Capitulo 34
Nunca pensei que eu agrediria alguém por puro ciúmes, mas eu fiz. De modo que eu estava sentado no chão acolchoado da academia observando Heitor passear de um lado para o outro para ajudar alguns alunos. Admirava fascinado o movimento perfeitos de seus músculos perfeitos e ficava cada vez mais encantado com a maneira que ele agia com as pessoas e comigo. Mas eu estava começando a ficar irritado com o assedio que ele estava recebendo tanto da parte feminina quanto da masculina. Era quase inacreditável que quando uma pessoa estava namorando as outras já ficavam em cima, rodeando, tirando proveito. As mulheres só faltavam tirar a roupa, ali mesmo no meio da academia, para impressionar meu namorado. Os homens já eram um pouco mais envergonhados, era uma passada de mão discreta, uma secada básica no físico avantajado de Heitor ou então usavam aquela famosas brincadeira de bater um na bunda do outro.
Dei um alerta para Heitor de que eu não estava gostando nada daquela atenção toda que ele estava recebendo. E no dia seguinte quando uma garota perguntou para ele por que ele vivia fugindo dela e perguntou de Heitor tinha alguém por isso não investia nela. Heitor assentiu com a cabeça e apontou para mim, ouvi quando ele disse baixinho para ela "aquela é a única pessoa que eu amo". Foi impagável a cara de choque, depois traição e por ultimo aceitação por parte da garota. Nunca fui de esconder sobre a minha sexualidade, mas também não saia gritando aos quatros ventos que eu gostava de garotos ou agia de maneira feminina. Se alguém me perguntasse eu responderia de boa.
A partir desse dia eu passei a amar um pouco mais Heitor, nesse dia ele me mostrou que ele não se importava com que os outros pensassem, a única preocupação dele era em me fazer feliz. Uma coisa que estava me chamou a atenção depois de Heitor declarar publicamente que namorava comigo foi o aumento de gays na academia. E minhas duvidas foram respondidas pelo próprio Heitor, estávamos na cama conversando e eu, como quem não quer nada, perguntei para ele se ele tinha notado o aumento do publico da academia e ele me respondeu que sim.
Meu dia na faculdade foi um borrão, me concentrei bem pouco no que os professores falavam e quase a aula toda ficava pensando como Heitor estava sozinho naquela academia, será que ele estava mesmo só? Fritei minha mente com essas perguntas idiotas até chegar na academia e encontrar Heitor deitado no chão suado, respirando com dificuldade e só de cueca. Na mesma hora eu pensei o pior, começei logo a gritar e disser que ele estava me traindo. Joguei minha mochila velha no chão e sai a procura do suposto amante de Heitor, esse ultimo que me olhava do chão com um sorriso enorme na boca e com os olhos brilhando de amor, divertimento e adoração.
Perguntei, ainda gritando, onde estava o outro. E ele me olhou confuso, olhou para o estado com se encontrava, depois olhou para mim que estava tremendo de raiva e começou a rir. Fiquei ainda mais puto e me empenhei na minha caça ao amante, não obtendo nenhum resultado perguntei novamente para Heitor, que me respondeu que não tinha ninguém ali, éramos apenas eu e ele, e o motivo de ele está daquele jeito era que ele tinha acabado de fazer um seção de musculação pesada. Na mesma hora fiquei com vergonha, podia sentir as minhas bochechas em chamas. Começei a pedir desculpas aos montes e Heitor fez a ultima coisa que eu pensava que ele faria. Me beijou.
Quando enfim eu agredi a pessoa, melhor dizendo, aquele ser asqueroso Heitor estava ajudando o Sr. Mendes, um homem de mais ou menos cinquenta anos em perfeito estado físico, com uma serie na esteira. Foi quando ele entrou, de cara já não gostei dele, usava um short preto pequeno e uma camiseta branca simples. Virei a minha atenção para Heitor e com um puta susto vi que ele olhava diretamente para as coxas torneadas do garoto e depois para a bunda redonda dele. Estava conversando com os meus irmãos, perguntando como eles estavam se virando sem mim, já que definitivamente Heitor me convidou para morar junto com ele.
