Capítulo 3: Lembranças de uma fera.
Ainda me lembro como no começo foi ruim, as crianças não faziam o que eu pedia, os quatro pré adolescentes se achavam os donos do mundo e Heitor estava um grude comigo. A faculdade também não era um mar de rosas, eu não gostava do curso que estava cursando, disse para mim mesmo que faria o vestibular novamente esse ano e ver se eu conseguia mudar de curso. Psicologia definitivamente não era pra mim, eu mal conseguia lidar com os meus problemas, imagine ajudar os outros, no máximo que eu poderia disser era um “mande tudo se foder e dance o quadradinho de oito” bom, não faria isso de modo algum. Pela manhã eu ia para a faculdade e quando saia eu ia diretamente para casa da dona Maíra. Todas as sete crianças estudavam pela manhã, então eu chegava primeiro que eles, Heitor ficava com a diarista até que eu chegava. Quando eu pisava na sala ele começava a balbuciar algumas coisas, fazia bolhas de cuspe e estendia as mãozinhas na minha direção. Mesmo eu sabendo que aquelas mesmas mãozinhas iriam se enterrar em meus cabelos assim que eu o pegasse no colo, eu não liguei, Heitor era uma bolinha fofa com pernas, braços e cabelos platinados. Eu colocava o canguru em minha costa, assim ficava melhor, eu poderia fazer as minhas tarefas enquanto ele puxava meu cabelo a vontade. Maria, a diarista, me perguntou uma vez se eu não ficava com dor depois que ele me soltava, é claro que eu menti e disse que não, mas doía pra caramba quando ele me soltava, meu coro cabeludo pinicava e latejava de dor. Andava com remédio para dor dentro de minha bolsa. Quando os outros chegavam o almoço já estava pronto e tudo mais.
Selena tinha 16 anos e fazia o segundo ano do ensino médio, nesse dia ela resolveu trazer algumas amigas e amigos para almoçar ali. Dona Maíra era uma grande amiga da dona Leila e da dona Juliana, então seus filhos andavam de uma casa para outra como se fossem dono do lugar, alias, as três famílias eram vizinhas. Samuel, Ricardo e Bruno faziam o primeiro ano do ensino médio e pelo que as três mães me contaram, eles eram unha, carne e dedo. Mas era verdade, mesmo eles não tendo o mesmo sangue, a camaradagem de um para com o outro era imensa. Luís, fazia a terceira série do fundamental e Clara e Kelly a segunda. Todos na mesma escola, por que todos eram bastante amigos. Não teve como não ficar bravo com essas pestes, eles passavam pela porta e jogavam as mochilas no chão, se não bastasse a mochila que puxava o meu cabelo e babava minha nuca constantemente, eu ainda tinha que carregar mais onze – sete das crianças que eu tomava de conta e quatro dos convidados – minha raiva borbulhou. Eu estava cansado até os ossos e ainda eram uma e meia da tarde, eu não dormia nada bem no quarto que eu dividia na republica estudantil, toda noite eles fodiam alguma garota, porra, eu tinha acabado de chegar e eles nem se importavam. Passava a noite insone, escutando gemidos e gritos das garotas, aquelas meninas nem deveriam abrir a boca, estão mais abertas buraco na rua. Só conseguia dormir poucas horas, tinha que acordar cedo, ir para faculdade, depois crianças.
Pedi para Maria colocar mais quatro lugares na mesa que Selena tinha trago convidados, mas meu pedido se tornou obsoleto, já que Maria estava ocupadíssima com a comida, então coube a mim colocar e preparar os quatro lugares. Para uma casa tão grande bem que poderia ter mais gente trabalhando, a diarista folgava as segundas e as sextas, então quando ela não vinha eu me virava em dez. Pedi que eles fossem tomar banho antes de comer, mas eu sabia que apenas os mais velhos iriam sozinhos. Luís, Clara, Kelly e Heitor tomavam banho comigo, isso, eu dava banho neles. Acho que os pais deles não se preocuparam com isso, não chegaram a errada decisão que eu era um pervertido. Os mais velhos foram tomar banho de piscina, como eu achei que fariam, e os mais novos queriam ir também, menos Heitor, ele só queria saber de puxar o meu cabelo e morder a minha orelha. Levei-os até o banheiro principal da casa, alinhei-os ombro com ombro enquanto eu tirava Heitor da minha costa e o convencia a largar os meus fios. Quando ele soltou eu tirei a sua roupa de bebê, que consistia apenas de uma frauda descartável, uma fina camiseta de algodão e uma cueca com estampas de aviões. Coloquei-o no chão entre as minhas pernas cruzadas para que ele não caísse. E tirei as roupas das outras três crianças. Eles quatro ficaram pelados e como eu teria que tomar banho com eles, pedi para que Clara segurasse Heitor enquanto eu tirava as minhas roupas. Primeiro a camisa, depois os tênis e meias e por último, as calças. Eu estava com uma sunga por baixo, era bom prevenir do que remediar.
