- Qual o problema com meus amigos Bernardo? – eu perguntei desconfiado.
- Não gostam de mim. Andaram aqui hoje me olhando cada um com a cara pior que o outro. Parecia que você tava indo morar com Hitler. Eu sei que a casa não é mais só minha agora, mas evita por favor.
- Você os deixou assustados no dia do lance do restaurante e além do mais veio todo marrento pra cima de mim.
- Já pedi desculpas por isso.
- A primeira impressão é a que fica.
- Cagando pra eles. Por favor Lucas, faz isso pra mim cara. Vamo ficar na paz aqui. Não quero gente me olhando torto aqui dentro, já basta na universidade.
Eu recolhi a caixa da pizza e fui pra cozinha.
- Eles podem vir aqui. Mas prefira quando eu não estiver aqui, tá bom assim?
- Tá certo...
Os dias foram se passando e nossa rotina estava pegando o ritmo. Ele era bem responsável, bem diferente do que pensei. Ele acordava um pouco mais cedo que eu e sempre preparava café. Ele disse que adorava café. Sempre mantinha a garrafa cheia, mas evitava tomar a noite porque poderia dar insônia. Ele era muito higiênico e apesar do quarto as vezes ser bagunçado o banheiro ele sempre gostava de manter limpo. Também lavava a louça assim que sujava. Nossa casa tinha bagunça. Normal, mas bem menos que o esperado.
- Olha, eu to gostando de ver. Melhor que a encomenda. – eu disse enquanto ele lavava a louça toda um dia pela manhã pouco antes da gente ir preparar o almoço. Uma camiseta regata vermelha com o shorte de futebol branco. Que bunda era aquela?
- Se eu quiser ficar na cidade tenho que fazer isso aqui dar certo né? Você cozinha?
- Cozinho. Sai aí da pia. – eu me aproximei pra tomar o posto da cozinha.
- Espera, deixa eu só... - Ele lavou as mãos e se virou pro mesmo lado em que eu estava. Ficamos frente a frente, muito próximos. Nossos olhos se encontraram. Nossas pernas se tocaram, senti os pelos dele. Ele saiu de leve ainda me olhando.
Eu colei na pia pra disfarçar minha ereção. Ele deu alguns passos pra trás coçando a cabeça.
- Vou tomar um banho... – ele saiu pro banheiro.
Essas cenas começaram a ser comuns. Eu não sabia onde enfiar a cara.
Preparei o almoço e almoçamos quase que sem falar nada a não ser isso:
- Sabe... Eu tava pensando que a gente precisa da máquina de lavar. Só que meu quarto faz muito calor porque é o quarto que pega sol a tarde então eu pensei em comprar um split com o meu cartão de crédito. Te ajudo na máquina assim que der. É que o calor tá insuportável mesmo.
- Não se preocupa não. Por enquanto tá dando de aguentar, a gente paga na lavanderia só a roupa de cama e banho. Compra seu ar condicionado que eu vou ver se consigo o dinheiro todo da lavadora com minha mãe. – ele disse olhando pro prato já vazio.
- Ainda bem. Pensei que você fosse reclamar de ter que lavar roupa com a mão.
- Não... tá de boa. Se você quiser malhar no meu quarto não tem problema também não. Eu tava até pensando em colocar a estação no saguão na parte coberta, perto da casa do Brutus.
- Se for por minha causa nem se preocupe. Não gosto de malhar. Já tentei, mas não dá.
- Você que sabe. Malhar por malhar eu posso malhar aqui dentro, ia por lá fora só pra você.
Nessas horas é que eu me derretia. Eu agora via como se entregar e gostar demais dos outros acabou sendo um problema pra ser tratado no psicólogo mesmo. Ele se doava demais sem perceber, aos poucos eles fazia todas as minhas vontades. Era comum escutar frases terminadas em “eu fiz só pra você”, “só se você quiser”, “me diz como você quer” e por aí vai...
- Você precisa cortar o cabelo sabia? – eu falei observando.
- Você acha? - Eu enfiei os cinco dedos da mão no cabelo dele e puxei. Ele riu. – Para porra, isso dói!
O bom humor voltou.
Era quase meia noite. Eu fui no saguão soltar o Brutus. Voltei pra dentro de casa e Bernardo estava de toalha agachado em frente ao som.
- Só enquanto tomo banho. – ele disse sem me olhar.
