Olá, leitores e escritores do CdC!
Henrique, não se preocupe, apenas mostre o que sente. Se você tiver alguma dúvida ou quiser algum esclarecimento, pode sempre mandar um e-mail. Desculpe por ter te irritado, e veremos se o seu palpite está certo ou não.
Chele, o Eduardo é um partidão, né? Vocês é que são obcecados com o Hector haha!
Irish, incrível como alguém tão taciturno pode fazer falta, não?
FabioStatz, você irá descobrir hoje!
Menina7, Ru/Ruanito, obrigado por comentarem!
Boa leitura!
Contato: contistacronico@hotmail.com
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<CORREÇÃO DE DIAGNÓSTICO>
UMA SEMANA DEPOIS
Saí do laboratório de histologia com Aline e Leonardo. Ele era um dos quatro monitores de histologia, ou seja, acompanhava os calouros nas aulas para esclarecer dúvidas, embora houvesse ficado fora de cena pelo período que ficou no hospital. No corredor, logo após sair do laboratório, dei de cara com meu segurança me esperando, como sempre.
Não, não era Hector. Marcos era o novo segurança contratado pelo meu pai. Ele era um dos homens mais altos que já havia visto, tinha pele parda, um cabelo todo cortado na máquina um, dando a ele um ar militar e perigoso. Claro, ele era uma montanha muscular, e como qualquer montanha, era bem silencioso. Ele estava com o usual terno preto. Sempre carregava uma pistola na cintura, embora não pudesse ser vista. Hector normalmente carregava consigo uma faca de combate, que ficava em sua panturrilha, por baixo da calça para escondê-la. Meu pai conseguira uma liberação para o porte de armas de fogo para Marcos, o que foi permitido porque ele não era um aluno como Hector era.
_Olá, Marcos. – eu disse.
_Boa tarde, Sr. Voldi. – ele cumprimentou de forma séria.
Esse era, basicamente, o nosso rico diálogo diário. Eu sentia saudades de Hector...
Seguimos os quatro para fora do Instituto de Morfologia Humana e Aline nos deixou para ir para o seu pensionato. Leonardo acompanhou-me até o estacionamento, já que seu carro também estava lá. Eu e Leonardo havíamos nos aproximado um pouco, embora não o bastante para relembrarmos o dia em que nos encontramos pela primeira vez, naquela festa, quando eu tinha 16 anos. Também não comentávamos seu status de sexualidade, mas eu sabia que Leonardo continuava atraído por homens. Seu braço ainda estava engessado, agora com várias mensagens de melhoras. Ao contrário do que eu antes pensava, a companhia de Leonardo era bem agradável. Ele era um cara de riso fácil, comportamento descontraído e uma certa coisa nele fazia com que as pessoas quisessem estar perto dele. Um perfeito exemplar de pessoa popular. Claro que havia o fato de ele ser uma pessoa agradável de se olhar. Não que eu pensasse nisso, eu estava bastante satisfeito com Eduardo.
O dia estava nublado, com um vento forte soprando, fazendo com que nossas roupas e nossos cabelos se movessem com avidez. Caminhávamos pela passarela enquanto conversávamos.
_Alguma notícia do Hector? –Leonardo perguntou em dado momento.
_Não – eu disse adquirindo uma expressão vazia.
Uma semana havia se passado e eu não conseguia parar de pensar em Hector, exceto quando eu e Eduardo estávamos juntos. Claro que a dor não era como no começo, era como se eu tivesse me acostumado. Mas era impossível deixar de sentir falta daquele que esteve comigo em quase todos os momentos desde os meus 10 anos.
_Como foi a tirada dos pontos? – perguntou ele olhando para minhas costas.
_Normal. – eu disse.
_E a cicatriz? – ele perguntou de forma cuidadosa.
Fiquei em silêncio. O corte não tinha um comprimento tão grande, mas havia sido feio. A cicatriz era visível, e não sairia. Agora, ela tinha uma cor avermelhada, mas com o tempo daria lugar para uma marca com uma tonalidade perto da cor da pele.
_Não importa. – eu disse em um tom baixo.
Um certo silêncio se instalou sobre nós. Caminhávamos enquanto alunos de vários cursos passavam por nós, conversando calmamente. Atrás de mim e de Leonardo, Marcos caminhava mecanicamente, olhando em volta de maneira intimidadora. Havia outras pessoas que possuíam seguranças na ESOM, mas não eram tantos. Meu pai era extremamente protetor, provavelmente pelo que ocorrera com minha mãe.
