Fiquei sem saber o que fazer por alguns segundos, não sabia como reagir.
-Vai atrás dela...-Gisele disse, era a coisa sensata a se fazer, mas eu tinha medo que Gisele fosse embora.
-Me promete que me espera aqui?
-Você quer realmente que eu espere aqui? Depois de agora?
-Ela é só minha filha... ela tem que entender...
-É mais fácil falar. Vai atrás dela, Marcos.
-Eu não vou até você prometer ficar aqui.
-Eu prometo.- ela me beija.- Agora vai.
-Ok...
Eu sai correndo, com pressa. Talvez essa fosse a pior forma pra Lídia descobrir, não deve ser fácil ver o próprio pai sendo beijado por outra mulher que não a mãe, mesmo depois de tudo. Eu preferi descer as escadas, "ela deve ter pego o elevador" pensei. Cheguei à recepção do hotel, não achei Lídia, corri pra fora e a vi, encostada na parede, chorando.
-Filha...- disse tocando seu ombro.
-Me deixa, pai!- ela diz empurrando minha mão.
-Calma, filha deixa eu explicar...
-Explicar o quê? Eu já vi tudo!
-Não, filha. Não viu...
-É? E o que eu perdi??
-A sua tia ia embora...
-E por que não deixou ela ir?
-Ora, porque ela é minha irmã!
-Irmãos não fazem aquilo que eu vi lá em cima!
-Filha, você não é a pessoa mais indicada pra dar uma lição de moral dessasEu já vi tudo... Você tá com ciúmes.
-Ciúmes??
-Sim, tá com ciúmes da sua tia.
-É lógico que tou, pai! Dois dias e já esqueceu da mamãe??
-Você sabe que depois do quê sua mãe fez... Além do mais nós estamos separados...
-Mais isso não acontece do dia pra noite. Aposto que quando ainda tavam juntos...
-Você sabe muito bem que a minha história com Gisele aconteceu antes mesmo da sua mãe...
-Mas por que agora pai?- ela me abraçou.
-Eu não sei... eu estou passando por um momento difícil... e você sabe que eu amo sua tia...
-E não ama a mamãe?
-Você também sabe que eu amo sua mãe...
-Então por que ficou com a tia Gisele? Por que não foi atrás dela?
-Por que sua mãe não sente o mesmo por mim...
-Pai! Você sabe que ela você mais que tudo!
-Eu não teria tanta certeza...
-Pai, a mamãe nunca faria aquilo por fazer... eu tenho certeza que tem uma explicação muito boa pra isso...
-Filha, se você me der um bom motivo, eu juro que vou agora mesmo atrás da sua mãeViu, simplesmente não tem explicação...
-Mas, se você ama tanto a mamãe assim, por que não perdoa ela?
-Perdoar? Eu não consigo...
-Por que não?
-Filha...
-E algum dia você consegueria perdoa-la?
-Eu realmente queria ter a resposta pra isso...
-E você me perdoa, pai?
-Como assim?
-Por ter reagido daquela forma...
-Claro que sim, filha...
-Pai... e você me ama?
-Eu já te disse, mais do que tudo...
-Então por que escoleu ela?
-Como assim?
-Por que escolheu a tia Gisele, e não eu?
-Eu não estou te entendendo.
-Por que você não me escolheu pra... pra beijar...
-Como por que? Você é minha filha!
-E ela é sua irmã! Meia irmã... mais ainda é irmã.
-São dois pesos completamente diferentes...
-Mesmo? Por que?
-Por que você é minha filha!
-Mas você disse que me ama!
-Filha... é diferente...
-Como assim?
-Você pode amar uma pessoa de forma diferente de outra.
-Por exemplo?
-Por exemplo, amar como eu amo sua tia. Ou como amo você.
-Não entendi...
-Eu amo sua tia mais do que irmã, amo como mulher.
-E a mim.
-Eu te amo como filha, oras.
-Então me ama menos...
-Claro que não!
-É o que me parece...
-Filha, não existe amor maior do que o de um pai ou uma mãe pelo seus filhos... E isso é uma coisa que você só vai entender quando tiver seus próprios filhos... É complicado de explicar...
-Tudo bem, pai. Eu acho que entendi.
-Entendeu?
-Sim...
-Então você já pode ir pedir desculpas pra sua tia.
-Pedir desculpas?
-Claro! Se você entendeu, sabe que não devia ter agido assim.
-Por que?
-Porque nenhum de nós dois fizemos nada de errado.
-Pai, vocês se beijaram.
-E daí?
-E daí??
-Sim, e daí?
-Ok... tudo bem, pai...
Eu e Lídia subimos ao quarto, Gisele estava deitada na cama.
-Tia...
-Lídia, me desculpa, eu...
-Não, tia. Eu que te devo desculpas... você me perdoa?
-Sim, claro...
-Pai?
-Oi- respondo.
-Me leva pra casa da Samantha?
-Pra fazer o quê?
-Pra durmir lá.
-Durmir lá??
-Sim, por que?
-Como por que??
-Calma, pai. Ela e a tia Aninha querem "ele" tão longe quanto você.
-Eu duvido que a Samantha queira ele longe.
-Para com isso, pai. Até parece que as pessoas não podem errar... Me leva ou não?
-Eu tenho escolha?
-Tem. Mas se você não me levar eu vou do mesmo jeito...
-Ok...
-Vê se não demora.-Gisele disse pra mim.
-Pode deixar...
Eu mal podia imaginar que aquela seria a noite mais longa da minha vida.
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Peço desculpas se os ultimos contos foram curtos, estou um pouco sem tempo e não queria deixa-los sem contos. Mas ao menos os próximos dois ou três vão ser bem longos. Prometo.