- Tá...
Era a primeira vez que o via sem camisa mesmo morando junto há semanas. Ele terminou de programar as músicas e levantou. A toalha estava presa bem no oblíquo de uma barriga sarada na medida certa com uma depressão na área do diafragma (abaixo do peitoral, onde as costelas se separam). Um peitoral grande, que eu nunca tinha percebido nas camisetas. Branco com pelos negros recém raspados. Eu não sei se quem estava na minha frente era o Bernardo de sempre ou quase o Chris Evans.
Começou a tocar “Californication” do Red Hot Chili Pepers. Ele entrou no banheiro. Eu pro quarto. Duas músicas depois o som parou. Escutei passos dele vindo em direção ao meu quarto. Parou atrás da porta e ficou parado por um tempo. Eu estranhei. Ele estava tentando me ouvir? Logo ele bateu.
- Lucas? Tá acordado?
- Diz.
- Se tiver calor demais pode vir pro meu quarto numa boa. Só traz seu cobertor porque lá só tem o meu. A gente pode dividir meu ar condicionado enquanto você não compra o seu.
Vocês acham que eu perderia uma oferta dessa? Fazia muito calor, eu juro!
- Eu... já vou indo. Só me vestir aqui...
Vamos dormir na mesma cama? Meu Deus isso sim foi um passo a mais! Entrei no quarto dele com cara de quem não queria nada. Que malicioso eu estava, apesar de saber que não poderia rolar nada. Tudo bem que eu tinha tesão por ele (E como tinha... Minhas punhetas escondidas mostravam isso) mas eu também o via como amigo.
- Pode ficar à vontade, só vou por essa toalha molhada lá fora.
Eu fui pra cama e quando ele voltou eu já estava deitado. Ele regulou o ar condicionado e trancou a porta a chave. Tirou os chinelos e veio pra cama engatinhando. Ah, que tesão cara! Aquele cheiro de homem que terminou agora o banho. Ele vestia apenas um shorte. Ficamos lado a lado calados. Minutos depois:
- Você disse que ia se vestir... Você dorme pelado? Porque eu durmo pelado, tô vestido por sua causa.
Eu quase engasgo.
- Não... é que eu não tava de roupa, só isso.
- Aqui faz calor demais pra se dormir vestido. Tem vezes que mesmo com o split eu fico nu porque não dá conta.
Após um tempo eu ri.
- O que foi?
- Você me considera.
- Considera o que?
- Considera. Tem consideração por mim.
- Tenho, muita. Porquê?
- Assim que a gente mudou você falava que não ia trazer peguete pra casa porque só dorme na sua cama se você considerar.
- Não acredito que você lembra disso! – ele riu alto. – Mas sim, eu considero você sim.
Começamos a nos posicionar pra dormir.
- Lucas eu prometo dormir e me comportar, não se preocupe. – ele riu ajeitando o travesseiro.
Imaginem uma freada brusca de carro. Que nível era aquele de intimidade gente?
- Você já trouxe muitas meninas pra cá não foi?
- Não muitas. Mas o suficiente pra deitar e lembrar.
- Hoje você trouxe um cara.
- Hum... Posso falar? Não estranha não mas... eu não queria mais ninguém aí no seu lugar. - Eu gelei. – Você é meu brother Lucas. Eu melhorei muito depois que te conheci. Hoje eu saio mais. Pouco mas saio. Minha mãe não fica preocupada querendo saber de mim. Hoje eu converso mais, me abro mais. Só pra você, é claro. Você tá sempre do meu lado, foi contra tudo que seus amigos disseram e se mudou pra cá. Aguentou minhas patadas e tudo mais... minha psicóloga disse que você me ajudou muito. Ela disse que talvez daqui há um tempinho eu posso ficar sem medicação nenhuma.
- Você toma algo?
- Tomo. Desde que tive depressão, foi logo após meu pai falecer. Hoje com menor frequência mas tomo.
- Mas eu nunca vi você tomando nada.
- Odeio remédio. Daí coloco todos no meu guarda roupas porque normalmente as pessoas colocam remédios na cozinha e eu não gosto de ver isso porque logo aparenta que tem alguém doente na casa. Quando dá na hora eu tomo e pronto. Só pego no dia seguinte.
Quando as surpresas desse garoto iam acabar?
