Por Favor... Me Ame! 20

Um conto erótico de Evan
Categoria: Homossexual
Contém 4172 palavras
Data: 12/07/2014 22:39:38
Assuntos: Gay, Homossexual

Capítulo 20: O fim do fim.

Não sei o que deu em mim para rir, não sei mesmo. Mas depois que Júnior apontou a arma para mim e me ameaçou, eu explodi em uma risada histérica. Estava ficando louco de tanta dor. Ele me olhou de uma forma estranha e, aos poucos, foi abaixando a arma. Seus olhos brilhantes estavam repletos de ódio, mas, bem no fundo, eu consegui ver outro sentimento, que eu acho que era... preocupação? Humm... acho que não, devia está delirando também. Depois da minha gargalhada explodir pela minha boca, eu me senti extremamente fraco. Acho que foi por isso que eu cai, sentado, no chão. As pernas tão fracas que não suportaram meu peso, o local onde o diretor tinha perfurado com o pedaço de vidro doía como o inferno. Quente e intenso, meu pé escorregava, horrivelmente, no coturno cheio de sangue. Com lágrimas brilhantes fazendo trilha no meu rosto, eu tirei aquele maldito coturno. Júnior viu os meus movimentos e me analisou de cima a baixo. Eu mesmo me assustei quando vi o estado de minha meia, que uma vez foi cinza, agora estava rosa desbotado. Tirei a minha meia, torci e vi, as gotas carmim me chamaram a atenção, mas também me deixaram enojados. Uma pequena poça escarlate se formou perto das minhas pernas estendidas. Eu tinha que dar um jeito naquela perna, estava me incomodando de uma maneira que beirava a insanidade. Na descida da escada eu podia jurar que ainda tinha alguma coisa presa nos meus músculos. Um pedaço de vidro, com certeza. Não dando a mínima para Júnior, que estava a alguns metros de mim, eu desafivelei o coldre que ficava em minha perna, depois tirei o cinto de minha cintura. Coloquei-os do meu lado, nesse meio tempo eu dei uma olhada de esguelha para Júnior e ele estava me olhando. Desci os zíperes laterais da minha calça que ia até acima da linha do umbigo e lentamente fui descendo pelas minhas pernas.

Um soluço quebrado escapou de minha boca a medida que a calça preta apertada saia e minha pele ficava a mostra. Chorei com mais vontade, minha pele estava toda marcada, hematomas hediondos marcavam minhas pernas em vários pontos. Chorando abertamente eu tirei definitivamente a calça, soltei um gritinho quando tentei puxar um pedaço de tecido que tinha ido parar dentro do rasgão do vidro. Puxei de uma vez, e cai para trás, com todo meu corpo sendo assolados por fortes espasmos, um mais dolorido que o outro, o último mais marcante do que seu antecessor. Fiquei me tremendo no chão, quase como uma pessoa tendo convulsão. Não sei quando Júnior chegou e segurou os meus membros para que eu não me machucasse ainda mais, mas lá estava ele, me impedindo de ficar mais machucado. Outra risada explodiu pela minha boca, rasgando a minha garganta seca, machucando ainda mais os meus lábios rachados e cheios de sangue. Como foi que o homem que já me deu umas das piores surras da minha vida, tinha me ameaçado de morte incontáveis vezes, poderia ser o mesmo que estava me ajudando ali? Mas como a minha primeira risada essa acabou rapidamente, morrendo antes mesmo de chegar no auge, tão sufocada pela tristeza e pela dor que eu estava sentindo que tudo aquilo, no meu pequeno corpo, estava fazendo com que minha cabeça girasse vertiginosamente e eu começar a hiperventilar.

— Me mate, me mate logo! — Gritei, por favor Júnior seja aquele rapaz que eu conheci no primeiro dia, gentil e cheio de sorrisos. Mate-me com um sorriso no rosto, sussurrando meu nome, sussurrando meu nome. Por favor! Eu pedia mentalmente – Me mate! Mate-me! Agora!

