Olá! Segue mais um capítulo ai para vocês! Espero que gostem =D
PS.: Lockley muito obrigado pelo comentário, agora estou um pouco menos ignorante na língua inglesa =)
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No final de semana seguinte, Lúcio e Lúcia me chamaram para ir a um barzinho. Aceitei sem demora. Eles iam com alguns amigos, gente boa, segundo eles e seria bom eu sair um pouco de casa.
Bom, foi muito legal o barzinho, as pessoas de fato se mostraram gente boa demais. Tinha a mente aberta, falavam sobre tudo, tiravam sarro um do outro sem perder a amizade. Eles me chamaram para na semana seguinte jogar The Game of Thrones – The Board Game (Pra quem não sabe é o jogo de tabuleiro do Game of Throne). Disse que iria sim. Era desse tipo de amigo que eu precisava.
Saí com meus novos amigos mais algumas vezes durante o mês. Nos divertimos e rimos bastante. Eu estava mais alegre, ou melhor, menos triste, mas ver o Fer todos os dias era torturante. Como canta o Skank “Te ver e não te querer, é improvável, é impossível...”
Mas as coisas mal explicadas são muito complexas. Principalmente quando é para a gente mesmo. Eu juro que realmente achei que Fer, depois de todo aquele tempo me escutaria, então, tentei fazer uma nova tentativa de aproximação.
Em um dia a tarde na hora que todos já estavam quase indo embora, resolvi ficar mais um tempinho a mais, brincado no laboratório. Avisei meu chefe, avisei o porteiro e fiquei lá. Eu não esperava falar com Fer nesse dia.
Mas o destino é uma vadia. Houve uma hora que eu estava na sala de convivência do nosso setor na empresa bebendo um refrigerante quando, não sei porquê e nem fazendo o quê, Fer entra na sala.
Ele estava lindo como sempre. Ele havia cortado o cabelo, estava mais curto. Ele estava com uma blusa mais justa, o que realçava seus músculos. Mas o melhor era seu cheiro. O seu perfume invadiu toda a sala no instante em que ele entrou.
Nossos olhares se cruzaram e tive um vislumbre daqueles olhos verdes perfeitos. Percebi, ou melhor, achei que ali e naquela hora era o melhor lugar para conversar com ele, pedir desculpas pelo meu comportamento.
- Fernando, posso falar com você um instante? – Pedi educadamente.
- Sobre...? – Ele perguntou seco e áspero, como todas as vezes que ele falava comigo.
- Eu só quero pedir desculpa cara. Pelo meu comportamento que eu tive com você.. No seu primeiro dia.. – Ele me olhou com um olhar de indiferença e disse:
- Só isso? Eu to com pressa... – Pensei em tudo o que poderia ter dito, mas não disse nada. Vendo o meu silencio, só virou e saiu.
Comecei a chorar sentado na cadeira onde eu estava. Fiquei ali, peguei minhas coisas e fui embora. Mas não fui para casa, fui para o alto do Morro do Papagaio, ficar bêbado. Cheguei lá, mas dessa vez tava vazio. Peguei uma garrafa de whisky e comecei a beber.
Não sei quanto tempo fiquei ali, mas acabei dormindo no meu carro. Acordei de madrugada com umas batidas no vidro do meu carro. Olhei assustado, mas era somente um policial.
Sai do carro e fiquei esperando ele dizer algo, até ele me perguntar:
- Por qual motivo o senhor está aqui em cima, nessa hora, bêbado? – Olhei para ele quase achando cômico.
- Meu amigo, por quantos motivos um homem vai para o ponto mais bonito da cidade ficar bêbado? – Ele deu uma risadinha, mas eu continuava sério.
- Então senhor aqui nesse horário é perigoso! Volte para casa... Algo pode acontecer com o senhor – Aquilo não era nenhuma novidade.
