Pois bem, algum tempo se seguiu desde os últimos relatos. A história já tem ficado enfadonha, a ponto de parecer fúnebre. Já que essa é a sua opinião - e não é que eu me preocupe com qualquer coisa que saia de sua cabecinha, caro leitor, mas isso não é um conto de fadas. Cansei de relatar somente bons momentos. O rumo que as coisas tomaram me amargou para todo o sempre. E no final daquele ano, aquele mesmo ano cheio de chupadas, bulinações, abraços, arrepios eu iria embora. Sim. Pra Rússia com titio. Os motivos foram atenuados por alguns fatos que vc pode supor, ou não... o fato é que adiantei "os fatos", de fato.
Mas não se preocupe. Já voltaremos para os últimos acontecimentos.
Школа.
Pois bem. Escola nova, amigos novos, professores excêntricos, banheiros apertados, Ruivo. Ruivo. Terceirão, sim ele terminaria o colégio, e eu no segundo ano ainda.
A buzina aguda, que me deixava um tanto ansioso, como um alerta de que iria vê-lo, me fez levantar correndo da mesa enquanto tentava engolir uma torrada seca como os alísios do Sahara, impedir que meu irmão arrancasse o próprio olho e beijar mami poderosa com uma velocidade tremenda que levou junto com a minha mochila a cadeira na qual a pendurei.
- Filho, que vontade de aprender é essa? Vc nunca quis ir pra escola com tanta vontade!
- Mãe, eu to de carona e não posso abusar do Caio.
- Sei, sei, o Caio dirige com cuidado?
- Sim mãe.. E o colégio está a 2 kilometros daqui.
- Olha só, eu quero conhecer essa menina que tá te deixando assim, bobo. - Pobre mamãe, não sabia que a "menina" tinha 1,96 agora, era ruivo e estava com uns braços que, PelaMorDiDeus.. sim, um semestre já havia passado. Nada de sexo mesmo.
-Que boiola esse Vini- vcs devem estar pensando, mas no sentido covarde da expressão..
Seis meses juntos, eu já estava mais conformado, eu curtia mesmo era um belo rapaz, sem essa de me descobrir. Eu nem sequer reparava mais tanto nas garotas, às vezes batia uma nostalgia mas nada que me fizesse pegar uma mina, desprezava todas que viviam no meu pé. Mulher adora se apaixonar por gay, não sei porque. É incrível. Pois então, tinha a tal de Jacque. Gostosa. É, gostosa! Eu ainda sei o que é uma moça bonita! Ok, ela estava me cercando demais no colégio, e meus amigos do futebol já questionando o meu acanhamento e tudo mais. Apesar de não ficar com garotas, eu me me considero muito másculo. Desculpa, não é querendo me achar, mas realmente é quase impossível perceber a minha tara por um belo rapaz. Sim. O que me atrai em qualquer cara é o se comportamento, a expressão séria de segurança, o desprezo pelos outros de seu gênero. Tudo isso tinha no Caio. E os meses de natação, fut e academia deixaram-no irresistível. Seus traços estavam um pouco mais másculos. Seu queixo um pouco mais largo e cheio de pelos, vermelho escarlate. De orelha esquerda marcada por um simples alargador, ele agora roubava de mim mais que suspiros. Eu infelizmente não cresci, mas agora tenho costeletas loiras! Sim, uma barba rala cabelo no olho ondulado nas pontas, estilo surfista basicamente. Meus braços se fazem mais rígidos e minhas pernas mais torneadas, tudo graças a academia, eu e o Caio treinamos 4 vezes por semana. Nada de suplementos! Tudo que vem fácil vai fácil né. Pois então, o colégio.
Resumindo, entrei pro time de fut do médio, tenho notas boas, amigos na minha turma e na turma do Caio, e nós nos encontramos na sala de música para o rala e rola. Esse foi o meu primeiro semestre. Recebo flores e chocolates todos os meses de Caio e sempre vemos o por do sol juntos cantando Gloomy Sunday. Só Q Não. Esconder o que eu sentia pelo Caio dos outros ao nosso redor estava ficando mais dificil. Sim. Meus olhares fixos no seu corpo e no seu rosto enquanto ele inocentemente agachava-se para amarrar o cadarço.
