Capítulo 5: Era uma vez... Pera! Rebobina!
Sabe aquele pânico que acontece sempre que colocamos a mão sobre o bolso e não sentimos o celular? Começa com um frio na barriga, depois uma tremedeira incontrolável se apossa de seu corpo, se você estiver sorrindo rapidamente você entristece. Eu estava em pânico, e a comparação do celular foi a única que eu achei cabível na minha situação.
Um mês.
Por um mês eu fiquei em um quarto de hospital, na quarta semana eu já queria sair dali, na terceira meu animo ainda não estava completamente reconstruído, na segunda eu comia apenas sopa e na primeira nem isso, na primeira semana a única coisa que era ingerida em meu organismo era soro. Fiquei a primeira semana toda dormindo (eu posso!) mas o meu estagio adormecido era fruto de medicação. Então me perguntem como eu poderia saber disso tudo se eu estava adormecido, bom, tá na cara, né? Alguém me contou. Minha mãe foi quem me contou tudo, desde a parte em que me colocaram na maca, botando sangue para fora adoidado até quando eu dei entrada no hospital. Foi ela que me disse também o quão grave era a minha situação. Querem saber o motivo daquela sangria toda? Bom, até essa eu já sabia, aqueles trambolhos que eu engoli junto com a água do rio me fizeram estrago por dentro. Ela me disse que foi por isso que eu fiquei tanto tempo desacordado, passei por uma bateria de exames até que eles descobriram que uma pedra (sem brincadeira nenhuma) ficou alojada em meu estômago. Agora eu tinha uma cicatriz alguns centímetros acima do meu umbigo. Legal, né? Agora eu poderia ficar sem camisa e dizer que aquela cicatriz foi feita em uma briga de presidiários enquanto eu cumpria pena de duas horas em uma penitenciaria por ter roubado um pirulito, de maçã verde. Minha perna também já estava melhor, doía apenas quando eu fazia algum movimento muito brusco.
Situação da perna do senhor Evan Bloom: Uma perna fina e extremamente branca, com alguns pelos vermelhos pra dizer que já era um macho viril e peludo, um pouco torta para a esquerda... A situação médica! Opa, tem horas que minha cabeça voa e voa longe. É o seguinte, pontearam a minha perna, um galho, tinham encontrada uma lasca de madeira no meu músculo destruído. Retomando essa belíssima história, um buraco estava começando a infeccionar e minha mãe ficou toda orgulhosa ao me falar que os médicos tinham observado a minha inteligência ao enfaixar a perna. Não diz tirar o sorriso do rosto dela dizendo que eu fiz aquilo em um momento de vaga colaboração mental. Ela também me disse que muitos alunos vieram até mim quando eu estava dormindo, hum... se soubesse que cair de uma cachoeira improvisada me deixaria tão popular eu já teria feito isso a muito tempo, claro que não disse isso para ela, não era doido a esse ponto. Os dois cortes mais profundos em meu rosto já estavam bem melhores, mas quando os olhei, na segunda foi difícil de acreditar que agora eu teria duas horríveis cicatrizes no meu rosto, chorei bastante nesse dia. Poderia ficar um pouquinho, mas só um pouquinho mesmo, por saber que meu rosto não tinha sido costurado, mas sim colado. Foi o mesmo procedimento feito em cesarianas, mas eu não estava tendo um bebe pela cara, quando passava a mão no rosto sentia o relevo na bochecha e bem em cima do meu supercílio esquerdo.
Meu corpo estava cheio de hematomas, estava com várias tonalidades, parecia uma pintura expressionista. Minha mãe montou acampamento permanente no quarto onde eu estava, toda a tarde meus irmãos vinham para me visitar. A escola era cerca de 18 quilômetros do hospital, mas era bastante perto, 40 minutos de carro. Meu pai também vinha me ver toda a noite quando saia do trabalho e ficavam comigo até tarde da noite, depois meu pai os levava para a escola (sim, depois de intermináveis horas de conversa com os nossos pais eles concordaram em nos manter lá) e depois ia para casa. Disse para a minha mãe que ela não precisava ficar comigo, eu estava bem, mas em resposta ela revirou os olhos, bufou, depois olhou para mim e falou:
— Será que o seu teste do pezinho estava certo?
Depois de ela ter claramente me chamado de doido varrido eu parei de disser isso. Também conversava com muitas outras pessoas da escola, algumas que estava internadas ali no hospital e outras que vinham da escola ver os feridos. Eu perguntei se alguém tinha morrido e suspirei aliviado quando ela respondeu que não. O pior caso tinha sido eu, alguns quebraram os ossos, outros apenas se machucaram, os que caíram naquela cachoeira macabra e os que estavam perto do ponto da explosão foram os mais atingidos. Mas eu fui o pior caso, segundo mamãe ninguém ficou tanto tempo desacordado como eu e nem ficaram com tantas cicatrizes como eu. Sou foda! Ninguém está mais marcado do que eu, parecia um monstro.