- Eu gosto do perigo. Gosto de correr risco – O policial me olhou confuso e perguntou desconfiado:
- Posso fazer uma revista no carro? – Dei uma risada e entreguei-lhe a chave.
Ele revistou cada centímetro do meu carro. A única coisa que ele achou foi bebidas alcoólicas e materiais eletrônicos e alguns protótipos que eu tinha construído.
Expliquei cada detalhe do meu protótipo, mostrei pra ele quase funcionando, até por fim o policial parar de encher o saco e ir embora, me deixando ali.
Continuei sentado vendo o nascer do sol. Coloquei uma musiquinha para deixar o clima menos pesado, mesmo eu estando sozinho. Após todo o espetáculo da natureza, fui pra minha casa, tomei um banho, comi qualquer coisa que tinha na geladeira e fui para mais um dia torturante de serviço.
O serviço em si não era ruim, ruim era ter que vê-lo todos os santos dias, lindo, perfeito, com um cheiro estonteante de bom. Isso era triste. Mas a vida segue.
No outro dia, ele não foi trabalhar. Algo relacionado ao seu filho. Esse foi um dos melhores, e ao mesmo tempo, um dos piores, dias de trabalho. Mas a vida segue.
A semana se arrastou lentamente. Lúcio e Lúcia me chamaram para um churrasco na casa deles e eu fiz uma contraproposta: dessa vez o churrasco seria na minha casa. Eles relutaram mas concordaram.
No sábado à noite, os meus novos amigos chegaram. Acendi a churrasqueira, temperei a carne e coloquei para assar. Uma coisa que meu pai me ensinou e eu nunca desaprendi foi fazer churrasco.
Pela primeira vez pude usar o sistema que eu coloquei na minha casa que era de controlar o aparelho de som pelo meu celular, como eu havia feito na festa do Fernando. Coloquei músicas animadas, servi bebidas, fizemos drinks e tudo mais.
A “festinha” se arrastou até de madrugada e acabou com todos bêbados indo embora para casa. Mesmo eu falando para eles ficarem, eles resolveram ir embora mesmo assim. Por sorte ninguém morreu no caminho.
Passei o domingo inteiro limpando a casa de bom grado. Eu não ligava de limpar a bagunça de festas, principalmente quando estas são legais, como foi na ultima noite. Acabei de limpar era tarde. Tomei um banho, e dormi um pouco. Acordei à noite, pedi um sanduiche e joguei videogame até de madrugada.
Mas a segunda-feira próxima foi um dia fatídico na minha vida.
Cheguei no serviço como sempre, fiz mais do que me era pedido como sempre, agradava meu chefe como sempre. Fernando estava lindo como sempre. Mas tinha algo muito diferente nos seus olhos.
Embora ele agisse como não, seus olhos expressavam uma tristeza profunda. Fiquei me perguntando o porquê, fiquei pensando em que teria acontecido. Será que era algo com seu filho?
Percebi também que ele estava menos produtivo naquele dia. Ele antes fazia tudo o que não era pedido, mas necessário, nunca reclamava no serviço, sempre ajudava e prestativo. Mas não nesse dia... Ele fazia pouco, sem vontade. Os engenheiros, meus colegas, queriam dar um esporro nele, mas eu não deixei. Defendi Fernando até minha morte.
Mas a semana seguiu e o ritmo dele foi só caindo, até um ponto que meus colegas estavam insatisfeitos com ele. Eu prometi que o faria melhorar. Conversaria com ele após o turno de serviço.
O dia passou, e na hora que todos, inclusive Fer, juntavam suas coisas para ir embora, chamei-o na minha sala:
- Senhor Fernando, o senhor dirija-se a minha sala, por-favor? – Ele podia esquivar de conversas casuais comigo, mas não podia se esquivar de um chamado formal de seu superior.
Eu entrei, sentei na minha mesa e esperei alguns instantes até ele entrar e me encarar com aqueles olhos verdes marcantes.