Eu estava divagando quando Leonardo cortou o silêncio:
_Victor, sei que a gente teve nossos problemas, mas eu tô querendo desfazer aquela impressão que eu deixei. – ele parecia um pouco desconfortável ao falar, mas o fez mesmo assim – E por mais que a gente pareça ter uma dificuldade para conversar, se você precisar, pode contar comigo.
Olhei para ele com um sorriso carinhoso. Decidi ser sincero com ele:
_Eu também não deixei uma boa impressão esse semestre, Leonardo. Mas eu admito que boa parte das minhas ações são reflexos daquele dia, na festa beneficente, e dos dias que se seguiram.
Eu temi que ele reagisse mal ao tocar no assunto da nossa ficada, mas ele apenas pareceu um pouco constrangido, provavelmente porque aquilo também tocava em sua homossexualidade reprimida. Ele não tentou evadir, o que era um bom sinal.
_A ficada foi tão ruim assim? – ele disse com um sorriso debochado.
Eu dei um risinho.
_Não é isso... – tentei achar as palavras corretas para contar o fato de eu ter gostado dele – Entenda... naquela época eu nunca tinha beijado um cara, você foi o primeiro, e eu acho que eu estava carente. Eu meio que fiquei obcecado por você nos dias seguintes.
Aquilo pareceu uma surpresa divertida para Leonardo.
_Ah, é? – ele perguntou com um sorriso.
_É. – eu ri um pouco – E não pude evitar um sentimento repulsivo contra você depois de tudo. Afinal de contas, você foi a primeira pessoa que me fez sofrer amorosamente.
_Ah, não exagera. A gente não teve nada demais. – ele falou.
_É verdade, mas vai dizer isso para um garoto de dezesseis anos carente.
Nós dois rimos.
_Bom... se é assim, peço desculpas por fazer você me amar irracionalmente. – ele disse com uma mesura forçada e divertida.
_Besta. - dei um empurrãozinho nele para o lado enquanto eu ria.
Finalmente chegamos à entrada ao estacionamento e nos vimos rodeados de carros caros nos alunos ricos da ESOM. De longe, eu o vi...
...Hector.
Leonardo e Marcos também o viram, mas eu corri com toda a velocidade que eu tinha até ele. Ele usava uma jaqueta de couro preta, uma camiseta branca justa por baixo, calças jeans azul escuras e tênis pretos. Quando vi seu rosto claramente, ele tinha uma expressão que me repelia, como se dissesse para eu não fazer aquilo, mas eu não liguei. Abracei-o com todas as minhas forças. Aos poucos, eu senti todo o meu vazio ser preenchido por cada pedaço que fazia Hector ser o Hector: a rigidez do seu corpo, o seu cheiro corporal sem perfume, a visão de seu rosto, com a sua barba, aquele corte mais baixo dos lados, seus olhos negros, aquele jeito taciturno. Aos poucos, cada peça da minha metade foi se juntando, trazendo consigo uma felicidade indescritível. Não pude evitar as lágrimas de caírem dos meus olhos. Hector apenas tocou de leve meus ombros.
Ouvi passos rápidos que vinham de Leonardo e Marcos.
_Sai de perto desse cara, Victor! – gritou Leonardo.
_Sr. Voldi! – disse Marcos com sua voz extremamente grave, embora ele não soubesse o que ocorrera entre mim e Hector.
Não dei atenção àquilo, apenas continuei com meu rosto encostado no peito de Hector. De repente, ele deu-me um leve, porém firme, empurrãozinho, fazendo com que eu me afastasse um pouco. Olhei em seus olhos e vi apenas preocupação. Ele abriu a boca e disse:
_Mostre-me.
Eu sabia que ele estava se referindo ao meu ferimento, mas eu apenas dei um sorriso falso, sentindo o gosto de uma lágrima que havia chegado à minha boca.
_Isso não importa, Hector... – eu disse.
_Victor, mostre. – ele disse firmemente, ainda com a preocupação.