Os banhos com eles eram sempre uma bagunça, eu ligava o chuveiro, fechava o box de vidro e mandava os três mais velhos se sentarem no chão e ficava com Heitor nos braços, e depois de colocar xampu, sabonete, esfregões e outras coisas mais no chão eu me sentava também. Era uma verdadeira batalha ensaboar e lavar aqueles pirralhos, teve uma vez de Luís espremeu tão forte o vidro de xampu que acertou em cheio o meu olho, mesmo sendo aqueles próprios para bebê doeu pra caramba. Eu já fiquei com grandes hematomas roxos devido as inúmeras quedas que eu tomei enquanto tentava dar banhos neles. Mas eu me machucava para não machucá-los, a vez que eu mais me machuquei foi quando eles tinham molhado todo o chão. Os três maiozinhos já estavam do lado de fora do box, já estavam vestidos, eu ainda estava de sunga e pingando água, com um bebezinho, que se contorcia como um peixe fora d'água, nos meus braços. Do lado de fora eu apoiei Heitor sobre a pia do banheiro e coloquei uma frauda nova e uma roupa limpa. Ele de uma risadinha e eu ri também, aquele bebe era uma coisa linda. Peguei-o nos braços e para desembaraçar seus cabelos platinados eu procurei a escova de cabelos, não achei. Fui encontrá-la nas pequenas mãos de Clara, pedi para ela me dar a escova já que ela estava cutucando a barriga e não penteando o cabelo, ele nem se moveu, eu chamei, chamei e chamei e ela se fingia de surda. Chamei mais uma vez e depois foi tudo bastante rápido. Ela gritou alguma coisa e atirou a escova, eu virei o meu rosto e coloquei o rosto de Heitor pressionado ao meu peito, a escova ia se chocar na cabeça do bebê e eu virei a minha para proteger a dele.
O lado direito do meu rosto explodiu em dor, bem próximo ao meu olho era o centro da dor. Cambaleei para trás e para buscar apoio eu pisei mais a frente, mas o chão estava molhado, quando senti que ia cair pressionei mais Heitor no meu peito. Minha cabeça resvalou no chão do chão e depois disso o pedaço que eu sei foi dito pela Maria. Eu desmaiei assim que minha cabeça se chocou no chão, ela me disse que estava na sala, limpando alguma coisa, quando Luís, Clara e Kelly vieram correndo e chorando até ela dizendo que eu tinha morrido. Quando ela chegou lá Heitor estava deitado no meu peito, chorando a pleno pulmão. Só depois que ela foi saber que Clara tinha causado aquilo e não foi descuido meu. Foi Bruno quem tentou me acordar, eles ligaram para todos os seus pais. Quando eles chegaram eu estava sozinho no banheiro, minha cabeça latejava furiosamente, chorando baixinho, não sabia por que estava chorando. Quando todos eles se sentaram no chão molhado do banheiro com suas roupas de trabalho e tudo, eu ainda fiquei olhando para baixo.
— Se quiser ir embora, não vamos nos impor – A voz suave do Jorge chegou até mim, continuei olhando para o chão – Olhe para mim, Michel, por favor. Deixe-me ver o seu rosto.
