Nos três meses que se seguiram, Tarquino finalmente concluiu a mudança para o apartamento de seu amado e assumiu definitivamente o posto de Tabelião no Cartório Medeiros Varela e sua sala ocupava um grande espaço dentro do mesmo. Assim que conseguiu uma brecha ligou para o amado:
_ Amor estou ligando pra matar a saudade de você. Como estão as coisas aí pela Universidade?
_ Estou nesse exato momento meu querido, indo em direção ao auditório da Universidade para uma palestra com os alunos formandos deste ano. O tema é bem sugestivo: Os desafios do novo Economista. Você acha que ficou bom esse título?
_ Sou meio suspeito pra falar algo sobre o que você faz, afinal de contas tudo fica tão interessante e perfeito que dá vontade de pedir bis milhões de vezes.
_ Por isso que preciso de você a meu lado, sempre me encorajando e me dando força. E você hein, o que vai fazer com seu tempo livre até as 21:00 h?
_ Você esqueceu que tenho um jantar marcado com o Administrador do Cartório Mascarenhas de Brito?
_ Ah, é verdade, como é mesmo o nome do jovem que jantará com você hoje?
_ Adso Cavalcanti Mascarenhas de Brito. E antes que você fale alguma coisa, só preciso te dizer que não fique criando minhocas em sua cabecinha, tá? Amo você, meu loiro lindo.
_ Hum, bom saber disso. Também te amo. Agora meu amor tenho que desligar pois acabo de chegar ao local da palestra. Nos vemos em casa.
Após se despedir do amado Tarquino desligou o telefone e meia hora antes do Cartório fechar ele já estava a caminho de casa pois precisava tomar um banho e trocar de roupa antes de encontrar com amigo Adso que não via praticamente há uns seis meses.
Trocou o terno e a gravata por jeans cinza e camiseta polo branca. Se olhou mais uma vez no amplo espelho do closet compartilhado com o amado Heitor e finalmente saiu de casa por volta das 19:15 h.
O restaurante Sirigado estava cheio quando Tarquino chegou. Foi encaminhado assim que chegou para a mesa reservada por sua secretária no inicio da tarde e assim que sua bebida chegou, ouviu a voz de Adso atrás de si:
_ Que alegria poder vê-lo Tarquino. E o mesmo levantou e olhou pra trás já sorrindo.
_ Faço minhas as suas palavras rapaz. Como você esta Adso?
_ Bem cansado. O dia hoje não foi nada fácil. Aliás não só o dia de hoje foi cansativo, minha vida esta meio desorganizada ainda por conta do acumulo de tarefas no Cartório em particular, assim como na Holding .
_ Se bem lembro de você, com certeza tudo estará, se é que já não está, funcionando tal qual um relógio Suiço.
_ Assim espero. Adso o abraçou com uma certa pressão, deixando Tarquino momentaneamente tenso.
_ Por favor, senta. E novamente o garção foi chamado e Adso pediu um Buchanan's com duas pedras de gelo.
_ Como vão todos, Adso?
_ Desde a separação dos meus pais que mal os tenho visto. Mamãe agora só em viagens e papai cada vez amais enfiado no trabalho. Amaranta já assumiu algumas obrigações na Holding Mascarenhas de Brito e eu atolado até o pescoço com tanto trabalho e coisas ainda a aprender.
_ Acredito que você sempre esperou por tudo isso, afinal de contas tudo aquilo será responsabilidade sua algum dia, né mesmo?
_ Isso é verdade, só que não pensei que fosse ser dessa maneira. Com a morte de vovô, sua saída do grupo, meu pai cada vez mais recluso, sem contar com o esfacelamento da família, parece que tudo de ruim acumulou e veio ser jogado na minha direção de uma vez só.
_ Se posso te dar um conselho basta você não absorver tanto, afinal de contas você tem um Conselho Administrativo, que pode muito bem te ajudar a qualquer momento e em qualquer situação que você precise. Isso sem contar com a ajuda de sua irmã.
_ Não absorver tanto. Falar é fácil Tarquino. Você sabe que pedi esse encontro com você por conta de um pedido que quero lhe fazer.
Nesse momento a bebida pedida por Adso chegou e ele esperou o garção terminar de servi-lo para poder continuar:
_ Se eu puder atendê-lo, basta dizer.
_ Não importa o valor que você queira, só preciso que você volte a fazer parte do nosso grupo. Sinto que a seu lado, poderemos fazer grandes coisas em todas as empresas não só no Cartório. Amaranta tem a mesma opinião minha. Nem preciso dizer que ela gosta demais de você... Eu também Tarquino.
