Colecionador de Decepções 03

Um conto erótico de D. Henrique
Categoria: Homossexual
Contém 2507 palavras
Data: 30/06/2014 22:39:14

...

As voltas do mundo nem sempre são à toa, algumas fazem sentido apenas quando estamos mais a frente e podemos contemplar a vida e os momentos de longe. Eu queria poder saber o futuro, mas a graça mesmo está em viver o presente. Destino só é o fim, mas como chegar lá é você quem sabe, quem traça.

Estava mais uma vez com o Guilherme dentro da minha casa, senti uma emoção enorme, era como se estivéssemos voltados no tempo, só que dessa vez já estávamos adultos e eu não era mais o seu melhor amigo. Ele se sentou no sofá e tirou o celular do bolso, ele ficava constantemente com aquele celular. Eu levei a água para ele que bebeu e se levantou.

- Não quer mais? Nenhuma outra coisa? Nada? – perguntei na esperança que ele dissesse sim e pudéssemos conversar melhor.

- O Thiago precisa de mim, então tch... – eu o interrompi.

- Thiago é aquele rapaz da lanchonete? Seu namorado? – eu sei que não deveria, mas eu estava tentando fazer amizade mesmo que ele não quisesse.

- Sim para as duas perguntas – ele estava me olhando esquisito, como se estivesse desconfiado.

- Ele é... Meio novinho, não é? – ele fez cara de tédio.

- Tchau Henrique... Até no trabalho.

Eu estava abrindo a porta e ele estava atrás de mim, mas não perto o suficiente, eu abri a porta e dei um pouco de passagem, ele teve que encostar seu ombro no meu peito, antes de ele sair completamente eu coloquei minha mão no ombro dele que se virou para mim.

- Obrigado Gui... – ele pegou na minha mão em seu ombro e se foi.

Eu sentia uma necessidade enorme de voltar a ter a amizade dele, eu sentia que ainda podíamos ser amigos. Eu o desejava, mas eu não sabia de que forma. Eu até tentei me lembrar da nossa infância, mas eu não conseguia. As cenas que eu lembrava me machucavam, eu não queria ter sido assim, eu não entendia o que me motivou a ser assim.

Com o decorrer das semanas nós acabávamos nos falando um pouco mais com naturalidade, algumas vezes chegamos a ri juntos. Na nossa sala tinha o Diego sempre fazendo palhaçadas e falando besteiras, ele sempre fazia piadas da área da informática, no nível de “qual o gato que armazena dados? = o dis-cat”; vocês podem observar como o Diego é engraçado hein?

Já fazia cinco meses que eu estava trabalhando na empresa, o Guilherme não me olhava mais feio, nem respondia minhas perguntas com secura. Ele havia se tornado um colega de trabalho. Teve um dia em que eu não pude ir de carro porque o meu quebrou novamente, eu teria que trocar porque já estava gastando muito em manutenção e era uma dor de cabeça a mais para mim. No fim do expediente eu fui para a parada de ônibus que ficava quase em frente à empresa, o Guilherme saiu com o carro da garagem da empresa e passou em frente o ponto de ônibus, ele parou e baixou o vidro, com um sorriso que só ele tem me ofereceu carona, eu sem vergonha alguma aceitei, porque locomover-se através de coletivo é horrível. No carro comentávamos sobre alguns amigos de trabalho que estavam fazendo merda, fofocas mesmo, somos humanos. Quando nós paramos em frente de casa eu perguntei se ele queria entrar, ele aceitou e nós entramos.

Dei um copo de água para ele e ele aceitou, nós ficamos sentados no sofá de casa, eu estava nervoso e coçava a lateral direita da barba contínuamente. Eu gostava dele, ele era a parte feliz da minha vida. Para ser sincero, ele é a parte mais feliz da minha vida junto com minha avó. Estava em silêncio enquanto ele bebia a sua água, e de repente ele começou a sorrir.

- O que foi? O que você está pensando? – perguntei sorrindo junto.

- Eu me lembro do dia que tu caiu dessa escada hahaha tu saiu correndo com o batman na mão dizendo que ele sabia voar sim... Acabou que ele não voou contigo hahahaha.