— Não foi nada de mais, seu Jorge – Respondi, me amaldiçoei mil vezes por ter demonstrado fraqueza, droga! Eu só estava cuidando deles a três semanas e estava a beira de ter um colapso mental – Foi só uma brincadeira dela, acho que eu que provoquei, não, pera ai... foi eu quem começou, isso! Eu quem começou, ela estava se penteando e eu comecei a provocá-la... mereci isso, sério seu Jorge, ela é só uma criança... uma criança.
— Ok – Cláudio foi quem falou – São só crianças, apenas crianças. Mas essas crianças já colocaram para correr dezenas de babás, cada família contratou várias babás, mas ninguém permaneceu. Você foi o único a aguentar três semanas e com as oito! Já viu que loucura? Você é o máximo, mas se quiser ir, pode ir. Mas eu falo por todo nós, não vá, por favor, não vá.
— Mas, eu não vou – Respondi, tirei os cabelos molhados grudados de minha testa. Olhei para eles, que sorriram na minha direção, e me levantei. Notei que todos eles me olharam quando eu me levantei. Eu estava apenas de sunga e enrubesci quando notei que eles me encaravam – Não vou, só quero algum analgésico e colocar uma roupa quente e limpa.
— Você tem certeza que tem 18 anos? — Dona Maíra perguntou.
Mas depois disso aqueles pestinhas tinham me feito passar por poucas e boas. Já fiz uma maratona dentro de um supermercado correndo atrás de todas as sete crianças. Eu nem queria levá-los até o supermercado, mas a Maria não estava em casa, então eu me vi obrigado a levar todos eles comigo. Mas me arrependi bastante desse meu ato, assim que eu coloquei o primeiro pé dentro do estabelecimento todos os que podiam andar com suas próprias pernas saíram em disparada em todas as direções, estava com Heitor na minha costa e com isso, tendo os cabelos puxados por aquelas fortes mãozinhas. Peguei um carrinho e sai atrás daquelas pestes, até Selena sumiu também! E olha que eu era apenas um ano mais velho que ela. Suspirei, já com a raiva começando a ficar incontrolável, eles queriam me enlouquecer! Com Heitor puxando os meus cabelos como se fossem rédeas eu comecei a minha caçada. Minha prioridade seria pegar os mais velhos, eles eram mais rápidos, mais espertos e se eu pegasse todos eles, os maios novos viriam com os rabos entre as penas até mim. Vi Bruno no corredor de produtos para beleza, uma coisa baixa e magra era ele, foi com grande facilidade que eu o peguei pela cintura e joguei-o dentro do carrinho, muitas pessoas olhavam para mim com olhos reprovadores, mas minha raiva estava demasiada grande para que eu me importasse com isso. Depois eu vi Selena, conversando com um garoto charmosinho, um sorriso maldoso se formou em meu rosto. Calmamente andei até eles e vi como ela era toda sorrisos e mexidas de cabelos. Peguei-a como peguei seu irmão, ficou mais pesado levar o carrinho, mas a raiva me movia. Eles dois tentavam sair, discutiam comigo e ficavam constrangidos quando alguém olhava em nossa direção. Samuel estava olhando a enormidade de sorvetes em um momento e no outro estava dentro do carrinho com os outros. Já estava suado devido ao esforço de levar aquele carrinho atulhado de pré adolescentes. Antes de achar Ricardo eu vi sua irmã mais nova, Kelly, tentando pegar uma bonequinha de pano que vinha de brinde caso comprasse um jogo de xícara de chá. Ela foi a próxima a entrar no carrinho, Luís e Clara estavam juntos quando os encontrei, os outros reclamaram quando eu coloquei mais dois dentro do carrinho.
