- quer me dizer que merda está acontecendo aqui? – perguntei empurrando o Caio que queria se aproximar do Luan
- esse mané fica dando em cima da minha irmã – Caio gritou tentando tirar o meu braço da frente, ele poderia ser mais forte do que eu, só que não iria deixar ele bater no Luan
- calma esquentadinho ou a tua cara é que vai ficar marcada – falei alto empurrando ele
- não precisa me empurrar pow. – falou se afastando
- Caio, por favor, para com isso – disse uma menina morena
- fica longe dela está ouvindo? – falou apontando o dedo pro Luan que permanecia imóvel. Eu o empurrei para que se afastasse e segurei no braço do Luan o puxando.
- vem Luan, vamos sair daqui – disse
Apenas olhei para o Caio que ajeitava sua roupa, subi com o Luan para o segundo andar e entramos no banheiro, ele ficou me olhando com uma cara um pouco assustada.
- pode me falar o que aconteceu lá embaixo? Ele estava quase socando a sua cara – perguntei
- lembra da garota que eu te falei que eu gostava? – perguntou
- não vai me dizer que é namorada do Caio? Você está pensando o que? – perguntei o encarando, ele se apoiou na pia.
- não, não é namorada dele, é irmã. – ele disse
- e por que ele queria te bater? – perguntei
- ano passado em uma das festas de meio de ano do colégio, eu estava na quadra com a Carol e o Felipe, ele era um ano a mais que a gente – ele coçou a cabeça – estávamos conversando e logo o Caio apareceu dizendo que o Felipe havia entregado ele para o professor de história, que por causa dele iria perder na matéria e os dois saíram na porrada, tentei afastar mas foi inútil, o Caio quase o quebrou todo e quando o diretor perguntou o que havia acontecido, tive que contar e o Caio foi suspenso da escola por dois meses, perdeu as provas e agora ele repete de ano, desde esse dia ele implica comigo e toda vez que eu estou conversando com a Manuela ele vem pra cima de mim me pedindo para me afastar dela, o cara é um idiota – disse, ele se apoiou na pia – olha, não conta pra ninguém lá em casa que isso aconteceu, da última vez eles quase processaram o Caio e eu não deixei por causa da Manuela – ele completou
- ele já te bateu? – perguntei
- umas duas vezes, a segunda ele quase quebrou meu nariz – ele disse aflito.
Ali eu percebi que o Luan era mais tímido do que eu pensei, ele simplesmente não se defendia de valentões como o Caio, não se defendia de pessoas que queria fazer algo contra ele. Não conversamos mais pois entrou algumas pessoas no banheiro, assim que saímos eu o deixei na porta da sala dele e caminhei para a minha, entrei eu vi o Caio sentado no mesmo lugar, ao lado da minha cadeira. Eu me sentei sem dizer uma palavra, o professor ainda não havia chegado, ele ficou me olhando.
- eu não sabia que ele era seu irmão, é que…- eu o interrompi
- você parecia um maluco – gritei - Eu sei que eu não te conheço direito, mas não precisa sair avançando em cima das pessoas por apenas conversar com a sua irmã, e o Luan é um cara legal, - falei
- aquele mané destruiu a minha vida ano passado, quer que eu fique vendo ele dar em cima da minha irmã e não faça nada? – perguntou alterado
- vai me dizer que você não dá em cima da irmã de ninguém? E ele não tem culpa se você saí por ai querendo quebrar a cara de todo mundo, aprenda a assumir os seus erros seu idiota – falei pegando as minhas coisas e me levantando, ele puxou o meu braço me fazendo sentar na cadeira novamente.
- você sabe por que eu bati no Felipe? – perguntou me olhando – você só sabe o que o mané.... Quer dizer, o Luan te contou. O Felipe fudeu a minha vida ano passado, ele colou na prova de história e colocou a porra da pesca dentro do meu caderno, o professor achou e me culpou por ter colado, eu perdi na prova, fiquei sem nota na unidade e quase apanhei do meu pai por causa disso, eu estava com tanta raiva que só pensava em quebrar a cara dele – disse me olhando
- por que não contou ao diretor? – perguntei
- acha que ele iria acreditar em quem? Em mim que arrebentou a cara de um adolescente ou no santinho que ficou com a boca cheia de sangue? – perguntou me olhando
- não precisava bater nele, nem querer bater no Luan só por que ele é afim da sua irmã – falei o encarando
- o seu irmão não é santo, eu expliquei a ele o que havia acontecido e mesmo assim ele me dedurou ao diretor, e se depender de mim, e quer saber mesmo? A Manuela não gosta dele – disse se jogando na cadeira
Eu não sabia mais o que falar, apenas me ajeitei em minha cadeira e fiquei pensando no que ele havia me dito. Logo o professor entrou na sala e ele não saiu dali, pelo contrário, ele ficou sentado no mesmo lugar sem dizer uma palavra, qualquer outro teria levantado e saído, mas ele ficou e não trocamos mais palavras até o fim da aula.
