Subo as escadas com a mente dando voltas. As fotos não saem da minha cabeça. Abro a porta lentamente quando chego na primeira à esquerda, revelando um espaço simples, com poucos móveis, muitos livros, papeis e uma Julia deitada na cama. Sua cama cabe perfeitamente duas pessoas, mas ela dorme encolhida em uma beirada. Ela esta dormindo. Mesmo com sua testa cheia de gotículas de suor e seu tom doentio de pele, sua expressão está serena. Seus lábios estão pouco entreabertos, sua respiração lenta e compassada. Me aproximo de sua cama, observando hipnotizada por sua beleza. O quarto está meio escuro com a noite que já caiu. Julia se remexe na cama e tenta sentar, vejo seu esforço e me prontifico a ajudá-la. Pego em seus braços e a encosto na cabeceira da cama. Ela então percebe minha presença, olha em meu rosto com interrogação: -O quê está fazendo aqui Anna?
Ela faz força para falar, sua voz está fraca. Fico imaginando o quão mal ela está.
-Você faltou a aula. Trouxe a matéria para você. - Minto, subitamente com vergonha de confessar o quanto estava preocupada e precisava vê-la.
-Obrigada, pode ir, te devolvo amanhã. - Ela responde olhando em meus olhos, encaro aquelas íris verdes que tanto me atraem.
-Não. - respondo confiante - vou cuidar de você.
-Não preciso que cuide de mim.
Controlo-me para não suspirar e revirar os olhos.
-Ai Julia, não adianta discutir. Encontrei sua mãe, aliás foi ela que abriu a porta para mim, ela me pediu para cuidar de você já que ela você não deixaria. Já avisei minha mãe. Minha cama ta até preparada no quarto de hospedes. - deixo escapar tudo de uma vez.
Os olhos dela se arregalam e depois se semicerram, suas sobrancelhas baixas. Sem perceber faz um biquinho com os lábios. Seus braços cruzados. Resisto ao impulso de beijá-la.
-E não fica com essa carinha não - digo e sento-me ao seu lado.
-Ok. - descruza seus braços relutante.
Observo-a por alguns instantes. Permanecemos em silêncio. Sua pele está quase esverdeada, alguns fios de cabelo grudados na testa, sua boca se formando uma linha reta de pouco em pouco. Percebo então o quanto ela está mal e o quanto esconde para não me preocupar. Lembro do dia anterior, de quando ela fugiu de mim e percebo que ela fez a mesma coisa que está fazendo naquele momento; ela estava escondendo o quanto estava mal. Lágrimas indesejadas veem aos meus olhos: Nunca mais fuja de mim daquela forma Julia.
-Anna.. - sua voz suave e fraca me chama.
Julia tenta se virar para mim, ficando de frente mas seu corpo cai para trás de novo. Viro-me para ela de joelhos, sentando-me sobre minhas pernas: Não faz esforço assim.
Seus olhos verdes faíscam nos meus, sou uma prisioneira deles. Julia ergue uma mão até minha bochecha e com o polegar enxuga minhas lágrimas. Aquele toque me leva ás nuvens: Desculpa, você sabe, por fugir. Mas você não entende.
-Então me faça entender Julia, me explica - suplico para ela com toda delicadeza.
Os cantos de sua boca pesam para baixo em sinal de cansaço: To com tanto sono.
Suspiro com calma, derrotada.
- Dorme, dorme que melhora. Qualquer coisa vou estar no quarto de.. - Começo a dizer mas sou interrompida por ela.
-Não.
Irritada com a teimosia de Julia em aceitar meus cuidados replico: Julia já falei que não adianta que vou ficar e.. - mas sou novamente interrompida.
-Dorme comigo, por favor.