- O que vc olha tanto no Caio? - Indagou Mat, um dos meus amigos de classe que sentava na minha frente durante as aulas.
- Ué. Nada. Por quê?
- Já não é a primeira vez que eu te pego olhando pro Caio.
- Para de viajar Mat, eu não sou viado. E e o Caio somos amigos, e vizinhos. Além do mais vc sabe pelo que o cara passou.
Matheus era quase da altura do Caio, tinha cabelo preto e olhos verdes. Era o tipo de garoto conveniente, ou seja, agradável, mas quando ele queria algo, ele conseguia. Ele sempre foi um inato sedutor, quieto e felino ele atacava quando menos esperávamos. O tipo observador de predador. Nós já estávamos intimos, fazíamos trabalhos escolares um na casa do outro, saíamos e tudo mais, eu geralmente dividia meu tempo entre colégio, Caio, Fut, Academia e Mat, ou Mat Matador por conta da cara de safado que ele tinha.
- Eu sei tudo. - questionou diretamente.
- Sabe tudo o quê? - àquela altura eu já estava mais vermelho que pimentão.
- Eu sei o que acontece entre vc e o Caio.
- Então me fala, porque que eu saiba somos melhores amigos.
- Eu sabia, eu pensei que eu fosse seu melhor amigo.
Aquilo soou bobo, mas na hora eu pude perceber que aquilo era ciúmes, da melhor qualidade, quando se deseja o outro mas não se pode ter.
Não caros amigos, não estou achando que todos estão apaixonados por mim, isso aqui não é True Blood, eu não sou nenhuma Sookie vadia que troca de macho que nem troca de roupa. Onde eu estava mesmo?
Ah.
- Para de ser viado Matheus, cara a gente já tá crescido pra isso. - afirmei com cara de poucos amigos.
Mat abaixou a cabeça. Pude ver um sorriso maquiavélico surgindo em seu rosto.
- Desculpa Vini, eu meio que to passando por umas coisas em casa e to descontando em vc.
Os pais de Mat nunca foram muito presentes, ele foi praticamente criado pela babá e agora que os pais estão se separando, estão usando-o para atacar um ao outro. Ele já havia me dito que talvez fosse morar com o pai em outra cidade. Fazia sentido. Talvez fosse coisa da minha cabeça achar que,,, pois bem.
- O que vc acha de sairmos hoje, to precisando esquecer um pouco de tudo.
Aliás, os país do Matheus tinham uma casa noturna, música eletrônica, uma das melhores da cidade, se não a melhor. Como já havíamos ido uma vez, resolvi repetir dose. O Mat sempre foi mimado por conta da ausência dos pais, e teve que aprender a se virar sozinho, e ele realmente tinha alguns problemas com bebida. Quando bebia ele ficava muito emotivo. Imaginem uma coisa de 1.92 chorando no seu ombro, ou então falando que te ama só porque vc cuida dele quando ele bebe. Eu era o único que aguentava ficar perto dele quando ele bebia. Eu sentia uma empatia por ele. Pois bem, me amarro em pobres coitados, um dos requisitos pra que eu realmente me interesse por alguém. Nâo sei porque, mas eu me sinto bem ajudando, simplesmente ficando perto. Eu sou um psicoterapeuta inato. Haha. Pois bem, a festa.
O Mat me deu 3 convites, resolvi pedir três, talvez o Caio quisesse ir. Mas não ele realmente estava centrado no vestibular. E nem estávamos nos vendo com tanta frequência, o que me deixava nervoso às vezes. Poxa, às vezes um abraço, um beijo ou então um olhar e até um cheiro daquela pessoa que a gente ama faz muita falta. O cheiro do caio. Meu Deus, um cheiro quase doce. Seu cheiro em si, sem perfumes nem fragrancias, seu suor, me excitavam. O cheiro do Caio inebriava minha mente me trazia uma vontade louca de rolar no chão. Enfim, Caio não sairia conosco.
