O dia passou lentamente. O medo da Julia não me atender me impede. Já de noite quando, em um surto de coragem, aviso minha mãe que verei uma amiga e atravesso a rua em direção a sua casa.
Com a mão elevada respiro fundo e bato. Uma. Duas. Três vezes. Estou ponderando ir embora quando uma bela mulher abre a porta. De cabelos médios e castanho-escuros, pele branca, pouco menor que eu, magra. O formato do rosto tão familiar ao de Julia e os mesmos olhos verdes mas com um brilho suave.
-Pois não?
-O-oi. -gaguejo- Eu sou a Anna, amiga da Julia. Ela esta?
- Você é amiga dela? -a voz carregada de surpresa- Eu sou a Flavia, mãe dela. Entra por favor!
Pega-me pelo braço e me guia para dentro, fechando a porta logo que passo. Sigo-a até o sofá onde Flavia da tapinhas no lugar ao seu lado convidando-me a sentar.
-Sabe, a Julia esta mal. Fui ver ela enquanto dormia. - desatina a falar assim q sento - Mas ela nao me deixaria cuidar dela. - diz com tristeza.
-Eu cuido dela para você. - digo sem pensar.
Flavia olha pensativamente em minha direção. Tenho a impressão de ver engrenagens funcionando em sua cabeça: Você faria isso? A Julia talvez deixe que cuide dela.. Temos um quarto de hospedes, você poderia ficar aqui se quiser.
- Pode deixar que fico com ela.
Seus olhos brilham de alívio e me fitam com ternura. Imagino o que possa ter acontecido para que Julia nao deixe ninguém, principalmente ela, se aproximar.
-Espere aqui, vou arrumar o quarto de hospedes. - diz ela se levantando e sumindo em um corredor.
Enquanto espero que Flavia retorne, ligo para minha mãe e explico toda situação. Muito compreensiva deseja-me boa noite e desliga o telefone.
Olho ao redor e encontro em uma pequena estante de cds, 5 porta-retratos. Em um deles um homem alto, branco, de cabelos curtos e negros, forte e dono de um lindo sorriso carrega sob os ombros uma pequena Julia sorridente. Em seu olhar se vê felicidade. No segundo outra foto da pequena Julia, mas essa está dormindo no colo da mãe que esta sentada no sofá olhando com ternura a filha em seus braços. Mesmo dormindo Julia sorri. No terceiro retrato uma Julia de 10 anos, com o rosto pintado igual Índio faz caretas para câmera, seus olhos fechados, o indicador puxando um canto da boca e a língua de fora. No quarto uma foto de Flavia em uma beca de faculdade, com a postura ereta e os lábios num leve sorriso. No ultimo vejo o mesmo homem, a pequena Julia e Flavia ao redor de um bolo com uma vela em formato do numero 7, todos batem palmas e sorriem.
-Ela tem um sorriso lindo nao é? - distraída nao sinto sua aproximação.
-Sim, é lindo.
-Subindo as escadas, primeira porta à esquerda. Lá é o quarto dela. Vou estar aqui na sala se precisar de mim.