Após sairmos do shopping, a chuva já havia maneirado e agora só caia uma fina garoa nas ruas. Deixei ele num ponto de ônibus próximo e antes de sair do carro ele agradeceu e pediu meu número.
- Cara, eu fico meio com vergonha de pedir isso já que a gente estudou um semestre inteiro juntos, mas será que tem como tu me dar umas aulas de cálculo diferencial e integrado? Vi que tu manja muito e eu sou um zero a esquerda nessa matéria...
- Ah pô, anota meu número! Quando tu quiser é só ligar e a gente marca, na tua casa ou na minha?
- Na tua - ele pareceu um pouco nervoso.
- Bele então, boa sorte ae na espera do ônibus - falei, indo em direção a minha casa.
No caminho, a Lorena me liga perguntando por que eu havia demorado tanto, que ela tava me esperando em casa ha séculos e blá blá blá. Discutimos pelo telefone, quando chegamos em casa e como sempre acabamos na cama.
O recesso da faculdade passou voando e, pelo menos o meu, foi resumido em namorar, dar aula pro Heitor, comer e dormir. Não saí uma vez se quer com meus amigos da faculdade. O Heitor parecia progredir com meus ensinos e nós tínhamos uma afinidade grande. Meus pais e minha namorada gostavam dele, o que é um milagre, porque Lorena não gosta de quase ninguém.
Na última semana das férias, em uma sexta feira, eu estava corrigindo uns cálculos com Heitor quando meu telefone toca e era a Alessandra, uma das minhas melhores amigas.
- Fábio, meu rei... você tá mesmo vivo? - ela ria com mais alguém na linha.
- Tô morto mas passo bem - nós dois rimos. - Tá com quem aí?
- Com a Lara e o Vini - ambos erma dois amigos nossos que faziam faculdade conosco.
- A turma da facul tá toda na tua casa mesmo, é? - perguntei.
- Não, mas a gente vai já pra um barzinho no centro, vamos ou bora? - Vinícius agora era quem falava.
- Cara, é que eu tô com o Heitor aqui, não vai dar...
- Deixa de onda, te espero lá! - ele desligou o telefone antes que eu pudesse falar alguma coisa. Droga, eu não tinha feito nada de interessante nas férias todas, não ia dar bolo neles. Decidi ir.
Fiquei mais algum tempo ajudando o Heitor até que ele disse que ia embora porque já estava tarde. Era por volta das 20 da noite.
- Ei pô, uns amigos meus lá da sala vão pra um barzinho, bora com a gente? - falei.
- Ah, não vai dar, o ônibus não passa depois das 23 pro meu bairro. - ele disse saindo pela porta.
- Tu dorme aqui pô - falei.
- Mas eu não tenho roupa.
- Eu te empresto - arrastei ele de volta pra dentro de casa. Ele tentou argumentar mas não conseguiu, então eu consegui convencê-lo. Como estávamos só em casa, eu e ele resolvemos começar uma "pré festa". Abrimos uma garrafa de Martini Bianco, Fanta Uva e Redbull e começamos a beber, claro que não muito. Ficamos conversando sobre coisas aleatórias, até que chegamos no assunto família.
- Fábio, seus pais não param em casa, né? - ele perguntou.
- É, meu pai é político e minha mãe é dentista, quase não param em casa mesmo.
- Saquei... - ele deu um gole na bebida.
- E a sua família? Você nunca falou deles. - falei. Sabe quando você se arrepende amargamente de ter perguntado algo pra alguém só pela expressão que essa pessoa faz ao receber a pergunta? Então, eu havia me arrependido.
- Eu não tenho família - ele disse, dando novamente outro gole na bebida.
- Ah cara, foi mal, eu não sabia - fiquei constrangido.
- Não, tudo bem, tu já é parça, eu vou te contar... - ele deu um gole final na bebida, que parecia rasgar na sua garganta. - Então, minha mãe me criou sozinho até quando eu tinha uns 10 anos, depois disso ela conseguiu um emprego em um restaurante e quando a gente conseguiu melhorar um pouco de vida, uma mulher a atropelou enquanto ela voltava de noite do trabalho. O dono do restaurante se sensibilizou com a minha história e me colocou pra estudar e trabalhar lá, e agora ele quem paga a minha faculdade. - ele estava lagrimando.
Eu me levantei da cadeira e fiz algo que não foi pensado, calculado nem nada do tipo: eu o abracei. Ele nada fez e então eu fui pro banheiro tomar banho, pra disfarçar a vergonha.
Eu estava completamente excitado, era a primeira vez que eu abraçava um homem de verdade. Naquele abraço eu pude sentir o cheiro do seu cabelo, o seu halito refrescante, seu braço musculoso e sua barba bem aparada pinicando meu rosto. Claro que bati uma punheta pensando naquilo. Meu tesão era tanto que soltei um urro alto, que acho que ele deve ter ouvido, mas não me importei. Quando saí do banho, me senti mal... o que diabos era aquilo, Coulomb? Eu estava sendo atraído por alguém semelhante a mim? Digo, do mesmo sexo? Aquilo não poderia estar acontecendo...
Bom gente, mais um capítulo postado! Foi gratificante ver o conto com vários votos em comentários logo no primeiro capítulo, isso só me faz querer escrever cada dia mais! Comecei isso aqui como leitor em 2012 e agora sou um escritor, e isso é fantástico. Irei responder alguns comentários.
Huguinho14, acho que o Fábio está meio que "fissurado" nessa teoria. Também acho que tem que ter pelo menos alguma coisinha igual ;)
Irish, Sim, é fictício. Minha vida nunca aconteceu nada de interessante que valesse a pena relatar aqui, haha.
Aos outros, um muito obrigado e um grande abraço!