Naquele momento, tudo o que eu pensava era em como minha vida havia mudado de uma hora para outra, não me despedi dos amigos que fiz, nem das professoras que sempre me ajudaram, foi da sala da diretora para fora do orfanato.
Eu estava parado com os braços apoiados na janela daquele quarto, olhando a chuva caindo fraca no jardim daquela casa, eram impossível conter as lagrimas, uma confusão enorme surgia dentro da minha mente, eu já não sabia qual era o meu nome, se era Eduardo ou Lucas.
- você quer comer alguma coisa? – ela falou tirando a minha atenção
- não, estou bem – falei quase sem voz. A verdade é que eu estava morrendo de fome.
- eu.... Eu queria te explicas algumas coisas – sua voz saiu fraca, meio chorosa e com uma entonação grave que me pareceu triste.
Eu me virei a olhando, seus olhos estavam marejados. No caminho entre o orfanato e aquela casa, eu não disse uma palavra, não conseguia, simplesmente as palavras não saiam da minha boca e minha garganta estava tão seca. Ela se aproximou sentando-se na cama, ficou me encarando como um convite para que eu me sentasse ao seu lado, fitei o lugar por alguns segundos e logo me aproximei sentando.
- eu queria que.... Que você soubesse o motivo de ter ficado em um orfanato por tanto tempo – ela disse me olhando – eu tinha 16 anos quando você nasceu, meus pais me colocaram para fora, não queriam uma filha adolescente gravida dentro de casa, sendo a vergonha da família, os pais do Pedro me odiavam e disseram que eu havia arruinado a vida do filho deles.... De início eu chorei muito, não sabia o que fazer e o Pedro estava discutindo tanto com os pais que me senti culpada, pensei em fazer aborto – ela começou a chorar – pensei em desistir de tudo, mas ai ele ficou comigo, brigou por mim e fomos morar com um amigo dele, as coisas ficaram tão complicadas, tão ruins.... Quando vocês nasceram, você e seu irmão, estavam tão lindos, tão pequenos e eu chorei muito por que sabia que não iria conseguir cuidar dos dois, dar o que vocês precisavam, eu dei vocês dois para adoção.
Foi nesse momento que eu percebi que não era só eu, eu tinha um irmão gêmeo e não sabia. Ela começou a chorar e as lagrimas caiam fortes dos seus olhos, os meus já estavam encharcados, eu continuei olhando para ela.
- quando eu finalmente consegui um emprego, já fazia mais de um ano que eu havia deixado vocês dois em um orfanato, a avó de vocês os procurou e só conseguiu encontrar o Luan, você havia sido mudado de lá e .... – antes dela terminar, alguém bateu a porta, ela passou a mão nos olhos limpando as lagrimas e pediu que entrasse.
- dona Julia, eles chegaram – uma mulher morena falou entrando no quarto
- já estamos indo Camila – ela disse sorrindo
- acho que você vi querer conhecer o restante da família – ela me disse
- claro – falei secando as lagrimas do meu rosto
Me levantei e a segui, saímos do quarto e descemos os lances de escadas até a sala, só haviam três pessoas lá um garoto loiro que aparentava ter a minha idade e um menor que deveria ter uns cinco a seis anos, já ele era moreno.
- meninos, esse é o lu.... Eduardo – ela disse assim que nos aproximamos
Eu o encarei, não tínhamos a mesma aparência, mas éramos parecidos, seus olhos azuis tinham a mesma intensidade que os meus, ele veio se aproximando de mim e me abraçou forte, tão forte que quase me senti esmagado por seus braços, não me intimidei e o abracei também, senti um alivio enorme dentro de mim.
- bem vindo – ele sussurrou
Depois de abraços e momentos de choro, eu finalmente cedi e acabei comendo algo. Ainda estava na cozinha, sentado à mesa com o Luan e o Lúcio, logo ouvi passos vindos em direção a cozinha e uma voz grossa ecoava de forma estrondosa, ele chamava pelo Lúcio, perguntando onde estava o lulu. O Lúcio levantou da mesa e saiu correndo, antes que pudesse passar pela porta da cozinha, ele apareceu vestindo uma camisa azul com uma gravata azul marinho, segurou o Lúcio no colo e beijou o seu rosto que riu.
Ele levantou os olhos e me olhou, senti o meu rosto queimar quando o vi, quando ouvi sua voz, era como se ela já estivesse dentro de mim, ele ficou me encarando por segundos, seus olhos não desgrudavam dos meus, logo ele olhou para o Luan o cumprimentando com um aperto de mão.
- Breno, esse é o Eduardo, meu irmão gêmeo – Luan falou
- prazer – falou estendendo a mão.
Fitei ela por alguns segundos e logo as toquei. Naquele momento senti tantas coisas que eu não sabia o que administrar primeiro, uma mão grande e macia de quem cuida bastante dela, ele me olhou de forma tão intensa que mal conseguir responde-lo, apenas sorri e ele se afastou perguntando pela Julia.
Enquanto ele conversava com o Luan, levei minha mão até o nariz e a cheirei, senti aquele cheiro suave de hidratante, um cheiro leve e gostosos, não teve como não ficar excitado, acabei me encolhendo debaixo da mesa para esconder a ereção.
