A verdade? Eu nunca o havia visto antes, quer dizer, nunca havia visto nenhum deles antes, esse é o problema de ser criado em um orfanato, você não sabe quem você é, não sabe quem você será e no meio de tantas outras crianças que passam pelo menos problema que você, parece que ao invés de estar em um ambiente com pessoas diferentes, você está em uma sala cheia de espelhos, cheia de pessoas com as mesmas dores, os mesmos problemas, o mesmo trauma: A rejeição.
Não existe nem melhor nem pior quando se está em um orfanato, passar os dias e as noites sem ter ninguém para dizer que te ama, para lhe dar um beijo de boa noite e até mesmo um abraço, parece meio chato, muito infantil, mas é o que sentimos quando crescemos em um lugar assim.
Não digo que todos os dias são de sofrimento, tive muitos momentos bons, fiz amigos, tive um romance e isso mudou meu jeito de ser, não sei se para melhor, mas me mudou.
Não sabia quantos graus fazia lá fora, eu sei que chovia e estava frio, a agua caía forte em cima do telhado e dava a impressão de que ele iria cair a qualquer momento, o vento entrava pelas pequenas frestas das janelas e por baixo da porta fazendo o quarto ficar frio, eu não me incomodava muito, gostava de sentir aquele leve frio passar pelo meu rosto, mas também não era nenhum louco de ficar descoberto enquanto dormia.
Não consegui dormir mais, o barulho da água fazia com que o meu sono se espalhasse, não por medo, mas por que eu tinha o sono extremamente leve. Com o passar das horas, pude ver o sol nascendo e ir ficando forte a medida em que os minutos passavam, me levantei antes de todos, peguei a minha toalha que ficava pendurada ao lado da minha cama e me dirigi até o banheiro, tomei o meu banho matutino e sai pelo corredor apenas de short e com a toalha pendurada em meu pescoço.
- bom dia Edu, o que faz em pé tão cedo? – perguntou a Carla
Ela é uma das professoras do orfanato, uma pessoas gentil que está sempre sorrindo.
- acabei não conseguindo dormir direito – falei parando
- a chuva está muito forte mesmo, quase não consigo chegar aqui – falou rindo – você deveria ir colocar uma blusa de frio e uma calça – falou me olhando.
- eu vou me vestir sim, não vai demorar para o pessoal acordar – falei
- ótimo, não quero ver você resfriado – falou passando a mão em meus cabelos e andando.
♥
Eu continuei caminhando de volta para o quarto, entrei e me troquei, achava que todos estavam dormindo, mas observei um par de olhos me olhando a alguns metros, por falta de claridade suficiente não consegui saber quem era, apenas via os olhos e parte do nariz. Resolvi não tentar mais saber quem era, apenas me vesti colocando uma calça e a camisa do orfanato, sequei meus cabelos e saí do quarto.
Fiquei sentado em frente a sala de aula, haviam espaços entre as pilastras que eram feitas de bancos, a chuva ainda continuava forte, fiquei olhando para ela caindo e acabei cochilando sentado com a cabeça escorada em uma das pilastras.
♥
Acordei com o barulho do pessoal circulando, todo mundo já havia acordado e esperava o café da manhã, passei a mão nos olhos e logo me ajeitei, a chuva havia parado, mas o sol ainda não havia dado as caras, me levantei e antes que pudesse passar pelo lance de salas senti uma mão segurar meu ombro me fazendo virar para trás.
- eu estava lhe procurando – disse a diretora do orfanato
Ela não dava medo, mas era uma mulher um pouco séria, sempre altiva e com pose, sabia como tratar as pessoas e isso era o que importava.
- eu fiz alguma coisa? – perguntei
- não, mas preciso que venha comigo, temos que conversar – ela disse me olhando nos olhos
- tudo bem – falei calmo
Eu a segui, caminhamos vários metros até finalmente chegar a sala dela, me sentei na cadeira a frente e ela logo sentou-se no seu lugar, ficou me olhando por alguns segundos.
- o que eu tenho pra te dizer é que, os seus pais estão aqui, eles querem recuperar a sua guarda – ela disse sem rodeios
Nos primeiros segundos não consegui administrar o que ela havia dito, mas depois o meu coração começou a bater forte e eu não podia controlar, a verdade é que eu não conseguia controlar.
- co... como assim? – perguntei
- a verdade é que eles conseguiram sua guarda novamente, sei que é difícil ouvir isso assim tão rápido, mas eles estão a quase uma hora te esperando – ela disse
- meus pais? De verdade? – perguntei
- é, suas coisas estão na outra sala – ela disse me olhando
Me passou pelo corpo um misto de medo e felicidade, de agonia, não sabia como eles eram, não sabia o porquê de me quererem agora. Sem ao menos dizer mais nada a porta da sala se abriu, eu virei as costas e havia uma mulher loira me olhando com os olhos cheios de lagrimas, eu me levantei da cadeira rápido e ela se aproximou de mim segurando o meu rosto.
- você é tão lindo, tão lindo – falou sorrindo
- Julia vai com calma – um homem falou atrás dela
- como eu senti sua falta meu filho, meu pequeno Lucas – ela disse chorando
Senti seu abraço apertado, não esbocei reação e acho que não conseguiria. Os momentos que se passaram foram deles dizendo o quanto sentiam por ter me abandonado, por ter me deixado em sozinho, mas que eu agora iria ter a minha família de volta, a minha vida de volta.
Quando percebi, eu estava dentro do carro com dois estranhos que diziam ser meus pais indo para um lugar desconhecido, senti mais do que medo, senti angustia, aflição por não saber o que me esperava e a medida em que o carro avançava por aquela pista longa, a chuva voltava me fazendo sentir frio, muito frio.
♥♥♥
Olá pessoal, essa é a primeira parte de um livro que eu estou escrevendo, é um romance muito intenso, cheio de descobertas, desejos, novos sentimentos e muita emoção, espero mesmo que gostem. Não esqueçam de comentar e de votar caso tenham gostado e eu postarei mais.
Beijos - Nick.