Bufava como um cavalo que tem que aguentar um gordo no lombo, os puxões de cabelos estavam me matando, meu corpo estava dolorido ao extremo, mas a raiva ainda me consumia, me incentivando a ir em frente e encontrar o último. Ele estava sentado em uma das mesas do pequeno restaurante que tinha ali no restaurante, com um extremamente entediado, parei na frente dele e, com um gesto de cabeça, eu o mandei me seguir, não aguentaria mais ninguém dentro do carrinho. Parei no corredor de cereais que estava completamente vazio, mandei todos os que estavam dentro do carro saírem. Quando eu ordenei numa voz rouca devido ao enorme esforço que eu fiz e a raiva que ameaçava me partir em dois, eles me obedeceram, acho que eles viram que eu não estava de brincadeira, minhas narinas inflamadas e meus punhos, com os nós dos dedos brancos como ossos, apenas reforçaram que agora eu queria respeito. Mandei cada um dos pré adolescentes para um lado do supermercado, os menores ficaram comigo. Dividi a lista – que era enorme, afinal, eu estava fazendo compras para as três famílias – entre Selena, Samuel, Ricardo e Bruno. Foi preciso três carrinhos extremamente lotados para acomodar todas as compras. A dona Maíra tinha disponibilizado seu carro de sete lugares, eu sabia dirigir, só não tinha carteira ainda. Com os braços tremendo de fraqueza e suor pingando da minha testa que eu coloquei aquela imensidão de sacolas no porta-malas, eles não me ajudaram em nada! Eu estava com uma puta vontade de chorar, nem na minha casa eles me tratavam assim, não iria ser um bando de crianças mimadas que me fariam chorar. Quando eu já ia abrir a porta e ordenar que alguém me ajudasse com as sacolas, um adorável senhor de cabelos grisalhos e gentis olhos azuis, vestindo um impecável terno preto, me ajudou. Ele claramente queria se enterrar dentro de mim, conseguia ver através de seus gestos e seus olhares, mas eu não queria. Depois que a raiva se foi o cansaço avançou para cima de mim de maneira cruel. Quando terminado, agradeci-o, ele me deu o número de seu telefone e, como eu não queria ser grosseiro, dei o número do meu – dona Maíra queria uma maneira de falar comigo, e quando eu disse que não tinha um celular, no outro dia ela me deu um – quem sabe em outro dia eu poderia ir para cama com ele.
Eles também não me ajudaram a colocar as sacolas para dentro, abriram a porta do carro assim que eu estacionei em frente a casa. Como eu estava dirigindo Heitor tinha ido a viagem toda no colo de Selena. E foi isso que foi a minha ruína, minhas pernas tremiam devido ao esforço de me manter em pé, meus braços pareciam gelatina e minha cabeça pulsava. Maria não estava em casa para me ajudar, entrei na casa, deixando a porta aberta na minha entrada, estava na expectativa de encontrar algum deles ali na sala e implorar por ajudar, mas o único que estava ali era Heitor, ele sorriu quando me viu e eu retribuir, minhas lágrimas já escorriam, Heitor começou a chorar assim que eu peguei-o nos braços, ele estava com fome, como eu era um cara precavido eu já tinha feito uma mamadeira de mingau, guardada dentro de um recipiente térmico. Foi só a mamadeira chegar ao fim para Heitor dar um bocejo, um último puxão no meu cabelo e dormir. Tirei todas as suas roupas, troquei a frauda e coloquei-o no berço, depois eu dava um banho nele. Lagrimas e soluços eram a minha companhia quando eu colocava, de duas a duas, as sacolas de compras dentro das casas. Eu tinha as chaves das três casas, mas os meninos estavam na casa da dona Maíra, comecei a guardar as coisas na casa da dona Juliana e do seu Cláudio, depois na casa de Leila e Mauro e quando eu já estava um poço de cansaço, cabelos uma ruína preta e roupas grudadas em meu corpo devido ao suor, todos os seis adultos chegaram. Estava meio apoiado no porta-malas, metade do meu corpo fora e a outra metade, dentro. Soluçando, como nunca solucei em minha vida. Nunca vi um Jorge mais furioso como vi naquele dia.
— Vocês estão loucos?! — Ele gritou para todas as crianças, alinhas em uma linha decrescente – Respondam! — Sete cabeças negaram – Não estão? Não estão?! Mas pretendem deixar o Michel! Não os educamos dessa maneira! As atitudes de vocês de um tempo para cá estão indo de mal a pior!
— Senhor Jorge – Interrompi-o quando ele ia gritar novamente com as crianças – Na verdade foi eu quem os mandou subir, pensei que poderia carregar aquilo tudo sozinho, mas... — Dei uma risada, para reforçar o ar descontraído, mas minha risada saiu tão cansada quanto eu - … estava mais cansado do que imaginava e …
— Cale-se! Cale-se Michel! — A voz potente do senhor Mario era mais potente, rouca na medida certa, sua raiva se igualava com a de Jorge – Essas crianças estão passando do limite e, não! Não, cale-se! — Ele apontou o dedo em minha direção quando tentei falar – Nenhuma babá já virou recorrente com esses garotos, mas eles estão fazendo você de gato e sapato.