Fiquei em silêncio por um instante. Leonardo e Marcos ficaram alguns passos atrás. Eu e Hector estávamos apenas a um metro um do outro, e mesmo tão perto, eu sentia que Hector poderia deslizar por entre meus dedos novamente, como um líquido fugaz. O vento batia em nós lateralmente, com força, fazendo os cabelos curtos de Hector se moverem um pouco, e os meus, que já estavam um pouco mais longos, moverem-se graciosamente. Vi que não havia escolha, então virei-me de lado e levantei minha camiseta branca e meu casaco fino marrom, deixando a parte baixa esquerda das minhas costas à mostra. Hector pareceu respirar fundo ao ver o ferimento principal, junto com os outros cortes ainda com tons avermelhados. Seu rosto adquiriu uma forte expressão de culpa, e ao ver aquilo, abaixei minha roupa e me aproximei de Hector dizendo:
_Hector, a culpa não foi sua...
Ele deu um passo para trás, mostrando que eu não deveria me aproximar dele.
_Claro que foi! – ele disse com uma voz carregada de culpa e tristeza, e Hector nunca mostrava emoção daquela maneira – Se eu ao menos tivesse a capacidade de me controlar... Se eu ao menos tivesse percebido...
Seu rosto mostrava dor, e eu não queria que ele se sentisse daquela maneira, ele não podia se culpar. A culpa era minha. O som do vento preenchia o local.
_Hector, eu causei tudo isso quando eu pedi para você resolver o problema do André. Eu não devia ter pedido algo daquele tipo. – eu disse com uma voz claramente angustiada.
Hector olhou-me com estranheza. Nossas linhas de pensamentos não estavam seguindo o mesmo rumo.
_Não foi um desequilíbrio meu, Victor. No início eu até achei que fosse, mas acabei descobrindo que foi por outra coisa. – ele disse com um tom misterioso.
_Outra coisa...? – perguntei perplexo.
Hector apresentava um receio enorme no olhar. Percebi no mesmo momento que era algo que eu não gostaria de ouvir. Ele colocou sua mão no bolso da jaqueta de couro e tirou um envelope dobrado. Estendeu-o pra mim e eu o peguei, ainda olhando para o rosto de Hector com total perplexidade. O que ele queria dizer com aquilo?
Olhei para o envelope, tinha o logotipo da Voldi. Abri-o e havia três folhas com vários dados de exames de urina e sangue. Dei uma olhada por cima, nada fora do normal, fora uma linha destacada em vermelho. O nome do composto era beta-isotidirina e os seus níveis estavam baixíssimos, num nível indetectável para laboratórios de análise normais. Mas não para a Voldi, que possuía os equipamentos de análise mais avançados do mercado.
_O que é beta-isotidirina? – perguntei tentando ler o nome corretamente.
_É uma droga. Causa confusão mental, perturbação, alucinações, ataques de ira e violência. Fica no sangue por cinco dias após o efeito. – Hector respondeu.
Encarei-o ainda com perplexidade.
_Eu não entendo... – eu disse e mostrei o envelope – Onde você conseguiu isto?
_Depois de eu me acalmar, não conseguia aceitar que o que eu havia feito era resultado de um abalo psicológico meu. Isso nunca faria eu te machucar... – ele mostrou uma expressão dolorosa ao dizer isso - Então fui a um laboratório e pedi para fazerem a coleta de fluidos e enviarem ao laboratório de pesquisas da Voldi, em São Paulo. Falei com Pietro Aldini e pedi para que ele mesmo fizesse a análise. O resultado chegou ontem.
Aquilo era bem a cara de Hector: ser extremamente racional e pensar em todas as possibilidades. Pietro Aldini era o líder de pesquisas farmacológicas da Voldi. Eu e Hector havíamos encontrado ele em algumas visitas que fizemos à sede de pesquisas e em visitas dele à nossa casa. Continuei em silêncio por um instante, quase me esquecendo da principal pergunta:
_Quem drogou você? – perguntei com medo.
Hector encarou-me intensamente. Aquele olhar queria dizer que eu sabia a resposta. Que eu deveria dizer por mim mesmo, só assim eu acreditaria. Que ela estava debaixo do meu nariz e eu não estava percebendo porque estava sendo fraco, negligente... apaixonado.
_Eduardo... – eu mesmo disse com um tom fraco.
Em uma torrente avassaladora, as lembranças daquela última noite antes de Hector ir embora vieram à minha mente: eu e Eduardo cozinhando, um momento de beijos, Hector em seu quarto, eu fazendo a sobremesa, Eduardo me observando, eu fazendo o suco de laranja, levando a forma à mesa, pedindo a Eduardo para levar o suco e os copos, eu chamei Hector, chegamos à sala, Eduardo estava servindo os copos de suco... Eu não queria acreditar, mas estava ali. Todos os sinais estavam nas minhas mãos. Eduardo provavelmente havia usado o suco para drogar Hector. Como se não bastasse, lembranças de momentos anteriores com Eduardo vieram, quando ele se sentia incomodado com Hector, quando demonstrava seus ciúmes... Eu deveria ter notado...