Júnior, Ana, Lion e James foram me visitar quando eu acordei. Achei um máximo! Fiquei com um pouco de inveja de Lion, ele tinha passado apenas quatro dias ali no hospital e seu gesso já estava cheio de assinaturas e desenhos. Será se eu pedisse para alguém colocar gesso em mim eles atenderiam o meu pedido? Provavelmente não, se eu pedisse isso era capaz de eu parar em um manicômio. Eles estavam impecáveis, enquanto eu estava vestindo aquela roupa de hospital, aquela roupa que é aberta na parte de trás. Para mim aquilo é uma forma de abuso sexual, não quero ninguém olhando a minha bunda. O olho de Lion já estava melhor, não era mais aquela bola roxa que eu tinha visto quando o encontrei gemendo na beira do rio, o olho dele estava com apenas uma sombra roxa ao redor. O primeiro a falar foi Júnior, se desculpou de todas as formas, só faltou se ajoelhar e se auto flagelar pelo meu perdão, mas eu fiquei calado. Mesmo eu não querendo raiva, frustração, inveja e outros sentimentos tomaram de conta do meu corpo. Comecei a chorar quando constatei que ele estava em perfeito estado sem nenhum aranhão enquanto eu estava toro remendado. Ele pensou que o meu chorro era de alegria ou algo do gênero pois ele tentou me beijar e em um ato reflexivo eu virei o rosto. O momento ficou suspenso no ar, aquele beijo só me confirmaria que eu não era mais desejável, aquele beijo era apenas um beijo por obrigação eu podia sentir. Foi por isso que eu terminei com ele naquele mesmo dia.
Ana me contou como ela conseguiu sair da piscina, minutos depois que Júnior saiu pela porta. Dois garotos tinham ajudado ela, e de novo a inveja me varreu. Parecia que todo mundo conseguiu alguém para ser seu salvador, mas não me lançaram me um cabo de vassoura. Acho que ela percebeu que aquela notícia não tinha me agradado pois rapidamente ela se lembrou que tinha mais alguém para visitar. Isso tudo foi na segunda semana hospitalizado, a minha primeira semana acordado depois do acidente. Lion pediu para James sair, mas ente ele me desejou melhoras, deu um beijo no namorado e saiu.
— Obrigado, Evan — Disse, andou lentamente até está ao meu lado, entrelaçou os seus dedos nos meus e começou a chorar – Obrigado mesmo, eu... eu nem sei como te agradecer.
— Não precisa agradecer – Respondi, um nó tinha se formado em minha garganta. O chorro de Lion transparecia tanta dor que estava incomodando fisicamente – Simplesmente não poderia deixá-lo ali, você morreria.
— Você poderia sim ter me deixado ali a minha própria sorte – Ia responder, mas ele continuou e eu me calei - É isso que muda tudo, além de me salvar, você me colocou em posição de sair e procurar ajuda.
— Eu... eu... eu não sei o que dizer – Senti novamente a lembrança do vento frio cortando minha pele e do gosto de sangue em minha boca – Tinha que fazer algo, eu tinha salvado uma garota de se afogar no rio e...
— Garota? Que garota?
— Uma que estava no rio – Ai contei para ele tudo que aconteceu, de como tinha quase morrido quando ela se apoiou em mim, de como tinha feito ela vomitar a água suja e de como eu tinha visto ela desmaiar – Mas quando eu acordei, ela não estava mais lá.
– Viu? Viu como eu sou agradecido por você ter me salvado? — Ele me olhava com os olhos brilhando, parecia uma criança olhando admirada para o seu super herói favorito, aquele olhar me incomodou – Ela provavelmente deve ter passado por mim e nem se incomodou em me ajudar.
— Provavelmente pensou que você estava pegando um bronzeado – Falei.
— Ou que estivesse morto – E rimos.
A partir desse dia ele vinha me visitar com bastante frequência, ele me mantinha atualizado com os assuntos de dentro da escola. Me contava todas as fofocas. Eu também assinei em seu gesso, quando não tinha ninguém no quarto comigo além dele, ele tirava os tênis e deitava na cama hospitalar comigo, ficávamos conversando sobre um monte de baboseiras. Nos eramos praticamente do mesmo tamanho, só mudava a cor do cabelo, se ele não fosse loiro eu podia jurar que ele era meu irmão. Tinha dito para ele que eu fiz uma cirurgia para retirada da pedra e era por isso que eu estava demorando tanto a sair do hospital.
