Cap.2
Eu me olhava e me via como um monstro. Cada vez que ouvia os pastores e minha família condenarem os gays, eu me desesperava ainda mais. Aqueles sentimentos que segundo eles eram ruins, não diminuiam. Ao contrário, só aumentavam. Aquilo me deixava confuso e desordenado. Todo domingo eu ia pra igreja, e só servia pra me sentir mais péssimo. E certa vez, estourou uma bomba. Um garoto, filho do pastor, disse que estava namorando um garoto e que era gay. O inferno na vida dele começou. Seus pais o obrigavam a fazer sessões de descarrego, oravam por ele. E fazia questão de tornar o filho uma coisa ruim, uma aberração. Ele aparecia na igreja e todos o olhavam com desprezo e raiva, todos menos eu. Parecia que ele nunca fez nada de bom no mundo. Que ele era um assassino, uma coisa ruim. Num domingo, ele se levantou e foi para o fundos da igreja, aos prantos. Eu disse pra minha mãe que iria ao banheiro, e decidi segui-lo. O lugar geralmente estava vazio, e naquele dia não era diferente. Quando me aproximei, vi ele em pé, escorado numa parede, chorando. Fui me aproximando, ele estava de costas pra mim.
- Oi
- Oi- ele virou e olhou pra mim, com seus olhos extremamente vermelhos, e seu espírito caído. Eu simplesmente me aproximei, e com a maior intimidade do mundo, o abracei. Ele deixou ser abraçado, e apenas me apertou ainda mais.
- Eu te entendo, eu não te condeno. Eu quero ser seu amigo.
- Sério ?
- Sério- ainda estávamos abraçados
- Você é a primeira pessoa desde aquele dia que demonstrou algum carinho por mim. Quem é você ?- ele me soltou e olhamos um para o outro. Ele era lindo. Tinha cabelos pretos, lisos, pele branca como a neve, olhos verdes, me derreti todo ao ver aqueles olhos. O seu rosto parecia ser feito por anjos. Ele era do meu tamanho e era magrinho. Enfim, ele era bem bonito.
- Meu nome é Enzo- falei, agora apertando sua mão.
- Me chamo Gean, com G
- Muito prazer, amigo- seus olhos brilharam ao ouvir aquilo.
Eu tinha que voltar pra dentro, mas seu papo era tão bom, que eu acabei ficando ali mesmo. E o tempo foi passando. Minha mãe quando me viu conversando com o "patinho feio" da igreja, quase teve um ataque. Ela saiu me puxando, mas eu parecia nem ouvir. Apenas olhei pra ele e dei um tchau. Ainda bem que eu tinha dado meu telefone pra ele. Assim poderíamos ter contato. Aquele tempo em que conversamos, havia sido o melhor tempo em anos. Só ouvi broncas nos tempos a seguir.
- Aquele garoto é uma aberração, ele está doente. Já pensou se ele passa a doença pra você ?- eu só conseguia pensar "Minha vida vai ser um inferno"
No dia seguinte, meu irmão me acordou cedo. Ele queria que fossemos jogar vôlei. Na maioria das vezes eu era uma negação. Sempre sacava na rede, e nunca conseguia defender uma bola. Dava 3 minutos em quadra, e eu queria sair. Então passava o resto do tempo na arquibancada. Naquele dia não foi diferente. Foi só eu sacar errado, e desisti do jogo e me sentei na arquibancada. Logo chegou naquele lugar o mesmo garoto que fez meu domingo um pouquinho mais alegre. Gean estava acompanhado de um outro garoto, mais velho. Ele ia pro outro lado da quadra, mas quando me viu, deu meia volta e lançou um sorriso lindo. Ele veio e sentou ao meu lado.
- Oi amigo
- Oi- ele sorriu pra mim novamente
- Onde paramos no domingo?
- Em que tipo de filmes gostamos.
- Ah é- fomos conversando e aquela conversa proporcionou boas risadas em nós dois. Eu estava feliz, pela primeira vez na minha adolescência. Sorridente, até ele pronunciar uma fase.
- Eu acho que você é diferente dos outros.
- Como assim diferente ?
- Gay
Meus piores pensamentos voltaram pra minha cabeça e eu inventei uma desculpa e decidi voltar pra casa sozinho. Peguei um ônibus e voltei. Uma frase não saia do meu cérebro.
" Gays são uma aberração, não é natural, Deus abomina..."
Aquilo me martirizava. Eu cheguei em casa e minha auto estima estava baixa. Fui pro banheiro e me olhei no espelho. Eu podia ouvir risadas maléficas ao meu respeito. Estava decidindo acabar com a minha vida aquele dia. Não via mais motivo pra viver. Sabia que minha vida seria de sofrimento, por causa dessa família. Olhei para as giletes que estavam na pia. Pareciam que elas seriam o fim do sofrimento da minha vida. Peguei-as e levei para o meu quarto. Parecia que eu ouvia uma multidão dizendo "Corta, corta, corta" . Olhei para os meus pulsos, e pensei no Gean. Acho que eu estava me apaixonando por ele, mesmo apenas tendo visto duas vezes. Mas nunca iria conseguir viver um possível namoro entre nós. Queria deixar de viver. Queria deixar de me martirizar. E então encostei as gilettes no meu pulso. Quando de repente a porta se abre.
- Porquê você...- era o Laurence, que abriu a porta me assustando, só vi o sangue escorrer e os gritos dele- Enzo, Enzo, o que você fez, Enzo !!!
Minha visão escureceu. Acordei com uma claridade no meu rosto. De repente escutei vozes.
- Enzo, você acordou ?, doutor, ele está acordando- parecia a voz de Laurence. Depois do doutor fazer um panorama de saude meu, o interrogatório começou- Porquê você fez aquilo Enzo ?
- Porquê... vocês nunca me entenderiam. .. me odiariam
- Eu nunca irei te odiar irmãozinho...
- É porquê, eu, acho que... eu não gosto de mulheres Lau...
- Você é gay ?
Continua
Gostaram ????