- Aah qual é? Hahaha o Batman sempre foi meu favorito e eu apostava todas as minhas fichas nele... E naquele dia que estávamos jogando bombas juninas na frente da casa do velho Eustácio e ele ficava ameaçando jogar água. Só você ficou sentado e levou um banho hahaha.

(Chamávamos ele de Eustácio por causa do desenho: coragem o cão covarde)

- Hahahaha Tu não me avisou... Eu fiquei puto com aquele velho, mas começamos a rir que eu até esqueci que estava encharcado... Lembra aquele dia que estávamos andando de bicicleta e o seu volante deu um troço lá e bateu no seu queixo? Hahaha eu fiquei desesperado, tu sangrou muito... Ainda tem a marca dos pontos? – perguntou.

- Hahahaha foi uma dor foda de aturar. Tenho, bem aqui – mostrei a ele, eu ainda tinha a cicatriz ele bem a baixo do meu queixo, e nessa parte a minha barba não crescia certo. Ele ficou muito próximo de mim e logo se afastou com rapidez. Eu me continuei no assunto nostálgico – Eu me lembro do dia que fomos para a pracinha e você caiu na bosta de cachorro, eu disse que fazia bem para a pele e você não foi lavar hahaha – ele riu, mas logo ficou pensativo.

- Tu... Lembra o que aconteceu naquele dia? – ele perguntou e eu tentava me lembrar.

- Lembro que viemos aqui lavar a sua perna... Mais que isso nada...

- Ah tá... Eu vou indo então – disse se levantando e eu levantei junto.

- O que aconteceu aquele dia?

- Nada... Nada importante... – disse olhando para os lados e comprimindo os lábios.

- Eu quero saber... Se você puder me contar.

- Tá okay... É... Foi o dia que eu... Eu te falei que gostava de um menino... E tu me perguntou quem era.

Eu me lembrei, depois de ele lavar sua perna no banheiro nós fomos para o meu quarto, eu coloquei um band-aid aonde tinha ferido um pouco e começamos a conversar sobre isso. Ele falou que gostava de um menino, depois disse que pensava que era gay e foi quando eu perguntei quem era o menino... O menino era eu!

FUDEU!

Acho que ele percebeu meu rosto, eu estava assustado, como eu pude esquecer daquilo? Eu tentava lembrar minha reação... E me lembrei que nós nos beijamos, foi uma sensação esquisita, éramos crianças, mas ele parecia saber o que sentia e o que estava fazendo. Sempre mais maduro que todos.

- Bom... Eu já vou – disse depois do nosso silencio. Ele andou até a porta e eu continuei parado – Pode abrir? – eu olhei para ele, mas permaneci ainda com olhar de assustado – Okay... Tchau.

Ele mesmo abriu a porta e saiu. Eu queria ir atrás dele, mas foi um choque lembrar daquilo, eu nunca fui contra homossexuais, nunca nem sequer tive nojo. Então nojo que eu sentia quando criança era pelo beijo ou por que... Eu era apaixonado por ele? Claro! Que idiota! Por isso eu quis bater nele, eu ouvia meu pai dizer sobre homossexuais, o quanto eram sujos e nojentos. Nunca acreditava nas palavras do meu pai, mas eu me vi naquela situação e realmente acreditei nas palavras de repulsa dele, me senti igualmente sujo e pecador. Eu bati nele porque pensava que ele era o culpado, culpado por ser tão especial, culpado por me ajudar, culpado por me confundir, culpado por ser maravilhoso e paciente. Culpado por despertar um sentimento insano em mim. Culpado.

Naquela noite não dormi pensando no que faria no trabalho, como o trataria, o que falaríamos, se o clima voltaria a ser ruim entre nós. Agora eu sabia qual era o meu desejo, eu queria ter ele para mim, queria sentir de novo seus abraços, reviver o nosso beijo. Não me senti estranho ao pensar isso, eu me recordava de já ter pensando aquilo quando era pré-adolescente e pensar nele me lembrava de bons momentos. Mas talvez ele me ainda me odiasse e namorava aquele adolescente sem graça.