E assim eram os meus dias e eu estava quase pirando. Louco de vontade para voltar para a escola (nunca pensei que diria isso), assistir intermináveis aulas, fazer um pouco de exercícios mentais e afins. Quando completou um mês ali eu já não aguentava mais, minha perna ainda incomodava e eu já estava participando de seções de fisioterapia, a medica que cuidava de mim quem receitou, ela disse que ajudaria os meus músculos atingidos pela madeira a recuperar o movimento e não ficassem tão rígidos. Tinha que dizer uma coisa, um fisioterapeuta era um gato, sério mesmo! A única parte boa daquele hospital era quando eu ia para a sua sala. Sabe o melhor de tudo? Eu ficava apenas de sunga! Ele ficava me apalpando, era bem legal e eu tinha que me controlar para não ficar excitado, não fiz nenhuma investida para cima dele, não teria coragem. As primeiras seções foram bastante doloridas, a pele em cicatrização da minha barriga esticou além da conta em um dos movimentos e doeu muito. Pensei que tivesse aberto, mas não tinha apenas esticado.
As vezes eu ia para a sala dele e ficávamos apenas conversando, ele era bem novinho. Um dia tive a coragem de perguntar quantos anos ele tinha e ele respondeu 25. Seus cabelos pretos eram brilhosos, longos e tinham um charme e tanto, seu rosto era quadrado, queixo e maxilar com traços marcantes, ele tinha um sorriso bem bonito e seus olhos se enrugavam nos cantos quando ele ria. Era bonito. Foi em uma desas nossas conversas que ele me beijou, respeitando meus limites, é claro. Mas eu queria me sentir desejado e quando ele me beijou eu mais do que depressa correspondi. Ta certo que eu não me sentia do mesmo jeito de quando eu beijava Júnior, mas estava tão bom e ele tinha mais experiência do que eu nessa questão de beijar, ele fazia maravilhas com a sua língua dentro da minha boca. Me colocou em seu colo, e lentamente foi explorando meu corpo com as mãos, delineava a minha cintura, depois fazia a curva pela depressão de minha bunda, voltava a subir até está com os dedos emaranhados em meu cabelo. Seu membro duro pressionava a parte interna das minhas coxas. Parou de me beijar e começou a chupar o meu pescoço, dava pequenas mordidas e também algumas lambidas. Ele sabia o que estava fazendo. Eu apenas gemia e arfava, meu desejo tinha sido extinguido quando eu vi a situação do meu rosto e do meu corpo. Mas o fisioterapeuta, Jhonny era o nome dele, estava me beijando com vontade e meu desejo reprimido veio a tona com bastante força.
Então uma coisa que antes era um pouco irritante e dolorida, passou a ser excitante, prazerosa e dolorida. Sempre que eu colocava um pé dentro daquela sala cheia de aparatos para ginástica ele tomava a minha boca com bastante força, a cada dia que passava, ele ficava mais solto e bruto. As vezes eu alertava para ele que aquela parte estava dolorida e não queria que ele me apertasse muito. O mais estranho nessa coisa toda era que a gente não trocava uma palavra sequer, a não ser quando ele mandava eu me exercitar de uma maneira ou quando eu reclamava que estava doendo, a não ser, na hora dos beijos nós não falávamos absolutamente nada. Nosso envolvimento acabou uma semana depois do primeiro beijo, não estava a fim de ter outro relacionamento agora, não mesmo. E ele, mesmo não falando claramente, queria ter alguma coisa mais seria comigo. Para evitar que o clima ficasse estranho entre a gente depois do nosso rompimento eu pedi para que me trocassem de fisioterapeuta, alegando que os horários das minhas seções não estavam mais me agradando. Então no começo da quarta semana eu estava fazendo fisioterapia com uma senhora de meia idade que sempre exibia um sorriso em seu rosto e que se chamava Florisbela.
Quando enfim recebi alta eu quase dou um mortal para trás, foi quase mesmo, mas ai eu me lembrei que eu não sabia dar mortais, minha perna ainda não estava cem por cento e se eu me machucasse novamente teria que ficar mais tempo ali. Então fiquei paradinho na cama até na hora que a enfermeira veio e tirou a agulha que estava em minha mão, a outra que estava em meu cotovelo esquerdo e olhou mais uma vez minhas cicatrizes em recuperação. Vesti um short de malha fina e uma camiseta branca. Eu tinha perdido três quilos em apenas um mês que eu passei ali no hospital, por isso estava com uma dieta prescrita pela medica dentro da bolsa da minha mãe. Ela tentou me convencer de ficar um mês em casa descansando. Mas eu fui firme, não queria descansar, já fiquei muito tempo inerte, agora queria voltar para o meu chalé e fazer as coisas com as minhas próprias mãos.
