Abro o vidro do carro e deixo o vento bater em meu rosto. Minha camiseta vermelha e os cabelos pretos e longos balançam sem rumo conforme o vento bate contra eles. Respiro fundo e tento não pensar na musica que tocava na radio, já que é a que eu mais odeio.
-Da pra mudar a musica? – Pergunto bufando.
-Poxa Thomas, deixa o pai ouvir só essa? – Meu pai responde ainda olhando para a estrada.
Respiro fundo e volto a olhar pra fora do carro. A estrada quase deserta no meio de montanhas é algo realmente bonito de se ver, porém muito monótona. Me olho no espelho por um segundo, sem procurar nada em especial. As bochechas rosadas na pele branca contrastam com os olhos castanhos escuros. Abro os lábios carnudos e vermelhos por um leve momento, e logo os fecho.
-Falta muito? – Pergunto sem paciência.
-Já estamos chegando na cidade. Mais quinze minutos.
Sinto certo alivio ao ouvir aquilo. Depois de sete horas dentro de um carro, quinze minutos parece o paraíso... Ou o inferno. Pego meu celular e ainda esta sem sinal, então guardo-o de novo no bolso. Volto a olhar pra estrada mais uma vez, e ver a entrada da pequena cidade me faz ficar um pouco mais animado.
Não demora muito até chegarmos ao nosso destino: Uma casa no pé da montanha, quase que isolada da cidade e no começo da floresta. Meu pai estaciona em frente aos portões e não espero muito para saltar do carro. Esticar as pernas depois de sete horas de viagem é a melhor sensação que eu posso ter.
-É realmente uma casa linda. – Meu pai comenta enquanto saia do carro.
E é verdade. A casa fica na parte mais alta e afastada da cidade. É grande e as paredes feitas de pedra dão toque rústico à construção. No segundo andar há uma varanda na parte da frente, com algumas cadeiras e mesas. O jardim cerca toda a parte da frente esta completamente iluminado com luzes de chão e de natal.
Olho pro meu pai e ele esta falando com alguém no celular e poucos segundo depois uma mulher aparece na porta da frente. Seus cabelos loiros caiam sobre o ombro e os olhos verdes brilham ao nos ver. Ela usa um vestido verde e longo que lhe caia muito bem. Ela acena de longe e como num passe de mágica o portão da garagem se abre e mais que depressa eu e meu pai entramos. Enquanto caminho pelas pedras entre o gramado, sinto o cheiro da grama molhada pela chuva. Alguns segundos depois, estamos na porta.
-Meus queridos. – Ela abraça os dois. – que saudade! Como vocês estão?
-Muito bem, Lara. E você, como esta? – Meu pai pergunta retribuindo o abraço.
-Estou ótima! E esse pequeno, que não esta tão pequeno assim? – Ela olha pra mim e me abraça.
-Estou bem, tia. – Falo sorrindo.
-Vamos, entrem. A Cida fez um jantar maravilhoso. Os meninos estão no banho e o Paulo ainda não chegou.
-Oh, Lara, me desculpe, mas eu não vou poder ficar. – Meu pai diz um tanto triste.
-Por que, Fabio? - Ela pergunta triste também.
-Tenho um voo agora à noite. Vou daqui direto para o aeroporto. Me desculpe.
Antes que minha tia possa responder, uma pequena garotinha aparece na porta, quase que se escondendo no batente. Olho pra ela e sorri gentilmente, mas ela parece envergonhada de mais para responder. Seus cabelos castanhos cobrem uma parte do seu rosto, mas ainda assim consigo ver seus olhos pretos e pele muito branca. Ela é linda e usa um vestido branco florido.
-Clara, vem conhecer seu primo. – Minha tia a chama e a garotinha vem correndo abraçá-la. – Esse é o Thomas. Fala oi, filha.
A garotinha olha pra mim sem dizer nada, então tento meu melhor sorriso para parecer gentil.
-Oi Clara, tudo bem? – Pergunto e ela faz que sim com a cabeça quanto abraça a boneca que segura na mão esquerda. – Que linda sua boneca. – Falo sorrindo.
-Eu tenho varias bonecas, quer ver? – Ela responde animada pra mim.
-Quero sim. – Sorrio.
Me despeço do meu pai, que já esta indo embora e sigo a garotinha, que me puxa pela camiseta. A casa por dentro é ainda maior do que parecia por fora. Cada cômodo é mais bonito que o outro e cheiro levemente amadeirado da floresta deixa o lugar ainda mais aconchegante. Depois de passar pelo hall e subir as escadas, clara me leva para um corredor longo e entramos na primeira porta.