Mas ele não fez o que vinha me prometendo a muito tempo. Meu choro se tornou tão compulsivo que eu fiquei ainda mais fraco. Depois de alguns minutos eu estava no chão, sem me mexer, no limite do cansaço. Meus membros pareciam pesar uma tonelada, cada. Júnior ainda estava sobre mim, pressionando meu tórax para baixo, prendendo minha coluna fortemente no chão. Havia muito tempo que eu não sentia minhas mãos, mas não estava dando a mínima, ficar dormente era uma benção. Estava todo machucado, um momento de alívio era um presente divino. Aos poucos ele saiu de cima de mim, mas eu nem me movi. Nem poderia, ou mesmo queria, minhas faculdades mentais estavam a um fio para não funcionarem mais. Estava tendo uma sobrecarga de tudo. Arfando, com uma camisa camuflada e uma cueca boxer com desenhos de patinhos nadando, no chão, Júnior foi quem limpou o ferimento em minha perna. Ele me deixou, deitado, no chão sozinho por alguns minutos. Eu escutei alguns sons metálicos, uns “bips” robóticos e alguns outros barulhos que para mim se misturavam como uma cacofonia sem sentido. Depois ele se sentou, novamente, ao meu lado, colocou minha perna ferida sobre as suas e, com uma gentileza inumana, ele começou a retirar os pedaços de vidro do corte. Ele tinha me dado um pedaço de madeira quebrada, que um dia tinha sido parte de uma cadeira, para que servisse de torniquete. Quando a pinça metálica fazia contado com a minha pele ferida eu mordia mais forte o pedaço de madeira.

— Cadê eles? — Eu perguntei, tinha cuspido o pedaço de pau. O silencio estava me matando, deixando meus nervos ainda mais caóticos. Escutar aqueles retinidos de vidro batendo no chão, me deixava maluco – Quer dizer, cadê os meus amigos?

— Em algum lugar lá em baixo – Ele respondeu quando eu pensei que não. Arqueei meu corpo quando ele passou um anticéptico na ferida, mas não gritei. Minha boca apenas ficou arregalada em um “O” perfeito – Os homens do diretor os levaram lá para baixo quando viram os policias chegarem. Sabe, Evan, eles pensaram que os seus amigos poderiam servir de escudos humanos. No começo deu certo, mas depois o plano foi por água abaixo. Os meus colegas morreram e os seus estão vivos.

— E os meus irmãos? — Minha voz estava tão frágil. Uma voz pequena para uma pessoa pequena – Eu os mandei para desamarrar os outros.

— Eu os vi correndo na direção oposta do tiroteio – Respondeu, agora ele estava passando ataduras em minha perna – Acho que eles não viram ninguém aqui, e foram embora.

— Mas... e os mortos?

—Que mortos?

— Os que estavam aqui nessa sala – Minha voz saiu um pouco irritada – Eu vi vários corpos nesse chão, tinha até sangue.

— Evan, você estava consciente que todos aqui usavam roupas a prova de balas, não estava – Confirmei com um aceno de cabeça – Então, ninguém aqui estava realmente morto. O sangue que você viu eram de cortes, assim como o seu. Todos que você viu no chão estavam apenas desacordados, mas não mortos. Morreram lá em baixo.

Eu fiquei um pouco irritado com a atitude dos meus irmãos. Eu tinha ariscado a minha vida para que ninguém os machucassem. Mas, a não ser alguns cortes superficiais e cabeças raspadas, eles estavam em perfeito estado. As mãos de Júnior estavam tão suaves em minha pele machucada e inchada. Fiquei contente em saber que o cara que eu amava estava bem, um sorriso languido se formou em meu rosto. Acho que Júnior interpretou o meu sorriso de forma errada, por que seu toque ficou mais ousado, o corte tinha sido em minha coxa, mas suas mãos estavam indo muito além, próximas a minha virilha. Mas eu o desencorajei, meus membros já não pesavam tanto, então não foi muito forçado tirar a sua mão dali. Ele não fez novas investidas. Também fiquei feliz por saber que o meu melhor amigo e o cara que ele gostava tinham se salvado, mas, mesmo a contragosto, eu senti um pouco de ciúmes. Eles viveriam por bastante tempo – assim eu esperava -, construiriam uma família só deles. Viveriam por vários anos juntos ou, na pior das hipóteses, iriam se separar e dividir os filhos. Enquanto a mim, eu não tinha um futuro certo. Tudo dependia daquele homem que me massageava, ele era quem saberia se eu viveria e construiria uma família, ou se morreria naquele momento. Mesmo eu não querendo, uma parte do meu cérebro, uma ainda que funcionava direito, imaginou, que talvez, talvez, ele me deixasse viver.

— Uma vez disse isso, mas vou repetir mais uma vez – Sua voz suave e grossa, no tom certo da sensualidade, me tirou dos meus devaneios que beiravam a insanidade – Se você estivesse comigo, não estaria todo machucado.

