The Scientist - 8

Um conto erótico de Pierrot The Clown
Categoria: Homossexual
Contém 1677 palavras
Data: 09/08/2014 04:52:00

-Pra onde você tá me levando?

Alice não falava nada, apenas apressava o passo, olhava pra trás e sorria como quem diz "espere e verá". Já não estava tão brava com ela, era quase impossível olhar aquele rostinho, o sorriso perfeito e ainda lembrar de algum sentimento ruim, acreditem, se vissem me entenderiam. Ela me pareceu sincera e eu me senti estúpida por ter dado ouvidos a uma provavel fofoca maldosa de um garoto idiota afim de me levar pra cama. Junior, um garoto da sala em quem eu tinha dado um fora no dia da festa havia me dito que Alice espalhou pela escola inteira aquelas coisas horríveis, me disse muitas besteiras a respeito dela também, foi idiota acreditar, eu sei, mas eu estava passando por dias difíceis, meu pai acabou sabendo sobre mim mais uma vez, parecia que vigiava meus passos, o resultado? Voltou a beber e eu me sentia mais culpada e cansada do que nunca. Odiei Alice durante todos esses dias, mal conseguia olhá-la ou ficar próxima a ela. Era uma batalha diária para trazer meu pai até em casa a cada amanhecer, às vezes ele passava o dia no bar da esquina e só voltava pra casa no início da noite. Eu não conseguia tirá-lo dali e não conhecia ninguém à quem pudesse recorrer, o amigo de papai havia voltado ao Rio para agilizar alguns processos e poder se mudar definitivamente. Eu não podia fazer muita coisa a não ser... Esperar. Eu havia acabado de trazer meu pai até em casa, estava exausta fisicamente e emocionalmente, sentada na entrada da minha casa, não consegui conter as lágrimas. Como se tudo isso não bastasse, Alice aparece na minha frente e a última coisa que eu precisava naquele momento era aturar seu jeito frio. Gritei. Chorei. Coloquei coisas pra fora que eu acho que mexeram com ela, vi em seus olhos, vi que estava em guerra consigo mesma, tentava negar e afogar em esquecimento os sentimentos que eu havia trazido à tona por alguns segundos, guerra essa que foi vencida por ela pois o mar azul voltou a ficar frio rapidamente. Ela me ajudou com meu pai, depois de ouvir mais besteiras dele. Só isso foi preciso pra me fazer amolecer, ela era tão odiável mas amável quando queria ser, fria mas me fazia sentir a pessoa mais segura do mundo estando ao seu lado. Olhei a garota de sorriso lindo na minha frente e pensei que talvez tivesse sido um pouco dura com ela. Não a conheço como gostaria, não sei pelo que ela passou, mas sei que deve ter sido algo muito ruim, ninguém fica assim sem um motivo.

-Aqui.

-O que?

-É aqui, chegamos.

-Você me trouxe... Em um parque de diversões? Quantos anos você tem? 10? -Eu ri e ela me acompanhou.

-Ah, qual é, eles tem uma máquina de algodão doce aqui, sabia?

-Eu odeio algodão doce

-ALIEN!!!

-O que? -disse rindo.

-COMO PODE NÃO GOSTAR? VOCÊ É UM ALIEN, UMA ESPÉCIE NÃO CATALOGADA OU O QUE? -ela disse fazendo a cara de espanto mais fofa que eu já vi na vidaNós fomos em todos aqueles brinquedos loucos, em um achei que meu cérebro realmente havia ficado solto dentro da minha cabeça, em outro achei que ia morrer assassinada por Alice, eram carrinhos que eu não tinha idéia de como controlar. E sim... Eu nunca havia ido a um parque de diversões antes. Ela me entupiu de cachorro-quente e a si mesma de chocolate. Parecia uma criança em meio aos brinquedos, em certo jogo ela ganhou um ursinho que resolveu chamar de ted. Eu estava tão encantada que só conseguia sorrir e tentar não babar literalmente pela mulher na minha frente.

-Pra você. Bem clichê americano mas...

-Obrigada, ele é realmente adorável -Disse a olhando nos olhos e sorrindo, ela retribuiu o sorriso e me arrastou até a roda-gigante. Meu maior medo. Quando via na tv me perguntava como pessoas poderiam subir naquilo.

-Ahn, Alice?

-Oi?

-Eu não vou subir aí

-Tá falando sério? -Ela começou a rir da minha cara.

-É... Sim. Aí eu não subo e não há chocolate no mundo que me faça mudar de idéia. -Ela se aproximou dos meus labios, os beijando delicadamente.

-Confia em mim.

Juro que depois disso eu só voltei à mim quando vi a cidade praticamente inteira lá de cima e o pânico tomou conta de mim. Por que diabos ela fez aquilo? Pânico em dobro. Eu estava surtando enquanto ela morria de rir do meu lado e apertava minha mão.

-Calma, juro que te deixo em casa viva ainda hoje.

-Alice de Alguma Coisa, se eu chegar em terra consciente considere-se uma pessoa totalmente morta. Mortinha. -Ela apenas ria cada vez mais e eu não resistia, acabava rindo junto e o medo diminuia. Quase desaparecia quando eu me concentrava no calor das mãos dela nas minhas. Quando finalmente descemos ela caminhou até um lago próximo do parque e sentou na pequena ponte que existia ali, calada, parecia perdida em pensamentos e eu comecei a pensar se havia feito algo errado, se havia ido rápido demais. Ela me parecia o tipo de pessoa que não deixava ninguém entrar e temia qualquer tentativa de aproximação, mas foi ela quem me beijou...

