Capítulo quatorze.
GABRIEL
Ele não falaram comigo durante todo o caminho. E eu achei melhor assim. Eram apenas oito da manhã e eu estava preso naquele carro com meu pais e estava feliz, pois odiava aquilo e isso já era algo. Tudo o que senti nesses três anos foi o vazio que ele me deixou quando se foi. Tudo o que eu fiz desde então foi para tentar sentir algo, mas toda adrenalina que sentia quando roubava, toda alegria que sentia quando bebia eram apenas fantasmas de sentimentos reais. Ao menos o ódio que eu sentia agora era real. Tão real que eu o sentia queimar minha pele e essa sensação me trouxe felicidade, outra coisa que eu tinha me esquecido quase completamente.
— Chegamos — Meu pai anunciou quando paramos em frente a um prédio residencial no centro da cidade.
Desci do carro sem e cobri minha cabeça com o capuz negro de meu casaco. A temperatura daquele dia não pedia nada além de uma blusa de manga curta, mas eu não usava o casaco por sentir frio. O usava para esconder as marcas deixadas pelo cinto do meu pai na noite passada. Os hematomas ainda queimavam em minha pele que se tornara pálida. Ela costumava ser bronzeada no passado quando eu ainda tinha amigos e jogava futebol na escola, mas que me olhasse hoje diria que eu nunca sai no sol na vida.
Caminhei em direção ao prédio ouvindo Sweet Sacrifice da Evanescence em meus fones de ouvido sem nem me importar que eles seguissem atrás de mim. Parei na recepção onde meu pai identificou a nós três. O segurança interfonou para meu irmão e ele autorizou nossa subida. Enzo morava no decimo andar do prédio de dezesseis andares. Chegamos a porta de madeira do 103° apartamento e tocamos a campainha. Meu irmão abriu a porta.
Eu o vi duas vezes desde que ele se foi e mesmo assim nunca falei com ele. Ainda sentia dor por ele ter terminado comigo e isso não era algo que eu conseguia esquecer.
Mas o que eu via agora em minha frente era muito mais doloroso. Enzo estava um pouco mais forte e mais bonito desde a ultima vez que o vi e ele transparecia estar bem. Estava mais bonito do que nunca e aquilo só fez meu coração doer. Mas ao menos eu o sentiaENZO.
Os três estavam péssimos. Meus pais tinham no rosto uma expressão tão triste que irradiavam uma energia mórbida por toda a sala. Mas Gabriel era o que mais me preocupava. Mesmo escondido por baixo daquele capuz, eu podia ver seu rosto com certa clareza. Seus rosto estava magro e pálido destacando seus olhos cor de mel que estavam injetados para fora e rodeados por bolsas roxas. Trajava uma calça jeans justa destacando a magreza de suas pernas e mesmo seu casaco folgado mostrava que seus músculos o deixaram.
— Querem alguma coisa? Água, café, um suco...?
— Um café estaria muito bom — minha mãe pediu.
— Alguma coisa com álcool — meu pai pediu.
Seus estados físicos foram o primeiro sinal de que a coisa era séria. Meu pai pedindo algo com álcool era a segunda.
— Tem uma cervejas do Miguel no freezer, serve? — perguntei fingindo não estranhar sua atitude.
— Pode ser — seu tom dr voz soou tão mórbido quanto a energia que emanava de si.
Os deixei na sala e fui até a cozinha. Peguei o pó de café no armário e me virei para a cafeteira. Tive de ne segurar para não gritar, pois Gabriel surgiu na cozinha sem fazer nenhum barulho.
— Você está lindo — ele disse em tom sofrido.
— O-o-obrigado — gaguejei — Você está... Diferente — tentei retribui seu elogio.
Gabriel tirou o capuz revelando seu cabelo castanho que havia se tornado acinzentado.
— Eu estou horrível — ele sorriu sem a minima vontade — Quando você foi embora levou também minha alma.
Em todos esses anos a coisa que mais desejei era que meu irmão tivesse me esquecido e pelo visto meu desejo não fora atendido.
— Você deveria ter seguido em frente — disse — Eu segui.
— Como um ser sem vida continua a viver? — indagou — Você era minha vida, meu irmão, meu amante, meu tudo! Quando você foi embora deixou apenas uma carcaça podre.
— Eu deixei meu irmão para trás — Respondi — Não uma carcaça.
— Eu ainda te amo Enzo — Gabriel disse e uma lágrima escorreu por seu olho e ele a limpou fascinado — Pensei que nunca mais eu conseguiria chorar — sorriu — Achei que nunca mais sentiria isso também — ele pegou minha mãe e a levou até seu peito onde e um débil coração batia.
— Eu também te amo Gabriel, mas não desta forma — tirei minha mãe de seu peito — Nunca amei. Foi tudo uma confusão. Nada do que aconteceu foi real.
