Capítulo Vinte
ACIDENTE
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Estava tonto e deitado no colo de meu pai. Olhava para cima e o teto parecia girar.
- filho! – falou meu pai alterado.
Logo atrás vieram Adam, Steve e Denny.
- me ajudem a leva-lo pra cama. – falou meu pai.
- pai – falei tonto enquanto ele me levantava e me levava de volta para o quarto. Eu ouvi passos na escada, mas não vi quem tinha chegado.
Eles me colocaram na cama e eu deitei com tudo. Eu senti algo escorrendo do meu rosto. Tinha sangue saindo do curativo.
Passei o dedo e vi o vermelho.
- Fritz ele está sangrando – falou Adam.
Olhei para a porta e Fritz entrou e se aproximou de mim.
Ele abriu meus olhos com os dedos e colocou uma luz forte nos dois.
- ele está consciente, os reflexos estão bons. Ele só forçou a ferida e por isso vou ter que tirar o curativo e verificar, pois alguns dos pontos podem ter sido abertos.
Me sentei me escorando na cabeceira e Fritz se sentou na cama e ficou de frente pra mim.
- olá rapaz – falou Fritz em alto e bom som – está me ouvindo?
Eu balancei a cabeça positivamente.
- você sabe seu nome? Se sim eu preciso que me diga voz alta.
- Mickey – falei quase sussurrando.
- ótimo, agora preciso que diga o nome das pessoas que você vê nesse quarto.
Eu olhei e fui dizendo os nomes.
- Larry, Adam, Steve, Xavier e Denny.
- muito bem – falou Fritz.
Você consegue levantar os braços e mate-los no ar por 10 segundos?
Levantei os braços deixando ele na horizontal e Fritz contou até dez e eu logo eu desci os braços.
Ele foi até minhas pernas e deu beliscões.
- ai – falei.
- ótimo. – falou Fritz. – ele tem o movimento de todos os membros – falou ele olhando para trás.
- graças a deus – falou meu pai.
- pelo visto não temos uma sequela aparente, mas não estamos livres do risco, as próximas 12 horas são de suprema importância ele precisa caminhar, conversar e o mais importante, não pode dormir.
- você entendeu? – perguntou Fritz pra mim.
- sim.
- vamos fazer de tudo para que não precisemos levar você ao hospital entendeu? Seja um rapaz obediente e não durma.
- okay – falei dando uma risada que fez minha testa doer. Duas gotas de sangue caíram no meu rosto. Era hora de fazer um curativo.
- nós temos que fazer o curativo. Pessoal eu vou precisar que vocês saiam. – falou Fritz.
- alguém pode ficar aqui comigo? – perguntei – eu tenho medo de agulhas.
- pode sim – falou Fritz – mas só uma.
- eu fico filho – falou meu pai.
- não pai – falei – eu me lembro da mamãe.
- eu até ficaria – falou Adam. – mas eu não posso ver sangue se não desmaio.
Quando ele disse isso eu vi que ele estava de costas.
- pelo amor de deus, qualquer um. – falei sentindo uma pontada na ferida.
- eu fico – falou Steve. – dando a volta na cama e se sentando ao meu lado e escorando na cabeceira.
- filho, eu liguei para o Charley e logo ele vai estar aqui. – falou meu pai antes de sair.
Fritz tirou o curativo revelando a feria.
- não – falei tremendo a voz. – não o quero dentro dessa casa pai! – a cada palavra que eu falava eu aumentava o tom da minha voz.
- ele não pode passar estresse nenhum durante esse tempo. – falou Fritz.
- tudo bem – falou meu pai confuso – eu vou ligar para ele e dizer que você está cansado.
Eles saíram e fecharam a porta.
- alguns pontos abriram – falou Fritz.
Ele se levantou e foi até a cômoda e pegou a pasta preta que ele tinha trazido e pegou uma agulha de sutura e a linha para fechar.
- Mike, infelizmente eu não vou poder colocar anestesia em você então vai doer. Vou ser bem sincero, vai doer bastante.
Eu respirei fundo quando ele disse isso.
- ainda bem que você não veio de jaleco – falei – isso me assustaria mais.
Ele se aproximou e sentou-se na cama e limpou a cicatriz e preparou a agulha. Eu estava com tanto medo que me tremia todo, meus dentes começaram a bater como se eu estivesse com muito frio.
- fica calmo – falou Fritz. – eu preciso que você se acalme e não se mecha.
- segura minha mão – falou Steve.
- conversa com ele Steve assim ele se distrai.
Ele me deu a mão e eu segurei.
- pode apertar – falou Steve – mas não se acostumando a segurar minha mão. Já fique sabendo que comigo você não tem chance
- coitado – falei sentindo a agulha entrar. Eu apertei a mão dele e gemi de dor.