Eu não sabia o que iria fazer, por muito tempo eu achava que nunca nem me apaixonaria por ninguém na minha vida e ele volta assim, faz eu me lembrar da nossa vida juntos. Eu queria me redimir e fazê-lo feliz. Eu sentia algo por ele de novo e imaginei que esse era o motivo para eu ter bloqueado esse ano da minha vida. Como eu queria poder ir para a academia aquele instante, mas tinha muitas coisas para fazer e fui fazê-las para me distrair.

No outro dia no trabalho ele não apareceu, Diego disse que ele ficaria trabalhando em casa. O dia todo não ocorreu novidades, algumas risadas com as atitudes nerd do Diego. No outro dia eu cheguei e ele estava lá trabalhando, me desejou bom dia normal, como se nada estivesse acontecendo, talvez só estivesse acontecendo para mim, mas preferia acreditar que não. Eu passei por trás da cadeira dele e dei um beijo no topo da sua cabeça, o cheiro do cabelo dele era de uva, era engraçado porque me lembrava de cheiro de crianças pós-banho. Ele ficou todo desconfiado e se assustou com o meu ato, a primeira coisa que ele fez foi olhar para o Diego. Não falamos mais nada durante o dia. Diego teve que sair mais cedo porque iria trocar as lentes do óculo. Ficamos sozinhos.

- Guilherme... – ele me respondeu com um ‘hum?’ – Já terminou ae?

- Quase... Por quê? – ele me olhou, seus olhos estavam mais claros hoje, aquele olhar que me fez suspirar, era um olhar sério e centrado. Eu já estava muito gay. Completamente apaixonado. Mas dizer que eu me importava com isso seria mentira.

- Eu quero falar contigo... - disse novamente coçando a barba.

- Já estamos falando hahaha o que foi? – eu andei até ficar de frente para ele e me acocorei, me equilibrando com os antebraços nos seus joelhos. Ele me olhava franzindo o cenho, com uma cara de duvida que eu achei fofa.

- Eu lembro agora... De tudo! Eu lembro porque te bati, lembro de tudo! – falei e ele ficou calado me encarando – Eu... Posso fazer uma coisa?

- Daros eu não sei o que tu está pensando, mas muitas coisas mudaram... Mais do que tu pode imaginar.

- Não Gui, eu... – com rapidez eu o beijei, ele se debateu nos primeiros cinco segundos, mas depois segurou no meu cabelo e apertava minhas costas.

Eu sentia sua boca macia em atrito com a minha, sentia sua língua tocar o interior da minha boca com desejo, com força, eu o apertava contra mim, ele estava tão entregue quanto eu. Sua respiração quente contra a minha era o paraíso, agora eu me lembrava do seu sabor. Não acreditava que estava acontecendo novamente, porém dessa vez eu havia amado e estava retribuindo com felicidade e voracidade.

Eu segurava em suas costas e eu o puxei, fazendo-o levantar da cadeira. Quase não havia intervalos para a nossa respiração. Seu coração estava acelerado assim como o meu. Eu me sentei na sua cadeira sem desfazer o beijo e ele sentou no meu colo, eu estava levantando sua blusa, entorpecido pelo calor do momento, mas foi muito rápido, ele se levantou e me deu um soco, um soco muito forte até. Eu fiquei sem entender a mudança repentina ainda sentindo a dor no meu nariz que eu imaginei e senti que estava sangrando, ele andava e olhava para os lados com as mãos entre a cabeça.

- Ei... – disse pegando no seu cotovelo – O que houve? – seus olhos marejados se encontraram com os meus.

- Seu estupido! Tu está louco? Eu te falei que eu não queria nada! Não queria nem a tua amizade! Tu só pode estar louco! Não sei por que fui te impedir de se demitir, foi um erro! – ele ia sair, mas eu segurei seu braço.

- Guilherme, eu te bati porque eu estava apaixonado por você, sempre estive! Só não aceitava... Eu era um idiota.

- Tu ainda é o mesmo idiota! Só desgraçou a minha vida Daros! Tu não vê quanto mal tu me fez? Eu cansei dos teus jogos faz muito tempo! Não te quero me fazendo mais mal do que já fez. E solta o meu braço porra!