— Eu até poderia acreditar nisso, Júnior – Repliquei – Mas como poderia? Júnior suas palavas e suas ações são completamente divergentes. Ao mesmo tempo que você diz que não seria machucado se estivesse com você, eu sou machucado, e adivinha, é você quem faz isso.

— Mas também pudera, Evan – Ele estendeu a mão para mim, e eu acetei. Me sentei e comecei a encarar ele. Seus cabelos negros estavam charmosamente bagunçados, tão desalinhadoramente sexy... mas eu não senti nada. — Você não coopera, para eu poder te ajudar, você tem que me ajudar.

Eu não respondi e um silencio denso e constrangedor. Ele estendeu a mão até o meu rosto e traçou todas as linhas do meu rosto. O seu toque era suave e áspero ao mesmo tempo. Uma mistura tão boa e sensual, mas eu estava estragado para qualquer outro homem. Marvo era o único cara que eu precisava, o único cara que eu queria, o que eu amava. Seu rosto estava se aproximando do meu e eu não me afastei, deixei que ele me beijasse. Seus lábios estavam secos e sujos de terra, mas os meus não estavam lá essas coisas. Mas eu retribui o beijo, em nenhum momento, em que seus lábios estavam no meu, eu me senti traindo Marvo. Eu não sentia mais nada por Júnior, nem excitado eu fiquei. Viu? Estragado. Lentamente ele foi me deitando no chão. Sabia que ele queria mais, muito mais, e quando vi isso eu comecei a resisti, com um beijo eu tinha concordado, mas em transar, não, isso não. Tirei sua boca da minha, ele ainda tentou me beijar um pouco mais, mas vendo que eu não ia dar mais espaço para ele. Ele parou. Ficamos mais alguns minutos em silencio, apenas tentando recobrar a normalidade de nossas respirações. Por fim, foi ele quem quebrou o silencio, e disse:

— Evan? — Virei a cabeça em sua direção – Você sabia que o James estava realmente apaixonado pelo Lion?

— Estava? — Essa foi a única palavra que me chamou atenção. É claro que ele devia nutrir algum sentimento pelo meu amigo, afinal eles namoraram por dois anos e meio – Como assim, estava?

— Ele morreu, Evan – Respondeu, simplesmente.

Mais alguns longos minutos de silencio. Nesse meio tempo que nós dois estávamos ali dentro os tiros, os gritos e todos os outros barulhos do lado de fora foram diminuindo gradativamente. Agora já não passavam de eventuais sons. Algumas vezes eu ouvia um tiro perdido e eventual grito de alerta. Eu quebrei o silencio dessa vez.

— Como? — Perguntei, mas ele não respondeu, então eu fiz a pergunta novamente – Quero dizer, como foi que ele morreu?

— De uma forma bem tosca – E deu uma risadinha no final – Ele morreu lutando pelo amor de Lion. Estava tão enfeitiçado por aquele garoto, que não estava pensando direito. Ele estava comigo quando vimos eles, quero dizer Lion acompanhado de dois homens e uma mulher. Seus amigos, certo? — Acenei com a cabeça – Então, ele simplesmente enlouqueceu quando viu que Lion estava namorando um dos caras, foi o próprio Lion que o matou.

— O que?! — Me sobressaltei um pouco – Como?

— Estávamos escondido atrás de uma árvore – Começou – O plano era que ele pegaria Lion e sairia dali, mas James o viu beijando outro e ficou louco. Saiu de onde estávamos escondido e começou atirar a esmo, no final eu também me meti na briga. Eram quatro contra dois, mas, em alguns momentos, levávamos a melhor. Não sei como foi que ele fez, Lion quero dizer, não sei como foi que ele matou James, mas matou.

— Júnior, você já se apaixonou? — Perguntei, rapidamente.

— Humm... não – Olhei para ele – Ok, o.k., estou mentindo... talvez? — Ergui uma sobrancelha sugestivamente – Ok, tá bom? Eu já me apaixonei sim. Mas essa paixão foi decadente, me levou para baixo. Mas ao mesmo tempo que estava me levando para baixo, sendo que eu sabia disso! Então mesmo indo para baixo, figurativamente falando, eu me sentia bem, quando me sentia mal. Entende?

— Claro que sim – Respondi, prontamente – Então eu acho que sei como foi que Lion matou James.