O garoto foi na direção do meu namorado e abriu logo a boca em um sorriso cheio de dentes para Heitor, esse ultimo que para a minha surpresa devolveu o sorriso. Não conseguia ouvir o que o garoto tanto falava com ele, meus irmãos tentavam puxar assunto comigo, mas eu apenas acenava com a mão e eles rapidamente paravam de falar. O garoto pegou em um dos braços de Heitor e saiu puxando ele até a área das bicicletas ergométricas. Mas ele fez uma coisa que me deixou muito mais do que simplesmente furioso. Ele se virou, com a sua mão livre puxou a cabeça de Heitor para baixo e tascou um puta beijo molhado em meu namorado.
Pedro e Caio ainda tentaram me segurar, quer disser, a maior parte da academia tentou me parar. Eu pulei, chutei, desviei de todos até chegar no local onde aquela triste cena estava se desenrolando. Fui para detrás do garoto novo e com um simples movimento emaranhei minha mão em seu cabelo e puxei-o, sem dó, para trás. Quando a boca dele se desgrudou da de Heitor fez um sonoro "ploc" que ecoou pela academia, agora em silêncio total.
Virei ele de frente para mim e do mesmo jeito que ele fez com Heitor eu repeti com ele. Trouxe a sua cabeça mais para baixo e levei o meu joelho até seu rosto. Escutei quando o meu joelho esmagou a cartilagem do nariz dele, depois que eu tinha socado Chin com a mão e ter ficado inchada eu resolvi usar outros meios para bater e com o joelho eu achei. Antes que eu pudesse dar mais um chute nele, braços fortes cingiram a minha cintura e a voz grossa e calma de Heitor atravessava o nevoeiro de raiva que tinha se instalado em minha mente, a única coisa que me fez ficar parado por um segundo foi o que o garoto disse.
- De falaram que você não era agressivo - Seu nariz sangrava bastante, varias pessoas estavam ao seu redor pedindo que ele colocasse a cabeça para trás afim de parar o sangramento.
- Te informaram erado.
Foi a ultima coisa que eu disse antes de Heitor me arrastar até o loft, me jogou sobre a cama, voltou, fechou a porta e guardou a chave dentro da cueca, começei a gritar com ele, perguntar o por que e o como eu deixou que aquilo acontecesse. Acho que ele foi esperto o bastante para ficar calado, não sei o que foi que deu em mim, mas eu reparei que ele ainda estampava um sorriso ridículo na cara eu começei a gritar ainda mais e em um surto gritei que ele queria beijar aquele garoto.
- O que?! - incredulidade marcava a sua voz, sua testa estava franzida em confusão e seu corpo de repente ficou tenso - O que você falou, Christy-Ann?
- Falei o que você ouviu - Não sei de onde foi que eu tirei tanta confiança para responder o que respondi, mas não me arrependi nem por um segundo do que eu falei depois - Eu vi você olhando para a bunda dele, Heitor.
- Você ficou louco? - O tom da voz dele ficou um pouco mais elevado acentuando um pouco mais o seu sotaque - Eu não olhei para a bunda de ninguém.
- Não se faça de santo, Heitor - Coloquei as mãos na cintura e destilei o máximo de sarcasmo nessas palavras -Eu vi, ninguém me contou.
- Odeio ter que dizer isso mais você esta sendo um perfeito idiota ciumento.
E depois que ele falou isso que eu cai na real. Ciúmes? Eu estava com ciúmes? Um sorriso pequeno se formou no canto de minha boca, depois se alastrou e por fim um sorriso gigante cortava a minha face de um lado para o outra. Nunca pensei que um sentimento que era considerado ruim pudesse me trazer alegria, percebi nesse dia que a minha relação com Li foi tão falsamente construída, fundada em bases de mentiras e sustentadas por pilares de manipulação. Tentei buscar na minha mente algum momento que eu demostrasse um pingo de ciúmes por Li e com mais uma surpresa percebi que por quase esses dois anos eu não senti ciúmes dele, estava tão obcecado em ser feliz as custas dos outros que os outros sentimentos ficavam praticamente apagados.
