado a noite por uma cidade do interior é a maneira mais rápida para se sentir alheio a todo o cenário em volta. O sinal que eu havia conseguido o que buscava após tanto tempo fora de lá, aliás: conseguido tão bem que agora eu destoava claramente do ambiente entre olhares que eu não sabia se eram de curiosidade ou de desprezo. Era como eu me sentia naquele momento.
Quando cheguei a festa o ambiente já estava tomado pela fumaça do cigarro e pelos gritos dos mais fracos que já começam a perder a briga com o álcool logo no começo da noite. Era o caso de algumas amigas minhas, que pelo visto não haviam mudado muito desde a adolescência, que mais animadinhas e com a voz já arrastada, o último estágio antes da rouquidão da cachaça, vieram me abraçar calorosamente e puxar conversa. Comprei uma dose de Black Label e Red Bull, o melhor que aquela casa tinha a oferecer, e tentei ser o mais simpático possível, dadas as circunstâncias, enquanto aos poucos o clube ia ficando mais cheio e o espaço menor. Consegui arrancar algumas risadas delas lembrando das histórias do passado; já elas não conseguiram tirar muita animação de mim. Foi nesse momento que entre algumas mesas na beira do palco avistei a garota loira de olhos azuis. Calça jeans, blusa branca e jaqueta de couro até a cintura, e o mesmo sorriso que desapareceu quando nossos olhares se cruzaram por meio segundo. Definitivmente era ela, Elisa; meu amor perdido.
Praticamente deixei falando sozinhas as meninas que conversavam comigo e atravessei a pista sem me importar com eventuais trombadas de ombro e pisões no pé. Quando cheguei ela estava de costas, sem perceber minha aproximação. Toquei sua cintura convidando-a a se virar para mim. Me olhou e a surpresa deixou-a muda. Ela permaneceu séria enquanto me olhava e tive que tomar a iniciativa na conversa.
- Elisa, tudo bem? – as primeiras palavras trocadas após um século, e isso foi o melhor que me ocorreu no momento. Ela continuava me olhando surpresa sem dizer nada.
- Aceita beber alguma, conversar um pouco e... – e então ela me interrompeu.
- Quem sabe uma outra hora. Estou esperando alguém agora. – e então virou-se e continuou e olhar para o palco e para a banda.
Fiquei parado olhando-a de costas. Concordo com o que você leitor está pensando: Foi um fora sensacional o que eu havia acabado de levar! Caramba, ela havia mudado, mudado tanto que agora, caso acabasse o gelo do meu copo eu poderia buscar um pouquinho no coração dela. Resolvi que não a incomodaria mais, e assim decidi passar a noite com as amigas que antes conversavam comigo, e no que dependesse de mim seria da forma mais depravada possível, nem que fosse apenas para ela ver que se ela não se importava mais, eu, menos. Nunca deu certo tentar enganar a mim mesmo, e dessa vez não foi diferente.
Ela com os amigos dela, eu com a minha turma. Assim passaram-se horas e incontáveis vezes em que trombavam nossos olhares. A bebida subia e sumia de copo após copo num esforço monumental para tentar tornar aquela noite divertida. Foi quando a vi pelo que pensei que seria a última vez. Ela era carregada pelo braço por alguém que eu nunca havia visto antes. Mantive meu olhar naquela cena. Ao se aproximarem da saída da boate percebi que ela tentava se desvencilhar do homem que a segurava, e a cada tentativa ele a puxava mais forte. Se em mim o álcool fizera tal efeito, pelo jeito nela mais ainda. E se havia alguma hora para agir era agora.
Me aproximei dos dois e puxei-a envolvendo meu braço esquerdo em seus quadris. Olhei para o sujeito e disse, sem pensar muito:
- Ela está comigo. Algum problema?
Ele, também sem pensar muito e provavelmente muito bêbado tentou dar um soco que atingiu meu ombro. Revidei e acertei o queixo do imbecil, que caiu pelo ladrilho molhado por todo tipo de bebida possível e deslizou mais uns 3 metros. Senti uma garrafada passar zunindo próxima à minha orelha, provavelmente de um dos amigos do nocauteado, revidei sem jeito com uma cotovelada que passou no vazio enquanto os seguranças do lugar começavam a borrifar spray de pimenta em praticamente todos em volta de nós. Eu e Elisa, como era de se esperar, fomos expulsos do lugar. Durante a saída uma menina gorda de shorts agarrado, piercing no umbigo e blusa curta que exibia a barriga recomendou-nos mais compostura: esse foi o momento mais engraçado da noite toda.