— Olhem para mim! — Agora foi a vez das mulheres, a voz da dona Leila era doce até quando ela estava com raiva. Todas as sete crianças levantaram a cabeça na direção de sua voz – Se eu olhar, ouvir, ou, sentir que vocês não se comportaram, vocês estão ferrados garotinhos, escutaram?! Tratem Michel com respeito, eu to inclinada a acreditar que ele não queria mais está aqui, então? Vão se comportar?
Sete cabeças anuíram, e realmente eles melhoraram comigo, foi lenta e gradativamente a mudança, mas eles me obedeciam em tudo que eu pedia, e quando eu não pedia, me ajudavam com as tarefas das três casas quando as diaristas não iam. Um detalhe que eu achei curioso, as três famílias tinham uma amizade bem forte e enraizada. Eles contratavam os mesmos empregados, eu era babá das três famílias, Maria, diarista das três casas, assim era com o jardineiro, com o homem que cuidava das piscinas e o resto do pessoal. A medida que eles iam crescendo eles iam ficando mais bonitos, hoje eu estou com 22 anos – quase 23 -, fiquei reprovado duas vezes no meu curso, ainda estou cursando psicologia – não sei porque – tinha crescido um pouco mais, me desenvolvido um pouco mais também, tinha um maior orgulho de minhas longas, morenas e torneadas pernas. Selena – hoje com 21 anos — já era uma beldade quando eu cheguei aqui nessa cidade, agora ela estava simplesmente estonteante, uma morena de curvas sinuosas e cabelos cacheados que iam até um pouco acima de seus seios firmes e pontudos. Eu já estava morando naquela cidade a quase cinco anos – quatro anos, dez meses, duas semanas, dez dias, 17 horas, 206 minutos e 3456 segundos – quando eu cheguei aqui Luís tinha sete anos, hoje ele já tem quase doze, um garoto pequeno, robusto, com um pensamente mais rápido do que a maioria de nós, um prodígio, podia-se dizer sobre ele. Clara e Kelly tinham cinco anos quando as conheci, hoje são pequenas mocinhas que se espelham em tudo que Selena faz, as duas ainda nem tem peitos promitentes, mas são mocinhas de quase dez anos adoráveis. Heitor, ah! O meu pequeno Heitor, foi ele quem começou a me chamar de Chel novamente, como minha família fazia, depois o meu antigo apelido pegou e todos me chamavam de Chel. Ele era uma gracinha de cinco anos de idade, todo cheio de energia, disposição e cabelos loiros revoltos. Ele me chamava de “irmãozão” quando estávamos apenas nós dois juntos.
Samuel, Ricardo e Bruno que eram apenas ossos, pele e altura quando eu cheguei, hoje estão cheios de músculos definidos, mais altos que eu e extremamente gatos. Serio! Eu tinha 1,82 e era alto pacas, mas eles já passavam dos dois metros, acho que eu coloquei suplemento alimentar demais nas refeições desses garotos enquanto eles cresciam. Vi eles se desenvolverem a cada dia que passava, ficando mais altos e fortes dia após dia, até se tornarem os magníficos caras de 19 anos que são hoje. Eu trabalhei como babá naquelas três casas por apenas três anos, mas eu cativei tanto aquela gente, que agora eu era parte da família. Nunca vou me esquecer de quando recebi meu primeiro pagamento, quase caiu duro de tanta surpresa, eu tinha recebido o triplo do que eu esperava.
— Combinamos um valor, Michel – Começou dona Maíra – Mas como você aceitou trabalhar para as três famílias, resolvemos que você deveria receber pelas três famílias, e como não podemos assinar sua carteira de trabalho – Que eu já tinha aos 17 anos – decidimos que eu seria sua empregadora e assinante na carteira, mas todos nós pagaríamos o seu salário.