- Por favor, Gui, me dá mais uma chance... Eu sei que você está fazendo isso porque eu te fiz mais mal do que qualquer outra pessoa, eu sei disso, mas você sabe que me ama. Sabe que nos últimos anos você passou se perguntando onde eu estava e se estava bem... Eu sei, porque eu também estava assim. E aqui estamos, no momento que sempre esperamos, estamos juntos!

- Tu tá falando merda como sempre – ele disse e fez força para tirar seu braço da minha mão – Eu nunca... Nunca te amei! Eu era uma criança iludida e tu um imbecil.

Ele saiu da sala e eu fiquei pensando o que eu havia feito, eu fui rápido demais, mas eu não suportaria ficar esperando até ter coragem, agi por impulso e me ferrei. Mas ele se entregou para mim por longos minutos, eu sei que ele também queria, também hesitou em dizer que nunca havia me amado. Eu não desistiria assim. Ele era meu. Sempre foi.

Na semana seguinte ele não foi trabalhar nenhum dos dias, o chefe sempre deixou ele trabalhar onde quisesse, foi o primeiro funcionário, por isso a amizade entre eles, eu achava que era isso. Ele só ia para empresa para ter paz, ele não chegou a me falar qual era o motivo, mas ele não podia ficar em casa porque se distraía com algo. Eu não sabia se voltaria a vê-lo algum dia, mas me mantive na esperança de ele voltar a ir trabalhar no escritório.

Na sexta-feira da outra semana eu voltei para casa de ônibus e estava muito cansado, cheguei a minha casa, mal entrei e comecei a tirar a camisa social e a calça jeans, ficando apenas com a cueca boxer que eu estava usando, fui para a cozinha beber água e me joguei no sofá, liguei a tv e fiquei lá meio acordado meio dormindo. Passava alguma programação de comédia. Depois de uns bons 20 minutos eu escutei um carro estacionar na frente da minha casa e em seguida ouvi a campainha soar. Lembrei-me que não havia trancado o primeiro portão. Eu não tinha olho mágico na porta, então atendi a porta com um pouco de medo e me preparando se fosse algum ladrão. Só senti uma pancada contra o meu corpo.

...

Mais uma parte, pessoal.

Demorei para postar por causa da copa, aliás, cabei de acordar e o Cadu está deitado na minha cama neste exato momento dizendo que eu não tenho mais tempo para ele e blablabla. Ele está maior fofo com cara de mau, vou já já tirar essa marra dele hahaha.

Bom pessoal, o conto está caminhando. Essa parte definirá muita coisa. Então se preparem para o próximo.

No mais, acho que é apenas isso.

Obrigado a todos que acompanham e comentam, me incentiva bastante. Desculpem-me todos os erros e a demora. Até a próxima.

Abraços a todos!

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Comentários

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o conto esta Lindo...tou amando ler todos..abracao a todos fofo...

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Gostei bastante do seu conto. Pode render muito. Gosto desse tom misterioso e ao mesmo tempo emocionante. Nota 10. Grande abraço

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Muito bom.Quem será que deu esse tranco no Dados?será o namorado?

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Espero que tu consigas conquistar o Guilherme de novo.

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Hum, agora entendo, mas ja imaginava que era isso, será que é o Thiago, espero que tu consigas conquistar o Guilherme denovo.

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Li esses dois últs capts ag. O segundo foi muito emocionante as revelações de Guilherme,tudo o q ele sofreu.. Nossa,Daros foi muito idiota. Embora eu até entnda o medo dle d assumir algo pelo amigo na infância,mas nada justifica a maldad com u amigo dle. E agora,tá na cara q Gui ainda u ama,mas tem medo.QUEM NÃO TERIA NÉ? Conto massa!!! E dxa só fazr uma observação,vc falou no seg conto q aqi q procuram mais por contos héteros. Olha q não hen? Eu particularment,não gosto muito d conto hetero, todos são ruins! U único q parecia q ia me fazer mudar d idéia,a autora abandonou,ent perdeu ainda mais ponto. Eu só procuro os contos gays aqui. Volt logo. Xeiro.

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Li todos hoje e amei . Cara conto perfeito !!!! Não sei se vou poder comentar sempre amigo !

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