- A Vanessa também veio – falou Steve – ela está lá em baixo.
- todos vocês... – dei uma pausa enquanto o ele puxava a linha – todos vocês vieram?
- sim. Você não sabe o que seu pai aprontou. Ele deixou todo mundo doido. Quando você desmaiou ele foi até você e arrancou a camisa e cobriu o corte. Ele correu aqui no seu quarto e ligou para todo mundo da sua lista. Ele ligou pra mim, pro Adam, Gray... Todo mundo. Ele ligava e perguntava se não conhecíamos um médico que atendia em casa, mas nenhum de nós sabia, até que ele ligou para Adam que ligou para o Fritz.
- ainda bem que ele não ligou para a ambulância – falei – seria pior pra mim. Ele sabe o que eu faço quando entro em um hospital.
- prontinho – falou Fritz.
- foi rápido.
Eu soltei a mão do Steve e esperei Fritz colocar outro curativo.
- pronto, agora não levanta daqui até você estar bem. Quando você não estiver mais tonto você chama um de nós para te ajudar a descer as escadas.
- obrigado – falei – obrigado por ter vindo.
- não me agradeça. É meu trabalho. E não precisa ficar com pressa que eu vá embora porque você precisa ficar em observação e como você não vai ao hospital o hospital veio até você. Preciso ficar aqui.
- me promete que não vou precisar ir para o hospital. – falei.
- você precisa fazer duas coisas: não dormir e se sentir alguma dor me dizer imediatamente. Ou do contrário vou precisar te levar ao hospital para fazer uma série de exames.
- tudo bem – respondi.
Fritz olhou no relógio e disse que viria me ver em 10 minutos.
Steve se levantou para sair.
- chama meu pai pra mim, por favor?
- tudo bem. – falou ele saindo.
- deixa a porta aberta.
Ele saiu e a porta ficou aberta.
Algum tempo depois meu pai entrou no quarto.
- o que foi filho?
- pai eu não quero mais que Charley entre nessa casa está ouvindo?
- porque filho?
- eu vou terminar o namoro com ele assim que eu vê-lo. Eu não te dizer o motivo, mas pode considerar nosso relacionamento acabado.
- tudo bem – falou meu pai – mas fique sabendo que ele é um rapaz muito bom.
- pro favor pai, não posso me estressar nem toque no nome dele perto de mim.
- tudo bem – falou ele segurando minha mão. Eu vi que ele estava com um curativo no dedo.
- aonde o senhor se cortou?
- quando eu estava na estante da sala procurando a lista telefônica eu esbarrei no anjo de vidro que sua mãe comprou o dia que nos mudamos pra cá. Eu fui recolher os cacos e acabei me cortando.
- tudo culpa minha – falei.
- não se preocupe com isso.
Fritz bateu na porta e entrou.
- vim checar como nosso garoto está – falou ele checando mais uma vez os meus reflexos. – tudo certo – falou ele, te vejo em 10 minutos.
- pai chama a Vanessa pra mim eu quero vê-la.
- tudo bem – falou meu pai saindo do quarto e logo Vanessa veio.
- oi Mike – falou ela ficando em pé.
- senta na cama, você está em casa.
Ela se sentou.
- como você está?
- estou bem melhor agora.
- obrigado por ter vindo – falei – fico feliz que tantas pessoas se importam comigo.
- eu fiquei muito preocupada, liguei para Adam e perguntei onde você morava e ele me passou o endereço.
Vanessa e eu conversamos por quase 1 hora, eu não tinha marcado, mas Fritz tinha vindo até meu quarto ver como eu estava seis vezes então foi mais ou menos isso.
- já vou descer você precisa descansar.
- chama o Xavier pra mim.
- eu chamo – falou ela saindo do quarto e descendo as escadas.
Em poucos minutos Xavier apareceu.
- oi Mike – falou ele entrando e ficando em pé.
- não se acanhe pode sentar na cama.
Ele então se sentou.
- que susto você nos passou.
- quase morro e levo todos comigo? – falei dando uma risada.
- mais ou menos isso.
- eu estou é envergonhado, o único dia… - nesse instante eu não consegui dizer mais nada. Eu tentava formar as palavras, mas elas saiam diferente. Xavier percebeu que eu não dizia nada com nada.
- o que você disse? – perguntou Xavier.
Eu respirei fundo e mais uma vez tentei falar, mas as palavras não saiam. Se eu pensava em dizer “tudo bem” minha boca dizia “casa vermelha”.
Me assustei com o que tinha dito. Era como se eu não controlasse o que queria dizer. Eu pensava nas palavras, mas não era elas que saiam.
- FRITZ! – gritou Xavier na porta.
Eu comecei a ficar com medo.
Ele veio correndo e meu pai veio atrás junto com todo mundo.
