Claudia Aguiar Campos foi a primeira ver o filho chegar à pizzaria na companhia de um estranho. Ela automaticamente pensou que jamais tinha visto aquele rapaz que estava com o filho na sua vida e de cara não gostou dele, apesar de ser um homem bonito.
Assim que se aproximou da mesa em que sua família estava, suas irmãs Clarice e Eduarda já iam levantando para falar com ele quando a mãe as repreendeu:
_ Nem pensem em levantar dessas cadeiras, ouviram bem? Nada de festa pra esse aí.
Franzé infelizmente ouviu as palavras finais da mãe e o riso deixou seu rosto. Ele então falou um boa noite a todos e se encaminhou para o pai que foi o único a levantar para falar co ele.
_ Olá meu filho. Como você está? Muito tempo que não o vejo. E esse cabelo hein, acho que já esta bom de cortar. O pai falava como se quisesse evitar aquele silêncio constrangedor quando estamos diante de alguém que não gostamos.
_ A culpa é do serviço seu Agenor. E você pestinhas, como estão? E a escola, só nota boa? E assanhou o cabelo de Breno que estava amais próximo a ele.
_ Eu pra variar só tiro 10, já o Bruno não passa dos 9,5. E Breno começou a rir na cara do irmão gêmeo que ameaçou lhe dar m muro.
Franzé beijou as irmãs na testa e ao se aproximar da mãe para poder cumprimentá-la, a mesma disse ao se levantar:
_ Você não toma jeito mesmo não, né Francisco José? Agora deu pra desfilar com seus amiguinhos em locais públicos, é? Você devia ter vergonha. Olha esse lugar, procure e eu duvido que você ache pessoas aqui iguais a você e esse outro aí. Sabe por quê? Porque aqui só tem gente normal. Aí vem você e esse outro só pra acabar com a paz e a harmonia das coisas. Você me envergonha.
Lucas estava branco ao lado de um Franzé super envergonhado. Seu pai segurou firme no braço da mãe e disse quase que num sussurro:
_ Senta aí e cala essa boca, Claudia. O que esse rapaz que a gente nem conhece vai pensar de nós?
_ Eu tô pouco me lixando pro que esse ou esse outro vai ou não pensar de nós. Aqui eu não fico enquanto ele não sair. E fez menção novamente de sair.
_ Senta Claudia. E seu Agenor olhou penetrantemente para o rosto da mulher que temeu por conta do tom de sua voz. Sentou e ficou de costas para os recém chegados.
_ Desculpa pai eu só queria falar com vocês e apresentar um amigo do trabalho. Lucas esta é a minha família.
_ Boa noite a todos. E lucas deu um aceno de cabeça para o pai do seu amado que retribuiu com o mesmo aceno. As irmãs de Franzé sorriram timidamente e Bruno foi o único a se levantar e apertar a mãos do amigo do irmão.
_ Eu sou o Bruno e esse aqui que dizem se parecer muito comigo é o Breno.
Quando Lucas estendeu a mão pára falar com Bruno, um grito se fez ouvir por toda a pizzaria:
_NÃO TOQUE NO MEU FILHO. A mãe de Franzé estava da cor de um tomate maduro e olhou incisiva para Lucas, como se olhasse para um caçador que fosse atacar sua cria. Todos se voltaram para ver a cena que se desenrolava quase que na mesa central do lugar. Lucas recuou e virou as costas para sair.
_ Não Lucas, volta aqui cara. Mãe, a senhora tá com algum problema?
_ Você. Meu único problema é você. Faz tempo que minha vida virou um inferno desde que aquele maldito jogador de futebol começou a frequentar a nossa casa. Eu tenho ódio de saber no que você se tornou e isso rapaz me dá um vergonha horrível. E vou lhe dizer só uma coisa antes de ir pra casa, NÃO TRAGA PESSOAS IGUAIS A VOCÊ PARA NOS APRESENTAR, OUVIU BEM? EU NÃO QUERO SER OBRIGADA A TER QUE CONVIVER COM PESSOAS ASSIM, FUI CLARA FRANZÉ?
E antes dele poder dar qualquer resposta virou e saiu apressadamente do lugar que praticamente parou por conta da cena que se desenrolou em suas dependências.
_ Filho, desculpe a sua mãe. Eu acho que ela tem passado por momentos muito difíceis desde que você saiu de casa. E você rapaz, não leve em consideração o que houve aqui hoje.
Por não ter mais a menor condição de ficarem no lugar, todos saíram da pizzaria sob os olhares das pessoas que lá estavam.
Franzé e Lucas andaram por duas quadras em completo silêncio. Assim que chegaram no threiller de lanches que ficava na maior praça do bairro, sentaram numa mesinha na ponta da calçada e fizeram o pedido. Quando a garçonete saiu para providenciar seus lanches, Lucas disse:
_ Como você aguentou tanto tempo junto a sua mãe, meu amor?
