Logo após chegar em casa, tomei um banho e fui comer com minha mãe e meus irmãos.
- Como foi o dia? - peguntou minha mãe.
- Foi legal - o Caleb respondeu sem entusiasmo.
- E o seu, Marcelo? - ela dirigiu a pergunta a mim.
- Foi bom. Aliás, dois colegas que fiz hoje virão pra cá pra fazermos um trabalho, espero que não se importe - falei.
- Sem problemas, mas vocês irão ficar sozinhos, porque o Caleb vai comigo na nossa antiga cidade pegar uns documentos e seu irmão vai pra faculdade - ela disse. - Não sei que hora voltaremos - completou ela.
- Tudo bem, só deixa um dinheiro pra pizza, tá?! - falei, fazendo todos rirem.
Terminei de almoçar e fui na papelaria da esquina comprar as fichas pro fichamento. Ao voltar, minha mãe e Caleb estavam saindo de casa.
- Filho, seu amigo já está aí. Muito bonito, por sinal! Juízo! - ela me disse, saindo de casa.
- Falou, mano - meu irmão deu um tapa no meu braço.
- Faloooou - falei, dando de ombros e abrindo a porta da sala.
Ao adentrar porta a dentro, vi alguém que eu preferia que fosse uma alma do que quem estava sentado naquele sofá de cor marrom.
- D-desculpa a demora, fui comprar as fichas - meu nervosismo parecia ser aparente.
- Sem problemas - ele deu um sorrisinho no canto da boca.
- Você quer fazer o trabalho aqui? Lá no meu quarto tem ar condicionado, é mais fresco - fazia calor naquele dia.
- Por mim tudo bem - ele disse, sem entusiasmo.
Fomos em direção ao meu quarto e meu coração batia fortemente. O que era aquilo que estava acontecendo comigo? Entramos em meu quarto e ele sentou-se em uma poltrona, enquanto eu sentava na minha cama.
- Então, quer esperar o Lucas ou quer começar logo? - perguntei.
- Quem é Lucas? - perguntou, levantando da poltrona e vindo em minha direção
- É o menino do nosso g-grupo - eu gaguejava mais a medida que ele se aproximava.
Ele não respondeu nada e ficou admirando um ponto fixo da parede que se encontrava atrás de mim. Fiquei sem entender, então comecei a encarar aquele rosto branco maravilhoso.
- Eu. Não. Acredito. Nisso - ele exclamou cada palavra.
- O que? - perguntei, me virando pra trás.
- A sua coleção de CDs do Michael Jackson. A minha parece um lixo perto da sua. - ele disse.
- Nossa, você também gosta? - perguntei.
- Sim, eu cresci ouvindo. Inclusive meus pais se conheceram em um show dele aqui no Brasil. - ele parecia abismado.
- Sério? Se quiser te empresto alguns pra você copiar, sei lá... - falei, envergonhado.
- NOSSA, VOCÊ TEM O HIStory?!!!?!?!?!? - ele parecia uma criança.
- Sim, esse CD é minha vida. Ele é muito raro, comprei ele pelo olho da cara. - falei.
Ele pareceu perceber que sua personalidade havia mudado completamente. Aquele cara sério e calado tinha, em instantes, virado um adolescente feliz e comunicativo.
Começamos a conversar sobre CDs, turnês, fatos da vida do Michael e quando fomos olhar no relógio já passavam das 3 da tarde. O Lucas havia furado, mas por sorte eu tinha dado meu numero pra ele e ele disse que teve um problema em casa, mas que ia fazer o resumo dele. Menos mal.
Eu e o "sem nome" começamos a fazer nossos resumos e algumas horas depois, terminamos. Nesse período de tempo, minha mãe ligou avisando que ia demorar mais um pouco, como ela já havia previsto antes.
- Cara, desculpa perguntar, mas... como é seu nome? - perguntei, fazendo com que nós dois rissemos.
- Ah, foi mal... meu nome é Mark - ele respondeu, passando as folhas da apostila.
- Mark... nome americano! - pensei alto.
- É, meu pai era americano - ele respondeu.
- Era? - perguntei.
- Ele morreu. - sua voz falhou.
- Me desculpa, não queria te deixar pra baixo - tentei me desculpar.
- Tudo bem. - ele falou.
Nisso ouvimos alguém tocar o interfone e então nós dois fomos ver o que era.
- Oi, boa noite - uma senhora de aparentemente uns 50 anos falava.
- Boa noite - respondemos.
- Só vim avisar que acabaram de assaltar a casa ao lado da de vocês, é bom trancar as portas... - ela disse, sorrindo.
- Tudo bem, obrigado por avisar - respondi.
Entramos em casa e eu comecei a trancar tudo. Mark começou a rir.
- O que foi? - perguntei.
- Você e esse seu desespero aí - ele disse.
- Ah, tá, se um ladrão entrar aqui você vai ser o primeiro a correr - falei.
- Bom, então tá, já vou indo... - ele disse.
- NÃO! - quase gritei. - Quer dizer, fica mais um pouco, minha mãe vai já chegar e ela deve querer te conhecer melhor - falei.
Ele não conseguiu segurar a risada e caiu na gaitada. Eu também não me segurei e comecei a rir. Fomos pro meu quarto e lá ele deitou na minha cama.
- Pra quem não falava nada, você já tá bem atiradinho - falei, me deitando ao seu lado.
- Ninguém mandou você querer se entrosar comigo - ele respondeu.
Ficamos conversando sobre a vida, futebol, até que o assunto mulheres chegou.
- Ah, você vai me zoar se eu falar - falei.
- Não vou, fala logo - ele disse.
- Eu nunca fiquei com nenhuma menina, nem beijei uma. - falei.
- NOSSA HAHAHAHAHA - ele soltou uma risada descontrolada.
- Qualé, falei que cê ia rir - falei.
- Ah, eu também nunca beijei nenhuma menina - ele disse.
- Como assim? Então por que você riu? - perguntei, lhe dando um soco.
- Porque eu sou gay - ele respondeu...
Aí galera, muito obrigado a todos os votos e comentários, curti muito escrever aqui pra vocês. Lembrando que gostei demais da recepção que tive, obrigado mesmo!