Meus amores, esse é o último capítulo do conto! Agradeço a vocês por acompanharem meu conto. Um beijo a todos que gostaram! Estou pensando em um novo conto... Em breve eu começo a postá-lo... Beijo e abraço no fundo do coração de vocês! Até mais!
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Assim que ele falou o meu nome, pulei da cadeira onde eu estava e parei ao seu lado.
- Estou aqui, Fer! – Fernando continuou mexendo a boca, murmurando “Felipe”. Caio foi correndo chamar o médico, que veio correndo.
Ele examinou Fer, verificou sinais vitais e tudo mais. Deu um suspiro de alívio e disse:
- Ele está respondendo bem ao transplante, além de responder aos estímulos externos. Creio que até o fim do dia ele deve acordar de vez – Sua expressão era otimista.
Eu e Caio demos um longo abraço.
- Tudo vai ficar bem, Caio!
Como disse o médico, no final do dia, Fernando acordou. Eu estava no meu quarto, jantando a comida ruim e sem sal do hospital, quando escutei ele chamando “Enfermeira”. Ao simples som da sua voz parei tudo o que estava fazendo.
Sem autorização dos médicos, fui até lá. Assim que Fernando me viu, ele deu um sorriso e me perguntou:
- O que aconteceu?
- Nós sofremos um acidente.. Foi minha culpa.. Desculpa.. – Pela primeira vez eu me senti culpado por esse acidente.
- Não Lipe, acho que não foi culpa sua. A quanto tempo estou assim?
- Alguns dias.. Mas o bom é que você está acordado.
Nesse momento o médico chegou e fez mais uma bateria rápida de exames. Verificou reflexos, batimentos, tudo mais. Verificou os pontos no local do transplante do Fer. Enquanto ele verificava, Fernando perguntou:
- Tive que fazer uma cirurgia?
- No acidente você fraturou seu fígado e uma infecção o inutilizou. Tivemos que fazer um transplante...
- Mas essas filas não demoram meses, anos? – Ele perguntou curioso.
- Não quando o doador está parado à sua frente – Ele olhou para o médico confuso. Um tempo depois ele percebeu e me olhou com uma expressão “Por que fez isso?”. Ele não perguntou mais nada.
Ele esperou o médico sair do quarto e perguntou:
- Por que fez isso?
- Fernando...
- Por que fez isso? – Ele perguntou me interrompendo.
- Por dois motivos. Primeiro, Caio ficou o tempo inteiro ao seu lado, chorando de remorso por não te tratar como deveria depois de tantos anos. Eu não o deixaria ficar sem o pai. E segundo, eu te amo do jeito que nunca amei ninguém antes. Eu não conseguiria viver em um mundo onde você não está.
Ele ficou um tempo em silencio e disse:
- Desculpa... É que você se arriscando, trocando parte da sua vida... Por mim... Você faz tanto por mim e eu não... – Ele começou a chorar. Eu sentei ao seu lado, dei-lhe um abraço e disse, no seu ouvido:
- Você faz mais do que pensa. Você me permite viver. Você permite que o oxigênio entre nos meus pulmões. Você me da forças para continuar. Você é meu motivo de vida. Eu amo você e iria até o infinito para provar o meu amor – Fernando me olhou com uma expressão serena e me disse:
- Isso foi a coisa mais linda que alguém me disse...
Nesse momento, Caio entrou correndo no quarto falando “Pai!”. Ele lhe deu um abraço tão forte que Fernando teve que pedir para solta-lo. Caio começou a chorar de alegria e, creio eu, arrependimento e disse para seu pai:
- Pai, desculpa! Eu fiquei com raiva por você ter sumido.. Ai vocês saíram e sofreram um acidente e eu percebi que eu não queria que você se fosse. Eu te amo pai, promete que nunca mais vai embora? Promete? – Fernando deu um abraço, dessa vez com calma, deu um abraço no Caio e disse:
- Eu prometo filho... Eu nunca mais vou embora.
O médico chegou no quarto e disse:
- Crianças eu sei que vocês gostam muito do Fernando, mas ele precisa descansar. Depois vocês voltam.
- Doutor, quando nós poderemos sair? – Perguntei ansioso.
- Assim que vocês melhorarem...
Alguns dias depois finalmente o médico nos liberou. Passou milhões e milhões de instruções para nossa nova vida com meio fígado a menos. Alcool, o mínimo possível. Ele nos recomendou uma nutricionista e blá, blá, blá.
Meu carro sofreu perda total, mas tinha seguro, então estava, relativamente, tudo bem.
Voltamos para casa de táxi. A casa estava estranhamente muito limpa e organizada. Eu estava com saudade daquele lugar. Fui para o meu quarto e deitei na minha cama. Fiquei um tempo deitado, até que Fer chegou na porta do quarto.
- Felipe... – Ele foi andando e se deitou ao meu lado.
- Fernando... – Ele fez um carinho na minha cabeça e eu fiquei ali, só sentindo seu carinho nos meus cabelos.
- Eu falei com Caio. Expliquei-lhe toda a situação. – Ele me contou como quem não quer nada.
- E ai? O que ele disse? – Perguntei curioso para saber a resposta.
- Ele disse que não se importaria se tivesse dois pais. Principalmente se fossem nós dois – Fer sorriu para mim.
- Você sabe que ele vai sofrer um pouco, não é?
- Sim, vai. Mas ele compreende isso, e me disse que não é problema nenhum.
Naquela noite, nós três saímos para jantar. Fomos a um bar que vendia um peixe frito maravilhoso. Comemos, rimos, bebemos um pouco de cerveja (não conte isso ao meu médico) e por fim voltamos para casa.
Eu, Fer e Caio sentamos na sala para ficar jogando vídeo-game. Após algum tempo, Caio levantou e disse:
- Bom, eu vou dormir. Juízo vocês dois viu! – Ele nos olhou com uma expressão séria e após nós três começamos a rir.
- Não se preocupe, Caio. Juízo é meu nome do meio... – Ele riu e saiu para seu quarto.
Fernando me olhou, com aqueles olhos verdes lindos e disse:
- Enfim sozinhos, novamente...
- Quer ir no Morro do Papagaio? – Nós dois rimos com a minha pergunta.
- Sempre quero, mas antes eu quero te falar algo – Na hora que ele disse isso, eu gelei. Será que ele iria embora mais uma vez? Eu não deixaria... Não permitira mais ai ele disse:
- É um poema que eu li uma vez, espero que goste:
“Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
Pablo Neruda”
Enquanto ele recitava de cor esse poema lindo, meus olhos se encheram de lágrimas de amor. Foi a coisa mais linda que alguém já havia me dito. Após ele terminar, trocamos um beijo apaixonado e então ele me perguntou:
- Felipe, casa comigo? Quer viver comigo até o fim das nossas vidas? – Ele tirou um par de alianças do bolço e fez o pedido mais singelo e belo possível. Eu desaguei de choro e disse:
- Until the very end...