Ela me olhou e tentou andar. Eu sabia que ela morava longe do lugar e não teria a menor condição de ir a pé do jeito que estava. Segurei-a e falei que a colocaria no meu carro e a deixaria na porta da casa dela, nem que para isso eu tivesse que carregá-la a força no meu ombro. Ela cedeu, e essa foi a prova subentendida por nós dois de como um homem definitivamente ama uma mulher: quando não se importa com o risco dela vomitar a qualquer momento nos bancos de couro do seu Audi. Após alguns minutos trocamos algumas palavras. Primeiro sobre como tudo havia mudado, depois; explicações que não levariam a lugar nenhum sobre o tempo que passamos separados, o porquê de tudo aquilo e o que eu havia feito neste intervalo todo. Por fim, a carta que eu tinha na manga era lembrar nossas histórias do passado. Momentos juntos. Tardes ouvindo música, jogando video-games e sacaneando tarados no chat da UOL. Era basicamente o que havia para ser feito naquela época, e por sorte, consegui arrancar alguns tímidos risos dela. No fim deixei-a em sua casa. Já quase amanhecia e se podia sentir o cheiro de chocolate na loja de doces da sua mãe, logo ao lado da casa. Já com o carro parado em frente ela espreguiçou-se no banco, esticando o corpo e revelando um pequeno pedaço de pele da barriga quando a blusa levantou: continuava deliciosa como sempre. Quando fomos nos cumprimentar para a despedida consegui, num movimento rápido de rosto roubar um selinho dela. Me olhou e disse:
- Rodrigo, você não muda.
- Se for para melhor, posso tentar – respondi.
Ela abriu a porta, caminhou e entrou na casa. Poderia ser a última vez que nos víamos.
Os dias seguintes passaram lentos e preguiçosos, e a minha volta para a capital, para logo depois ir embora do país se aproximava. Resolvi, num fim de tarde de sexta-feira mandar uma mensagem no celular dela, no número novo que eu havia conseguido com uma amiga em comum. Esperei a resposta ansioso até que ela veio. Naquela noite meus pais iriam em uma festa e eu estaria sozinho em casa. Perguntei se finalmente eu poderia cumprir o drinque prometido para Elisa no dia da boate, e que ela havia enfaticamente recusado. Ela aceitou e foi bem clara: “só uma bebida, não vamos repetir os mesmos erros de antes”. Eu não sabia se ela estava falando do nosso último encontro ou de todo o nosso passado, mas pouco importava, eu a veria de novo.
Antes das 10 horas ela apareceu: usava um vestido leve vermelho-esbranquiçado. Convidei-a a entrar. Preparei algumas caipirinhas para nós dois e entre conversas sobre todos os temas possíveis rimos o quanto conseguimos. Até que chegou a hora que eu tanto evitei: a das explicações, e não havia outro momento senão aquele. Por que eu havia ido embora? Encontrei o que procurava? Eram as perguntas para as quais eu não mais apenas contornava, mas tentava ser o mais sincero possível, sem a magoar, pelo menos não mais ainda.
Em certo momento ela pegou um pacote e me entregou: havia trazido alguns chocolates da loja de sua mãe. “ao leite, com recheio branco, como você sempre gostou” – disse ela. Fiquei feliz em ver que ela não havia esquecido. Após algumas doses de vodka com limão, um pouco de açúcar não seria nada mal. Foi quando desembrulhei um dos pequenos chocolates e levei-o a boca. Ela se antecipou e rapidamente aproximou o rosto de mim, tocando seus lábios nos meus e tomando deles o doce, em seguida voltando e me devolvendo metade, o que terminou em um longo e acalorado beijo. Peguei-a pela cintura aproximando nossos corpos e deslizando meus dedos até suas costas nuas mostradas pelo vestido. Após o açucarado contato entre as bocas desci pelo seu pescoço com os lábios ainda gelados pela bebida segurando-a devagar pelos cabelos na altura da nuca. Estávamos a beira da piscina com poucas luzes acesas, o que reforçava a sombra do luar na água, dando um especial clima noir àquela noite. O sabor da boca de Elisa, o cheiro de seus cabelos e a maciez de sua pele faziam perder-me naquele momento que eu eu tanto desejei, tanto me preparei, mas todo esse ensaio havia sido em vão, pois o tesão do momento me deixava totalmente voraz, intuitivo, mais animal e menos racional; e pelas suas reações a ela também.