Franzé chorava de cabeça baixa e em silêncio tanto por conta de mais uma discussão que tivera com sua mãe, assim como pela angústia de ter que viver com isso em sua vida e mais ainda por Lucas ter sido alvo de suas maldades.
_ Ei cara, nada disso. Franzé olha pra mim, meu amor... Não fica assim não cara. Por favor pára de chorar...
_ Faz tempo Lucas que isso é a minha vida. Paz cara, eu só queria ter um lugar pra viver e paz pra poder seguir em frente. Cara, eu amo a minha família. Você viu hoje o meu pai, os meus irmãos e irmãs. Mamãe é a única pessoa que não é feliz, ela nunca tá feliz. Eu queria muito saber o que causa esse tipo de coisa nela, essa raiva latente, como se a minha mãe não fosse ela. Dói Lucas, dói demais você saber que sua mãe sente raiva de você, não ama você como ama os outros... Se é que ela ama alguém.
_ Eu posso até entender tudo isso que você vive Franzé, porque já vivi tudo isso também. Minha vida também era um inferno. E quando você mora num interior lá nos cafundó dos judas? Meu amor pode ter certeza que é pior. Eu praticamente fugi de lá e vim pra cá atrás da minha irmã Célia. Lembro que quando cheguei ela ainda costurava numa confecção de uma mulher na Aldeota e logo depois ela começou a fazer roupas simples pra eu vender. Passei um ano nisso. Foi quando soube que anjos existiam nesse mundo. Aí as coisas foram mudando e ela progrediu. Aí contei pra ela sobre mim. Ela aceitou numa boa. Aí sabe como é né? Gente pobre nunca te paz mesmo. Ela conheceu um ara, casou ficou grávida dele e ele simplesmente disse a ela que não me queria mais na casa que agora ele dizia que era deles. Aí o inferno voltou. E voltou pior do que era. Minha vida parecia andar pra trás. Até que fiz o tal supletivo. Fiz uma porrada de curso no Senac, e fui seguindo pela vida do jeito que dava. Foi quando conheci o cara que de todas as maneiras mudou minha vida. Aí meu amor, eu sofri triplicado. Minha mãe morreu. Tenho dois irmãos que não falam comigo e moram em Fortaleza também. A Célia passou por vários problemas com o tal marido e finalmente depois que eles separaram ela me chamou de novo pra ficar com ele. Tô até hoje. Ela já me chamou pra trabalhar de volta, eu expliquei que não queria misturar as coisas e a gente ta seguindo super bem na vida. Ao contar tudo isso pra você tão resumidamente meu amor, quero apenas de mostrar que a vida as vezes é injusta com a gente, pelo menos a gente acha isso, só que se ela te dá um limão você não faz uma limonada não, você chupa sem fazer careta.
Franzé foi parando aos poucos e olhando pra Lucas disse com todo o carinho que pode clocar na voz:
_ Me ensina a não fazer careta meu amor. Você poderia me ensinar?
_ Claro meu amor. Apesar de que se puder evitar eu jamais deixarei que algum limão lhe seja entregue. Combinado?
Franzé sorriu, pousou a mão na do amado que estava sobre a mesa e sorriram juntos. O lanche chegou e como dois leões famintos comeram tudo rapidinho. O relógio já marcava 22:40 h da noite e mais uma vez os dois já estavam na parada de ônibus que levaria Lucas até sua casa.
_ Quero te pedir uma coisa, posso? Perguntou Lucas.
_ Pode pedir meu amor.
_ Não deixa mais esse tipo de coisa que aconteceu hoje lá na pizzaria afetar você não, tá? Sei que é sua mãe, sei que tem seu sangue, sei de muita coisa apesar de nem conhecê-la direito, só que não gostaria de te ver mais assim só por conta do que somos e de como amamos. A gente não tá prejudicando ninguém, então não tem porque sofrer só por que amamos o igual, sendo chamados de diferentes. O ônibus ta vindo. Vai direto pra casa, tá? Te vejo logo mais na garagem. Beijão meu amor. Você é lindo, lembra disso, o homem mais lindo do mundo. Te amo Franzé.
Enquanto Lucas dava a mão para que o coletivo parasse, ouviu o que Franzé disse:
_ Obrigado amor, pode deixar que já já a gente se vê novamente. Amanhã vai ser um dia cheio. Te amo Lucas, muito cara.
Lucas voltou a acenar para Franzé assim que o coletivo dobrou na esquina da rua em que o amado morava. Franzé então começou a andar para casa quando ouviu uma buzina bem próxima a ele e um carro preto que parou quase que a seu lado.
_ Aceita uma carona, Vacilão. E Franzé pôde ver o lindo sorriso nos lábios de Kadu.
_ Eu moro a menos de vinte passos daqui Kadu, obrigado cara.
_ Poxa Franzé, só queria te levar em casa, nada mais. Entra aí cara. Juro que não arranco pedaço não. E esperou a decisão do amigo.
Franzé então pensou rápido e destravou a porta do carona entrando no carro luxuoso do amigo.
_ É só dar a marcha a ré e estacionar.