— A paixão que o meu amigo sentia por ele o fez fraco – Ele não olhava mais para mim – Fraco ao ponto de ter a garganta atravessada por uma faca empunhada por um moleque franzino. — Ele olhou para mim – Você sabe que é por você que eu estou apaixonado, não sabe?

— Desconfiava – Respondi – Mas agora tenho certeza.

— Podemos fugir – Ele sugeriu – Eu já sou formado em contabilidade – Levantei uma sobrancelha, e ele riu – Sim, foram os quatro anos mais difíceis para mim, mas eu sou um contador formado. Podemos construir nossas vidas longe daqui. Só eu e você, deixaria tudo para trás por você. Apenas por você. Droga! Agora começo a entender James, estou de quatro por você. E então? Aceita fugir comigo?

Nunca respondi a sua pergunta, eu até abri minha boca para responder, mas a porta explodiu em uma confusão de cacos de Marvo entrou como um furacão na diretoria. Ele me olhou no chão, apenas de cueca, camisa e todo desalinhado. Enquanto Júnior também estava sexy. O cara com quem eu conversei por vários minutos atrás, se levantou em um pulo, mas segundos depois ele já estava no chão novamente. Marvo e ele estavam no chão, num embolado de membros, gritando xingamentos um para o outro de forma desenfreada. Marvo era maior que Júnior, mas o último era mais novo, então ele conseguia aplicar alguns golpes brutais no cara que eu amava. Mas Marvo não ficava atrás, ele conseguiu prender Júnior no chão, usando o peso do seu tórax para prender o tórax de Júnior no chão, os pés de Júnior calçados com grossos coturnos, arrastavam-se no chão de madeira polida do chão, o som de fricção era horrível. Mais horrível ainda era o som de carne se chocando contra carne, e, um pouco mais tarde, um som abafado e molhado. Eu não conseguia desviar os olhos daquela demonstração de violência mutua, os grunhidos deles causados pelos esforços de seus movimentos, acompanhado de sons de socos ecoavam pelo cômodo. Uma horripilante sinfonia macabra. Pouco tempo depois Júnior conseguiu se desprender do aperto de Marvo e deu um poderoso chute no estômago do meu homem. De longe deu para ouvir quando todo o ar de seus pulmões foram expulsos dos próprios. Foi nesse momento que eu cair na real, Júnior já estava socando violentamente o rosto e qualquer outra parte de Marvo. Sangue espirou quando Júnior quebrou o nariz de Marvo, me levantei o mais rápido que podia, mesmo tendo uma perna enfaixada. Me atirei sobre Júnior e dei um soco no seu ouvido, eu tinha certeza que o soco não foi tão forte, mas foi o suficiente para que ele saísse de cima de Marvo.

A nossa conversa de minutos atrás estava, a muito, esquecida. Quando ele ousou em bater no cara que eu amava, todo e qualquer sentimento que eu pudesse sentir por ele se esvaiu como fumaça. Ajudei Marvo se levantar de chão, e dei um chute no estômago de Júnior para ele sentir como era ficar sem folego. Marvo me empurrou para fora daquela sala, eu andava mancando. No corredor eu ia na frente e Marvo um pouco atrás de mim. Não sei quando ou como Júnior conseguiu seco recuperar tão rápido. Mas ele nos alcançou quando nós dois estávamos próximo a escada. Ele e Marvo começaram uma nova briga, essa mais violenta do que a antiga.

— Foge, Evan! — Gritou Marvo – Foge! Eu cuido desse aqui. Tem uma bomba! Bomba!

— Não vou sem você – Respondi. Não tinha como não dizer que eu não estava apaixonado por aquele homem – Ou eu saio daqui com você, ou não saio.

— Garoto burro! — Gritou, mas um sorriso brincava em seu rosto enquanto ele com uma mão segurava o pescoço de Júnior contra a parede e com a outra socava furiosamente seu estômago. O rosto de Júnior estava ficando roxo – Burro!