_Victor... – disse Hector parecendo preocupado e se aproximando.
Meu fluxo mental não parava e eu olhava para baixo. Tudo o que eu não havia percebido chegava a mim numa rajada destruidora. A minha maior fraqueza era Eduardo. Eu já havia percebido aquilo no nosso primeiro encontro. Eu não usava minhas habilidades com Eduardo, eu negligenciava suas expressões mais discretas, seus gestos, as entrelinhas de suas falas. Elas poderiam estar lá, mostrando claramente as intenções da pessoa que eu amava, mas eu bloqueava a minha percepção por não querer parar a mágica, não querer abalar a nossa relação que eu tanto desejava.
_Victor, olhe para mim... – disse Hector.
Eu continuava olhando para baixo. Hector, o único que se manteve atento durante todo o tempo em relação a Eduardo, não queria desfazer a minha felicidade de jovem amoroso. Se ele houvesse percebido algo estranho em Eduardo, ele sempre ficaria em dúvida do que fazer: quebrar o meu relacionamento ou arriscar esperar uma ação mais clara e denunciadora de Eduardo. Ele até se livrou de André por mim, por causa da minha preocupação com Eduardo. Eu era duplamente culpado então. Eu era as minhas próprias algemas e as algemas de Hector. Eu travei nós dois, e ambos nos machucamos no processo.
Os exames ameaçaram sair da minha mão com o vento forte, mas Hector segurou minha mão com a dele, chamando minha atenção. Finalmente levantei o rosto e o encarei novamente. Ele me passava determinação com o olhar.
Havia chegado a hora de acabar com aquilo.
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Eu estava com Hector na porta do nosso apartamento. Marcos não estava conosco, eu havia ligado para meu pai para dizer que Hector estava de volta e para que acertasse as coisas com meu ex-novo segurança. Eu estava hesitante para abrir a porta, minha mão estava parada na maçaneta. Eduardo estava lá dentro, eu havia pedido para ele ir para meu apartamento mais cedo, porque logo eu chegaria.
_Eu vou ficar aqui fora. – disse Hector, escorando-se na parede.
Assenti, entendendo que Hector estava me dando a escolha: ele ou Eduardo. A resposta pode até parecer óbvia para qualquer um, mas era mais difícil do que eu imaginava. Por mais que Eduardo houvesse feito algo muito ruim, eu não podia simplesmente esquecer os nossos momentos, suas palavras de declaração, seus abraços, seus beijos. Até que ponto a mentira de Eduardo ia? Tudo era mentira?
Entrei no apartamento e andei até o meu quarto. Eduardo provavelmente estaria me esperando lá. Ao entrar no meu quarto, deparei-me com Eduardo deitado em minha cama de forma descontraída, lendo um livro filosófico qualquer. Ele olhou para mim e abriu um sorriso. Minha percepção estava aguçada novamente, e não percebi nenhuma falsidade ali. Ele se levantou e veio até mim, dando-me um beijo, que eu nem aceitei nem rejeitei, só não me mexi.
_Você tá estranho, Vic. O que houve? – ele perguntou me puxando pela mão para a cama.
Permaneci no local e soltei minha mão da dele, sem ser brusco. Meu rosto mostrava cansaço... Eu estava cansado de sofrer naqueles últimos dias. Eu precisava acabar com qualquer que fosse a fonte de sofrimento.
_Vic...? – ele perguntou com receio.
_Você me ama, Eduardo? – eu perguntei.
Eu e Eduardo ainda não havíamos declarado amor um pelo outro até aquele momento. Eu precisava saber a verdade. Eduardo hesitou por um momento, achando estranha aquela pergunta repentina, mas disse:
_Sim.
E ele dizia a verdade. Eu podia ver em seu rosto, no seu tom. Aquilo fez meus pensamentos girarem de uma forma que me fazia ficar tonto. Passei as duas mãos pelos cabelos, como se não soubesse mais o que fazer. Senti vontade de chorar, e não reprimi de forma alguma. Eu queria que Eduardo soubesse o quanto estava me fazendo sofrer. Mas eu não choraria desesperadamente. Lágrimas começaram a cair, mas nenhum som saiu da minha boca. Minha expressão continha seriedade e determinação.
