[Sugiro a leitura ouvindo a música Magic - Coldplay]
Uma das coisas que eu aprendi aprendi no Ensino Médio, em física, foi a Lei de Coulomb. Essa lei tinha um princípio que dizia algo como "Cargas opostas se atraem, e cargas semelhantes se repelem". Eu não acreditava nisso, até que um dia eu comecei a me perguntar se essa teoria aplicava-se somente em cargas elétricas ou se com as pessoas eram assim também. Será que os casais que se amam são o oposto ou a semelhança um do outro? Se fossem o oposto, Coulomb estaria certo. Mas se não fosse, ele estaria errado. Eu preferia acreditar que ele estivesse certo. Por quê? Porque imagina a monotonia que deveria ser namorar uma pessoa que pensasse exatamente como você. Seria como namorar consigo mesmo, e eu não acho que deve ser uma coisa agradável namorar comigo mesmo.
Toda essa história de "pessoas opostas" começaram a afetar a minha vida amorosa e então meus pais começaram a se preocupar com isso, já que meu irmão quando tinha a minha idade já levava as namoradas pra nossa casa. Uma vez eu e meus pais tivemos toda uma conversa constrangedora sobre eu ser homossexual e eu tive que afirmar que eu não era. Eu nunca tinha sentido atração por nenhum tipo de pessoa, nem por homens e nem por mulheres, então eu preferia acreditar que eu era hétero.
No terceiro ano do Ensino Médio, eu ainda não tinha me relacionado com nenhuma pessoa e isso havia começado a preocupar o meu melhor amigo, Maurício. Maurício era o oposto de mim, e acho que por isso nós tínhamos uma amizade tão bela e duradoura. Ele era popular, bonito e pegador. Já eu era o contrário. Certo diz ele acabou me convencendo de ir em um pub depois do colégio e acabei indo e lá acabei conhecendo uma linda menina chamada Lorena, que era o oposto de mim. Ela era baixa e eu auto. Eu era loiro e ela morena. Eu tinha cabelo cacheado e ela liso. Mas não éramos o oposto só fisicamente, mas tínhamos opiniões contrárias também. Discutir futebol ou política com ela era briga certa, e com isso nosso tesão aflorava e acabávamos na cama. Nosso namoro era resumido nisso: nos encontrávamos, conversávamos, brigávamos e acabávamos fazendo sexo. Sempre.
Meus pais estavam muito felizes comigo, já que agora eu namorava e finalmente iria começar a faculdade de Engenharia Civil em uma faculdade particular. E assim foi feito. Entrei na faculdade e de cara fiz alguns amigos, sempre mantendo o padrão: sempre com pensamentos opostos. O meu namoro com a Lorena ia de vento em poupa, o meu relacionamento com meus pais também e a faculdade nem se fala. Sempre fui muito bom em física, então o primeiro semestre foi moleza pra mim... mas para outros nem tanto.
Um dia antes de começar as provas finais, fui até a faculdade deixar uma lista de exercícios com um professor de física que eu havia feito, e ele iria corrigir. Quando entrei na sala, eis que tem um dos caras mais estranhos da classe fazendo a prova final sozinho. Enquanto ele fazia a prova, me sentei junto ao professor e ele começou a corrigir as questões. O tempo passava voando e quando nos demos conta um tempo de chuva havia se colocado nos céus ao redor da cidade. Seria um temporal.
- Heitor, seu horário acabou - disse o professor, referindo-se ao estranho.
Quando o professor pegou a prova dele, estava completamente em branco. Eu fiquei pensando: como alguém consegue zerar uma prova fácil dessas? O tal Heitor levou um esporro enorme e depois saiu da sala, junto comigo. Fui andando em direção ao meu carro e assim que entro dentro dele, uma chuva enorme começa a cair. Não era uma chuva normal, era uma chuva grossa que começara a cair repentinamente. Estranhei aquilo mas continuei a ligar o carro, e em seguida a rádio. Sai do estacionamento da faculdade e já estou na pista quando vejo uma pessoa andando a pé no meio da chuva. Era o tal do Heitor. Aproximei o carro e abaixei o vidro.
- Entra aí - falei.
Ele sem rodeios entrou dentro do carro e ele estava com muito frio. Dei meu casaco pra ele e desliguei o ar condicionado do carro, já que ele podia acabar com um resfriado.
- Então, tu vai pra aonde? - perguntei.
- Vou pro Vila Cachoeirinha - ele respondeu.
- Puts, eu vou pro Vila Nova. É meio longe - falei.
- É, eu vou descer... - disse ele.
- Não cara, cê tá louco, numa chuva dessas você pode até morrer. Eu vou passar no shopping e comer alguma coisa, tá afim de ir? Quem sabe a chuva passa.
- Beleza, então vamos.
Fomos o caminho todo calados e quando chegamos ao shopping também. Nos sentamos em uma das mesas do quiosque do McDonald's e pedimos dois sanduíches. Aí o assunto começou a fluir.
- Cara, tu gosta de Salada? - ele perguntou.
- Não, gosto só de alface. Tomate é estranho. - respondi.
- Nossa, eu já sou o contrário... odeio alface! Parece que eu tô comendo papel. - nós dois rimos.
Aquilo era um bom sinal. Nós éramos o oposto um do outro em pelo menos uma coisa, o que poderia nos render uma amizade. Ou mais do que uma amizade...
Espero que vocês gostem do primeiro capítulo. Comentem, votem, deem sugestões, façam perguntas, palpites e etc. Um grande abraço.