- Sente-se, por favor – disse gentilmente, mas ele respondeu seco e áspero:
- Não, estou bem em pé – Ele ficou de pé e eu disse:
- Fer, os engenheiros perceberam uma queda drástica no ritmo do seu serviço. Antes você era mais prestativos que metade deles, mas seu ritmo caiu a ponto de eles mesmo terem que fazer o seu serviço. Aconteceu alguma coisa? Algo que nós podemos ajudar? – Meu tom era o mais calmo e amigável possível. Mas ele respondeu no mesmo tom de antes:
- Nada do que seja do interesse de vocês!
- Cara, a gente ta tentando te ajudar, por incrível que pareça nós somos seus amigos – Ele me olhou com desprezo e disse:
- Eu não tenho amigo viadinho de merda – Era o que eu suspeitava. O problema não eram os meus colegas, o problema era eu. Tive um curto estouro de raiva e respondi:
- E o que você ganha com isso? – Perguntei, esperando uma resposta sincera. Percebi que ele vacilou um segundo, então eu continuei:
- Eu posso ser um “viadinho de merda” e você pode ser um “hétero de respeito”, mas que benefícios isso lhe dá? Quem vai para Europa todas as férias? Quem está na chefia de uma empresa?
- Quem vive com amor? Quem chega em casa todos os dias e tem duas pessoas que você ama esperando para lhe dar um bom dia? – Ele retrucou. Aquilo foi um tiro de verdade na minha cara. Com duas frases ele acabou com toda minha vida.
- Sabe, eu não preciso da sua ajuda, eu não preciso de você. Você pode viajar por toda europa, conhecer todos os países do mundo, comer qualquer gay que você conheça.. Mas nunca, nunca vai saber o que é ser amado. Eu prefiro ser pobre, mas viver com amor, do que ser ricaço e milionário e não ter amor na vida. Você é tão pobre que só tem dinheiro – Fiz o máximo de força para não chorar, por sorte consegui. Fer, virou para sair da sala e disse:
- EU me demito dessa merda!
- Fer, espera, desculpa, eu não... – Mas ele saiu e bateu a porta. Comecei a chorar, aquelas verdades que ele jogou na minha cara acabaram comigo. Me senti um lixo, um inútil, um nada.
Saí, peguei meu carro, parei no mercado mais próximo, comprei uma garrafa de whisky. Voltei pro carro, e lá mesmo abri a garrafa e comecei a beber. Saí em disparada para casa, bebendo. Liguei o som para me acalmar, mas isso foi o pior coisa que eu fiz na vida.
Meu som é um grande de um filho da puta. Coloquei no aleatório e ele caiu justamente na música que eu não podia escutar. Primeiro tocou “So Far Way” do Avanged Sevenfold [http://www.youtube.com/watch?v=25xeKYVu6x0] e Será, o Legião Urbana [http://www.youtube.com/watch?v=S_hY89b05mo]. O ritmo pesado do Avenged seguido do ritmo alegre, mas com letra triste do Legião, juntamente com o álcool do whisky afetando meu discernimento, resolvi fazer algo.
Dei uma rodada no carro e segui na contra mão. Eu sabia exatamente aonde eu ia. Segui a toda velocidade. Algumas pessoas buzinavam e me chamavam de louco, mas eu nem ligava.
Cheguei na empresa, peguei um canivete no meu porta luvas e segui em direção à sala de projetos. Sempre com minha garrafa de whisky e bebendo a cada passo. Eu já havia bebido mais da metade.
Enquanto caminhava para a sala de projeto, senti o perfume de Fernando pelo ar, mas por estar bêbado era somente uma ilusão.
Cheguei na sala de projetos abri o canivete de metal, liguei uma tomada de alta tensão. Antes de eu tomar a medida de acabar com minha vida, vi Fernando parado na porta. Ele gritou:
- Felipe, para! – Mas eu não parei.
Como uma última ação da minha vida, enfiei o canivete em uma tomada de alta tensão.