- o que aconteceu? – perguntou Fritz sentando na cama e já olhando meus reflexos.
- nós estávamos conversando e então ele começou a falar coisas sem sentido.
- quantas vezes? – perguntou Fritz.
- duas vezes. Ele começou a falar normalmente e então de repente ele dizia várias palavras sem sentido.
- Mike, você está entendendo o que eu digo? – perguntou Fritz.
Não me atrevi a dizer uma palavra com medo do que fosse sair e apenas balancei a cabeça positivamente.
- você precisa falar algo. – falou Fritz.
- eu apenas balancei a cabeça negativamente – e se eu perdesse a fala?
- eu sei que você está com medo – falou Fritz – mas isso pode acontecer não significa que você não vai conseguir conversar normalmente. Existe uma parte do cérebro que é responsável pela dicção das palavras, é mais provável que tenha sido só um choque. É normal isso acontecer em casos de pancadas no crânio.
- você sempre diz uma frase quando está se sentindo com medo de fazer algo, qual é ela? – perguntou meu pai.
- sempre faça aquilo que te dá mais medo – falei.
- diga outra vez – falou Fritz.
- sempre faça aquilo que te dá mais medo. – falei outra vez sem erros e dei um sorrido. – ainda bem.
- eu não te disse? A pancada foi forte é normal isso acontecer, eu trabalho com muitas crianças eu já vi casos de perda da visão temporariamente, perda do movimento de um dos braços e até pessoas que não conseguem segurar a urina e fazem na roupa.
- ainda bem que não fiquei com esse.
- diga mais algumas coisas só para eu ter certeza.
- tudo bem – falei.
- me fale algo sobre você? – falou Fritz
- não sei o que dizer. Além do fato de eu ser o garoto mais azarado do mundo.
- cante alguma coisa pra mim. – falou ele – uma música que tenha aprendido a letra recentemente.
Cantei um trecho de “Moon River” de Louis Armstrong.
- ainda bem que você não é cantor – falou Steve em tom de brincadeira. Todos deram boas risadas.
Todos riram e Fritz rindo disse que não precisaria mais cantar.
- vou precisar que façam algo por mim, preciso que fiquem conversando com ele o tempo todo e que observem o comportamento dele. Se ele começar a dizer algo e parar de repente ou então esquecer o que estava falando.
- tudo bem – responderam todos.
- eu fico aqui com ele – falou Denny.
Todos saíram e Denny se sentou na cama.
- você está melhor?
- estou sim. Desculpa ter que ficar acordado em uma noite de domingo.
- sem problemas. – falou Denny.
- Denny eu preciso contar uma coisa séria pra você.
- o que é?
- fecha a porta do quarto, por favor, e tranque.
- o que foi?
- liga meu computador e abre um programa chamado Camera TSG. Eu coloquei umas câmeras escondidas na casa.
- você está me assustando – falou ele indo até o computador e ligando ele.
- quando abrir o programa clique na barra azul e vão aparecer quatro telas. As imagens estão salvas é só clicar em play.
O computador ligou e ele abriu o programa e fez o que eu orientei e logo o filme começou a passar.
- você escondeu câmeras na casa toda? – perguntou ele vendo as filmagens.
- só na cozinha, na sala e no quarto do meu pai.
- que dia é esse? – perguntou Denny assistindo ao Charley chegando e meu pai o recebendo.
- sexta-feira passada. Eu estava trabalhando.
Avança até a hora em que eles bebem.
Denny avançou e ficou assistindo atento. Então chegou a cena que Charley via a cozinha pegar a cerveja.
O filme passava e eu via a cara de Denny.
- Mike... isso é uma piada? – perguntou Denny quando Charley tirou a roupa do meu pai.
- não – falei limpando lágrimas que caiam dos meu olhos – infelizmente essas filmagens são reais.
Ele continuou assistindo até que não conseguiu mais e desligou.
- não consigo assistir mais isso – falou Denny – Mike, seu pai sabe disso?
- não – falei engolindo e limpando os olhos para que não ficassem vermelhos.
- o que você vai fazer? Você tem que levar isso a policia.
- não posso – falei – não posso fazer isso.
- eu estou chocado Mike. Estou horrorizado com isso. Você não pode deixar isso passar. Ele poderia ter matado seu pai com aqueles remédios e com a bebida.
- eu sei – falei – você não acha que tudo isso passou por minha cabeça? O pior é que eu pensei que Charley estava tendo um caso com meu pai.
- então foi isso que aconteceu aquele dia que me ligou chorando?
- foi.
- Mike ele precisa pagar pelo que fez.
- eu estou pensando em algo e quero sua opinião – falei.
Ele então deu a volta na cama e se sentou meu lado. E eu comecei a explicar o que faria.