O brilho no olhar daquele garoto com certeza surpreendeu Tarquino pois ele jamais esperou que Adso o olhasse daquele jeito. Ele se sentiu nu diante do filho do seu ex.
_ Voltar ao Mascarenhas de Brito... Isso nunca me passou pela cabeça, Adso. Eu sinto muito pois não tenho como voltar a trabalhar nas empresas de sua família. Como disse a seu pai no dia em que fui embora, jamais vou ter palavras suficientes para agradecer por tudo o que vivi lá entre vocês.
_ Eu não falo de uma volta imediata, Tarquino. O Medeiros Varela deve ser bem atraente para que você nem ao menos pense nessa possibilidade, acertei?
_ Não se trata disso Adso. Meu momento atual é também desafiador. Tenho algumas funções dentro da Holding dos Medeiros Varela, não só o Cartório esta sob minha responsabilidade.
_ Você também seria o Tabelião, garanto isso a você.
A cada argumento de Tarquino, Adso rebatia. O garoto realmente lembrava o avô. Era um obstinado irritante.
Foram novamente interrompidos para que o pedido do jantar fosse anotado e as bebidas renovadas. Assim que se viram a sós Tarquino falou:
_ Por que eu Adso?
_ E por quê não?
_ Adso entenda, o momento é outro. Eu já estou envolvido...
_ Eu sei... Desculpe se sou repetitivo e insistente. Não consigo ver outra pessoa para ocupar o lugar de destaque que acho ser perfeito pra você.
O jantar chegou e os dois falaram de assuntos outros que não trabalho. Tudo estava delicioso. Assim que terminaram e o garção se retirou para pegar o valor da despesa, Adso disse:
_ Meu pai falou o motivo pelo qual ele e minha mãe se separaram.
_ Como assim, lhe falou?
_ Isso mesmo que você ouviu, Tarquino. Ele disse estar envolvido por outra pessoa. Mamãe ficou muito mal com tudo isso. Foi triste vê-lo sair de casa. Eu e minha irmã ficamos sem entender nada. Posso te fazer uma pergunta meio que pessoal?
_ Claro Adso, claro que você pode. A garganta de Tarquino estava seca.
_ Você foi durante todos os anos em que ficou conosco o braço direito dos dois, vovô e papai, Ele chegou a falar com você sobre essa outra pessoa?
" Puta que pariu, e o que eu digo agora? " Pensou Tarquino em milésimos de segundos...
_ Nunca me falou nada sobre isso. Disse Tarquino sem firmeza na voz.
_ Estranho e curioso isso. Retrucou Adso.
_ Por que você diz isso, amigo? Insistiu o Tabelião.
_ Você quer mesmo saber? Falou o Administrador.
_ Sim, pois até eu fiquei curioso sobre isso. E Tarquino deu um gole na bebida que havia pedido.
_ Porque durante quase nove anos, ele e você mantiveram um caso bem debaixo do nariz de todos nós e nunca isso foi revelado pra ninguém. Eu sempre que tinha uma chance vigiava seus passos e os do eu pai. Ele é gay, assim como você. Toda vez que eu voltava de férias, eu aproveitava para colar em você dois e sabe o que era mais legal? Eu nunca fui descoberto por vocês.
_ Adso, eu ...
_ Seus argumentos não me interessam Tarquino. Você sabe o que é amar alguém em segredo? Claro que sabe, né? Meu próprio pai e o garoto do orfanato. Isso seria um prato cheio para os jornais de fofoca e pra essa gente pequena daqui. Até que você foi discreto, o que já é louvável. O que mais me intriga é o gosto de meu pai, um cara rico, educado, família tradicional e blá, blá, bla... E o amor de sua vida, um cara sem eira e nem beira, como diz o ditado popular. Claro que nunca falarei isso pra ninguém, caso contrário eu ja o teria feito. E não faço por você não Tarquino, e sim por minha mãe, uma grande vítima de vocês dois. Eu o queria de volta só pra ter o prazer de usar você, do jeito que você usou o meu pai. Eu iria rir de você, do jeito que você deve ter rido da minha mãe e por fim eu o mandaria embora de uma vez por todas.
_ O jantar aqui já...
_ Senta na porra da cadeira, você vai ter que me ouv...