- Vini, quero te apresentar o Max, melhor DJ do mundo, meu amigão. . - Mat já havia encontrado sua velha amiga, a garrafa.
- Vc tá exagerando Matheus, eu sou o melhor DJ dessa noite, pk sou o unico que vai tocar. - Nesse momento Max tirou sua mão do ombro de Mat enquanto sem deixar de olhar para mim com um sorriso entreaberto, estendia uma mão firme para que eu a apertasse.
- Prazer, meu nome é Vinicius, Vini.
- Oi Vinícius, tudo bem?
- Chega, Vini vamo comigo dançar porque se não o Max não vai trabalhar..
- Até mais Vini, espero que nos encontremos mais vezes..
Lembrei, sim, há alguns meses o Caio me levou numa balada GLS, e tinha um cara, realmente lindo que não parava de me encarar, deixou o Caio nervoso na verdade porque pediu pra um amigo dele me convidar pro camarote deles.
Ele era lindo demais. Mais ou menos da minha altura, cabelos loiros, mais claros que os meus e dois olhos azuis enormes, um boné de lado, barbinha por fazer e uma bundinha linda sob o jeans apertado. Eu realmente fiquei tentado e confesso que compreendi a irritação do Caio. Acabamos partindo mais cedo por conta da "irritação" do Caio, verdadeiro ciúme camuflado. Aquela foi uma das poucas vezes em que eu desejei outro homem além do Caio, tive um ereção duradoura reencontrando-o agora junto do meu amigo Mat. Por falar nele, já estava quase dormindo e como de costume eu o levaria pra casa de táxi. Ele deixava o dinheiro da corrida comigo pois sabia que no fim estaria chapado demais até mesmo para entrar num táxi.
Eu me sentia péssimo vendo o Matheus se destruindo, àquela altura eu culparia a ausência de seus pais, os mimos, ou o divórcio. Culpar algo ou alguém só aumentaria a minha raiva e a raiva dele, afinal, eu era seu amigo, pelo visto um dos poucos amigos com quem ele podia contar. Eu precisaria persuadi-lo para que ele parasse com esses exageros que estavam ficando constantes, eu realmente temia que ele se tornasse um alcolatra. Pô, ver um amigo e nada fazer pra ajudá-lo quando ele está se destruindo. Não me importava quais eram os problemas, ele tinha que saber que era maior que as dificuldades e embriagar-se não ajudaria a resolver nada, pelo contrário.
Enquanto Mat dizia coisas desconexas tentando deitar no meu ombro, Max sentou-se ao meu lado. A música alta impediu que eu compreendesse suas primeiras palavras. A festa era dividida em três partes, jogos, restaurante e balada. A parte do restaurante era praticamente dentro da balada, se cruzássemos um largo corredor espelhado nas paredes veríamos as luzes e a fumaça. No espaço balada há vários sofás e poltronas, nos quais nos esparramávamos quando cansados. E ali estava eu. Tentando fugir do sorriso do Max enquanto o peso da cabeça pendia Sobre meu ombro direito.
- Já encontrou alguém especial hoje? - perguntou Max com um sorriso irresistível, desses em que só parte dos dentes aparecem, e uma covinha surge. Seu queixo era estreito e redondo, quase tocava seu lábio inferior. Sim, me fez lembrar o Davi de Michelángelo, sim ele era quase uma escultura seiscentista que ali viva e falante me levava aos devaneios. Esqueci até mesmo que Mat babava meu ombro.
- Cara, não encontrei ninguém especial. -menti e tive medo de que meu rosto revelasse que de fato eu havia reencontrado e não encontrado algum especial.
- Todos os dias perdemos a oportunidade de encontrar alguém.
Ele disse isso colado ao meu ouvido, seus lábios tocavam minha orelha enquanto ele silibava em contraste com a música alta, palavras dignas de um sedutor de meia tigela, mas o que me espantava era a sua atitude.
E Sim, Mat havia vomitado e isso realmente me irritou.