Todo o caminho, no carro, minha mãe foi falando de como eu estava sendo burro de querer estudar quando claramente eu tinha que repousar. Olhei para ela com as sobrancelhas arqueadas, quando eu não queria estudar ela só faltava me arrastar pelas orelhas até a escola, agora eu estava praticamente implorando para estudar. É o fim dos tempos! Ela ainda parou na frente do portão preto polido da entrada, tentado a todo custo me dissuadir dessa ideia, mas eu me mantive firme e disse para ela continuar. Não pararia meus estudos por um contratempo besta. Senti uma excitação esquisita no fundo do estômago, depois minhas mãos começaram a suar e alguns segundos depois que eu fui perceber que estava com medo, sim! Com medo! Mesmo eu querendo voltar a estudar ali eu me via olhando de um lado para o outro freneticamente a procura de algo suspeito. Acho que minha mãe não percebeu, pois se tivesse percebido era bem provável que ela desse meia volta e não me deixasse estudar ali nunca mais.
Eu queria ir direto para o meu chalé, mas não. Ela pegou em minha mão e me arrastou até a sala do diretor. Nos três conversamos por um bom tempo, e foi lá que eu acabei descobrindo que a conta do hospital foi totalmente paga pela escola. Só estranhei na parte que ele falou “... lamento tanto por ele ter se ferido desse jeito, tínhamos que verificar o quão fortes aquelas bordas estavam antes de deixá-los entrar da piscina...” o que? A borda não tinha caído naturalmente, ela foi explodida! Quando eu ia perguntar o porquê de ele está mentindo a respeito do ocorrido, ele se levantou da cadeira giratória elegantemente e agilmente para um senhor de idade e disse que nos acompanharia até o meu chalé. Fomos de carro, ainda não sabia se conseguiria andar essa distancia toda. Fomos o caminho todo em silencio. Minha mãe foi a primeira a descer, o diretor quem tinha vindo dirigindo, quando eu ia sair do carro, as travam ecoaram e a porta travou.
— Gostaria que você não comentasse nada do que realmente aconteceu, Evan – A voz dele estava dual, ao mesmo tempo que estava calma e concentrada, estava fria e ameaçadora – Conseguimos fazer os outros pais acreditarem que o problema foi na fundação da borda, então eu agradeceria muito se você permanecesse com a boca fechada.
Abriu a porta e saiu, fiquei dentro do carro estupefato. Por que ele não queria que ninguém soubesse o que realmente tinha acontecido? Sai do carro e andei lentamente até o meu chalé. Lá dentro minha mãe já estava fazendo uma faxina pesada e o diretor estava conversando sobre como aquele chalé era bem arejado, também falou, em tom de brincadeira, que se tivesse lobos ali certamente que o meu chalé iria ser o primeiro a ser atacado por eles. Minha mãe riu junto com ele, mas eu não, eu tinha claramente captado a mensagem implícita que ele disse. Ele estava me ameaçando.
— Estou cansado, vou me deitar – Anunciei e depois caminhei para o meu quarto. Não sei como e quando minha mãe tivera tempo de arrumar o meu quarto, mas ali estava, superarrumado e tinha passado até pano do chão de madeira. Eu estava cansado mesmo, apenas me joguei na cama e dormi.
Acordei com a minha mãe me chamando, ela estava me chamando para jantar. Levantei, ainda zonzo da cama e fui para o banheiro fazer xixi. Chegando na minha pequena cozinha eu vi que ela tinha convidado meus irmãos para jantar conosco. Não reclamei, mas também não achei legal. Comi bem pouco, não estava com muita fome mesmo. Ela tentou me fazer comer mais, mas eu não quis, só o cheiro estava embrulhando meu estômago. Nem ousaria em dizer isso para ela, não queria voltar para o hospital. Depois do jantar meus irmãos ainda ficaram um tempo conosco depois foram para os seus respectivos chalés. Eu praticamente tive que empurrar minha mãe porta afora, ela não queria ir embora, mas depois de vários concelhos e recomendações ela foi.
Respirei aliviado quando me vi sozinho ali e por incrível que pareça eu não estava nem um pouco amedrontado. Dei uma olhada no horário de aula para amanha, escovei os dentes, assisti um pouco de TV e depois eu fui me deitar. Estava ainda naquele estagio de pré sono, quando você não sabe se está dormindo e sonhando ou está acordado, ouvi um barulho, depois um movimento mais brusco e por último uma voz.
Abri os olhos rapidamente. Tinha alguém no meu chalé!
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Obrigado gente, obrigado mesmo. Respondendo: Misterioso não, reservado sim. E continue sendo fiel... ao conto.