- Bem... Obrigado por me considerar tanto... Bernardo eu gosto de você. Só isso. Me senti mal no dia do gol que eu não vi porque você depois disse que fez só pra mim.
- Porra moleque, como que quis te amassar todo de murro! Mas foi mesmo. A arquibancada toda se resumia a você. Ninguém dalí tava alí só por minha causa, a não ser você. Desculpa eu ter me distanciado. Eu fiquei com raiva porque você falou que eu estava fazendo drama. Pior que fiz mesmo, mas não é algo que eu controle. Só que no momento em que tudo aconteceu não pareceu drama pra mim, pareceu que eu tava exigindo algo que você deveria sim me dar por sermos melhores amigos. Atenção! Consideração! Foi isso... Eu virei todo contente e você lá, de conversinha no ouvido do cara.
- Isso tem um nome. Ciúmes!
- Você se acha né... – ele cruzou os braços atrás da cabeça.
- Desculpa, eu deveria mesmo... foi mal.
- Não. – ele me olhou. – Passou. Posso te perguntar uma coisa?
- Duas.
Ele parou um pouco.
- Você já ficou com um cara né?
Eu poderia mentir. Mas pra quê? Ele não parecia que ia se importar com a resposta.
- Já sim. Na verdade com mais de um.
- Eu venho suspeitando há um tempo de você ser gay. Eu não ligo, sério. Tudo bem. Você transou com algum? Desculpe se quero saber demais. – ele riu.
- Sim. Transei com um sim. Transei algumas vezes mas sempre com o mesmo cara. Foi no ensino médio. Nosso namoro acabou após o vestibular.
- Então você tá há dois anos na seca cara?
- Basicamente.
- Dá pra sentir o mesmo prazer? Digo, já transou com mulher antes?
- Já sim. Dá pra sentir prazer. Não é o mesmo prazer.
Uma das mãos dele saiu de trás da cabeça e desceu pelo lençol de maneira escondida. Dava pra ver que ele massageava o pau por baixo do shorte.
- Não posso esquecer de ligar amanhã pra Dr. Isabel. – ele falou baixinho.
- Hã?? – que balde de água fria foi esse?
- Nada... Vamo dormir. Boa noite. – ele disse se virando. Eu também me virei e fiquei pensando nas perguntas dele. Eu jurava que ele ia querer saber mais coisas e de repente ele travava. Sempre era assim. Quando ele falava algo demais, ele se calava de repente. Mas e se ele mudasse comigo daqui pra frente? Se ele voltasse a se reservar por ser hetero e saber que mora com um gay? Eu queria confirmar. Céus, eu contei pra ele!
- Ei...
- Hum?
- Obrigado por me deixar dormir aqui.
- Aff Lucas... – ele deu um soco de leve nas minhas costas. - Você escutou alguma coisa da nossa conversa gay de agora há pouco? Do quanto eu te considero? – ele riu. – Você comigo não tem disso. Quando quiser, você sabe.
Ufa... ao menos nada mudou.
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Oi oi gente!
Atendendo a tantos pedidos eu vou dar esse capítulo hoje. Todo mundo reclamando que eu parei na melhor parte. Aí está então.
vitinho: COmeça a ler cara, você va gostar! E quanto ao Bernardo, você se decidi até o fim desse.
mille***: Pois é! Vê se pode! Isso jamais aconteceria comigo.
DAVID: Que bom ter você de volta!
Drica (Drikita): Morar junto contribui eprejudica em muita coisa. Vamo ver como eles vão se sair.
#Léo: Você leu tudo aquilo em 24h? kkkk Então um capítulo desse não deve durar minutos na tua frente né?
Irish: Vou saber pra te responder.
marcelo8486: Impossível. Nem Lucas fez isso, que dirá eu!
love31: Tudo tem explicação. KAIO, agradece o beijo! rs
yumi: EU adoro você. Pronto, falei!
Teteus18: Olha aí amis um capítulo. Agora eles foram dormir, dessa vez não parei no meio de nada! Tenho que dar esse mistério cara, é o chama do conto!
iron3: Seu comentário apareceu bem na hora que eu estava revisando pra responder. Quase que posto sem ver. Puxa, muito obrigado. Que bom que gostou tanto. :)
esperança, geomateus, jenny: Abraço e muito obrigado pelo comentário.
VOu ver se lanço mais um capítulo amanhã. Não prometo nada. Beijo a todos vocês!