Gabriel apenas se virou e voltou para sala. Terminei de fazer o café da minha mãe sentindo algo se agitar dentro de mim. Era um sentimento adormecido que começou a despertar tomando forma em meu coração. Mas ainda não sabia o que era.
Servi uma xícara de café para minha mãe e peguei uma lata de cerveja na geladeira para o meu pai. As levei para eles. Meu pai abriu a lata e bebeu todo o seu conteúdo de uma vez ignorando o copo que lhe trouxe.
— Vocês querem conversar comigo? — perguntei me sentando no outro sofá.
Medo começou a se remoer dentro de mim. As coisas pareciam muito sérias no telefone, mas ao vê-los naquela manhã eu percebi o quão grave era a situação.
— Você está por dentro da situação do seu irmão — minha mãe começou.
— Estou.
— Eu e seu pai estávamos pensando...
— Não dá mais! — meu pai amassou a lata com uma mão — Não aguento mais olhar para a cara dele todos is dias! Não aguento mais receber ligações bo meio da noite avisando que ele está preso. Não aguento mais ver ele bêbado e drogado. Eu estou farto disso!
— Ele está me chutando para fora de casa — Gabriel completou.
— Também não é assim...
— É exatamente assim — meu pai interrompeu minha mãe — Eu quero esse delinquente degenerado fora da minha casa e fora da minha vida! Não vou suportar nem mais um dia viver naquele inferno com esse viado de merda!
— Não o chame assim — minha mãe começou a chorar.
— E ele é o que então? — meu pai perguntou em tom irônico.
— Tem que admitir que ele tem razão mãe — Gabriel debochou — Quem gosta de piroca é viado! E vou dizer uma coisa! Eu adoro um pau!
Aquilo me chocou muito. O Gabriel que conheci nunca diria aquilo para a própria mãe.
— Respeite sua mãe moleque! — meu pai lhe deu um forte tapa no rosto.
Eu desviei o rosto, pois não suportaria ver aquela agressão novamente.
— Então vocês querem que ele more comigo? — indaguei.
— É isso ou ele vai morar na rua — meu pai me impôs — Não quero ter um bicha morando comigo. O que vai ser?
— É claro que vou acolhe-lo! — disse achando um absurdo ele me perguntar aquilo — Apesar de tudo ele é meu irmão.
— Então ele é todo seu! — Meu pai se levantou — Todo mês vou mandar uma quantia em dinheiro para ajudar nas despesas. E só faço isso para te ajudar Enzo. Gabriel morreu para mim e quero que ele se queime no inferno que é o lugar dele.
— Não fale coisas que não pode retirar — minha mãe protestou.
— Não me importo com o que ele disse — Gabriel falou — Também te amo pai e o que disse um dia vai ter volta.
— Está me ameaçando agora? — meu pai se pois em frente a Gabriel que se levantou para encara-lo.
— E se for? — provocou.
— Vamos nos acalmar — eu me levantei e me postei entre ambos afastando meu pai e fazendo Gabriel se sentar novamente — Pelo amor de Deus, vocês são pai e filho! Tenham mais respeito!
— Eu não respeito o tipo dele! — Meu pai provocou.
— Eu fodo com gente que diz que é cristão, mas adora uma boa piroca — Gabriel contra atacou.
— Cristãos nunca fariam uma coisa dessas!
— A não? — Gabriel perguntou — Sabe o filho do pastor o Carlinhos? Aquele garoto sabe o que é meter co. força e adora quando eu gozo na cara dele depois de um boquete.
Meu pai me empurrou e deu um soco na cara de Gabriel.
— Miguel! — o chamei. Tinha pedido para ele ficar no quarto enquanto to meus pais estivessem aqui.
Miguel surgiu na sala e ao ver meu pai esmurrando meu irmão veio em meu auxilio e nos conseguimos conter meu pai enquanto minha mãe apenas chorava.
— Você é o diabo! — Meu pai gritava — Eu te odeio!
— Vai encher o saco da sua crentalhada de merda! — Gabriel zombou.
— Calem a boca os dois! — Eu gritei.
— Vamos lá para fora — Miguel o conduziu e meu pai não ofereceu resistência.
Olhei para meu irmão que sorria sadicamente.
— O que houve com você? — perguntei.
— O que acontece com uma pessoa que da todo seu amor para uma pessoa que a usa e te descarta como uma pilha de merda de cachorro. Eu mudei e não vou deixar mais ninguém pisar em mim.
Gabriel se levantou e foi até a cozinha. Me sentei ao lado de minha mãe que chorava muito e tentei consola-la. Gabriel estava sofrendo e eu era o culpadoFico feliz que tenham gostado do capitulo anterior e espero que gostem desse também.
Sei que querem ver o Enzo e o Gabriel juntos mas também não precisa querer o Daniel morto kkkkk. RI muito contigo M(a)rcelo. Mas vamos ver o que acontece daqui para frente.
Obrigado e até o próximo