Encontrei o Luan na saída, algumas pessoas ainda me olhavam como se estivessem me analisando, acabei não ligando por ser normal, ver carne nova no pedaço e querer analisar.
A aula acabou perto do meio dia, eu estava com muita fome, não havia comido nada no intervalo devido a briga que houve entre os dois, também não puxei assunto com o Luan sobre o que havia conversado com o Caio. Estávamos sentados em um banco de cimento que fica em frente à escola debaixo de algumas arvores, esperávamos o Pedro ir nos buscar, mas, segundo o Luan, ele sempre demorava mais de meia hora para chegar, por isso ele sempre chegava tarde do colégio.
- podemos ir de ônibus – falei o olhando
- eles não gostam que eu pegue ônibus, acham que eu vou me perder – falou se referindo ao Pedro e a Julia
- eu estou com muita fome, acho que se eu esperar mais de meia hora, não chegarei vivo – falei sacando o celular do bolso
- o que vai fazer? – perguntou descascando uma bala e pondo na boca
- vou ligar para o Pedro, avisar que vamos de ônibus – falei
- não vai dar em nada – disse me encarando
Procurei o número na agenda e liguei. Chamou umas duas vezes e ele logo atendeu, havia um barulho no fundo.
- eu saio daqui a meia hora para buscar vocês – ele disse ao atender
- nós já pegamos um ônibus – falei
- vocês o que? Estão ficando malucos? – perguntou
- não, estamos com fome e querendo chegar em casa – falei olhando para o Luan – não se preocupe, andar de ônibus é igual a andar de bicicleta, nos vemos em casa, tchau – falei desligando
- você ficou maluco? – Luan perguntou assustado
- eu não vou esperar mais de meia hora sendo que de ônibus devemos gastar uns 10 a 15 minutos, é horário de almoço, o povo da louco pra ir pra casa comer, vamos chegar rápido – disse me levantando.
Ele continuou sentado me encarando.
- vai ficar ai? – perguntei. Ele levantou – espero que tenha dinheiro – falei andando
Caminhamos alguns poucos minutos e encontramos um ponto de ônibus, haviam alguns estudantes da nossa escola sentados, outros adultos, nos sentamos e logo o ônibus apareceu, Luan subiu meio receoso, sentando no fundo e o ônibus partiu. Como eu havia previsto, não demorou muito e logo estávamos em casa, subimos e eu entrei no quarto jogando a mochila em cima da cama e tirei os sapatos pisando com os pés quentes no chão frio, dizem que faz mal, mas a sensação é tão boa que eu nem me importei. Se morrer, morreu.
Não demorou para meu celular começar a tocar, eu peguei atendendo, era o Pedro me perguntando onde estávamos, ele estava preocupado pois poderíamos nos perder e coisas desse tipo, falei que estava em casa indo tomar banho e ele logo me pareceu mais tranquilo, disse que só chegaria em casa à noite e desligou.
...
Eu tirei minha roupa e me joguei no banheiro, tomei um bom banho para tirar o suor, me vesti colocando uma bermuda e uma camiseta, logo desci e almoçamos. No meio da tarde, depois de ter dormido um pouco, eu comecei a me atualizar sobre as atividades do colégio, ouvi o barulho do portão sendo aberto e saí na janela para ver quem era, e lá estava ele, saindo do carro cheio de pose, camisa 3x4 azul clara – percebi que ele ama azul – e uma calça preta social mas bem ajustada ao seu corpo, meu coração começou a acelerar de uma forma que eu não conseguia conter, o que aquele homem causava em mim era difícil de explicar.
Deixei o caderno e o computador jogado em cima da cama e me ajeitei no espelho, saí do quarto com o celular na mão e desci as escadas devagarzinho como quem estivesse teclando algo no aparelho, logo ele passou pela porta que foi aberta pela camisa, eu dei as costas e entrei na cozinha, bebi apenas um copo com agua e saí, ele não estava na sala, deduzi que estava no escritório, sentei no sofá e fiquei olhando para o corredor para ver se ele aparecia, fui surpreendido pelo Luan que apareceu sentou-se ao meu lado.
- está procurando quem? – perguntou
- ninguém – falei meio assustado
- parece que está procurando alguém – falou insistindo
- eu só estou observando algo. O que o Breno faz aqui? Quer dizer, ele vem aqui várias vezes – perguntei
- parte do trabalho dele e da mamãe estão em um computador e em arquivos dentro do escritório, eles armazenam tudo aqui como uma cópia de um backup, e também tem informações de clientes antigos e essas coisas, é melhor do que deixar na empresa pois podem hackear o servidor e sabe como é esse povo que mexe com computadores, então ele vem aqui quando precisa de informações – falei
- mas não é muito trabalho? Sair de lá e vir para cá? – perguntei
- a empresa é a cinco minutos daqui – falou mordendo a maçã que só havia percebido que estava nas mãos dele naquele momento;
- entendi. – falei tentando não demonstrar interesse, mas a verdade é que eu estava muito interessado.