-Não desista dele.

-Ahn? -Tirei os sapatos e sentei ao seu lado, olhando para o reflexo da lua no lago à nossa frente.

-Não desista dele. Seu pai. Por mais que fique brava às vezes.

-Ah, não. Eu nunca desistiria dele. Eu sei que ele só está muito machucado agora, isso não significa que ele não vá levantar depois.

-Você é uma boa filha. Não deixe a raiva te consumir. Nunca é uma boa coisa, você acha que ela te protege da maioria das coisas quando na verdade ela só faz de você covarde, afasta todos ao seu redor e você deixa que permaneça assim porque está cansada demais pra lutar.

-Nem sempre fui uma boa filha, já senti raiva também. Quando minha mãe morreu eu senti raiva, raiva da vida por ser tão injusta, raiva do meu pai por só ficar o tempo todo jogado no sofá bebendo, raiva de mim por não ter feito nada, raiva e raiva. Mas percebi que não me fazia bem e deixei pra lá.

-São 5 estágios.

-5 estágios?

-Negação, raiva, barganha, depressão... Aceitação. Todos passamos pelos 5 estágios quando perdemos alguém. Eles vem em tempos diferentes pra cada um, mas todos passamos por isso. Alguns ficam presos

-E em qual estágio você está?

Ela levantou o olhar e o dirigiu a mim, apenas sorriu tristemente e olhou pro céu. Eu a acompanhei, estava lindo naquela noite. Queria abraçá-la, mas tinha medo de que tudo que havia conseguido conquistar daquele coração fechado até agora pudesse desaparecer se ela se assustasse. Também sentia medo, medo da velocidade das coisas, dos sentimentos. Eram tão novos, tão rápidos, chegavam e simplesmente me devastavam por dentro. Finalmente eu entendia de onde vinha tanta raiva, em partes, não sabia toda a história, na verdade não sabia a história da garota ao meu lado, mas estava determinada a descobrir e ajudá-la com seus fantasmas. Sempre fui paciente.

-Sinto muito pela sua mãe.

-Sinto falta dela, dos abraços, das conversas mãe-filha, da presença dela.- Eu disse e já não controlava as lágrimas, deitei a cabeça em seu ombro e ela beijou minha testa.

-Não deveria ter tocado no assunto. Não chora, não sei lidar com pessoas chorando!

-Tudo bem, ela está em um lugar bem melhor agora. Um lugar onde não há algodão doce, com certeza. -Eu disse e ela riu. Eu amava o som daquela risada.

-Para de implicar, ow! -Ela disse, tocando meu rosto e enxugando as lágrimas.

-Você vai voltar a ser uma babaca comigo amanhã?

-Tenho que manter a reputação, né? - ambas rimos.

-Desculpe, por hoje mais cedo, eu estava...

-Tudo bem, você não mentiu. Eu tento ser menos babaca, agora vem, vou te levar pra casa.

-Espera, Alice. -Ela me olhou por alguns segundos parada, com uma meio sorriso esperando para ouvir o que eu tinha pra dizer, a luz do luar refletindo no azul de seus olhos, o vento bagunçando seus cabelos, o movimento que ela fazia para colocá-los atrás da orelha... Tudo isso resultou em uma Rafaela em estado de transe.

-Rafaela?

-Eu... -Não consegui achar palavras ou formar uma frase lógica e inteira, eu só caminhei até ela passando os braços ao redor de seu pescoço e a beijei. Beijei com toda a saudade dentro de mim, saudade das mãos dela apertando minha cintura e sua respiração quente em meu rosto, saudade do cheiro, da boca, do gosto... Saudade de Alice. O beijo terminou e ficamos com as testas coladas, eu sentia o coração dela acelerado e uma de suas mãos colocando uma mecha de cabelo minha atrás da orelha.

-Eu vou te machucar. -Disse e se afastou gentilmente.

-Como pode saber?

-É o que faço. Não pense que eu sou muito diferente da Alice que você descreveu hoje mais cedo.

-Alice...

-Te levo pra casa, vem.

Eu não sabia o que dizer ou como dizer, então apenas a segui. Não iria demonstrar com palavras, palavras a assustavam, mas iria dar tudo de mim pra mostrar à ela que eu gostava de estar a seu lado. Ela estava bem a minha frente, corri e a alcancei. Peguei em sua mão e entrelacei nossos dedos, ela me olhou incrédula.

-Só... Cala a boca. -Eu disse e ela riu fraquinho, olhando pra baixo, apertando minha mão e entrelaçando ainda mais nossos dedos. Eu não sabia ao certo o que aquilo significava para ela, mas teria tempo para descobrir. Pra mim significava muito mais do que o calor da mão dela junto a minha em uma noite fria caminhando pra casa, para mim era mais como um

"Eu estou aqui, não importa o quão assustadoras sejam suas marcas, os demônios que você carrega ou o seu passado. Eu estou aqui e posso te ajudar a curar essas feridas se você me deixar entrar."

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Comentários

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Cara que romance é esse? Tô arrepiadado até agora.

Parabéns muito bom!

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Hummmmmmmm suspiro de felicidade amo essa histotia ta perfeita, cont...

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Sempre fico com um sorriso entre os lábios quando leio mais um capítulo da sua história :D Estou curiosa e não demore nem mais um minuto para continuar, hein rs

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Surpreendente!Seu conto é lindooooo!!E o mistério que envolve o passado de Alice me deixa mega curiosa.Continuaaa!

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