Caminhei lentamente na direção do meu namorado um tanto quanto indignado e com um sorriso bobo no rosto eu disse um te amo sussurrado. Como nós estávamos perto da cama eu apenas empurrei ele para trás e ele caiu de costa na cama. Passei as mãos pelo seu peito musculoso e fui subindo, me sentei sobre ele, com as pernas paralelas ao seu corpo e segundos depois suas mãos fortes estavam nas minhas coxas. Me inclinei e raspei suavemente os meus lábios nos seus, Heitor me fazia feliz de todas as maneiras, me fazia repensar em tudo que eu tinha como pensamento pré estabelecido.
Não transamos, não gritamos mais, ficamos apenas deitados conversando sobre qualquer coisa e de vez em quando um beijinho rápido rolava ou uma mão boba ia até a minha bunda apenas para ser expulsa com um tapa. Quando chegamos na academia, eu na costa de Heitor rindo que nem um bobo, a maioria das pessoas estavam de volta aos seus afazeres, mas em um canto da academia ainda acomodava uma grande quantidade de pessoas rodeando o garoto que beijou Heitor e que eu agredi.
Ele nem olhou naquela direção, continuou a conversar comigo. Passei quase o dia todo seguindo Heitor de um lado para o outro na academia, eu estava parecendo um cão de guarda. Quando alguém dava apenas um olhar torto na direção dele eu já resmungava um irritado "perdeu algo?" e a pessoa que se atrevia a olhar logo desviava a direção para outra parte da academia.
Tinha que proteger aquilo que era meu.
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As semanas foram se passando rapidamente e quando me dei conta já estava namorando com Heitor a dois meses e meio, sempre ficava surpreso com isso. Heitor nunca nos deixava cair na mesmice de um casal. Quando ele não ia comigo andar de bicicleta no parte, treinar na academia comigo ou apenas ficar comigo em casa ele fazia varias outras coisas para me manter feliz.
Meus irmãos adotaram a casa de Heitor como uma segunda casa e adotaram Heitor como um pai, por assim disser. Era quase palpável a admiração que eles sentiam por Heitor. Nosso relacionamento irmão-irmão estava cada dia melhor, já não me sentia tão obrigado a cumprir a promessa que eu fiz para os meus pais no dia do enterro deles. Se eu ainda me preocupava com eles? É claro que sim, eles ainda eram os meus irmãos e por isso eu amava eles.
Mas eles fizeram uma coisa que eu não sabia se batia neles com tudo que estivesse na casa ou beijava cada um deles uma mil vezes. Estávamos nós cinco deitados no chão acolchoado da academia assistindo um filme qualquer que eus irmãos tinham alugado na televisão que ficava em um dos pilares de sustentação da academia. Estava com a cabeça apoiada no peito de Heitor, seus braços rodeavam a minha cintura e com uma de minhas mãos pegava pipoca de um deposito de plástico que ficava do lado de Heitor e com a minha outra mão eu acariciava os cabelos de Heitor. Gostava da tonalidade que era o cabelo dele, ferrugem, ele disse que achava estranho já que ele era praticamente uma montanha de músculos e disse que a cabeça raspada combinava mais com ele. Mas eu não achava, gostava de seu cabelo longo.
Quando o filme chegou na parte que o mocinho beijava uma mulher super atraente batidas na porta de metal. Olhei para todos, Larissa virou o rosto, Caio olhava fixamente para a televisão, Pedro se concentrou no deposito de pipoca e Heitor fingia está dormindo. resmunguei que eles eram um bando de preguiçosos e fui abri a porta.
Quase caio para trás quando braços magros, mas bem torneados, claramente femininos me rodearam. Fiquei muito surpreso para retribuir o abraço, só depois que a pessoa que me abraçava me largou foi que eu fiquei realmente surpreso.
- Até que enfim encontramos você, Tiam.
Reconheci a voz e a ultima vez que eu ouvi ela foi em um aeroporto.
E antes disso foi uma das vozes que fizeram parte da minha infância e um pedaço da minha adolescência.
Meus antigos amigos estavam todos ali.