Capítulo 49
Saímos juntos e eu o deixei na porta do escritório.
- Toda a sorte prá você Dani. Vai dar tudo certo.
- Ah, vai sim. Brigado velho.
- Me liga prá contar, ok ?
- Claro! Porque a gente não almoça junto? Aí te conto tudo com detalhes.
- Beleza. Me liga, e venho te pegar.
- Relaxa poxa. Sei chegar até você, ou onde for...
Todo independente...
- Te espero então.
Fui trabalhar e fiz uma pequena oração prá que ele conseguisse. Torcia muito por ele e para que ele tivesse o reconhecimento de seu esforço e capacidade.
E seria ótimo vê-lo alcançando seus objetivos e estar junto com ele nisso.
Constantemente ele me colocava como co-responsável pelo seu crescimento profissional, e eu não me eximia disso. Acho sim que tinha contribuído de certa forma, assim como ele tinha me feito um cara mais feliz também.
Minha vida pessoal tinha saído da mesmice, do conforto. Eu tinha me descoberto capaz de coisas que não pensava ser capaz. Estava mais desencanado, mais relaxado. Mais confiante em mim mesmo. Mais tranquilo.
Mesmo as turbulências pelas quais tínhamos passado tinham sido importantes para que eu me desse conta dessa transformação. E isso claro, resultava também na minha vida profissional que ia bem, tranquila, promissora.
Era o amor. Era a parceria. Era o companheirismo.
Era algo com o que eu sempre tinha sonhado...
E estava vivendo agora.
Por volta da Uma da tarde meu celular tocou.
Sua voz era tensa. Preocupada.
- Bruno, tá de pé?
- Claro velho... e aí?
- Cara... Te conto pessoalmente. Preciso muito falar com você. Agora.
Desliguei e fui ao seu encontro.
Preocupado.
Ele estava sentado na minha frente. Seu rosto era um misto de alegria e tristeza. De empolgação e frustração.
- Porra Dani, fica feliz velho!
- Cara eu tô feliz... Mas eles bem que podiam ter dito isso antes.
- Dani...Você consegui cara! Tem noção! Você queria tanto.
- Queria sim. Mas não pensava nem um pouquinho em ficar longe de ti.
- Cara... Quatro meses, passa rápido
- Ah velho, sei lá...
A promoção conseguida requeria um péríodo de treinamento na nova função em Brasília. Quatro meses em uma cidade não tão próxima assim.
No fundo, eu estava triste também, mas não queria passar isso prá ele de forma alguma. Logo agora que estávamos tão bem, ficar meses longe ia ser foda... Já confiava nele, ele confiava em mim, não era isso. Era a distância e o medo que sempre bate...
- E aí, você vai né?
- Eu disse que dou a resposta amanhã.
- Mas , Dani?
- Bruno. Escuta... Eu queria muito isso, mas se eu perceber que isso pode abalar nosso caso, fico de boa. Não estarei sem o meu emprego atual, e me disseram que uma próxima oportunidade pode surgir mais prá frente. Precisava negociar tudo contigo primeiro.
- Porra lindo. Sabe que pode contar comigo. Eu te apoio de boa, a gente negocia umas idas minhas e vindas suas em alguns finais de semana... Vai dar certo.
- Ah, caralhooooooo!
- Hehehe... relaxa. Tudo que é fácil de mais, pode suspeitar.
- Foda né?
- Já decidiu?
- Não. Vou pensar, vamos conversar, negociar, e amanhã eu decido. Junto contigo.
- Beleza.
Não estiquei o papo pois vi que ele estava sofrendo mesmo.
No fundo eu sabia que isso era nada prá quem quer ficar junto a vida inteira.
Em teoria. A prática, teríamos que construir. De novo.
Acordamos no dia seguinte mais uma vez com o chato do celular.
Ele foi pro banho calado enquanto eu aprontava uma vitamina rápida.
Respeitei seu momento, pois tinha percebido que ele não tinha pregado os olhos a noite toda. Eu fingi que dormia, não querendo forçar barra nenhuma.
Era um momento e decisão dele.
Ele tinha que decidir.
- Bruno, tu pode me deixar lá?
- Claro.
- Não vai te atrasar...?
- Não, hoje estou tranquilo até.
Mais silêncio no caminho.
No rádio a música dos caminhos, das trilhas, da distância...
- Daniel, se você quiser falar comigo sobre sua decisão, tô aqui. Não quero forçar a barra, ok ?
- Eu sei meu lindo. Te conheço.
Ele pousou sua mão forte em minha coxa e foi massageando, de leve.
- Pára senão eu bato...
- Hehehehe...
- É sério.
Ele voltou ao seu ar sério, aquele que eu gostava bastante, um ar "quase eu"...
- Bruno...?
- Oi.
- Eu já tomei minha decisão. Conversamos a noite, pode ser ?
- Claro.
Eu o deixei no banco e fui embora.
Um aperto no peito, junto com a certeza que superaríamos mais essa se fosse o caso, mas fazendo questão de sentir aquela dorzinha que incomodava, mas que reconfortava de certa forma.
Era bom sentir aquilo de novo.
Era bom sentir-me vivo.
O dia transcorreu sem pressa, meio que querendo arrastar as coisas. Eu mergulhei no trampo e só me permiti um desabafo básico com Marcão, meu parceiro de sempre nas confidências.
Era bom ter alguém prá compartilhar essas dúvidas também.
E um pouco mais aliviado voltei prá casa ao seu encontro.