Eu e Lídia descemos, entramos no carro e fomos à casa de Aninha e Samantha. O clima entre nós era meio estranho, a nossa conversa tinha me deixado mais confuso do que antes, pra falar a verdade. Eu não entendia a atitude dela, primeira ciumenta e depois compreensiva. E agora, no carro, tinha um ar de mistério e um sorriso em sua face, eu realmente não tinha idéia do que passava na cabeça dela.
Chegamos em nosso destino pouco mais de 15 minutos depois de sairmos, tocamos a campainha e Samantha veio nos receber. As duas se abraçaram como se nada tivesse acontecido, Samantha me abraçou como se eu não tivesse falado a sua mãe sobre o caso com seu padrasto. Na verdade, aquilo me parecia muito "normal", pode parecer loucura, mas não imaginava como tudo poderia ficar tão "normal" em tão pouco tempo. Aquela família, assim como a minha, havia sido destruída, ou assim eu pensava.
As duas entraram primeiro, rindo, abraçadas, mesmo sem trocarem uma palavra. Entramos na casa e as duas sentaram no sofá da sala, sussurrando e rindo, Aninha estava na cozinha, as observando com uma taça de vinho, a comprimentei a distância. Eu queria voltar logo, tinha algumas coisas pra falar com Gisele, talvez contar pra ela toda essa situação com Lídia, talvez ela tivesse um conselho.
-Acho que já vou indo- disse caminhando na direção da porta.
-Marcos, espera um pouco!- Aninha gritou da cozinha.
-Por que?- eu realmente queria sair, aquela casa me lembrava o que aconteceu 3 dias atrás.
-Eu queria conversar com você, em particular...- as meninas olharam pra ela- sabe, sobre o que aconteceu...
-Aninha, eu... eu realmente não queria falar sobre isso...
-Ok, então só vem aqui, e toma um pouco de vinho comigo...
-Mas eu... quer saber? Acho que eu preciso de um pouco de vinho agora...
Eu realmente tinha esquecido Marie, Lídia e Gisele haviam feito esse "favor" de tirá-la da minha cabeça, mas essa casa me fazia lembrar, mas fazia lembrar ainda mais do que ela havia feito. Eu fui até a cozinha, Aninha me serviu uma taça de vinho, e eu só pensava "por que ainda estou aqui?". Tudo me lembrava Marie. A primeira taça de vinho, foi em praticamente um gole, assim como a segunda, a terceira, a quarta...
-Calma lá...-Aninha disse segurando meu braço.
-Me desculpa, é só... só isso tudo.
-Você vai superar isso, Marcos...
-Como você... você parece ótima...
-Obrigada, acho que é culpa dos meus pais... você sabe a aparência...- ela sorriu.
-Não, não é isso, é... isso...- eu falei apontando pra seu sorriso.
-Bom, eu tenho meus motivos.
-Mas, eu não entendo. Como você pode ficar assim tão rápido, eu... como você conseguiu?
-Sabe, eu tava no hospital, com minha filha chorando no meu ombro, se desculpando, dizendo que era a pior filha do mundo, e os médicos estavam limpando a cara do HP, e eu simplesmente percebi que não valia a pena... Que não vale a pena sofrer por ele...
-Bom, nem eu acredito no que vou dizer, mas... Como ele tá?
-Pra dizer a verdade, não foi assim tão mal, só um nariz quebrado, um olho roxo, lábios e supercílio cortados, um dente ou outro quebrado...
-Isso me parece mal...
-Na verdade, nem tanto... eu realmente pensei que você tinha matado ele... mas e você?
-Só machuquei a mão... não dei muita chance de reação, você sabe...
-Não é esse tipo de machucado, é esse...- ela disse apontando pro meu peito.
-Bom, você sabe, não é nada fácil...
-Eu sei que não.
-Sabe, desde a primeira vez que eu olhei nos olhos dela, eu pensei "essa é a mulher da minha vida"... mas eu acordei a dois dias e percebi que não...
-Então você se arrepende?
-Não, nunca. Ela foi a pessoa que me proporcionou os melhores momentos da minha vida, embora também o pior... Além disse, ela é mãe da minha filha... A Lídia sim, eu sei que sempre vou amar...
-Então não ama mais a Marie?
-Amo... mas eu sei que não posso continuar com ela...
-Então só tem que esquece-la...
-Esse é o problema...-mais um período de silêncio e lá se vai a quinta e a sexta taça. Me dei conta que Aninha não tomou nada desde que conversamos.
-Aninha...- continuei- Como você e a Samantha ficaram tão bem?
-Sabe aquela coisa de não valer a pena? Ela também percebeu isso...
-Então vocês simplesmente esqueceram?
-Não, nós superamos...
-Eu queria que as coisas fossem assim tão simples...
-E quem disse que foi simples?- mais um momento de silêncio.- Sabe eu acho que eu posso te ajudar.
-Seria ótimo...
-Vem comigo...- ela disse me puxando pela mão.
-Aonde?
-Lá no meu quarto. Tem uma coisa que eu quero te mostrar.