_ Pode deixar que eu sei fazer direitinho a manobra. Kadu deu a volta no quarteirão e estacionou em frente ao prédio simples que Franzé morava.
_ São e salvo, Vacilão. E desligou o motor.
_ Obrigado então Kadu. Como você mesmo viu, nem precisava, né mesmo?
_ Na verdade eu quero falar com você, posso subir pra que a gente possa conversar?
Sem grandes atropelos, Kadu estacionou o carro junto ao meio fio, pegou uma sacola azul, fechou o carro acionando o alarme e os dois entraram no prédio. Em silêncio subiram os três lances de escadas e finalmente chegaram ao apartamento de Franzé.
Tudo estava do mesmo jeito que Kadu lembrava. O amigo sempre fôra um cara organizado, e isso era algo legal.
_ Só tenho água e chá na geladeira, você quer tomar algo?
_ Não Franzé tá tudo bem cara, não preocupa com isso não.
_ Então senta aí e me diz o que você quer falar comigo.
_ Sei que você levanta cedo amanhã e juro que não vou tomar teu tempo. Aqui nessa sacola tem um monte de coisa que andei fazendo e das quais não me orgulho de jeito nenhum. Só que não posso destruir essas coisas por conta do comprometimento de terceiros caso algo seja usado somente contra mim no futuro. Uma das pessoas que aparecem aqui nessas imagens, também andou desviando um monte de dinheiro da empresa da própria família.
_ Nesse caso, você ta falando do Senhor Roberto Barreto Teles Filho, o patrocinador e dono do time de Futebol de Salão onde você joga, é isso?
_ Isso mesmo Vacilão. Se algum dia esse cara fizer algo contra mim eu vou ter como me frear suas investidas, entendeu?
_ Claro que entendi, por que você não procura a polícia, ou mesmo a família do tal cara?
_ Porque acho que tenho uma chance de que eu saia limpo essa merda toda em que me meti no inicio da carreira. Juro que não me interessa esse lance da empresa, desvio, o escambau. Eu só quer que esse cara me deixe em paz, por isso que não vou mexer numa coisa que pode me prejudicar mais do que eu andei me prejudicando.
_ Você acha que essa sacola comigo estará mais segura?
_ Tenho certeza disso. Você pode me ajudar?
_ Posso sim, fica tranquilo. Me dá aqui.
_ Obrigado Franzé, sem palavras pra te agradecer. Você faz falta cara. E vai fazer mais ainda quando eu for embora.
_ Como assim for embora? Que papo é esse Vagabundo?
_ Meu passe esta pra ser vendido... Espanha, aí vou eu.
Franzé apenas o olhou e seu coração acelerou levemente.
_ E quando será essa mudança?
_ Brevemente. As negociações já devem ter começado. Acho que até o final do mês eu e o Igor, o cara que é o goleiro do time, ja estaremos fora do País.
_ Legal isso acontecer na sua vida, cara. Quem diria que você jogando futebol iria chegar tão longe, né ?
_ Torce por mim Vacilão. Tava mesmo precisando de uma mudança na vida. É como se eu tivesse agarrando uma última chance, entende? Me deseja sorte.
_ Sempre Kadu. Agora preciso deitar cara, amanhã levanto com as galinhas. Desculpa.
_ Tá limpo. Me leva até a porta.
Assim que Franzé tocou o trinco da porta para poder abri-la, Kadu o virou de frente pra ele e enquanto o abraçava, procurou sua boca como se fosse um viciado atrás de drogas. E o beijo aconteceu de forma avassaladora. Franzé teve a boca presa na de Kadu, qua após matar sua vontade disse apenas:
_ Um dia eu volto e fica certo de que vou lutar por você. Não quero mais ficar sozinho me roendo de vontades e ciumes e você é o cara que preciso pra ser feliz pois hoje sei que amo você, Vacilão.
Muito tempo depois de Kadu ter saído, Franzé não conseguiu parar de pensar no que havia acontecido na sala do seu apartamento. As palavras de Kadu pareciam fazer coro só pra atormentá-lo. Ele não percebeu quando o celular chamou por duas vezes. Na terceira ligação que Lucas fazia, foi que ele veio finalmente atender a camada:
_ Tá tudo bem amor? Já tava quase louco aqui.
_ Desculpa meu amor, é que tava no banheiro. Acho que o Lanche não fez nada bem.
_ Mais você ta bem, né? Quer que eu vá dormir aí?
_ Não precisa não meu amor. Acho que já esvaziei a barriga. Tomei um chá e agora vou dormir. Juro que tá tudo bem, ta?
_ Nesse caso amor, boa noite.
_ Pra você também, amor.
E o sono demorou a lhe fazer companhia nessa noite.
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Povo do lado esquerdo hoje não deu pra falar com vocês. Tive um dia cheio e cheguei tarde em casa. Falei até pro KADUNASCIMENTO que tinha terminado a sinopse de hoje perto das 22:30 h. Fica o papo pra amanhã, blz? Beijão pra cada um de vocês. Nando Mota.