Com Júnior já bastante machucado e prestes a desmaiar, Marvo o soltou. Ele caiu como uma boneca de pano no chão, seus membros tão moles quando marcarão. Ele me beijou, um beijo cheio de saudades e um ardor que queimava o fundo do meu ser. Consumindo-me, e como sempre acontecia. Combustível e faíscas, nós explodimos. Mas como alegria de mais dura pouco, a nossa não foi diferente, não querendo ser clichê, mas já sendo, acho que alguém, em algum lugar, não queria me ver feliz. Júnior era mais forte do que eu pensava, ele já estava recuperado, ou meio recuperado, a violência que sofreu. Acho que ele não tinha mais força para mais uma rodada de briga corpo a corpo, pois o que ele fez depois demonstrou isso. Marvo me abraçava apertadamente, seus beijos estavam tão intensos e gostosos. Ele se jogou contra mim e Marvo. Nós estávamos perto da escada e eu me desequilibrei. Ele também caiu junto conosco, rolamos vários degraus da escada em espiral, minha cabeça se chocou várias vezes nos degraus, no corrimão de madeira e em algum momento – Júnior ou Marvo – Sentou sobre a minha cabeça. Com uma agonia explosiva eu ouvir meus dentes trincarem, eu senti quando eles quebraram e eu os vi caírem nas escadas. Gritei e uma golada de sangue invadir meu paladar, denso e ferroso, também me fez engasgar. Minha garganta, já ferida, ficou estilhaçada quando alguns pedaços dos meus dentes desceram por ela.

Não sei por quanto tempo caímos, mas já não sentia mais nada. Meu corpo se encontrava em um torpor tão grande que o tempo se tornou relativo, um mísero detalhe, um plano de fundo para a minha agonia ululante. Eles ainda caíram por cima de mim mais algumas vezes, mas eu nem reclamei, por favor que eu morresse agora. Era só isso que eu podia pedir, que eu morresse agora. Mas eu não tive essa sorte, cheguei no chão ainda com um ínfimo fiapo de pensamento sóbrio. Marvo e Júnior ainda ficaram um tempinho no chão, mais minha mente estava tão embaralhada, explosões de dor no meu cérebro eram dolorosas ao extremo. Com um último esforço busquei a mão de Marvo, mas não a encontrei, sentia minhas forças se esvaindo, então o meu pedido foi atendido? Um sorriso quebrado brincou em meus lábios, mas será que poderia realizar só mais um? Só mais um antes de morrer? Eu queria tocar Marvo mais uma vez, mas não tive essa sorte, então tive que me contentar em apenas olhar o seu belíssimo rosto.

— Eu te amo – Sussurrei, mas ele não escutou. Na verdade nem eu escutei, eu só sabia que era aquela frase, por que era a frase que eu diria para ele depois que o nosso beijo acabasse. Mas nosso beijo foi interrompido de maneira brutal, não tive a chance de dizer que o amava, mas a frase tinha ficado gravada em meus lábios – Eu te amo.

Repeti antes de cair na inconsciência.

Mas, infelizmente – ou felizmente? — eu não tinha morrido, só desmaiado. Mas o meu desmaio não foi sossegado, meus sonhos estavam repletos de memórias dolorosas, vermelhos como o sangue que eu tinha visto, que eu tinha sentindo, cheirado, tocado. Todo vermelho como o sangue do diretor quando eu o matei, vermelho como o meu amor explosivo por Marvo. Depois do vermelho os meus devaneios ficavam estranhamente dolorosos. Cada mínimo arranhão que uma vez eu já fiz, voltou a ser sentindo novamente em meus devaneios, dez vezes pior. Como se saia daquele sonho macabro? Marvo cade você? Uma vez eu tive um sonho como esse, na vez que Júnior me espancou e eu fiquei meio adoentado. Mas agora eu não conseguia me lembrar de nada sobre o sonho, só conseguia me lembrar do calor e da dor. E nesse meu devaneio dolorido eu conseguia sentir apenas isso. Dor, dor, dor, dor, dor, dor! Dor!!!!!!!!!

Mais o que era a dor para mim? Uma sensação tão horrível como aquela nem poderia ser descrita com belas palavras, se alguém, algum dia conseguir fazer isso, eu o aplaudirei de pé sobre um monociclo numa corda bamba e diria que ele fez o eufemismo do ano. Mas eu ia tentar, a dor que eu estava sentindo extrapolava limites altíssimos, mas se eu pudesse coisificá-la, a dor, quero dizer, eu diria que ela era uma garrafa de uísque. Queimava como o inferno na primeira golada, mais depois a garganta já estava acostumada, tão esfolada e vermelha que após do sexto copo você já não sente a dor inicial, um pequeno incomodo talvez, mas dor? Não! Era assim que estava me sentindo, já tinha extrapolado o meu limite para dor, agora eu estava esfolado e a dor não me afetava tanto. Se eu pudesse transformar a dor em um sentimento eu iria transformá-la na negligencia que eu sofria com os meus irmãos, a constante busca de atenção dele. Mas eles nem me davam bola, era tão revoltante e dolorido – viu? Dor! — que mesmo eu sendo uma criancinha magrela eu já me sentia revoltado e triste. Sempre buscando pela aprovação deles, correndo e me humilhando para que eles falassem comigo.