Ela aceitou ser conduzida, sempre sorrindo com aquele olhar safado na minha direção, até um sofá-espreguiçadeira na varanda ao lado da piscina. Sem tirar as mãos dela por um segundo dei a volta ao redor de seu corpo e a abracei por trás. Meu pau firmemente ereto ainda dentro da bermuda fazia pressão entre suas coxas e nádegas no tecido fino do vestido, e ela entre um gemido e outro arqueava os quadris para trás e de vez em quando rebolava me deixando louco. Beijando sua nuca desamarrei o fio do vestido atrás de seu pescoço e deixei-o cair devagar, as pontas dos meus dedos percorrendo as laterais de sua barriga e terminando a envolver seus seios rijos como duas grandes pêras, recém revelados pela queda do vestido, do qual ela terminou de se livrar com rápidos movimentos com as pernas, arremessando-o para longe e ficando apenas com a sandália de salto e a pequena calcinha cujo fio contornava sua cintura e se perdia entre as polpas firmes daquela bunda perfeita. Abri minha bermuda colocando meu pênis em contato direto com a sua pele enquanto ela se contorcia, ajeitando-o entre suas nádegas e esfregando-se nele alternando reboladas as vezes mais rápidas, as vezes mais lentas e insinuantes. Virei-a de frente para mim e deitei-a com cuidado na espreguiçadeira, onde beijei desde seus seios, dando uma atenção mais demorada aos mamilos, sua barriga, baixo-ventre, passando a lingua na vagina ainda por cima do tecido da lyngerie e descendo até as coxas, quando levantei suas pernas e beijei a parte de trás dos joelhos colocando meus dedos entre a calcinha e seus clitóris, massageando-o com movimentos circulares com o polegar enquanto meu dedo médio a penetrava com cuidado. Ela se livrou da última peça de roupa enquanto eu já a chupava passando minha língua por toda a extensão, da bunda ao clitóris, sentindo os deliciosos aromas daquele corpo e apreciando a vista maravilhosa dela naquela posição, as vezes sugando o grelinho com um pouco mais de força que a fazia agarrar-se em meus cabelos loiros e bagunçados, com seu corpo todo esticado e os quadris levantados oferecendo-se para mim.
Entre gemidos e ofegadas ela falava “vem”, cada vez mais suplicante enquanto eu ainda a torturava banhando com minha língua aquela gata no cio. Somente quando senti a sua respiração orquestrada com as contrações musculares de seu corpo peguei-a em meu colo e a penetrei em pé, agarrando-a pela cintura enquanto ela apoiava seus braços em meus ombros. De um jeito ritmado, devagar, olhando em seus olhos, meu pênis a invadia como um conquistador que desbrava um lugar com a ferocidade de como se aquilo sempre lhe pertencesse. Forçando quando necessário mas com toda a paciência possível, entrando cada vez mais até estar todo dentro dela: minhas bolas tocando em suas nádegas num movimento cadenciado a cada investida. Sem me desvencilhar dela sentei-me no sofá com ela por cima, de onde ela me cavalgava controlando o ritmo do jeito que mais lhe desse prazer. Era meu presente para ela depois de tanto tempo: e ela merecia cada estocada, cada centímetro. Segurando-a pela cintura ela rebolava e gemia sobre mim, meu pau envolvido por aquela carne macia, úmida: o encaixe perfeito. Passamos horas assim e gozamos juntos, com apenas a lua como testemunha. De lá fomos para o meu quarto: o mesmo em que já havíamos passado tantos bons momentos juntos. O que aconteceu depois, só nos dóis sabemos.
Depois desse dia, sem mais contratempos, sem mais despedidas. Aprendemos juntos que apesar da distância e do tempo, sempre juntos encontraremos o que realmente importa: as coisas que nos unem.
Para a loira mais linda desse mundo: ééé...você mesma. Espero que goste quando ler.