_Vic... o que tá acontecendo? – ele perguntou mostrando verdadeira confusão.
Eu tinha que fazer a pergunta direta. Não podia restar mais dúvidas.
_Você drogou o Hector, naquele dia?
E lá estava, ele adquiriu uma expressão de pavor pela descoberta. Tão clara quanto a luz do sol, a verdade estava estampada no rosto de Eduardo, e eu não sabia se o peso no meu coração aumentou ou diminuiu. Pensar que eu havia negligenciado qualquer sinal vindo de Eduardo todo aquele tempo fazia com que uma angústia surgisse dentro de mim. Mas eu precisava fazer com que ele dissesse as palavras. Se ele não dissesse, eu nunca teria a plena certeza. Eduardo ficou em silêncio, atônito.
_Diga que fez. – eu falei.
_Eu... não... – Eduardo tentava dizer algo evasivo.
_Seu corpo já me disse tudo, você sabe disso, Eduardo. Agora eu só preciso que sua boca me diga. – eu falei sem mostrar expressão nenhuma.
Nos encaramos por um momento. A plena compreensão da derrota caiu sobre Eduardo.
_Eu droguei o Hector. – ele disse, e eu podia ver o receio do que ocorreria em seguida.
Levei minhas mãos ao rosto e limpei minhas lágrimas. Cheguei perto de Eduardo e o abracei, envolvendo seu pescoço com meus braços. Meu rosto encostou em seu peito e eu disse baixinho, mas numa altura que ele podia ouvir:
_Eu também te amei. Muito.
Fiquei um momento ali, e ele não se moveu. Nem sequer abraçou-me de volta. Soltei-o e virei-me para a porta do meu quarto. Saí e me dirigi à entrada do apartamento. Quando eu estava na sala, ouvi os passos rápidos de Eduardo atrás de mim.
_Vic... Me desculpe, eu te amo, deixa eu te explicar! – ele parecia desesperado.
Continuei andando até o corredor de entrada, Eduardo pegou minha mão, mas eu desvencilhei-me e continuei meu caminho.
_Não, Vic! Por favor, não vai embora, só ouve o que eu tenho a dizer... – ele continuou implorando.
Saímos do apartamento e Eduardo viu Hector encostado na parede. Os dois se encararam por um momento, no qual eu disse para Eduardo, com uma expressão vazia:
_Eu não vou embora. Você vai. – virei meu rosto para Hector – Faça o que quiser com ele.
Ao dizer isso, entrei no apartamento de novo, deixando os dois lá fora. Entrei novamente no meu quarto e deixei a porta aberta. Deitei na minha cama, sentindo algo sólido embaixo. Vi que era o livro de Eduardo, ele havia o esquecido. Larguei-o no chão, não com raiva, não com violência, apenas larguei. Deitei de barriga para baixo, com o rosto virado para a janela. Observei aquele céu nublado.
Hector entrou no meu quarto e deitou-se ao meu lado, mas meu rosto estava virado para o lado oposto.
_Você não tem negócios a tratar com ele? – perguntei sem emoção.
Hector permaneceu em silêncio por um instante.
_Ele já está sofrendo demais. – ele respondeu – Ele realmente ama você.
_Eu sei. – eu disse.
_E você o ama. – Hector afirmou.
_Sim. – respondi à afirmação.
_Então machucá-lo seria como machucar você. – Hector disse finalmente.
Fiquei em silêncio. Virei-me para olhar Hector de frente. Ficamos ambos deitados de lado, olhando nos olhos do outro. Sem dizer nada, ajeitei seu braço para que ficasse debaixo da minha cabeça. Deitei-me e encaixei meu rosto na curvatura do ombro de Hector e nossos corpos ficaram bem próximos. Repousei uma das minhas mãos sobre o seu peito e fechei meus olhos. O braço dele que não estava sob minha cabeça envolveu-me na altura da cintura, aproximando-me mais um pouco.
Eu precisava daquele momento. Eu precisava do contato de Hector. Tudo apenas para duas coisas: mostrar a mim mesmo que Hector era aquilo que eu precisava e tirar toda aquela dor por perder Eduardo.
Tudo para mostrar que enquanto eu tivesse Hector, perder qualquer outra coisa seria secundário, porque nós éramos irmãos...
...porque nós éramos um.
<Continua>