Só morei no dormitório estudantil por apenas um mês, foi até que eu recebesse o meu primeiro pagamento. Aluguei uma casa perto das três casas onde eu trabalhava, a casa que aluguei tinha dois quartos, sendo um tendo um banheiro acoplado, sala, cozinha, banheiro. Fui para lá mesmo não tendo nenhum móvel, mas é que eu não aguentava mais aquele quarto que eu dividia, eles transavam toda noite, toda hora, uma vez, eu juro, eu vi um deles fodendo o meu travesseiro, só por que tinha se formada um circulo enquanto eu dormia ali. Quando eu fui ver já estava só esperma ali. Foi uma sensação indescritível quando eu entrei no meu novo lugar, uma casa apenas minha, meus olhos ficaram úmidos e lágrimas ameaçavam a escapar por eles, mas eu me controlei, já tinha esgotado a minha cota de choro naquela cidade. Com o tempo eu fui mobiliando, deixando-a mais e mais confortável e do meu jeito, como eu sempre quis uma casa. Como eu não fazia muitas dispersas, eu conseguia economizar mais da metade do meu salário. Então com o tempo, eu já tinha uma quantia bastante boa de dinheiro, já tinha 19 anos e foi quando eu comprei a casa. Tinha feito algumas amizades no meu curso e foi através deles que eu descobri as noites da nova cidade que eu me encontrava, aos sábados e domingos eu ficava livre a noite, então era nesses dias que eu ia até as boates, abstinência sexual eu não estava sofrendo, transava com quantos homens que eu quisesse, mas tinha uma regra, não transava com ninguém em minha própria casa.
Muitas das minhas transas queriam algo mais que uma simples noite de sexo intenso, mas eu não, acho que, para mim, o sexo só servia para um propósito: o combate para minha raiva desenfreada. As pessoas que eu amava tinham ficado em outro estado, e as outras, eram a minha segunda família. A raiva me subjugava de maneira quase sobre humanas, muitos dos meus colegas de curso na faculdade já tentaram me convencer a participar de uma seção de psicologia, eles alegavam que se eu deixasse outra pessoa saber mais sobre a minha incontrolável raiva, eu podia melhorar, depois da terceira tentativa, eles pararam. Não por livre e espontânea vontade, mas porque eu – e meus punhos – os convenceram a fazer nada. Quando os três garotos que eu ajudei a criar atingiram a maturidade sexual deles, a maneira como eles me olhavam. Eu não ficava mais só de cueca ou sunga na frente deles, nem das outras pessoas. As únicas pessoas que me viam de cuecas eram os caras que iam para cama comigo, mas o que eles queriam estavam sob a cueca. Eu contei para os quatro mais velhos que eu era gay quando eu achei que eles já eram bastante maduros. Mas eles nem mudaram o pensamente a respeito de mim.
Foi ai que as coisas começaram a ficar estranha. Samuel, Ricardo e Bruno viviam em minha casa, gostavam de me abraçar mais forte do que é necessário, beijavam-me de maneira molhada e demorada, teve uma vez que Bruno tentou me beijar na boca, eu me contorci em seus braços de maneira nervosa, ele beijou no canto da minha boca. Teve outra vez que Ricardo pegou o meu telefone e atendeu-o enquanto eu estava no banho.
— Quem quer falar com ele? — Até as vozes deles estavam diferentes, mais másculas, mais responsável – Não vai falar meu irmão?
Quando escutei isso, quase engasgo de tanto espanto, nem tomei banho direito. Sequei-me rapidinho e coloquei uma cueca que tinha ali no banheiro e sai apresado dali. Eu os encontrei na sala, corri mais rápido, mas só para ser impedido por barreras de músculos. Esmurei Samuel e Bruno querendo passar e pegar o meu celular.
— Ricardo! — Esmurei mais um pouco aqueles dois – Me dê meu celular, Ricardo! Isso é falta de educação, me devolva!
— O Michel tem namorado ouviu? — Fiquei boquiaberto quando ele falou isso. Nem eu conhecia meu namorado! — Sim, sou eu. Então para de ligar para ele, entendeu? Para de ligar, babaca!
Expulsei-os de minha casa assim que peguei o celular. Aquilo definitivamente não estava acontecendo.