Ficamos sentados no sofá conversando até ele subir dizendo que iria terminar de resolver alguns trabalhos, apenas consenti com a cabeça e ele subiu, fiquei sentado no sofá mexendo no celular, havia baixado um joguinho e estava jogando, acabei me distraindo com o jogo, logo senti um arrepio na minha nuca e uma voz ecoou suavemente perto do meu ouvido me fazendo quase gemer.
- vejo que gostou do celular – disse Breno próximo a meu ouvido
Senti os pelos do meu corpo se arrepiarem com aquele quase contato, sua boca perto do meu ouvido, seu hálito suave de menta. Eu virei o meu rosto para trás e quase encostei minha boca na dele, foi quando me afastei rápido do sofá e ele se corrigiu ficando ereto. Ficamos em silencio por alguns segundos, apenas nos olhando, logo ele quebrou o silencio.
- então? É bom não é? – perguntou pondo as mãos nos bolsos
- o que? – perguntei meio abobalhado
- o celular – falou passando a mão pelos cabelos
- ah, sim.... Muito bom – falei olhando. Ah, que boca linda, rosada, carnuda.
- eu.... Eu vou indo nessa. – falou dando dois passos para trás
- tudo bem – disse sorrindo
Tudo bem? Que porra é essa? – pensei
Ele sorriu e abriu a porta saindo. Quase me matei de ódio por ter dito apenas um “Tudo bem” meio bobo, e o que foi aquilo? Sua boca perto do meu ouvido quase sussurrando para mim. Eu levantei rápido e fui até a janela afastando a cortina, vi ele entrando no carro e logo o portão foi aberto, ele saiu e eu fiquei ainda olhando para fora.
Depois dessa cena, eu passei a tarde toda pensando nele, era impossível não pensar, ah, e como ele ficava lindo de roupa social, aquela camisa azul combinava com ele, eu estava pensando tanto no Breno que mal cabia outros pensamentos em minha mente.
Terminei as atividades que haviam, com um pouco de dificuldade e ajuda do Luan eu consegui fazer, deitei na minha cama ouvindo música até a porta do meu quarto ser aberta, era o Pedro.
- precisamos conversar – ele disse entrando
Eu me sentei na cama como uma afirmação, ele puxou a cadeira da mesa do computador e sentou-se próximo a minha cama me olhando, logo depois ele veio falando sobre termos pego o ônibus, como era perigoso para nós dois que sabíamos andar de ônibus, aquela coisa de pai que se preocupa demais com o filho, senti que ele disse isso mais em relação ao Luan, e depois dessa conversa, só confirmei que o motivo do Luan ser tão tímido e não sair muito tem nome e identidade: Julia e Pedro. Os dois tratávamos os meninos com tanto cuidado que era quase sufocante, nada dentro de casa era controlado, mas quando se referia a sair para o mundo exterior, todo cuidado era pouco.
De certa forma, senti que, parte disso era pelo fato de terem me perdido por 16 anos, terem me colocado em um orfanato, tudo isso acabou sufocando todos eles.
Aquela conversa não durou muito, ele logo se foi e em poucos minutos eu desci para jantar. O dia seguinte, novamente o dia na escola não foi como eu esperava, Caio voltou para o lugar dele e malmente falou comigo, trocou apenas um oi básico, não me importei muito, se ele quisesse falar comigo, que viesse. O único amigo que eu tinha ali era o Luan e de quebra os seus amigos, que se demonstraram bem legais, porem monótonos, daqueles que todos os dias fazem a mesma coisa e não sai disso.
....
Na quinta feira, eu estava sentado dentro da sala no intervalo, não havia saído para o lanche, preferi ficar ouvindo música, logo, senti uma presença ao meu lado, abri o olho e lá estava o Caio, me encarando.
- queria te pedir desculpas por aquele dia – falou tranquilo – eu fui um idiota, é que eu não consigo controlar isso velho – disse me olhando
Aquela carinha de criança no corpo de um homem foi suficiente para que eu esquecesse as idiotices dele. Caio logo me estendeu a mão e eu apertei novamente, rimos um pouco e voltamos a conversar, passamos a manhã toda conversando, o professor as vezes nos chamava a atenção e riamos baixinho. Percebi que os amigos dele não gostavam muito da minha presença ou da minha aproximação com o Caio, principalmente o Mauricio, que não escondia a cara fechada.