_ NÃO, NÃO MESMO. EU NÃO SOU OBRIGADO A OUVIR VOCÊ E MUITO MENOS VÊ-LO DESTILAR O SEU VENENO PELO TEMPO QUE QUISER. NÃO VOLTE A ME PROCURAR NOVAMENTE, COMO VOCÊ MESMO DISSE EU SOU UM NADA NA SUA OPINIÃO E COMO UM NADA, EU POSSO SER MUITO VINGATIVO. VOCÊ DEVIA SE TRATAR GAROTO, SE TRATAR. E Tarquino tirou a carteira do bolso, acenou para o garção e lhe entregou um valor considerável para cobrir as despesas do mal fadado jantar e simplesmente saiu.
Adso por fim levantou da cadeira em que sentara, olhou em volta e viu que algumas pessoas ainda o olhavam meio que atravessado e com a reunião de toda a dignidade que ainda tinha, saiu do lugar com a cabeça erguida.
O relógio mostrava 22:00 h. Ligou para Heitor:
_ Preciso de você Loiro, muito... E não conseguiu mais conter a emoção. O choro era um misto de frustração e ódio. Culpa e pena. Resignação e luta.
_ Me diz só onde você esta meu amor.
_ Em casa, na sua casa... Me ajuda Heitor, por favor me ajuda, amor.
_ Na nossa amor, na nossa. Tô a caminho.
Após a palestra haveria um coquetel e assim que Heitor havia chegado para essa pequena confraternização com seus alunos, Tarquino ligou. Ele não contou nem até meio e já foi embora sem ao menos olhar pra trás.
Assim que entrou em seu apartamento, chamou por Tarquino e como não obteve resposta foi procurando pelos cômodos, até chegar em seu quarto. A luz do banheiro da suíte estava acesa e Tarquino estava abraçado as pernas fitando a escuridão do outro lado do quarto...
_ Meu amor, o que aconteceu? E Heitor baixou para poder abraçá-lo.
_ Eu sou mau... Muito mau... por isso que não me escolheram... nunca me escolheram... pra mim não havia amor... Me desculpa Loiro, me desculpa. Tarquino agarrou o amado e não o soltou mais.
_ Não meu amor, nada disso. Tem amor sim...meu amor, seu amor, e isso já é um bom começo, pode acreditar em mim.
Só muito tempo depois é que Heitor conseguiu colocá-lo na cama. Nessa noite o sono demorou a chegar...
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EDU 19 e 15, Aceito o seu comentário querido, só que te peço para entrar por instantes na pele do Tarquino e sinta só um pouquinho dessa amargura em que viveu ... Abraço querido. Obrigado por segui comigo.
NINHA M, Nem sei o que te falar. Acho que a palavra que mais cabe entre nós hoje é OBRIGADO. Beijo grande querida amiga.
NEGUINHA PERNAMBUCANA, Minha querida discordo de suas palavras pelo simples fato de saber ser diferente de tudo o que fiz até agora essa enredo. As coisas não são tão corridas como você disse e posso até te dizer que dessa vez poderei te surpreender. Grande beijo amigo. O amor não mudou.
DRICA ( DRIKITA), Acho que foi por amar muito que ele resolveu se permitir ser amado. Grande beijo querida.
KYRYAQ, A isso minha querida eu chamo vida real. O mel, o fel, a dor, o riso, o entender, o ser necessário, enfim, sentimentos de vivos que a todo momento procuram seguir em frente mesmo diante de obstáculos. Um grande beijo em vcs, as amo.
MAMA ROSE, O saber ouvir, o saber falar, o amar e ser amado. Isso só se aprende vivendo né? Cair, levantar, chorar e sorrir e querer e poder e ter, ufa... são tantos os desejos e sentimentos que nós inventamos. Obrigado lindona por seguir em frente. Muito bom saber que o norte é imutável. beijos...
GUINHO, Caso isso venha acontecer, se amor for de verdade, então enfrentarão juntos. Obrigado por seguir junto. Abraço meu amigo.
NUNOCAPIXABA, Ah meu amigo se todos nós tivéssemos um ser compreensivo do lado, como seria bom, né? Obrigado pela jornada em minha companhia. Abração amigo.
ZÉ CARLOS, Concordo com você. Pensei em você fazendo esse desabafo do Tarquino. Desculpa se nas entrelinhas ficou alguma coisa de você por lá. Cara TE AMO. Coração de Leão.
CHELE, minha querida se amar é o grande lance, entender o ser amado é transcendental. Beijão amiga.
A Cada um de você o meu abraço. Amanhã tem mais, ah se tem...