O quarto rosa parece realmente de uma princesa. A cama, não muito grande, fica no centro, e em quase todas as paredes há estantes cheias de bonecas e ursinhos de pelúcia. Clara corre para uma delas e pega uma boneca qualquer.
-Quer brincar? – Ela pergunta sorrindo.
-Bom, eu sou um menino e não sei brincar de bonecas muito bem, mas tudo bem. – Falo me sentando na cama ao lado dela.
-É fácil. Toma, essa é a sua. – Ela me entrega uma boneca com um vestido azul e asas brilhantes. – Ela é a fada do gelo, então você tem que fazer tudo de gelo. A minha é a fada do sol, então eu faço tudo com a luz.
Sorrio e começamos a brincar. Sempre gostei de crianças, então isso é diversão pra mim também. Algum tempo depois já estamos construindo um castelo de gelo e chamando as outras fadas para morar com a gente. De repente, Clara larga sua boneca e se levanta rápido.
-Rafa! – Ela grita e corre para a porta.
Olho para porta e vejo um garoto mais alto do que eu e quase tenho um infarto. Ele tem os cabelos lisos e loiros e a pele tão branca quanto a de clara. Assim que pega a menina no colo ele olha pra mim e eu posso ver os olhos mais azuis da face da terra. Ele tem as costas largas de nadador e o corpo de um Deus.
-Olha Rafa, esse é o Thomas. Ele ta brincado comigo, vem também? – Clara diz apontando para as bonecas.
-Claro que brinco, meu amor. – Ele responde com uma voz suave e calma.
Ele a coloca no chão e vem em minha direção, seu shorte verde e camiseta listrada me fazem perceber que ele esta de pijama. Caramba, quanto tempo eu fiquei brincado?
-E ai, cara. – Ele fala enquanto apertava minha mão. – Quanto tempo, hein!
-Pois é. – Respondo meio sem jeito. – Rafael, né?
-Isso mesmo. – Ele sorri e meu coração acelera. – Que bom que você veio passar o fim de ano com a gente, ia ser um saco só eu e meus irmãos.
-Rafa! – Clara fala triste.
-Menos você, meu amor. – Ele a abraça forte. – Você é a única que amo ter todos os dias por perto.
Clara sorri e nos força a brincar com ela por mais um tempo. Ficamos ali por alguns minutos, mas é impossível se concentrar na historia de faz de contas com alguém tão bonito do lado.
“O que é isso?”, pensei. “Para de pensar essas coisas. Ele deve ter namorada...”
-Então cara, há quanto tempo a gente não se vê. A ultima vez foi aquela festa do vovô. – Ele comenta enquanto mexia o boneco dele.
-Verdade. Pensei que você nem lembrava. Você era bem mais novo que eu. – Falo sorrindo.
-Ah, não tão mais novo. Quantos anos você tem?
-17. E você?
-15. Não sou tão mais novo. – Ele sorri.
É quase impossível um garoto daquele ter quinze anos. Ele aparenta ter dezoito, no mínimo. Continuamos brincando por mais um tempo até que ouço uma voz vindo da porta.
-Oi. – Ouço e olho instantaneamente para ver quem era.
-Lu! – Clara chama. – Vem brincar. O Thomas ta aqui!
Ele olha pra mim e eu fico sem ar mais uma vez. O garoto é alto, muito mais alto que Rafa. Deve ter quase dois metros. É mais magro também. Tem cabelos loiros e curtos e os olhos castanhos completamente lindos.
-Hey cara, quanto tempo! – Ele fala vindo me cumprimentar. – Cresceu hein!
Na verdade, eu era muito mais baixo que ele. Era até mais baixo que o Rafa. Enquanto o Lucas tinha 1.92m, o Rafa tinha 1.87 e euNão tanto quanto você. – Brinco.
-Verdade. – Ele ri.
-Lu, brinca com a gente? – Clara pede puxando sua camiseta.
-Agora não, pirralha. Vou ajudar a mamãe com umas caixas.
-Já falei pra não me chamar de pirralha. – Clara fala brava, mas super fofa.
-Ta bom, baixinha. – Ele bagunça seu cabelo e sai do quarto.
-Não liga pra ele, - Rafa fala comigo. – ele é meio antissocial. Mas pelo visto gostou de você. É raro ele puxar assunto.
-Que bom. – Comento, tentando não parecer estranho.
Voltamos a brincar com as bonecas e hora ou outro, me pegava olhando pro Rafa. Era impossível não olhar pra ele...
Espero que gostem, pessoal. Não se esqueçam de comentar se quiserem que continue :)