Acabei pegando amizade com o Caio, o que deixou o Luan um pouco constrangido pois os dois não se batiam, mas, tentaria resolver isso com o tempo, aproveitei também para me aproximar da Manuela e sondar quais seriam as chances do Luan com ela, que se mostrou ser uma garota bastante alegre e divertida, cheguei até senti uns olhares dela pra cima de mim.
Me despedi deles na hora da saída, Luan me parecia de cara fechada, estávamos sentados esperando o Pedro.
- o que foi? – perguntei
- como é que você fica amigo daquele idiota? – perguntou
- o Caio é um cara legal, tem seus defeitos, mas é legal – falei
- ele quase quebrou a minha cara – ele disse apontando pro rosto
- olha, sei que vocês tem as diferenças de vocês e ele admitiu que errou, mas não acha melhor acabar com essa coisa toda? – perguntei
- ele admitiu que errou para você e não pra mim – ele disse
- você está com ciúmes? – perguntei rindo dele
- ciúmes? Você é louco – disse colocando os fones no ouvido e encostando as costas no apoio do banco
Eu puxei os fones arrancando do seu ouvido.
- você está com ciúmes sim. – falei afirmando
- claro que não – negou
- olha pra mim. – falei. Ele olhou – não precisa disso cara, somos irmãos, você é meu melhor amigo e sempre será, tem apenas duas semanas que eu estou aqui e me abri mais com você do que com qualquer pessoa nesse mundo. O Caio é um cara legal, a Manuela também, tenta dá uma trégua – falei
Ele ficou me olhando, logo o puxei e o abracei.
- não chora não – falei sorrindo
- vai te ferrar – disse me afastando e dando um soco de leve em meu braço
Fiquei rindo dele, parecíamos duas crianças brincando. Tínhamos uma conexão grande, sabia que eu poderia confiar nele pra qualquer coisa. Pedro logo apareceu e nós entramos fomos embora. Em casa eu fiz o mesmo ritual de sempre, tirei a roupa, tomei banho e desci para almoçar. Brinquei um pouco com o Lúcio, apesar de que ele ficava a maioria do tempo a tarde dormindo e fazendo as lições dele, naquela tarde pudemos nos divertir juntos com o vídeo game do Luan.
Quando o Lúcio foi pro quarto dele, fiquei deitado na cama enquanto o Luan mexia no computador, fiquei o encarando por alguns segundos e logo o chamei.
- Luan
- oi – respondeu ainda virado para o computador
- posso te falar algo? – perguntei
- fala – disse me olhando
- deita aqui – falei batendo no lado vazio da cama
Ele levantou e deitou-se ao meu lado, eu coloquei minha cabeça em seu peito, podia ouvir o barulho do coração dele batendo suavemente.
- promete que não vai estranhar? – perguntei
- claro que não, aconteceu alguma coisa? – perguntou
Eu me movi, olhei para ele e ergui o dedo mindinho.
- põe seu dedo aqui – falei mostrando a ele que logo colocou. – promete que vai sempre me amar e confiar em mim? – perguntei
- prometo – falou meio assustado
Desfizemos o cruzamento, voltei a deitar no peito dele, agora seu coração batia um pouco mais rápido, sua respiração também ia um pouco mais rápido.
- eu estou apaixonado – falei tranquilo
- serio? Por quem? – perguntou
- pelo Breno – soltei.
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Olá pessoal. Estou muito contente que estejam gostando (acho que já falei isso varias e varias vezes), mas é a verdade; Obrigado por dedicarem alguns minutos do tempo de voces a lerem o que eu escrevo.
Kevina : Olá flor. Que bom que esteja gostando. Pode apostar que eu aumentarei sim o tamanho das publicações.
DAVID ; Mudei o nome justamente para não confundir com o conto do outro autor. Mas que bom que já se atualizou. E concordo plenamente, as pessoas tem a mania de dizer que não tem preconceito, mas a verdade é que tem, mesmo que seja pouco.
Drica (Drikita) : Ei flor. Que bom que está gostando. Logo, Logo a coisa começa a pegar fogo. Beijão.
M(a)rcelo : Gosto quando o leitor ajuda o autor, é bom para que eu possa ficar atendo e os detalhes são fundamentais para uma boa leitura. Continuo grato pela sua observação. Beijão
beulfort : Tem que deixar um gostinho de quero mais. No mas, logo aumentarei o tamanho dos posts.
May Lee : Obrigado. Fico contente que esteja gostando. E é isso que eu estou querendo fazer, criar um personagem que seja fofo, amável, mas que ao mesmo tempo não se intimide e dê a cara a tapa. No mais, obrigado por estar lendo.
Galerinha, responderei a mais comentários no próximo. Não esqueçam de comentar e votar. Beijos e até amanhã, ou mais tarde, hahaha.
Nick;