- quem é aquele? – perguntei ao Luan assim que ele havia saído
- é um amigo da mamãe, ele trabalha com ela também – falou me olhando – você gostou do quarto? – perguntou
- gostei sim, não tinha como não gostar – falei sorrindo
- como era lá? – ele perguntou me encarando
- no orfanato? – ele assentiu – sei lá, tinha seus momentos bons e outros nem tanto, - falei
- a parte mais legal – perguntou
- os esportes, era onde todo mundo se divertia – falei
- as vezes eu cheguei a pensar que você estava melhor do que eu – ele disse
- você sabia de mim? Tipo, que eu existia? – perguntei
- sempre, a mamãe fazia questão de nos lembrar que tínhamos um irmão e que iriamos encontrar ele, que você iria voltar para nós, - ele disse
- nossa – falei
- pois é.... Hum, eu tenho que te mostrar uma coisa, vem comigo – falou segurando o meu braço
Passamos pela sala e lá estava ele, sentado conversando com a Julia, ele novamente me olhou, foi tudo tão rápido que quando eu percebi já estava no corredor indo em direção a um dos quartos. Entramos e ele logo me fez sentar na cama.
Ele abri o guarda roupas e pegou uma caixa que estava embaixo de algumas roupas, logo veio em minha direção e me mostrou uma fotografia, eram dois bebes abraçados em uma cama.
- somos nós? – perguntei
- é sim, a mamãe me deu essa foto quando eu tinha 10 anos, me disse para guardar com cuidado, eu sempre achei você mais gordinho – ele falou me olhando
- nada a haver, não dá para identificar aqui – falei olhando
- você é o da esquerda – ele disse se sentando na cama
- tudo bem, não dá pra discutir – falei sorrindo – você sempre teve seu cabelo assim? Cortado baixo? – perguntei
- não, o meu era grande também, eu cortei faz pouco tempo.
Era inevitável, tínhamos uma conexão muito grande, ficamos conversando por horas e horas, ele me contava coisas de sua infância e eu falava como era a vida no orfanato, Luan é o tipo de pessoa que você passa horas e horas conversando e não se cansa, mas ele deixava um ar de timidez.
A noite logo chegou, eu tomei um banho e troquei de roupa, usei as que estavam guardadas dentro do guarda roupas, fiquei deitado na cama pensando nas coisas que estavam acontecendo e logo me veio aqueles par de olhos verdes, aquele toque dele, o som da sua voz ecoava dentro da minha cabeça repetidamente, como se fosse uma música colocada no replay, me peguei sorrindo, não sabia do que, mas eu estava.
Aconteceram tantas coisas em poucas horas e mesmo assim eu consegui pegar no sono, deveria estar exausto devido a viajem e tudo o que me ocorreu.
♥
Acordei no dia seguinte, o quarto estava meio escuro, vinha pouca claridade da cortina na janela, eu me levantei e a abri, a chuva do dia anterior havia sumido, hoje o sol estava forte. Entrei no banheiro e tomei banho, vesti uma bermuda e uma camiseta, sequei os cabelos e os deixei meio bagunçados, passei apenas as mãos, saí do quarto e desci, não havia ninguém ali, nem na sala, nem na cozinha, a casa estava em silencio total, fiquei olhando para um porta retrato em cima de um criado mudo junto ao telefone, logo ouvi uma voz atrás de mim que me fez assustar.
- você quer comer algo? – ela disse
Olhei para trás e lá estava ela, a empregada da Julia, a mesma que havia ido chamar ela no meu quarto. Ela parecia ter lido a minha mente, pois antes que eu dissesse algo ela explicou:
- o seu pai e a dona Julia foram trabalhar e os meninos estão no colégio, mas o que precisar é só falar comigo – ela disse sorrindo, eu afirmei com a cabeça – vou preparar algo pra você comer – ela disse indo em direção a cozinha
Fiquei sentado no sofá por um tempo, olhando pro nada, até que a campainha tocou, eu me levantei do sofá e caminhei até a porta, abri ela e dei de cara com ele, dessa vez ele vestia uma camisa branca de mangas e um terno cinza por cima, estava incrivelmente lindo e novamente olhei direto para seus olhos, ele sorriu.
- posso entrar? – perguntou
- claro – falei saindo da frente
- eu vim pegar uns papeis que a Julia deixou no escritório – ele disse calmo e me olhando fundo nos olhos
- tudo bem – eu falei – você.... Você já deve saber onde fica – completei
- sim – disse sorrindo
Que sorriso lindo.
- você não quer ver? – perguntou
- o que?
- ver onde fica o escritório, acho que você não conhece a casa direito – ele disse
- sim, quer dizer, não, só conheço a cozinha e o quarto – falei
- são os melhores lugar, comer é muito bom – falou me olhando
Não sei o que ele quis dizer com aquilo, mas senti uma pontada de duplo sentido que quase me deixou sem ar.
♥♥
Pessoal. O primeiro capitulo foi mais explicativo, acho que é importante em uma história ou causará confusão mais cedo ou mais tarde. Darei continuidade caso gostem, não tenho muita experiencia se tratando em escrever para outras pessoas alem de mim, então, espero que entendam e desculpe os erros ortográficos. Comentem e votem para saber a opinião de vocês.