“Nós somos gêmeos! Brinquem comigo!” Eu costumava gritar isso com a minha voz estridente de criança, cada vez que eles me colocavam de lado em suas brincadeiras, no que sempre eles respondiam:

“Somos gêmeos, mas não siameses” eu não sabia o que era ser um siames, então ficava calado “Não precisamos fazer tudo junto”

O meu rosto infantil ficou borrado quando eu comecei a recobrar a consciência. Abri os olhos e virei a minha cabeça para o lado, na esperança de ver Marvo, mas não tinha ninguém ali. Ainda fiquei bastante tempo deitado ali no chão, eu corpo todo doía, meus dentes quebrados eram um tormento, passei minha língua nos pedaços quebraços e uma pontada de dor se expandiu daquele ponto por todo o meu corpo.

— Marvo? — Chamei, minha voz ecoou fracamente naquela recepção escura e fria. Tornei a chamar – Marvo?

Ele não respondeu, minha mente febril não estava tão caótica, eu sabia que ele não estava ali. Muito menos Júnior. As únicas coisas que eu conseguia escutar ali era a minha respiração fraca e rasa e uns “bips” eletrônicos... os mesmos baralhos que eu escutei quando estava falando com Júnior. Uma lembrança fez cócegas em minha memória, mas nada de muito urgente se fez presente em minha mente. Fiquei acompanhando os bips, um atrás do outro em um intervalo de um segundo de um bip para o outro. Sete minutos e doze – treze, quatorze, quinze... - segundos depois foi que eu me toquei. Bomba! Fora isso que Marvo tinha gritado quando me mandou sair dali. Meu corpo ficou formigando, adrenalina foi novamente liberada no meu sangue. Doeu bastante para me sentar, mais eu consegui, não ousava olhar para minha perna enfaixada e muito menos passar minha língua no buraco em que uma vez tivera dentes. Mancando eu comecei a sair dali, vi uns respingos de sangue na direção da porta e eu imaginei que talvez fosse se Júnior ou, quem sabe, de Marvo.

Já do lado de fora, eu não vi nada. O frio me abraçou como um amante e a escuridão como o meu marido. Ambos tão ruins. Não tinha nem andado vinte metros quando o bip cronometrado parou e em seu lugar deu espaço a um bip prolongado “bippppppppppppppppppppppppppppppp” virei para trás bem a tempo de ver as rachaduras na parede, como pequenas teias de aranha, milimetricamente feitas, depois senti um empuxo forte, o prédio se concentrou, um momento, para dentro, depois explodiu. E depois a noite fria e escura foi substituída por calor, luz e dor. Com toda a certeza dor.

Voei, literalmente falando, quando a explosão chegou na minha área. Destroços quentes e outras coisas se chocaram contra mim, minhas costas bateram em alguma coisa dura e eu fiquei sem ar. Meu braço era um novo ponto de dor, mais forte do que qualquer outro. Gritei, um grito de pura agonia, tão concentrada que eu mesmo fiquei mal.

Marvo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Será que eu tinha gritado aquela frase? Ou tinha sido apenas em minha mente? Não saberia dizer, mais uma vez naquele dia eu cai na inconsciência. Com o meu principal remédio para dormir: A dor. Antes de fechar os olhos eu pensei: Que dessa vez que eu morra! Chega de dor, quero morrer!

Fechei os olhos.

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Obrigado pelos comentários gente, serio mesmo. então amanhã eu posto a parte final do destino do Evan, mas... (um pequeno spoiler: não é ele - o Evan - quem vai narrar). A respeito do outro conto, eu não o abandonei, só dei um tempo para terminar "Por Favor...Me Ame!" vou continuar o outro assim que terminar esse.

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Comentários

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Que agonia essa saga de Evan.Depois dessa ele vai ter que se todo remendado.Espero que Marvo tenha saido ileso dessa explosão. E Junior tenha partido dessa pra melhor.

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Nossa oque será que vai acontecer agora ai meus deus estou ate com medo .

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